A ABC sediou no dia 5 de abril, mais uma reunião preparatória para a 5ª Conferência Nacional de CT&I, dessa vez com o tema “Ciência e Tecnologias Quânticas”. Organizada pelas Fundações de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro e São Paulo (Faperj e Fapesp), o encontro foi realizado em dois dias, o primeiro na ABC e o segundo na sede da Fapesp, em São Paulo.

O mundo está passando por uma segunda onda de tecnologias quânticas e o Brasil precisa se preparar para não perder a janela de oportunidade de entrar no radar global. Mesmo com investimentos menores, o país tem uma comunidade qualificada de especialistas na área, mas segue atrás em inovação. “Precisamos criar uma Iniciativa Quântica Brasileira, com esforço interministerial. Países como EUA, Inglaterra e China já fizeram isso”, destacou Marcelo Terra Cunha, professor da Unicamp e um dos idealizadores da reunião.

Terra organizou a reunião junto co o ex-presidente da ABC Luiz Davidovich, cuja especialidade é a óptica quântica. Davidovich traçou um panorama do mercado de tecnologias quânticas no mundo, chamando a atenção para a ausência de empresas brasileiras. Assim como em outras áreas, na ciência quântica o Brasil sofre para transformar o conhecimento gerado em inovação. “Temos uma área acadêmica relevante, mas faltam empresas. Deveríamos nos preocupar sobretudo com a geração de startups. Não podemos ficar na segunda divisão desse jogo”.

A mesa de abertura do evento. Da esquerda para a direita: Marcelo Terra (Unicamp), Marcia Barbosa (MCTI), Luiz Davidovich (UFRJ), Jerson Lima (Faperj) e Fernando Rizzo (CGEE)

Na mesma linha, o professor Daniel Felinto, da UFPE, lembrou que há uma corrida tecnológica em curso na qual o Brasil deveria tomar parte. “Os computadores quânticos atuais já estão bastante desenvolvidos mas são bastantes diferentes entre si. É uma corrida maluca em que todos acham que estão em primeiro”.

A maior parte dos presentes na reunião eram físicos, mas o grande desafio é fazer a ciência quântica ir além da Física. É preciso atrair os engenheiros e programadores, com capacidade de gerar inovação. Para isso, foi sugerido que a área seja incluída nos currículos básicos das engenharias.

Para transpor o vale entre ciência e inovação, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) escolheu o Senai-Cimatec, em Salvador, como centro de competência em tecnologias quânticas. A coordenadora do centro, Valéria da Silva, afirmou que o espaço busca não apenas formar cientistas capacitados, mas fornecer infraestrutura, assessoria e estudos de mercado para quem quer empreender. “Para ter demanda, é preciso que o empresário entenda como ele pode usar aquela tecnologia”

O professor Ivan Oliveira, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), afirmou que a instituição está construindo um laboratório nacional multiusuário para desenvolvimento de supercondutores quânticos, que deve entrar em funcionamento no fim de 2024. Ele defendeu que os chips quânticos são uma tecnologia quântica com grande capacidade de escalonamento e impacto.

Para Oliveira, o atual modelo de avaliação dos pesquisadores não combina com a área. “Tecnologias quânticas tem alto valor agregado, mas são investimentos de risco. Isso não combina com uma avaliação focada em número de artigos. Temos que aceitar que um trabalho pode dar errado, não produzir um artigo, e mesmo assim contribuir para o avanço do conhecimento”.

Assista ao evento na ABC: