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Brasil volta ao jogo em encontro de C&T do G20

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Leia matéria de Mauricio Thuswohl para Carta Capital, publicada em 14/3:

Após um primeiro ano de governo marcado pelos esforços de retomada das políticas públicas em ciência e pela revitalização dos principais mecanismos de financiamento para o setor, a comunidade científica brasileira quer aproveitar o exercício da presidência do G20 em 2024 para recuperar o terreno perdido em um cada vez mais acirrado mercado global.

Anfitriã da oitava edição do Science20 (S20), fórum que reúne as academias de ciência dos países integrantes do bloco, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) seguiu a estratégia de recolocar o Brasil em um papel de liderança no setor e pediu urgência no cumprimento dos compromissos firmados há nove anos no âmbito da Agenda 2030 da ONU, que prevê medidas para redução da desigualdade e da pobreza e proteção do meio ambiente, entre outras.

Concluída na terça-feira 12 no Rio de Janeiro, a Reunião de Iniciação do S20 – a reunião de cúpula acontecerá em julho – teve cinco eixos de discussão: Bioeconomia, Inteligência Artificial, Transição Energética, Justiça Social e Saúde. Os debates e atividades foram coordenados [pelo diretor da ABC Álvaro Prata, em consonância com a  presidente da ABC, Helena Nader]. Participaram do encontro academias de ciências de África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Japão, Índia, Indonésia, Itália, México, Reino Unido, Rússia e Turquia, além da Academia Europaea.

Marcos Cortesão, secretário-executivo da ABC para Programas Internacionais; Glaucius Oliva, vice-presidente da ABC para a região São Paulo; e Álvaro Prata, diretor da ABC incumbido pela presidente de conduzir a reunião do S20 | Foto: Marcos André Pinto/ABC

Leia mais no site da Carta Capital, com acesso aberto

 


O que pensam as academias nacionais de ciência do G20?

Nos dias 11 e 12 de março, as academias nacionais de ciência dos países do G20 se reuniram para abrir os trabalhos do Science20 em 2024. Sob a presidência rotativa do Brasil, a reunião no Rio de Janeiro contou com representantes de todos os países do bloco, exceto Rússia, Coréia do Sul e Japão – os dois últimos enviaram vídeos. Desta vez, a reunião também contou com a participação da Academia Europeia. Instituições científicas internacionais e redes regionais de academias participaram como observadoras.

As discussões desse primeiro encontro giraram em torno das propostas feitas pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), que, na condição de sede do S20, sugeriu cinco temáticas principais: Inteligência Artificial; Bioeconomia; Transição Energética; Saúde e Justiça Social.

A reunião foi aberta por representantes de dois outros grupos de ação do G20 – G20 Financeiro e G20 Social. Ambos reforçaram a importância de os diferentes grupos focais trabalharem em consonância. Tatiana Berringer, do S20 Financeiro, pediu engajamento dos cientistas na construção de sistemas financeiros verdadeiramente globalizados. Por sua vez, Gustavo Westmann, do G20 Social, pediu pragmatismo nas orientações elaboradas e maior participação da sociedade. “Estes devem ser legados do G20 em 2024”, disse.

A ministra de CT&I do Brasil, Luciana Santos

Em seguida, a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil, Luciana Santos, saudou os presentes, sinalizando que a prioridade científica da presidência brasileira no G20 são as assimetrias globais no acesso, desenvolvimento e produção de pesquisa e inovação. “Países em desenvolvimento estão menos preparados para usar e adaptar tecnologias de ponta como a inteligência artificial e as soluções de baixo carbono. Mas existe uma janela de oportunidade para embarcar na incipiente transição verde. Nossa intenção é buscar pontes para transferência tecnológica entre as nações desenvolvidas e os países em desenvolvimento”, disse a ministra.

A presidente da ABC, Helena Nader, abriu as discussões apresentando os pontos focais como temáticas que convergem com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. “Ações concretas são necessárias para que consigamos cumprir com o que foi acordado para 2030 nos âmbitos econômico, social e ambiental”, disse Nader.

