A Academia Brasileira de Ciências (ABC) convida seus membros e a comunidade científica como um todo para a sessão de lançamento de importantes editais promovidos pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Os editais representam grandes oportunidades para o avanço da ciência no Brasil. São eles:
Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT)
Edital Universal (CNPq)
Pró-Infra Desenvolvimento Regional – Norte, Nordeste e Centro-Oeste (FNDCT/Finep)
Parques Tecnológicos – 2024 (FNDCT/Finep)
O evento, que contará com a presença da ministra Luciana Santos, do secretário-executivo Luis Fernandes, da presidente da ABC, Helena B. Nader, e do presidente da SBPC e Acadêmico Renato Janine Ribeiro, ocorrerá no dia16 de outubro (quarta-feira), a partir das 10h30, no auditório da sede da ABC, no Rio de Janeiro. O evento seria no dia 9/10, mas foi transferido por questões de agenda da ministra.
A sessão será transmitida ao vivo pelo canal da ABC no YouTube, possibilitando a participação virtual dos membros e público interessado.
Contamos com a participação de vocês neste importante momento para a comunidade científica brasileira.
A presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Helena Bonciani Nader, ministrou no dia 3 de outubro a Haddad Distinguished Lectureno David Rockefeller Center for Latin American Studies em Harvard. Ao lado da também Acadêmica Marcia Caldas de Castro, que coordenou o evento, Nader trouxe um histórico do desenvolvimento científico nacional para abordar o tema “Por que o Brasil deve priorizar investimentos estratégicos em ciência, tecnologia e inovação para um futuro sustentável”.
O Brasil começou atrasado a desenvolver sua ciência. Mesmo na América Latina, no México e no Peru, universidades já existiam no século 16. Por aqui, as primeiras instituições de pesquisa foram surgir no século 19, e as primeiras universidades só no século 20. As primeiras agências de fomento, Capes e CNPq, surgiram em 1951, e só no fim da década de 60 e início de 70 começaram a surgir com mais força os programas de pós-graduação.
Esse sistema se consolidou até o fim do século 20. Até que, no século 21, passou por uma expansão, tanto territorial quanto no conjunto da população que passou a alcançar. “A expansão dos programas de pós-graduação de qualidade nesse novo século é real e deveria ser mais comentada, pela mídia e por todos nós”, defendeu a presidente da ABC.
Mas o Brasil ainda tem muito a avançar. Apesar de ser o 13º maior produtor de artigos científicos do mundo, o país é apenas o 49º no Índice Global de Inovação, mostrando que a pesquisa de ponta feita nas universidades ainda não chega na sociedade. Nos últimos anos, o país viu a sua produção científica e o seu número de graduandos e pós-graduandos encolher. “Precisamos urgentemente entender o que está acontecendo”, alertou Nader.
O número de jovens que não estudam nem trabalham cresce cada vez mais, enquanto os que ainda procuram o ensino superior são, em maioria, absorvidos por um sistema privado no qual o país tem muito pouco controle sobre sua qualidade. Esse fenômeno se intensificou durante a pandemia, com essas instituições adotando em peso o modelo de ensino à distância (EaD). “O EaD é importante, veio para ficar, mas é preciso existir algum tipo de contato presencial que a maioria desses cursos não oferece”, defendeu Nader.
Para além da ciência, ainda ocupamos apenas o 89º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e temos uma economia que cresce aos solavancos, incapaz de atingir todo seu potencial. Esse cenário é agravado quando consideramos que o crescimento populacional caiu muito, fazendo com que o país esteja no fim de sua janela demográfica. Isso quer dizer que teremos uma população envelhecida, menos capaz de desenvolver, mais cedo do que gostaríamos. “Temos um grande caminho a percorrer”, sumarizou a presidente da ABC.
Para avançar, o país precisará alavancar seu investimento em ciência. Hoje o Brasil investe cerca de 1,3% de seu Produto Interno Bruto (PIB) no setor, enquanto países desenvolvidos, em média, ultrapassam os 2%. A 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5ª CNCTI) estabeleceu como meta chegar a 1,6% em 2028 e 2,5% em 2035, resta saber se seremos capazes de cumprir. “A China nos anos 2000 investia menos do que nós e hoje está em torno de 2,4%. No Brasil temos o Fundo Nacional para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) que é excelente, mas virou uma tábua de salvação. O FNDCT sozinho não será capaz de investir o tanto que precisamos”, afirmou.
