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Frontiers Planet Prize anuncia vencedores nacionais

O Frontiers Planet Prize anunciou hoje os 22 vencedores nacionais de sua segunda edição. O Prémio reconhece cientistas cuja pesquisa promove a sustentabilidade e trazem soluções que impeçam o ultrapassar das nove fronteiras planetárias, um quadro apresentado pelo cientista Johan Rockström, são elas: mudanças climáticas; integridade da biosfera; mudanças no da terra; disponibilidade de água potável; fluxos biogeoquímicos; acidificação dos oceanos; mudanças na composição atmosférica; depredação da camada de ozônio; e outras entidades (grupo que inclui liberação de radiação ou substancias e organismos sintéticos na natureza). Destas nove, apenas três – acidificação dos oceanos, mudanças na composição atmosférica e depredação da camada de ozônio – estão sob controle.

Prof. Alexander Turra

O vencedor brasileiro foi o professor Alexander Turra, da Universidade de São Paulo (USP), com o artigo “Avanços na identificação de hotspots de poluição por plástico em nível subnacional: o Brasil como um estudo de caso no Sul Global”, publicado na Science Direct. O estudo quantifica e analisa regionalmente a geração de lixo plástico no Brasil, bem como encontra dois pontos focais de transmissão deste lixo para os oceanos, na Baía de Guanabara, RJ, e nas partes brasileiras da Bacia do Rio da Prata.

“Sempre fui inundado pelo oceano desde muito jovem. Com base na minha experiência em ecologia marinha e gestão costeira, tive a um aprendizado transdisciplinar que me permite dialogar com os mais diversos atores sociais relacionados ao oceano. A integração entre oceano e sociedade e entre ciência e tomada de decisão tornou-se minha prática diária e representa um dos principais objetivos da Cátedra UNESCO para Sustentabilidade dos Oceanos, que coordeno na Universidade de São Paulo. O lixo marinho é um dos desafios que a cátedra aborda a partir de uma equipe interdisciplinar, como foi com o estudo premiado”, disse Turra, que teve a oportunidade de escrever um ensaio sobre sua temática e seu trabalho, em inglês, que você confere aqui.

A Academia Brasileira de Ciências (ABC) foi convidada a atuar na seleção das candidaturas do Brasil, considerando apenas candidatos baseados em instituições nacionais. Para a submissão, a ABC acionou instituições de ensino superior públicas, privadas e confessionais de todo o país, assim como unidades de pesquisa ligadas ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

O Prêmio envolveu 20 academias de ciências e 475 universidades e instituições de investigação líderes de 43 países. Os 23 vencedores nacionais foram escolhidos por um júri independente de 100 cientistas do qual participaram os membros da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Carlos Nobre e Mercedes Bustamante. Eles representam um grupo diverso de pesquisadores em diferentes estágios da carreira e terão a oportunidade de compartilhar seus trabalhos premiados através de conferências nacionais e internacionais para facilitar a mudança sistémica necessária para salvaguardar a saúde do nosso planeta.

Reunião Magna da ABC 2024: veja o programa e inscreva-se!

Em 2024, a Reunião Magna da ABC 2024 já tem local e data: dias 7, 8 e 9 de maio, no Museu do Amanhã, Rio de Janeiro. 

O tema é “Inteligência Artificial e as Ciências: Oportunidades e Riscos“. Os coordenadores do evento são a Acadêmica Elisa Reis e o vice-presidente da ABC para a Região  Minas Gerais e Centro-Oeste, Virgílio Almeida

Já temos nomes destacados nas conferências magnas e nas sessões!

Veja a programação e inscreva-se aqui.

Conheça aqui os palestrantes!

 

EVENTO COM TRADUÇÃO SIMULTÂNEA E EMISSÃO DE CERTIFICADOS DE PARTICIPAÇÃO PRESENCIAL.

 


SERVIÇO
• Data: 07 – 09/05/2024
• Formato: Presencial
• Local: Museu do Amanhã – RJ.
• Informações: Gabriella Fialho de Mello. E-mail: gfmello@abc.org.br. Tel: (21) 3907-8100 r. 8148

 

*A imagem que compõe o logotipo da Reunião Magna 2024 da ABC foi gerada via inteligência artificial. A composição foi efetuada por um humano. =)

Conheça os palestrantes da Reunião Magna da ABC!

O principal evento da Academia Brasileira de Ciências, a Reunião Magna, está chegando. Será realizada nos dias 7, 8 e 9 de maio, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.

A agenda está quase fechada, com a maioria dos palestrantes confirmados. As Conferências Magnas, que são seis, já estão todas confirmadas!

No dia 7 de maio, 3a feira, teremos o sociólogo NICK COULDRY, da London School of Economics, cuja pesquisa é voltada para estudos de mídia e comunicações, cultura e poder, e teoria social. Hoje, a construção da realidade é cada vez mais influenciada por algoritmos e processos de dados que rastreiam nossas atividades em plataformas online ou ao usar objetos “conectados” (a “internet das coisas”). Será que a teoria social pode revelar como, mesmo quando nos sentimos mais autênticos e conectados aos outros, ainda podemos estar profundamente envolvidos nas engren,agens do poder? 

No mesmo dia, contaremos com a presença do vice-presidente do Google, VINTON CERF. Ele é um dos arquitetos da Internet moderna, tendo co-projetado o protocolo TCP/IP que define como os computadores se comunicam em um sistema em rede. Desde 2005 ele trabalha no Google, onde agora é responsável pelo desenvolvimento de negócios do setor público para produtos e serviços avançados baseados na Internet. Ele é membro do Comitê Consultivo da NASA e do Comitê de Visitas para Tecnologia Avançada do Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos EUA. 

 

No dia 8 de maio, 4a feira, a primeira Conferência Magna será apresentada pela professora de Ciência da Computação da Universidade de Princeton, MARGARET MARTONOSI. Seu trabalho inclui a ferramenta de modelagem de energia amplamente utilizada Wattch e o projeto de rede de sensores móveis ZebraNet da Universidade de Princeton para o design e implantação real de coleiras de rastreamento de zebras no Quênia. 

Na mesma data, contaremos com a palestra de MATTHIAS SCHEFFLER, físico teórico alemão da Sociedade Max-Planck. Ele é especialmente conhecido por suas contribuições para a teoria do funcional da densidade e para a mecânica quântica de muitos elétrons, bem como por seu desenvolvimento de abordagens multiescala. Nos últimos anos, ele tem se concentrado cada vez mais em conceitos em métodos científicos centrados em dados e no objetivo de que os dados da ciência dos materiais devem ser “encontráveis e prontos para a inteligência artificial”. 

 

Finalmente, no dia 8 de maio, 5a feira, a primeira Conferência Magna será do cientista da computação RANVEER CHANDRA, diretor de Pesquisa para a Indústria e o CTO de AgriFood na Microsoft. Lidera o Grupo de Pesquisa em Redes na Microsoft Research, em Redmond, nos EUA. Anteriormente, Ranveer foi cientista-chefe da Microsoft Azure Global. Sua pesquisa foi incorporada em diversos produtos da Microsoft, incluindo wi-fi virtual no Windows 7 em diante, wi-fi de baixo consumo de energia no Windows 8, perfis de energia no Visual Studio, baterias definidas por software no Windows 10 e o protocolo do controlador sem fio no XBOX One. Ele iniciou o Projeto FarmBeats na Microsoft em 2015 e também liderou o projeto de pesquisa de bateria e o projeto de redes de espaços em branco na Microsoft Research, tendo implementado a primeira rede de espaços em branco urbana do mundo. 

A última Conferencista Magna é a antropóloga KARIN STRIER, professora da Universidade de Wisconsin-Madison. É uma autoridade internacional sobre o macaco muriqui do norte, ameaçado de extinção, que ela estuda desde 1982 na Mata Atlântica brasileira. Sua pesquisa de campo pioneira e de longo prazo tem sido fundamental para os esforços de conservação desta espécie e tem sido influente na ampliação das perspectivas comparativas sobre a diversidade comportamental e ecológica dos primatas. Atualmente, ela é co-presidente da Rede InterAmericana de Ciências (IANAS), junto com Helena Nader, presidente da Academia Brasileira de Ciências.

 


Veja a programação e conheça todos os palestrantes

O EVENTO É GRATUITO, MAS REQUER INSCRIÇÃO, EM FUNÇÃO DA LOTAÇÃO DO AUDITÓRIO DO MUSEU DO AMANHÃ

INSCREVA-SE AQUI

Em palestra a empresários, ganhadores do Prêmio Nobel destacam a importância da pesquisa básica

Leia matéria de José Tadeu Arantes para Agência Fapesp, publicada em 19/4:

“Tem sido energizante e também exaustivo”: assim o escocês David MacMillan, Prêmio Nobel de Química em 2021, resumiu suas impressões sobre a visita ao Brasil. Depois de participar de um evento na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e de outro na Universidade de São Paulo (USP), MacMillan iniciava sua última apresentação no país, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na avenida Paulista, em São Paulo. Junto com ele, estavam o francês (nascido no Marrocos) Serge Haroche, Prêmio Nobel de Física de 2012, e a norueguesa May-Britt Moser, Prêmio Nobel de Medicina de 2014.