A presidente da ABC, Helena Nader

Inteligência Artificial

Talvez a questão mais atual da fronteira tecnológica, a Inteligência Artificial (IA) foi intensamente debatida durante os dois dias. Países em desenvolvimento destacaram o investimento em infraestrutura e capacitação tecnológica como cruciais para que o impulso às IA não crie um abismo ainda maior entre ricos e pobres. Foram expressas preocupações sobre um novo tipo de “colonialismo digital”, onde IAs desenvolvidas por países ricos e alimentadas majoritariamente com dados do Norte Global criam novas formas de discriminação e dominação. Acesso aberto, dados abertos e mecanismos de transparência foram defendidos como facilitadores para um desenvolvimento mais igualitário dessas tecnologias.

Outro ponto recorrente foi o impacto das IA no mercado de trabalho. Recentemente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) declarou que 40% dos postos de trabalho atuais podem ser extintos devido à IA. Ao mesmo tempo, foi lembrado que novas tecnologias tendem a criar novos postos de trabalho antes inimagináveis. A Academia Chinesa de Ciências (CAS) defendeu um modelo de IA cauteloso e com o ser humano no centro. Já a Accademia Nazionale dei Lincei, da Itália, manifestou preocupações com IA na indústria bélica.

Representantes europeus lembraram ainda dos impactos ambientais gerados por essa tecnologia. “A pegada de carbono do IA ainda é pequeno, mas deve crescer exponencialmente. O estabelecimento de uma governança global em IA deve ser considerada”, sugeriu Francis André Wollman, vice-presidente da academia francesa.

Bioeconomia

Talvez a questão de maior convergência entre os países presentes, o desenvolvimento de uma bioeconomia, isto é, um modelo econômico mais sustentável e integrado aos sistemas biológicos da Terra, foi defendido por todos.

Esse processo, concordam os países, deve ser feito de forma a incluir as populações locais. Nesse sentido, algumas considerações foram feitas a respeito da capacidade e da velocidade com que cada país pode se adaptar sem sacrificar o bem-estar de seu povo. “Não existe uma receita única para cada país alcançar seu potencial bioeconômico, sumarizou Yunita Winarto, da Academia Indonésia de Ciências.

Em um ponto mais específico, Austrália, Alemanha e México sinalizaram que as práticas de aquicultura deveriam ter mais espaço nas discussões sobre bioeconomia.

Os representantes das academias nacionais reunidos no S20

Transição Energética

O imperativo das mudanças climáticas força o mundo a considerar seriamente a substituição dos combustíveis fósseis por energias renováveis. Entretanto, a dependência global do petróleo e do carvão faz com que este seja um ponto de muito debate. O Brasil está numa posição privilegiada no contexto global, já que metade de sua matriz energética é limpa, mas somos uma exceção à regra.

A defesa majoritária foi por uma transição para emissões zero, com alguns países enfatizando a questão da justiça energética como um fator crucial. A representante da King AbdulAziz University, da Árabia Saudita, criticou a eliminação total dos combustíveis fósseis. Já a academia chinesa ressaltou que os impactos da transição devem ser considerados junto às especificidades de cada país. Em um exemplo prático, o representante da Academia Nacional de Ciencias Exactas Fisicas y Naturales, da Argentina, abordou o megacampo de gás de Vaca Muerta, onde o país vem elevando a extração de gás natural e estudando a prospecção de gases não convencionais, como o chamado hidrogênio azul, que também polui a atmosfera.

Outro ponto em que o Brasil desponta é o uso de biocombustíveis, um exemplo é o etanol. O país defendeu essa alternativa como uma das ferramentas para a transição climática, no que foi seguido pela Austrália. O representante da academia francesa, por outro lado, criticou os biocombustíveis por competirem por espaço com a produção de alimentos. Em outro assunto, China, França, México e Reino Unido defenderam a energia nuclear como indispensável para a transição energética.

Representantes da Indonésia falam durante o S20

Saúde

Houve uma defesa unânime do conceito de Saúde Única, em que a saúde humana é compreendida em conjunto com a saúde do ambiente. A abordagem holística da saúde foi um dos focos principais da presidência indiana no S20, em 2023, e seus representantes destacaram essa abordagem em suas considerações. Uma diversidade de temas foi levantado, como o envelhecimento populacional, que a maioria dos países do G20 enfrenta, e o impacto das mudanças climáticas na saúde humana.