Para isso, será preciso alavancar o investimento privado, cuja ausência é uma das principais razões da disparidade entre produção cientifica e inovação no país. “Estou cansada de citar a Petrobras e a Embraer, temos exemplos de qualidade mais recentes, como a WEG e a Natura, duas líderes mundiais que investem muito em pesquisa e desenvolvimento. Temos também a Embrapii, cujo modelo de investimento conjunto entre Estado, instituições de pesquisa e setor privado já é um grande sucesso”, listou.
A presidente da ABC lembrou também que o país já é uma liderança no desenvolvimento de tecnologias sustentáveis para a agricultura e tem todas as vantagens comparativas para ser um exemplo global em energia renovável e biocombustíveis. “Temos áreas em que fazemos muito, mas em outras fazemos muito pouco. Na saúde temos uma dependência de empresas estrangeiras que geram zero inovação no país. A ideia do Ministério da Saúde de fortalecer o complexo econômico e industrial da saúde visa melhorar isso. Não beneficiaria só o Brasil, mas todo o Sul Global, que ficou de mãos atadas na pandemia”, exemplificou.
Por fim, Nader defendeu uma maior colaboração com o exterior, fazendo um apelo à plateia, onde estavam pesquisadores brasileiros que deixaram o país para seguir suas carreiras. “O que peço é que vocês colaborem com o Brasil e com os pesquisadores que lá estão. Não é preciso voltar, claro que seria ótimo, mas há muito que vocês podem fazer pelo país estando no exterior”, defendeu.
Leia a coluna da jornalista Míriam Leitão, publicada em O Globo, em 1/10:
A Agência Nacional de Águas (ANA) declarou crítica a situação do rio Xingu, que abastece a Usina de Belo Monte e isso pode vir a prejudicar a produção de energia. Belo Monte foi a mais polêmicas das grandes usinas hidrelétricas construídas na Amazônia. Ela passou por cima de direitos indígenas, direitos sociais, afetou o meio ambiente, deixou sequelas não resolvidas até hoje.
Quando se debatia se a usina deveria ou não ser construída, conversei com muita gente de um lado e do outro, todo tipo de especialista. O cientista [e membro titular da ABC] Carlos Nobre me disse na época que, durante o período da existência de Belo Monte, o regime hídrico daquela região se alteraria muito por causa da mudança climática. Outros climatologistas disseram isso. O alerta era que se construiria uma usina muito grande, a um custo social, econômico, fiscal muito alto, que poderia vir a não produzir o volume de energia que se estimava por falta de água. É exatamente esse dia que estamos vivendo agora.
Pode-se dizer que isso acontece por causa da seca que acomete a região agora. Mas não é uma questão momentânea, as secas ficarão mais frequentes.
(…)
“Se a gente pode tirar uma lição de tudo isso é a seguinte: seja na produção de energia, seja em qualquer obra de infraestrutura daqui para diante, é preciso ouvir os cientistas e colocar na equação da decisão a realidade das mudanças do clima.
(…)
O Brasil precisa tomar decisões levando a sério o que os cientistas estão dizendo, não achando que eles estão com algum viés antidesenvolvimentista. Não se pode ignorar no cenário dos próximos anos e décadas o que dizem os cientistas do clima. As mudanças climáticas têm que nortear as decisões econômicas e as decisões energéticas e todas as outras decisões de construção da infraestrutura do país.
Entre os dias 23 e 27 de setembro, o Rio de Janeiro receberá um evento que promete impactar as pesquisas em ciência, tecnologia e inovação de todo o país. O 65º Fórum Nacional Confap reunirá representantes de todas as Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) dos estados brasileiros para discutir estratégias e soluções para o fortalecimento da pesquisa nacional.
Nesta edição, o evento será maior do que o habitual e com uma agenda enriquecida por participações de representantes de organizações e governos internacionais. Além dos encontros entre as fundações brasileiras, serão discutidas novas parcerias e oportunidades de colaboração com países como Itália, Bélgica, Espanha, Alemanha, Suíça, Austrália, Reino Unido e Estados Unidos, além da Delegação da União Europeia no Brasil e do Belmont Forum, que apoia pesquisas sobre mudanças ambientais globais.
Jerson Lima Silva, acadêmico da ABC e presidente da Faperj, destaca a importância dessas parcerias internacionais. “Expandir nossas colaborações com entidades estrangeiras é essencial para as agências de apoio à ciência, tecnologia e inovação. Esse intercâmbio não apenas amplia a captação de recursos para a pesquisa nacional, como também fortalece a internacionalização da ciência brasileira, elevando a qualidade das nossas pesquisas”, afirma. “No Rio de Janeiro, temos investido intensamente nessa área e estamos ansiosos para compartilhar nossas conquistas com outras fundações e formar novas alianças durante o 65º Fórum Nacional Confap.”
O presidente do Confap, [o Acadêmico] Odir Dellagostin, ressalta que as FAPs desempenham um papel crucial no Sistema Nacional de CT&I, ao financiar projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação, promovendo o avanço científico e tecnológico no país. “Atualmente, as FAPs contribuem com aproximadamente 1/3 do fomento à pesquisa no Brasil. Além disso, elas facilitam a interação entre universidades, centros de pesquisa e o setor produtivo, impulsionando a aplicação prática do conhecimento científico”, completa. Juntas, as FAPs investiram R$3,8 bilhões só em 2023, sendo que 43% desse valor é destinado diretamente para bolsas de pesquisa, desde o nível técnico ao pós-doutorado.
Para conferir a programação completa do evento, acesse:
A editora científica Springer Nature, em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), está realizando um levantamento sobre integridade em pesquisa junto à comunidade acadêmica brasileira.
Um dos objetivos dessa iniciativa é conhecer as percepções dos cientistas acerca da importância do uso de métodos íntegros e verificáveis em todas as etapas de um projeto de pesquisa, da proposta à publicação dos resultados. Além disso, busca-se entender as necessidades de treinamento por parte da comunidade acadêmica brasileira, bem como o apoio oferecido pelas instituições para suprir tais necessidades. A pesquisa será feita através de um questionário online, de preenchimento voluntário e anônimo.
A Academia Brasileira de Ciências considera este um tema emergente na ciência global, tanto para as agências de fomento, quanto para as editoras científicas, considerando o número de casos de má conduta, retratações em massa, publicações fraudulentas oriundas das chamadas “fábricas de artigo” e, mais recentemente, o uso inapropriado da inteligência artificial.
O Brasil é o sexto país a participar do levantamento, depois de Austrália, Estados Unidos, Reino Unido, Japão e Índia. A expectativa do CNPq é de que as informações compiladas possam inspirar políticas públicas voltadas ao treinamento em integridade em pesquisa e boas práticas de publicação na comunidade científica nacional. Os resultados serão compartilhados em repositório de acesso aberto em dezembro, podendo ser comparados aos dos demais países.
No dia 28 de agosto, o Núcleo de Estudos Avançados do IOC/Fiocruz realizou o webinário Diáspora científica: caminhos para a repatriação e retenção de cérebros, cujo tema principal foi o recente programa para repatriação de pesquisadores elaborado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Em abril, o CNPq anunciou o Conhecimento Brasil, com investimento total de R$ 822,4 milhões, que oferece bolsas de R$ 10 mil a R$ 13 mil, por até 5 anos, para que pesquisadores brasileiros no exterior retornem ao país.
A proposta gerou polêmica por duas razões. Primeiro, os valores das bolsas são maiores até do que os salários de professores adjuntos e associados de universidades, e são muito superiores às bolsas federais nos mesmos níveis. Outro ponto é que os pesquisadores que voltam não tem garantias de emprego após a vigência das bolsas, e podem acabar simplesmente retornando para o exterior.
Para o físico Luiz Davidovich, ex-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), a proposta visa atacar um problema cuja resolução não será possível através de medidas pontuais. Ele argumenta que o valor, ao mesmo tempo que gera um sentimento de desvalorização nos pesquisadores que ficaram no Brasil, não consegue competir com os salários de pesquisadores consolidados lá fora, atraindo sobretudo jovens que ainda não se estabeleceram.
Para Davidovich, o país deveria se inspirar no programa de apoio à jovens pesquisadores da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que oferece valores semelhantes para seus talentos, incluindo contribuição previdenciária e direito à licença maternidade/paternidade. “É tentador querer resolver o problema da diáspora com um programa, mas esse é um problema estrutural de baixos recursos para a ciência brasileira que precisa ser enfrentado”, avaliou.
O Acadêmico também citou os programas de apoio a formação de redes com pesquisadores no exterior, do CNPq, e de atração e fixação de talentos em empresas, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), como estratégias mais efetivas para lidar com o problema. O primeiro oferece R$ 230 milhões para que 380 projetos com dois anos de duração se estabeleçam com a participação de pesquisadores no exterior, incluindo recursos para visitas técnicas. Já o segundo oferece R$ 500 milhões para incentivar que grandes e médias empresas do país contratem pesquisadores brasileiros atualmente trabalhando no exterior.
A também Acadêmica Mercedes Bustamante, ex-presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), lembrou que a fuga de cérebros é uma questão de competição com os grandes centros produtores de ciência e que, mais interessante do que atrair com bolsas, seria estimular a formação de redes para que a diáspora brasileira contribua e sinta-se representando a comunidade brasileira.
Para isso, ela defende que é preciso fazer um mapeamento dos pesquisadores que estão fora do Brasil e também internacionalizar mais o nosso sistema, atraindo estrangeiros sobretudo da América Latina. Outro ponto crucial é fortalecer a pós-graduação, que vem perdendo bolsas e alunos nos últimos anos. “Até 2019 não chegávamos a ter 18 mil pós-doutorandos, é muito pouco para o Brasil. Essa etapa não resolve o problema da fuga de cérebros, mas é uma transição importante”, avaliou.
Para a professora Ana Lúcia Gazzola, ex-reitora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o programa trata do sintoma sem atacar a causa. “Se a bolsa é maior que o salário dos professores é evidente que continuamos fomentando a diáspora. Enquanto não houver ações integradas, projetos específicos não trarão transformação”, sumarizou.
Em cartas enviadas à governadora e ao presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, a presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Helena Nader, manifestou preocupação quanto ao financiamento da Fundação de Amparo e Promoção à Ciência, Tecnologia e Inovação do Rio Grande do Norte (Fapern).
Nas cartas, a ABC destaca a insuficiência dos recursos destinados à Fapern, em contraste com o vasto potencial científico do estado. Embora o Rio Grande do Norte tenha formado 2,1% dos doutores do país em 2022, representando apenas 1,6% da população brasileira, o orçamento da FAPERN correspondeu a apenas 0,1% do total investido em ciência, tecnologia e inovação por todas as FAPs do Brasil.
A ABC lembra que o RN é um dos poucos estados brasileiros que não possuem uma dotação orçamentária constitucional para a sua Fundação de Amparo à Pesquisa. Essa é uma das medidas que pode ajudar a impulsionar os investimentos e alterar esse cenário não condizente com a capacidade já demonstrada pelo estado no campo científico.
O Núcleo de Estudos Avançados do Instituto Oswaldo Cruz, coordenado pelo Acadêmico Renato Cordeiro, convida para evento on-line intitulado “Diáspora Científica: Caminhos para a Repatriação e Retenção de Cérebros”, no dia 28 de agosto, às 14h, pelo canal do IOC no YouTube.
Os palestrantes serão Luiz Davidovich, ex-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e professor emérito da UFRJ; Soraya Smaili, professora titular e ex-reitora da Unifesp; e Mercedes Bustamante, professora titular da UnB, ex-presidente da Capes e membro titular da ABC.
Os debatedores convidados são os Acadêmicos Aldo Zarbin (UFPR), Luiz Carlos Dias (Unicamp) e Samuel Goldenberg (Fiocruz), além da professora titular e ex-reitora da UFMG, Ana Lúcia Gazzola; o jornalista e repórter especial do Jornal da USP, Herton Escobar; o professor do IBqM/UFRJ Marcus Oliveira; e a professora da Unifesp e coordenadora do SouCiência, Maria Angélica Minhoto.
O evento foi organizado em homenagem aos 125 anos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC).