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Panorama Atual do Ensino Superior no Brasil

No dia 30 de abril, 3ª feira, às 16h, a terceira edição do Fórum ABC/SBPC de Educação Superior vai trazer Luiz Roberto L. Curi (CNE) e Elizabeth Balbachevsky (USP) para apresentarem um Panorama Atual do Ensino Superior no Brasil.

Confira! O evento é on-line e será transmitido pelo YouTube da Academia Brasileira de Ciências.

A série de eventos é coordenada pelos Acadêmicos Aldo Zarbin e Sylvio Canuto.

 

Os palestrantes:

Luiz Roberto L. Curi (CNE)

Sociólogo e doutor em Economia, ambos pela Unicamp. É conselheiro e atual presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE). Atuou no CNPq, no CGEE, foi presidente do INEP/Ministério da Educação. Atuou também no Governo do Estado de São Paulo e na Prefeitura de Campinas, entre outros destacados cargos de gestão.

 

 

Elizabeth Balbachevsky (USP)

Doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP, onde é livre docente pelo Departamento de Ciência Política e professora associada no mesmo departamento. É vice-coordenadora do Núcleo de Pesquisa sobre Políticas Públicas da USP (NUPPs/USP). Desenvolve pesquisas na área de políticas de ciência, inovação e ensino superior, além de estudos na área de comportamento político.

 

 

 

 


SERVIÇO:

Evento: Fórum ABC/SBPC de Educação Superior
Tema:  Panorama Atual do Ensino Superior no Brasil
Palestrantes: Luiz Roberto L. Curi (CNE) e Elizabeth Balbachevsky (USP)
Local: YouTube da ABC
Data: 30 de abril, 3a feira
Hora: 16h

Acadêmico é indicado para diretor de Avaliação da Capes

O  Acadêmico Antônio Gomes de Souza Filho foi nomeado para exercer o cargo de diretor de Avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior  (Capes), decisão publicada em DO no dia 10 de abril.

Gomes concluiu o doutorado em Física pela Universidade Federal do Ceara (UFC) em 2001, com a realização de estágio sanduíche no MIT-EUA durante o ano de 2000. Atualmente é professor do Departamento de Física da UFC, tendo atuado como pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Federal do Ceará de 2016 a 2019. Atuo também como pesquisador visitante da Unicamp (2009-2010). Atua na área de física da matéria condensada com ênfase em nanociência e nanotecnologia e é bolsista de produtividade do CNPq, nível 1A.

Foi tesoureiro da Sociedade Brasileira de Física (2017-2019) e membro do Conselho  (2019-2021). Atuou como cientista chefe da Fundação Cearense para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) do estado do Ceará (2019-2022). Foi nomeado coordenador da área de Astronomia/Física na Capes (2022 -2026), onde também integra o Conselho Técnico Científico (CTC) como membro titular desde 2023. 

Publicou 260 artigos em periódicos internacionais especializados. É autor e co-autor de sete artigos de revisão convidados e cinco capítulos de livros (springer-verlag). É co-autor do livro “Solid State Properties From Bulk to Nano”, publicado pela Springer-Verlag em 2018. Orientou nove dissertações de mestrado e co-orientou três. Orientou 11 teses de doutorado e co-orientou cinco. Supervisionou dez estágios de pós-doutorado.

Participou de projetos de colaboração internacional com as universidades de Tohoku (Japão) e de Lyon-1 (França), e também no MIT (EUA). Ministrou várias palestras e seminários como convidado no Brasil e no exterior, organizou eventos nacionais e internacionais e participou de vários comitês científicos de eventos internacionais consolidados. É consultor de várias agências de fomento e árbitro regular de várias revistas científicas.

Foi agraciado em 2009 com o prêmio Somiya da International Union of Materials Reserach Societies 2009 for the Collaborative Work on Carbon Nanostructured Materials. Recebeu em 2018, da Presidência da República do Brasil, a Comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico – Classe Comendador. 

Foi membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (2011-2015) e eleito membro titular em 2018. Atuou como membro do Conselho Consultivo da ABC (2019-2021). Em 2024, foi eleito fellow da The World Academy of Science (TWAS). 

Conferência Livre do GT de Ensino Superior: 3ª e 4ª Sessões

01No dia 8 de abril a Academia Brasileira de Ciências (ABC) promoveu a Conferência Livre “Modernização da estrutura de ensino superior brasileira para o desenvolvimento socioeconômico sustentável”, organizada pelo grupo de trabalho sobre Ensino Superior Brasileiro da ABC. A reunião fez parte do calendário preparatório para a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5ª CNCTI).

A primeira mesa da parte da tarde teve como tema a criação de centros de formação de recursos humanos em áreas estratégicas. A proposta do grupo é de seis áreas: Bioeconomia; Agricultura e Agronegócio; Transição Energética; Saúde e Bem-Estar; Transformação Digital e Materiais Avançados e Tecnologias Quânticas.

José Roberto Piqueira

O engenheiro e professor da Escola Politécnica da USP José Roberto Piqueira lembrou que a procura pela área de exatas vem encolhendo nas universidades e que, dos que ingressam, apenas 16% concluem a graduação. Para piorar o cenário, muitos desses empregos estão em áreas diferentes da formação original.

Para ele, o atual modelo das universidades é muito engessado e não engloba as diferenças regionais do Brasil, nem se esforça para integrar questões a realidade de um grupo cada vez mais diverso de alunos.  “Uma experiência que eu fazia em sala de aula foi agrupar alunos de diferentes origens socioeconômicas e pedir para que descrevessem a eletrificação de suas casas, isso mostrava a todos as diferenças sociais em infraestrutura”.

Mas não é apenas a engenharia elétrica que precisa dialogar com a realidade, praticamente qualquer área tecnológica disposta a desenvolver inovação precisa entender os problemas da sociedade. “Sabem por que o Brasil se desenvolveu tão rápido em automação bancária? Por causa da hiperinflação da década de 80. Se a transação não fosse rápida se perdia dinheiro, então os banqueiros trouxeram para si engenheiros de sistemas que criaram uma competência muito grande na área”, exemplificou.

O novo aprendizado deve ter amplitude, pois ninguém sabe o que os alunos vão precisar daqui a 50 anos. A interdisciplinaridade já se tornou um mantra, mas é preciso leva-la a sério, compreendendo quais as inquietações dos novos alunos e aceitando que estes são diferentes dos alunos de 20 anos atrás.  “Eu sou engenheiro, não é importante para mim saber falar sobre correntes filosóficas, mas é importante que eu saiba ouvir. Da mesma forma, para um historiador, não é importante que ele saiba construir uma ponte, mas é importante que ele saiba ouvir e compreender sobre esse processo”, finalizou.

Centros de Formação de Recursos Humanos em Áreas Estratégicas (CFEA)

Adalberto Fazzio

O físico e Acadêmico Adalberto Fazzio, diretor-fundador da Ilum Escola de Ciência, graduação integrada em ciências associada ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas, afirmou que o modelo de produção de ciência no século 21 precisa diminuir a ênfase na relação mestre-aprendiz, que ainda remete ao século 19. “O jovem precisa estar desde cedo num ambiente que estimule sua independência científica. Hoje em dia nossos alunos vão atingir essa independência muito tardiamente, após doutorados e pós-doutorados, já beirando os 40 anos”.

Fazzio lembrou que a ABC produziu uma série de documentos temáticos que servem como guias para introduzir os assuntos e também ajudaram a definir as áreas estratégicas. Ele reforçou que o país precisa ter áreas prioritárias. “Já conheci reitores cuja mentalidade para a divisão de recursos era dividir igualmente por todas as áreas. Não pode ser assim, é preciso entender as demandas de cada área e, sobretudo, é preciso definir quais são as prioridades. No Brasil temos uma dificuldade enorme em fazer escolhas”, avaliou.

A ideia dos CFEAs é justamente trabalhar em torno dos temas prioritários, trazendo grupos de pesquisa diversos para pesquisar com um olhar atento aos problemas da sociedade. É preciso entender quais são as demandas da indústria e superar o preconceito mútuo entre academia e setor privado. “Precisamos de centros com metas claras de desenvolvimento de inovação, não apenas inovação tecnológica mas novos modelos de negócio, estimulando startups”.

Para o bioquímico Jorge Almeida Guimarães, ex-presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), o foco deve ser a inovação, mas tendo em mente quem será beneficiado por ela. Ele lembrou que os pilares da inovação são a presença de talentos científicos, instituições qualificadas e empresas de ponta, além de investimentos do Estado e o incentivo à cultura do empreendedorismo pessoal – tudo isso, para algumas áreas pelo menos, o Brasil já tem.

O Acadêmico Jorge Almeida Guimarães participou de forma virtual

Os desafios estão justamente em fazer todos esses fatores dialogarem. Além da gigantesca burocracia estatal e dos imbróglios jurídicos e regulamentares com que pesquisadores precisam gastar tempo, é preciso superar a resistência empresarial à inovação aberta e nacional. “Precisamos reduzir o Custo Brasil e operar o modelo tripla-hélice – investimentos conjuntos de governo, universidade e empresa – em larga escala”, afirmou.

Para ele, o modelo dos CFEAs deve ser iniciado com chamadas públicas, desenhadas por agências de fomento, para selecionarem, à princípio, 15 grupos de pesquisa de comprovada liderança nas áreas. Esses grupos serão credenciados como CFEAs e vinculados à uma universidade sede, mas manterão certas autonomias. “Eles não podem ser engessados na estrutura da universidade, a autonomia precisa estar desde o planejamento de ações, na alocação de pessoal e recursos e na assinatura de contratos. O principal é ter autonomia decisória”.

Um novo ensino superior para a Amazônia

Adalberto Val

Durante a mesa final do evento, o biólogo e vice-presidente da ABC para a Região Norte, Adalberto Luis Val, defendeu que novos modelos precisam ser pensados, inclusive, como forma de superar um problema histórico da educação superior brasileira: a falta de interiorização. “A Amazônia segue com investimento muito baixo em capacitação. Dessa forma, segue sendo incapaz de gerar soluções robustas para as questoes ambientais e sociais, para a geração de uma bioeconomia. Estamos em 2024 e o conhecimento segue sendo gerado pela sociedade externa à Amazonia”, avaliou.

Isso gera contradições notáveis. A maior parte da produção científica sobre produtos florestais – como a castanha, o açaí, o cacau e peixes como o tambaqui e o pirarucu – acontece no exterior. Nenhum dos peixes amazônicos, tão importantes para a dieta da região, está inserido no mercado global, gerando dividendos para a região. Entretanto, algumas espécies, como o pacu-vermelho, já estão sendo criadas e vendidas por países asiáticos. “Por aqui essas cadeias de valor ainda estão no nascedouro. Uma bioeconomia forte depende de desvendar o conhecimento escondido na floresta”.

Mas essa produção ainda escorrega e a região sofre para fixar pesquisadores. Há uma divisão muito desigual entre as unidades de pesquisa na parte Atlântica e no interior do Brasil. “Há uma nova linha de Tordesilhas que separa onde se faz ciência de onde não se faz. Ainda em 2005, na época em que Jorge Guimarães presidiu a Capes, foi definido que todos os alunos matriculados em pós-graduações reconhecidas na Amazônia receberiam bolsa. O objetivo era fazer com que se fixassem, mas desde então avançamos pouco”.