Justiça Social

Dentro do quinto tema proposto pelo Brasil, um dos desafios chave é o combate à pobreza. Os países foram unânimes na defesa das ciências sociais como essenciais para esses esforços e abordaram várias faces da desigualdade global, como a disparidade no acesso à energia, educação, internet, alimentos e água.

Em temas mais específicos, o representante da academia turca criticou a comunidade científica global por, em sua visão, “não estar abordando a tragédia humanitária em Gaza”. Já o representante da academia argentina manifestou grande preocupação com o que chamou de “total incerteza” sobre o financiamento da pesquisa e das universidades públicas no novo governo de seu país, e agradeceu à ABC pela manifestação em apoio à comunidade científica de seu país.

No auditório onde foi realizado o S20, os delegados ficavam situados na parte central, os convidados na segunda fileira e, ao fundo, os observadores

Conclusão

Durante a sessão final, as academias nacionais se comprometeram a indicar especialistas para compor cinco grupos de trabalho que serão montados em volta das cinco temáticas escolhidas. Esses grupos serão responsáveis por realizar reuniões periódicas e, ao final do processo, enviar recomendações que serão compiladas num documento sucinto durante uma nova reunião, em julho. As recomendações finais do grupo serão encaminhadas aos governos dos países, que estarão reunidos durante a Cúpula do G20, em novembro, no Rio de Janeiro.


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‘É preciso atitude política para superar o atraso tecnológico’, diz ministra de C,T&I

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Leia matéria de Emanuelle Bordallo para O Globo, publicada em 11/3:

A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, defendeu o combate à desigualdade tecno-científica na abertura da Science20 (S20), evento paralelo ao Grupo dos 20 (G20) que reúne representantes da comunidade científica internacional nesta segunda-feira, no Rio de Janeiro. Em entrevista durante o evento, Santos afirmou que “é preciso ter atitude política” para enfrentar tais assimetrias, sobretudo em questões que esbarram em interesses econômicos conflitantes, como inteligência artificial e transição energética.

Ministra de CT&I Luciana Santos discursando na abertura do S20 Brasil

“Esses interesses precisam ser matizados a partir da vontade política, seja dos países que têm uma uma condição em algumas áreas de conhecimento de maior acúmulo, seja dos países que procuram ter desafios comuns para poder enfrentar essa desigualdade. É preciso ter atitude política, sem dúvida nenhuma — afirmou a ministra. — A comunidade acadêmica e científica vai fazer a sua parte. Nós vamos precisar, no plano do governo e político, demonstrar e fazer valer acordos de interesse que perpassem a superação do atraso tecnológico.”

(…)

Organizado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), o S20 se debruçará em cinco temas principais: bioeconomia, desafios da saúde, inteligência artificial, justiça social e processo de transição energética. Além de representantes da comunidade científica do Brasil, o evento desta segunda-feira conta com a participação de membros de academias de países como Argentina, Austrália, Canadá, China, África do Sul, além da Academia Mundial de Ciências e outras organizações internacionais.

Novidade da presidência rotativa do Brasil no Grupo dos 20 (G20), o S20 é um dos grupos de engajamento do G20 Social, formado por entidades da sociedade civil que deverão enviar recomendações ao fórum em diferentes aspectos dentro dos temas traçados como prioridade pelo governo do Brasil: combate a fome, pobreza e desigualdade, desenvolvimento sustentável e reforma da governança global. Pela primeira vez, os grupos enviarão suas declarações finais, em julho, para que os Estados-membros possam analisar o conteúdo a tempo da Cúpula de Líderes, em novembro, no Rio de Janeiro. O G20 Social também terá uma cúpula a parte nos três dias que precedem o principal evento do fórum.

Leia a matéria na íntegra no site do jornal O Globo


Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia debateu os avanços da IA no Brasil

(Foto: Divulgação Governo Federal)

No dia 7 de março, foi realizada a 2ª Reunião Ordinária do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT), no Palácio do Planalto, com o tema “Os avanços da Inteligência Artificial (IA) no Brasil”. Na ocasião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que preside o CCT, pediu para os conselheiros elaborarem uma proposta de política de IA com o objetivo de tornar o Brasil competitivo na área em nível mundial.

Lula antecipou que deseja apresentar ao mundo, durante seu discurso na abertura da 79ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro, um projeto genuinamente brasileiro de IA. “Então, vamos colocar no papel o que vocês acham que pode ser feito. O que vocês acham que o Brasil tem que fazer para ser detentor e se apresentar ao mundo para que eu vá dia 23 de setembro fazer meu discurso na ONU e apresentar nossa proposta de inteligência artificial? Vamos aceitar esse desafio e vamos nos tornar grandes, orgulhosos”.

A ministra Luciana Santos, destacou a importância dos avanços da IA no país. “Precisamos adaptar a nossa indústria para o avanço tecnológico. A IA já é aplicada em diversos campos, como a saúde e a educação”. Para o Brasil ser autônomo nesta área, é necessário “ter produção de IA e não só utilizarmos esta tecnologia, para evitar o abismo entre os países”, defendeu a ministra. 

Ao longo da reunião, especialistas abordaram quatro eixos temáticos vinculados à IA: desafios para aumentar a capacidade digital e investimento em P&D do país; oportunidades e riscos associados às aplicações de IA; impactos e oportunidades da IA no mundo do trabalho; e Inteligência Artificial e a integridade da informação.

Os especialistas convidados foram Virgílio Augusto Fernandes Almeida, vice-presidente da ABC para a região Minas Gerais e Centro-Oeste da Academia Brasileira de Ciências, membro da Academia Nacional de Engenharia e professor titular do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Silvio Romero de Lemos Meira, professor extraordinário da CESAR.school e professor emérito do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); Roseli Figaro, professora titular da Universidade de São Paulo (USP), membro do Conselho Gestor do INCTDSI/CNPq e diretora editorial da Revista Comunicação Educação; e Laura Schertel, professora adjunta de Direito Civil na Universidade de Brasília (UnB) e no Instituto Brasileiro de Ensino Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), e co-chair da sessão de Inteligência Artificial e Ética do BRAGFOST (2020).

Integram o CCT e estavam presentes na reunião a presidente da Academia Brasileira de Ciências Helena Nader; o presidente da Sociedade Brasileira pra o Progresso da Ciência (SBPC) e Acadêmico, Renato Janine Ribeiro; a ministra da Saúde e Acadêmica, Nísia Trindade, entre outros. 

O CCT

O Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia foi reformulado pelo Decreto nº 11.474, editado pelo presidente Lula em abril de 2023. Uma das ações dos primeiros 100 dias de governo, a reestruturação do CCT ampliou a participação de representantes do governo e da sociedade civil e marcou a reativação do Pleno do Conselho.

O decreto estabelece que o CCT será composto por 34 membros e contará, além do presidente da República, com a participação de 16 ministros de Estado, oito membros entre produtores e usuários de ciência e tecnologia e 9nove representantes de entidades dos setores de ensino, pesquisa, ciência e tecnologia.

O CCT trabalha pela reindustrialização do país tendo a ciência, tecnologia e inovação como um dos eixos estruturantes do desenvolvimento nacional. Para tanto, tem como uma de suas principais atribuições a formulação e a implementação da política nacional de ciência, tecnologia e inovação (C,T&I).

Investimentos e recursos humanos qualificados para uma Revolução Tecnológica no Brasil

Matéria de Daniela Klebis, originalmente no Jornal da Ciência.

Com foco no rápido avanço da Inteligência Artificial e na pauta da “Nova Industrialização”, especialistas renomados do País reuniram-se na sede da Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio de Janeiro, para discutir o futuro da ciência básica e da tecnologia no Brasil. O encontro, que aconteceu nesta semana, nos dias 5 e 6 de março, foi organizado pela ABC e pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), como parte da preparação para a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que será realizada em junho, em Brasília.

As discussões abordaram diversas visões sobre como superar obstáculos políticos, econômicos e tecnológicos, a fim de posicionar o Brasil nessa corrida extremamente competitiva e de rápida transformação. Um ponto comum e bastante destacado foi a importância de investir na capacitação de profissionais qualificados e na inserção desses na indústria. Enfatizou-se também a importância de adotar estratégias transdisciplinares e inclusivas, assegurando que o País não apenas acompanhe, mas também lidere a próxima onda de inovações globais.

Na mesa “Inteligência Artificial – Desafios e Perspectivas”, José Roberto Boisson de Marca, professor e pesquisador do Centro de Estudos em Telecomunicações da PUC-Rio (CETUC/PUC-Rio), destacou a necessidade urgente do Brasil aumentar investimentos e fortalecer a formação de recursos humanos em inteligência artificial (IA). O engenheiro trouxe ao debate a proposta de criação de uma Agência Federal nos moldes da Embrapii com foco em IA e também sugeriu que se estabeleçam mecanismos para regulamentar o acesso de empresas internacionais aos dados brasileiros. “É fundamental que o Brasil proteja esse patrimônio de dados”, disse.

O professor titular do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação da COPPE/UFRJ, Edmundo Albuquerque de Souza, apontou a explosão de modelos de larga escala de IA observada entre 2019 e 2023. Segundo ele, com esse boom, veio à tona a discussão sobre o que é inteligência e a importância de uma melhor compreensão dos conceitos de engenharia e computação. Ele destacou os benefícios da IA em várias áreas, da otimização de análise de dados às oportunidades de ensino e aprendizagem e à multidisciplinaridade, entre outros. Por outro lado, ponderou que as ferramentas possuem limitações, como a falta de criatividade e compreensão de conceitos complexos. Para o pesquisador, o principal ponto de atenção deve ser a questão dos recursos humanos e o que o país pode fazer para preparar especialistas para desenvolverem essa área. “Não temos massa crítica qualificada para impulsionar os avanços na área. Temos gente boa, mas não no nível que necessitamos”, advertiu. Segundo ele, é necessária uma política que contemple desde a atração de especialistas para o Brasil até a formação de jovens para atuar no desenvolvimento dessas tecnologias.

Marley Vellasco, professora-titular da PUC-Rio e coordenadora do Centro de Inteligência Artificial do Rio de Janeiro (CIA-Rio), chamou a atenção para a importância da transparência e da complexidade dos modelos atuais de IA, considerando os riscos associados ao uso indiscriminado e a premência de aprimorar ferramentas para detectar falhas e reduzir o volume das bases de dados. “Apesar do sucesso do método ‘Machine Learning’ e, principalmente, do ‘Deep Learning’, existe a necessidade de se desenvolver pesquisa para aumentar a transparência e confiabilidade desses modelos, o que chamamos de ‘Explainable Artificial Intelligence’ (XAI). Ao tornar a IA mais explicável, auditável e transparente, podemos não apenas tornar nossos sistemas mais justos, mas também torná-los muito mais eficazes e úteis”, disse.

Professora-titular do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Teresa Ludemir enfatizou que é fundamental estabelecer políticas de dados que garantam a propriedade e privacidade, apontando os riscos de vieses nos algoritmos. “Sem dados confiáveis, a IA não produz bons resultados. É preciso estabelecer uma política que regule o acesso, por cidadãos e por empresas (principalmente estrangeiras), ao banco de dados gerados no país”. Segundo ela, os sistemas de IA precisam ser corretos, transparentes, justos, inclusivos, reproduzíveis, respeitar a privacidade e a segurança das pessoas e das instituições, e, para isso, é urgente também investir na formação de recursos humanos de qualidade.

Elisa Pereira Reis, socióloga e professora titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), falou sobre o dualismo das expectativas geradas pela IA, entre o otimismo messiânico e o temor de seus riscos catastróficos. “Essa revolução tecnológica e cognitiva não se dá em um vazio técnico ou científico. Ela se dá na dinâmica com a sociedade, com a política, com a cultura. Em saúde, educação, produção de alimentos, os ganhos podem ser imensos. Ao mesmo tempo, podem trazer prejuízos globais, desestruturação radical do mercado de trabalho, cristalização de preconceitos, dependência tecnológica.” Reis apontou a importância da transdisciplinaridade e a necessidade de os cientistas colaborarem nas decisões sociopolíticas, além da melhora no nível de educação para toda a população, para, assim, evitar um novo apartheid social.

A primeira mesa da sessão: Edmundo de Souza, Marley Vellasco, José Boisson de Marca, Teresa Ludermir e Elisa Reis

Nova Industrialização: estratégias e políticas

Seguindo as discussões do dia, os participantes debateram a posição da indústria brasileira no cenário global e quais políticas e estratégias podem ser implementadas para impulsionar o setor.