Fator Tordesilhas – Mapas apresentados por Adalberto Val

Para Val, o novo Sistema Nacional de CT&I não deve ser pensado a partir de modelos homogeneizantes, muito pelo contrário, devem entender a diversidade como positiva e conectada às diferenças de cada sociedade. É preciso fomentar a colaboração e novas formas de organização de grupos de pesquisa, capacitando pessoal sempre com o olhar voltado à demanda da região.

“O dinamismo do mundo moderno não combina mais com a rigidez das áreas de conhecimento convencionais. Precisamos de um sistema mais flexível em que as instituições tenham autonomia de gestão, de aplicação de recursos e na definição de prioridades. Não basta mais publicar nas melhores revistas do mundo, é preciso contribuir com a sociedade”, finalizou o Acadêmico.

 


Acesse as notícias sobre as outras sessões do evento!

Conferência Livre do GT de Educação Superior: Primeira Sessão

Conferência Livre do GT de Educação Superior: Segunda Sessão

ABC sedia conferência sobre Ciência e Tecnologias Quânticas

A ABC sediou no dia 5 de abril, mais uma reunião preparatória para a 5ª Conferência Nacional de CT&I, dessa vez com o tema “Ciência e Tecnologias Quânticas”. Organizada pelas Fundações de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro e São Paulo (Faperj e Fapesp), o encontro foi realizado em dois dias, o primeiro na ABC e o segundo na sede da Fapesp, em São Paulo.

O mundo está passando por uma segunda onda de tecnologias quânticas e o Brasil precisa se preparar para não perder a janela de oportunidade de entrar no radar global. Mesmo com investimentos menores, o país tem uma comunidade qualificada de especialistas na área, mas segue atrás em inovação. “Precisamos criar uma Iniciativa Quântica Brasileira, com esforço interministerial. Países como EUA, Inglaterra e China já fizeram isso”, destacou Marcelo Terra Cunha, professor da Unicamp e um dos idealizadores da reunião.

Terra organizou a reunião junto co o ex-presidente da ABC Luiz Davidovich, cuja especialidade é a óptica quântica. Davidovich traçou um panorama do mercado de tecnologias quânticas no mundo, chamando a atenção para a ausência de empresas brasileiras. Assim como em outras áreas, na ciência quântica o Brasil sofre para transformar o conhecimento gerado em inovação. “Temos uma área acadêmica relevante, mas faltam empresas. Deveríamos nos preocupar sobretudo com a geração de startups. Não podemos ficar na segunda divisão desse jogo”.

A mesa de abertura do evento. Da esquerda para a direita: Marcelo Terra (Unicamp), Marcia Barbosa (MCTI), Luiz Davidovich (UFRJ), Jerson Lima (Faperj) e Fernando Rizzo (CGEE)

Na mesma linha, o professor Daniel Felinto, da UFPE, lembrou que há uma corrida tecnológica em curso na qual o Brasil deveria tomar parte. “Os computadores quânticos atuais já estão bastante desenvolvidos mas são bastantes diferentes entre si. É uma corrida maluca em que todos acham que estão em primeiro”.

A maior parte dos presentes na reunião eram físicos, mas o grande desafio é fazer a ciência quântica ir além da Física. É preciso atrair os engenheiros e programadores, com capacidade de gerar inovação. Para isso, foi sugerido que a área seja incluída nos currículos básicos das engenharias.

Para transpor o vale entre ciência e inovação, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) escolheu o Senai-Cimatec, em Salvador, como centro de competência em tecnologias quânticas. A coordenadora do centro, Valéria da Silva, afirmou que o espaço busca não apenas formar cientistas capacitados, mas fornecer infraestrutura, assessoria e estudos de mercado para quem quer empreender. “Para ter demanda, é preciso que o empresário entenda como ele pode usar aquela tecnologia”

O professor Ivan Oliveira, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), afirmou que a instituição está construindo um laboratório nacional multiusuário para desenvolvimento de supercondutores quânticos, que deve entrar em funcionamento no fim de 2024. Ele defendeu que os chips quânticos são uma tecnologia quântica com grande capacidade de escalonamento e impacto.

Para Oliveira, o atual modelo de avaliação dos pesquisadores não combina com a área. “Tecnologias quânticas tem alto valor agregado, mas são investimentos de risco. Isso não combina com uma avaliação focada em número de artigos. Temos que aceitar que um trabalho pode dar errado, não produzir um artigo, e mesmo assim contribuir para o avanço do conhecimento”.

Assista ao evento na ABC:

Começam as aulas no primeiro curso de graduação do Impa

*adaptado de Impa.

Nesta quarta-feira, 3 de abril, começam as aulas no IMPA Tech, primeiro curso de graduação do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa). Com quatro anos de duração, o bacharelado em Matemática da Tecnologia e Inovação começa com um ciclo básico de um ano e meio. Em seguida, os alunos escolhem entre quatro ênfases: Matemática, Ciência da Computação, Ciência de Dados e Física.

A graduação conta com alunos de diferentes estados do Brasil. Para atrair os estudantes, o IMPA Tech oferece alojamento estudantil para os maiores de 18 anos, graças à parceria com a Prefeitura do Rio, auxílio alimentação de R$ 1.290, além de uma bolsa de R$ 500.

O processo seletivo dos alunos considerou o desempenho em cinco olimpíadas do conhecimento, como a OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas), a maior do Brasil com mais de 18 milhões de participantes, e a nota de matemática do Enem, além de entrevistas virtuais.

Localizado no Porto Maravalley, hub de inovação do Rio de Janeiro, os alunos estudarão em um ambiente cercado de startups e empresas de tecnologia, contribuindo para o desenvolvimento de novas tecnologias. Segundo o diretor-geral do IMPA e membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Marcelo Viana, “não é uma graduação qualquer”.

“Inserida neste espaço de inovação, vai formar jovens em alto nível para a atuação prática na resolução dos problemas do Brasil, suas empresas e suas autoridades. Para mudar o mundo por meio da matemática! Vamos oferecer a expertise do IMPA e de seus professores, e o apoio à subsistência e à moradia, para que realize seus estudos nas melhores condições. E vamos apoiar os egressos em sua inserção profissional, tanto no mercado de trabalho quanto na pós-graduação.”

Estiveram presentes na inauguração, no dia 2 de abril, o presidente da República, os ministros de Estado da Educação e da Ciência, Tecnologia e Inovação e o prefeito da cidade do Rio de Janeiro.

O Acadêmico Marcelo Viana, diretor do Impa, na inauguração do IMPA Tech (Foto: Palácio do Planalto)

Audiência no Senado alerta para a crise na formação de mestres e doutores no Brasil

Confira a matéria da Agência Senado:

A Comissão de Educação do Senado Federal debateu nesta terça-feira (26) as políticas públicas e perspectivas para o mercado de trabalho dos pós-graduandos. Os debatedores apontaram desafios como o número reduzido de profissionais com doutorado e mestrado no Brasil, e a necessidade de mais investimentos e absorção desses profissionais no mercado de trabalho.  

O requerimento (REQ 70/2023 – CE) para a audiência pública apresentado pela senadora Teresa Leitão (PT-PE), que presidiu a reunião remota, enfatizou a importância do investimento em pesquisa, ciência e tecnologia para o desenvolvimento nacional e a inserção do país no cenário mundial. 

— A pós no Brasil vem sendo bastante dificultada pelo insuficiente apoio financeiro e pela escassa garantia de direitos, por parte do Estado, aos estudantes dos programas de pós — explicou Teresa. 

Olival Freire Júnior, presidente substituto do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), afirmou que o atual orçamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) não é suficiente para sustentar a quantidade de recém-doutores brasileiros.

— Nós temos sinais de crise e, se nós não tivermos capacidade como nação brasileira, como Estado brasileiro, de fazermos o diagnóstico correto, nós teremos enormes prejuízos no futuro imediato — disse.

E o número de conclusões de doutorado era para ser maior, segundo Vinicius Soares, presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG). Ele explicou que a meta nacional seria formar 25 mil doutores por ano, mas uma série de fatores — que ele considera sistêmicos — têm impedido a formação de quadros técnicos e, após a pandemia, esse cenário teria sido agravado.

— A gente, enquanto estudante de pós-graduação stricto sensu, pensa muito: o que eu vou fazer quando terminar o meu mestrado, quando terminar o meu doutorado? Tem de fato uma lacuna sistêmica em nosso país porque não tem um plano de absorção desses mestres e doutores.

Direitos sociais e orçamento

O declínio no interesse pela pós-graduação decorre da perda de direitos sociais básicos como aposentadoria ou licença-maternidade, apontou ainda Vinícius.  A evasão de 60% nos programas de graduação reduz ainda mais a oferta de candidatos à pós-graduação. Além disso, faltam perspectivas profissionais para quem conclui um mestrado ou doutorado. Não há uma política nacional para absorvê-los. 

Charles Morphy D. Santos, presidente do Fórum de Pró-Reitores de Pós-Graduação e Pesquisa (FOPROP), reconheceu que houve um investimento adicional em 2023, com o reajuste das bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado, que estavam praticamente estagnadas desde 2013. Mas essa pequena melhoria, para ele, não é suficiente para reverter a situação. 

— Se a gente olhar a dotação para 2024, é perceptível aqui que há uma redução do orçamento previsto, o que, de certa maneira, vai impactar algumas ações, tanto da Capes quanto ações ligadas à pós-graduação, de uma forma geral — comentou.

Abaixo da OCDE

Segundo Denise Pires de Carvalho, presidente da CAPES, o país forma cerca de cinco vezes menos doutores do que a média da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Enquanto os Estados Unidos e a Alemanha, por exemplo, formam entre 60 e 70 mil doutores por ano, o Brasil forma menos de um terço desse total.

— Nesse ritmo nós não vamos alcançar a média da OCDE em termos de percentual de doutores da nossa população — lamentou.

A presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Helena Bonciani Nader, defendeu a adoção de políticas públicas para estimular a contratação de mestres e doutores pela iniciativa privada. Ela sugeriu que o Brasil siga o exemplo da China e da Índia, que aprovaram políticas para esse tipo de contratação. Atualmente, a grande maioria de mestres e doutores brasileiros trabalha para a administração pública nos níveis federal, estadual e municipal. 

— Sem ciência não vai haver desenvolvimento — sentenciou.

Fonte: Agência Senado

Fórum da Educação Superior ABC/SBPC alerta para a relação da universidade com a educação básica

0No dia 26 de março, terça-feira, aconteceu a segunda edição do Fórum da Educação Superior ABC/SBPC, com o tema “História da Educação e do Ensino Superior”. Organizado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o evento contou com os professores Luciano Mendes de Faria Filho, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Mozart Neves Ramos, da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto.

Teses sobre o Ensino Superior Brasileiro

O professor Luciano Mendes, que participa dos projetos Pensar a Educação, Pensar o Brasil – 1822/2022 e Portal do Bicentenário, iniciativas de pesquisa em rede sobre educação, levantou algumas reflexões. A primeira é que ainda conhecemos pouco sobre as práticas de sala de aula no ensino superior. “Temos muita pesquisa sobre as políticas públicas mas sabemos muito pouco sobre o que ocorre em sala de aula. As práticas tendem a ser particulares de cada professor, e se perdem quando estes se aposentam”, analisou.

Outra marca fundamental é a desigualdade. O ensino superior público é preso aos modelos das universidades e institutos federais, que cada vez são menos capazes de responder à demanda por vagas. Resulta disso a expansão exponencial do ensino privado, com a ajuda de subsídios públicos. “Temos apenas 23% dos alunos matriculados em instituições públicas. Quanto mais pobre uma pessoa, mais direcionada ela é para o ensino superior privado. Precisamos encontrar um novo modelo de expansão do ensino superior, pois o atual é insustentável”.

As atuais universidades públicas são filhas da reforma universitária de 1968, muito inspirada na experiência americana e na interface ensino-pesquisa. Para Luciano, entretanto, enquanto nas universidades estrangeiras a prática científica já estava consolidada quando se proliferou o modelo da pós-graduação stricto sensu, no Brasil ambos nasceram juntos, e continuam ligados umbilicalmente. “Na pesquisa, precisamos ir além da pós graduação. O modelo atual desencoraja o risco, e, muitas vezes, é no erro que está a descoberta. Que aluno vai escolher uma pesquisa disruptiva se, ao final dos quatro anos, ele tiver que devolver o dinheiro caso não tenha uma tese?”, refletiu.

Mozart Neves, ex-reitor da UFPE eprofessor da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP; e Luciano Mendes, professor da Faculdade de Educação da UFMG

Tudo começa na educação básica

A crise universitária brasileira não se resolve sem antes resolver a educação básica. Essa foi a frase com que o ex-secretário de Educação de Pernambuco e ex-reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Mozart Neves Ramos, abriu sua participação. Ele lembrou que menos da metade dos formandos no ensino médio atingem as médias mínimas esperadas em matemática, de acordo com o padrão dos países desenvolvidos.

Esse déficit educacional atinge em cheio o ensino superior, drenando recursos fundamentais. As taxas de desistência nas faculdades, públicas e privadas, estão na casa dos 60%. “Isso representa um desperdício de R$ 20 bilhões todos os anos”, quantificou Mozart.

Reverter esse cenário passa, necessariamente, por valorizar o trabalho do professor. Hoje, a licenciatura é o caminho escolhido por 20% dos alunos do ensino superior. O professor da educação básica é, de longe, a categoria profissional que a universidade mais forma. Mesmo assim, salários baixos e a falta de um plano de carreira tornam a profissão muito pouco atrativa, e muitos enxergam a licenciatura apenas como uma etapa intermediária antes da pós-graduação. “Para se ter uma ideia, a média da nota de ingresso em Pedagogia é a mais baixa do Enem, apenas 450 pontos. Segundo o Inep, alunos que fazem apenas 450 pontos não deveriam estar aptos a deixar o ensino médio”, exemplificou o pesquisador.

Fonte: MEC/Inep; ENEM – Gráfico elaborado pela Deed/Inep

Caminhos para o futuro

Para Mozart Ramos, o século XXI trouxe tecnologias que renderam obsoleto boa parte do modelo tradicional de educação, seja básica ou superior. O mundo hoje é interdisciplinar, algo que as universidades brasileiras tem dificuldade de compreender. Os alunos já dominam outras formas de absorção de conteúdos e o mercado de trabalho exige cada vez menos um diploma.

“Diploma hoje é ponto de partida, não de chegada, a formação deve ser contínua. Precisamos de professores que entendam esse futuro e criem novos ambientes de aula. Ainda estamos presos ao tempo da Enciclopédia Barsa”, alertou. “Hoje se eu fosse reitor faria duas coisas: uma pró-reitoria de educação básica e um observatório dos egressos, para que os alunos que estão no mercado de trabalho compartilhem suas experiências e ajudem a universidade a se modernizar”, concluiu.

Por sua vez, Luciano Mendes reforçou que é preciso investir nos professores. “As melhores experiências internacionais mostram que não tem mistério. Não se trata de inventar cada vez mais cursos e especializações. Precisamos valorizar a carreira e os salários, feito isso, as pessoas se interessam naturalmente”, afirmou.