Tendo ocupado diversos cargos no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Álvaro Prata focou na necessidade de adaptar o setor industrial brasileiro e aproveitar as vantagens competitivas do país em um mercado global dominado por empresas de alta tecnologia. Professor titular do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ele apresentou uma análise da evolução das principais empresas mundiais na última década, evidenciando a substituição do setor de petróleo por empresas de alta tecnologia. Segundo ele, tal panorama serve de alerta ao Brasil, cuja participação na atividade industrial global se limita a cerca de 1% e as empresas mais fortes continuam sendo as mesmas de uma década atrás, com baixíssimo desenvolvimento de tecnologias de ponta. “O Brasil detém conhecimento científico, possui uma série de vantagens comparativas e competitivas, mas precisamos mexer na nossa indústria para que possa usar suas vantagens melhor”, afirmou.

Verena Barros, secretária executiva do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), ressaltou a importância de uma política industrial atrelada ao desenvolvimento, refletindo uma nova dinâmica entre Estado e sociedade civil. Barros apontou que o processo de desindustrialização no Brasil está associado à queda na qualidade de vida e advertiu para uma urgente necessidade de políticas públicas que promovam o adensamento produtivo no país. “Política industrial é uma política para o desenvolvimento”, disse, defendendo uma abordagem multifacetada, que combine fomento à inovação, melhorias no ambiente de negócios e uma orientação estratégica clara.

Vice-presidente da SBPC e coordenadora da Comissão de Sistematização da 5ª CNCT, Francilene Garcia falou sobre a necessidade de retomar o diálogo interdisciplinar e reorganizar o país para enfrentar questões não apenas científicas ou tecnológicas, mas também sociais e ambientais, através do conhecimento científico e do desenvolvimento tecnológico. “Precisamos de políticas de CT&I que considerem a resiliência, a sustentabilidade ambiental e a inclusão como diretrizes centrais das agendas. A crise também nos estimula a experimentar novas ferramentas, abordagens políticas e modelos de governança”, observou.

Garcia apontou para a importância da aproximação entre universidades e indústria, com estratégias de expansão e qualificação da pós-graduação e incentivos para uma maior absorção dos pesquisadores nas empresas, além de uma melhor apropriação do Marco Legal de CT&I vigente.

Pedro Wongtschowski, presidente do Conselho Superior de Inovação e Competitividade da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), encerrou as discussões enfatizando a indispensabilidade da indústria para o desenvolvimento do Brasil e a necessidade de reformas para melhorar o ambiente de negócios e fomentar investimentos em CT&I. Ele criticou o baixo investimento em CT&I pelas empresas brasileiras e destacou o papel essencial do Estado para aumentar a produção e a competitividade da indústria nacional. “Não há como desenvolver uma nação complexa como a brasileira sem um sistema industrial. É necessário que o Estado intervenha. A intenção é aumentar a produção e a competitividade da indústria brasileira”, defendeu.

Assista ao debate completo:


Confira todas as matérias sobre a reunião ABC/SBPC para a 5ª CNCTI:

Abertura de reunião ABC/SBPC abordou transição energética e segurança alimentar

Encontro preparatório para a 5ª Conferência Nacional de CT&I organizado pela ABC e pela SBPC ocorreu nos dias 5 e 6 de março no Rio de Janeiro.

Como reatar o laço social brasileiro foi o tema de reunião da 5ª CNCTI

Segunda manhã de reunião sediada na ABC abordou a crise social que afeta o Brasil e o mundo com a polarização política e o surgimento de movimentos extremistas.

Última tarde de reunião para a 5ª CNCTI discutiu a saúde brasileira

Reunião conjunta ABC/SBPC no âmbito da 5ª Conferência Nacional de CT&I abordou os temas de saúde da mulher, saúde mental e tratamentos de doenças crônicas pelo SUS.

A economia do futuro precisa de foco e metas claras

Confira novo artigo publicado no Valor Econômico com co-autoria da presidente da ABC, Helena Nader.