Entretanto, o pesquisador lembrou que não existe milagre. Não é possível enxergar a educação de forma alheia à realidade socioeconômica brasileira. “Não podemos achar que vamos resolver a educação básica sem medidas claras de redistribuição de renda. Do ponto de vista da sociedade brasileira, a escola não é prioridade. Temos 33 milhões de pessoas passando fome. É impossível valorizar a educação básica nesse cenário”, concluiu.

Assista ao webinário completo:

Entidades científicas e médicas demonstram apoio à Nísia Trindade

Leia matéria de Raíssa Basílio para a Folha de S. Paulo, publicada em 21 de março:

São Paulo – Em meio às críticas e tensões políticas, a ministra [e membra titular da ABC) Nísia Trindade afirmou, nesta quinta-feira (21), que segue em sua posição no comando da pasta da Saúde. Trindade citou que enfrenta um cenário de opressão, além da exposição e dos comentários machistas.

A pressão contra a ministra se acirrou na terça-feira (19), após uma reunião com representantes da Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), que reúne gestores de capitais e cidades grandes e médias.

Como antecipou a Folha, a pressão fez com que a pasta decidisse redistribuir as doses da vacina contra a dengue para municípios que não foram contemplados inicialmente nos critérios de maior gravidade.

Em apoio à permanência da ministra, diversas entidades e grupos científicos e médicos divulgaram notas nesta quinta-feira (21). A ABC (Academia Brasileira de Ciências) disse que são inapropriadas as questões críticas à ministra.

“Consideramos inapropriado que questões críticas como as sequelas da Covid-19, surtos de dengue, violência e negligência em relação à saúde das populações indígenas sejam obscurecidas por disputas políticas no Ministério da Saúde. O esforço admirável realizado pela atual gestão ministerial demanda te

A SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) também expressou seu apoio e solidariedade à Nísia Trindade, frisando seu trabalho notável na reconstrução do Ministério da Saúde após os danos causados “pela política negacionista do governo anterior”.”A SBPC conclama todos os defensores da saúde e da vida humana a juntarem seus esforços e somarem suas vozes na defesa de uma recomposição das condições básicas de cuidado com os seres humanos de todas as idades em nosso país”, diz a nota divulgada.

(…)

“Torço para que ela —como muitas de nós mulheres em lugares difíceis—mantenha-se calma e serena, segure a própria voz, se ampare na sororidade de milhares de cientistas e sanitaristas do Brasil e se mantenha firme, dando continuidade ao processo de reconstrução e inovação que tão legitimamente lidera. É preciso ter a estatura de uma Nísia Trindade para combater a miséria política”, citou Rosana Onocko Campos, presidente da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva).

Tensões políticas

Nísia se encontra em um cenário político dominado por tensões, além da epidemia de dengue no país, há cobranças por todos os lados da Saúde, seja do presidente da Câmara, Arthur Lira, do centrão, que têm pressionado por mais verbas da pasta e o próprio presidente Lula.

(…)

Primeira mulher a ocupar a pasta da Saúde

A socióloga Nísia Trindade, 66, é a primeira mulher a ocupar o cargo de ministra da Saúde em 70 anos desde a criação da pasta.

Graduada em ciências sociais, mestre em ciência política, doutora em sociologia, Nísia assumiu a presidência da Fiocruz em 2017. Ela é servidora da fundação desde 1987.

Eleita com 60% dos votos de trabalhadores, pesquisadores e professores da Fiocruz, foi a primeira mulher a presidir a centenária instituição, referência em ciência, saúde pública e tecnologia em saúde da América Latina.

Nísia liderou o acordo da Fiocruz com a AstraZeneca para a produção no Brasil de vacinas contra a Covid-19. Na gestão dela, a fundação ainda foi escolhida pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como centro de desenvolvimento e produção de vacinas com a tecnologia de RNA mensageiro na América Latina.

Leia a nota na íntegra no site da Folha.

 

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