O grupo de Economia do Futuro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável (o Conselhão) apresentou ao Presidente da República a sugestão de um programa para a construção de Polos Tecnológicos de Alto Impacto, a serem articulados pelo governo federal com empresas, universidades, governos estaduais e municipais, e que podem potencializar a inovação e a pesquisa em diferentes regiões do país. O Brasil tem ciência, tecnologia e empreendedores capazes de entregar resultados transformadores da nossa economia e de gerar produtos para o mercado mundial.

A proposta apresentada no Conselhão recomendou o polo de combustíveis do futuro baseado na expertise e capacidade de articulação da USP; e sugeriu a construção de um centro de biotecnologia avançada, via parceria da Fiocruz com Butantan, para direcionar os esforços da saúde para terapias de impacto que o país ainda não domina, como produção de vacinas e outros insumos com base nas tecnologias de mRNA e das técnicas para produção de imunoterápicos. Com o mesmo olhar para o futuro, foi recomendado um programa para potencializar o que temos de melhor na Amazonia, com base na biodiversidade, na floresta e no conhecimento acumulado ao longo de décadas; e ainda uma articulação nacional dos núcleos de pesquisa em Inteligência Artificial (IA) para tratar do grande ativo brasileiro sedimentado em bancos de dados preciosos do SUS, IBGE, Inep e outros.

As propostas apontam concretamente para missões a serem desenvolvidas com pesquisa e inovação, via cooperação e mobilização do setor público e privado.

(…)

Glauco Arbix é professor da USP, pesquisador do Observatório da Inovação e do Centro de Inteligência Artificial-USP-Fapesp-IBM.

Fernanda De Negri é especialista em inovação e diretora do Ipea.

Helena Nader é professora emérita da Unifesp e presidente da Academia Brasileira de Ciências.

Laércio Cosentino é engenheiro pela Escola Politécnica-USP e chairman da Totvs.

Pedro Wongtschowski é doutor em engenharia, empresário e membro do conselho de diversas empresas e de entidades da área de CT&I

Leia o artigo completo no Valor Econômico.

Capes anuncia parceria para Acesso Aberto

Durante a posse da Acadêmica Denise Pires de Carvalho como presidente da Capes no dia 27 de fevereiro, a gestora anunciou a conversão do contrato com a American Chemical Society (ACS) de 68 periódicos de read only para read and publish, por um período de cinco anos. Com isso, a partir da data de hoje, professores e estudantes de todo o Brasil, atendidos pelo Portal de Periódicos da Capes, terão acesso completo aos periódicos da ACS.

Denise ressaltou que o “Portal de Periódicos é o maior acervo digital do mundo em publicações acadêmicas”, e destacou que em 2024 a Fundação continuará a conduzir o processo para assinatura de acordos transformativos. A presidente lembrou que o movimento é essencial neste momento em que se debate a cultura do acesso aberto.

A ação acontece em um momento de grande impulso ao acesso aberto. Iniciativas como o Plano S têm juntado instituições de fomento científico do mundo inteiro na expectativa de que pesquisadores por elas financiados publiquem apenas em periódicos de acesso aberto. Esse movimento tem feito com que cada vez mais grandes revistas migrem para modelos de acesso aberto, que por consequência acabam elevando os custos de publicações a preços proibitivos para países em desenvolvimento como o Brasil.

Dessa forma, urge se repensar o modelo do Portal de Periódicos da Capes. Apesar do imenso sucesso dessa política como forma de democratizar o acesso às publicações científicas, o modelo de pagamento unificado de assinaturas precisou ser repensado para dar mais espaço ao pagamento unificado de taxas de publicação. A adaptação do contrato com a ACS faz parte desse movimento.

A partir deste ano, pesquisadores brasileiros poderão publicar seus artigos nos periódicos da ACS, em formato open access e sem qualquer custo, após a devida aprovação do processo de revisão por pares. O novo acordo prevê também a ampliação do número de instituições que terão acesso aos conteúdos da American Chemical Society no Brasil.

Acadêmica Denise Pires de Carvalho assumiu a presidência da Capes (Naiara Demarco – CGCOM/Capes)

 

 

Acadêmico é escolhido co-presidente de grupo de especialistas da ONU

Carlos Henrique de Brito Cruz

O membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Carlos Henrique de Brito Cruz foi reconduzido para mais dois anos de participação no grupo de dez especialistas que assessoram o Technology Facilitation Mechanism (TFM) das Nações Unidas. A ABC esteve envolvida na indicação do Acadêmico que, para este novo termo, assumirá a função de co-presidente do grupo.

Em 2015, a ONU definiu os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) para 2030, que devem nortear as iniciativas da comunidade internacional e unir esforços de todos os setores da sociedade. Esses objetivos englobam temas como proteção da biodiversidade, controle das mudanças climáticas, promoção da igualdade racial e de gênero, garantia de educação e saúde, entre outros temas fundamentais contemporâneos.

O TFM tem como função auxiliar para que os ODS sejam cumpridos, através do estímulo à colaboração entre países, sociedade civil, setor privado e academia no mundo todo.

Os últimos dois anos

Além de professor titular do Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Carlos Henrique de Brito Cruz é vice-presidente de Redes de Pesquisa na Elsevier, uma das principais editoras científicas do mundo, e já foi diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Ele conta que essa combinação de experiências na academia, setor privado e órgãos de Estado auxiliam seu trabalho no TFM.

“Nesses dois anos, minha atuação principal foi no sentido de conectar as ODS aos órgãos de fomento científico, sobretudo através do Global Research Council (GRS), que reúne algumas das principais agências do planeta. Trouxemos representantes das financiadoras para nosso fórum anual e também participamos de reuniões do GRS, desenvolvemos projetos em cooperação, sempre tendo como objetivo colocar os ODS no foco do investimento em ciência”, afirmou.

Os ODS de destaque no Brasil

Dentro desse trabalho, Brito conta que algumas agências de fomento brasileiras, como a Capes e o CNPq, se destacam no financiamento de iniciativas voltadas à alguns dos ODS. Essa medição é possível através do banco de dados científicos Scopus, que permite cruzar as financiadoras dos trabalhos científicos com os principais temas abordados.

“O ODS 2, sobre erradicação da fome, e os ODS 14 e 15, que tratam, respectivamente, da conservação de biodiversidade aquática e terrestre, são algum dos temas que nossas grandes financiadoras aparecem com destaque. Também se destaca o ODS 7, sobre energias renováveis, somos o único país grande do mundo em que quase metade da matriz energética é limpa, mas tenho a impressão que não nos damos conta disso. Nossos representantes não destacam isso internacionalmente como deveriam”, avalia o Acadêmico.

Os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas

O futuro do Technology Facilitation Mechanism

Para os próximos dois anos, quando será co-presidente do grupo de especialistas do TFM, Brito avalia que o mais importante é consolidar institucionalmente o mecanismo, que completou oito anos de existência. “Precisamos criar e conservar essa memória institucional do grupo, para que seja cada vez mais concreto e, ao mesmo tempo, possamos maximizar a participação de todos os países”, afirma.

O Acadêmico defende também que formas de aferir resultados são essenciais e precisam estar sempre sendo pensadas e aprimoradas. “Não se trata só de uma avaliação de resultados finais, mas de acompanhamento dos trabalhos à medida que eles vão acontecendo, para que possam estar sempre sendo aprimorados e consigamos chegar mais próximo dos objetivos em 2030”.

O futuro da Agenda 2030

Mas esse não é um desafio trivial. Para Brito, o cenário internacional de hoje é pior do que o de 2015, quando os ODS foram estipulados. A pandemia de covid-19, os conflitos internacionais e a intensificação da corrida tecnológica entre o Ocidente e a China aumentaram a resistência à transferência tecnológica e à cooperação científica.

“Nós estamos na metade do caminhos e tivemos eventos com os quais ninguém contava. Eu acho possível que várias das metas não sejam atingidas até 2030, mas, ao mesmo tempo, isso não é razão para se dizer que os ODS foram fracassadas. É por causa das ODS que cada um desses objetivos avançou mais do que avançariam em separado. Elas se tornaram foco de várias universidades e institutos de pesquisa ao redor do mundo, o setor privado também está relativamente atento à elas. O que precisamos é aumentar a intensidade da colaboração entre esses setores e, sobretudo, entre os países. Isso foi o que ficou mais difícil nos últimos anos”, avalia.

 

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