Sempre acompanhados pelo neurocientista Adam Smith, diretor científico da Nobel Prize Outreach, o serviço de divulgação da Fundação Nobel, os três ganhadores do Prêmio Nobel participaram de uma rodada de eventos enfeixados pelo título “Creating our future together with Science” (Criando o nosso futuro juntos com a ciência).

O ciclo, promovido pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) em parceria com a Fundação Nobel, com apoio da Fapesp, não visou explorar em profundidade os temas que levaram esses três pesquisadores a receber a mais prestigiosa premiação do mundo. Mas trazê-los para um contato informal com a comunidade universitária, no caso da Uerj e da USP, e com tomadores de decisões, no caso da Fiesp. O fio condutor foi a valorização da ciência, em um contexto de negacionismo, que se espalhou pelo mundo como uma pandemia.

Na contramão dessa tendência, Haroche citou algumas grandes realizações da ciência nos anos recentes, como a comprovação experimental da existência das ondas gravitacionais e a torrencial descoberta de exoplanetas. O problema, segundo o veterano pesquisador, já com 79 anos, é que ocorre atualmente uma forte predominância de projetos ambiciosos, de cima para baixo, enquanto deveria ser criado um ambiente que favorecesse uma ciência de baixo para cima. “Os resultados, às vezes, vêm de áreas inesperadas. A história nos dá muitos exemplos de pesquisas básicas que, tempos depois, propiciaram grandes aplicações tecnológicas. O princípio físico do laser foi visualizado por Einstein em 1916. Hoje, o laser é um componente fundamental do sistema mundial de comunicações. Precisamos estimular a ciência básica em todas as direções possíveis e esperar que as aplicações venham. E, antes da ciência, necessitamos de educação básica. Para isso, é imprescindível garantir bons salários para os professores”, disse.

Nessa trilha de valorização dos resultados recentes da ciência, MacMillan lembrou as pesquisas destinadas a retardar o processo de envelhecimento, que avançaram muito nas últimas décadas. E, diante de uma plateia formada majoritariamente por pessoas ligadas ao segmento empresarial, enfatizou a necessidade de interação e colaboração entre a academia e a indústria, afirmando que seu grupo de pesquisa, na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, mantém atualmente pelo menos 15 acordos de colaboração com empresas farmacêuticas. “Obtivemos da indústria um aporte de US$ 100 milhões para a pesquisa”, contou.

Além de uma conversa até certo ponto informal entre os três cientistas, animada pelo diretor científico Smith, May-Britt Moser participou também de um painel sobre “Como aumentar a diversidade na ciência”. Com a presença de interlocutores brasileiros, o painel destacou as limitações que ainda existem para a participação de mulheres, negros e grupos minoritários no processo científico. “Existe, infelizmente, uma situação pendular no mundo. Na Noruega, as universidades eram muito abertas para o mundo todo. Agora, estão mais fechadas, voltando-se, principalmente, para estudantes europeus”, falou.

Mas, perguntada sobre o que diria para uma menina que, como ela mesma na infância, manifestasse muita curiosidade científica, Moser foi enfática: “Por que eu deveria dizer para uma menina algo diferente do que eu diria para um menino? Precisamos quebrar essas caixas, esses rótulos. Embora eu ame ser avó, não quero ser definida como avó. Vivam uma vida sem rótulos. Sejam anjos de luz!”, clamou. E fez questão de repetir a fórmula: “Vivam uma vida sem rótulos. Sejam anjos de luz!”.

Entre vários convidados, participaram do encontro na Fiesp Erika Lanner, CEO e diretora do Nobel Prize Museum em Estocolmo (Suécia); Helena Nader, presidente da Academia Brasileira de Ciências; Marco Antonio Zago, presidente do Conselho Superior da FAPESP; Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente da FAPESP, e Pedro Wongtschowski, membro do Conselho Superior da FAPESP e do Conselho Superior de Inovação e Competitividade da Fiesp. Zago ressaltou a importância da “liberdade de pesquisa e a responsabilidade das agências de fomento para uma ciência realmente criativa”.


Leia a matéria original, aberta, no site da Agência Fapesp

Repercussão dos Diálogos Nobel Brasil

Confira aqui a repercussão dos Diálogos Nobel Rio e São Paulo 2024 na grande mídia e em mídias locais:

Agência Fapesp, 19/4
Em palestra a empresários, ganhadores do Prêmio Nobel destacam a importância da pesquisa básica

Agência Fapesp, 19/4
Três ganhadores do Prêmio Nobel encontram estudantes no RJ e em SP

Folha de S.Paulo, 19/4
Interesse em ciência ajuda democracias em todo o mundo, diz Nobel de Medicina

Valor Econômico, 17/4
Ganhadores do Nobel debatem financiamento da ciência

 Veja Saúde, 17/4
May-Britt Moser: a vencedora do prêmio Nobel que investiga a memória

Agência Brasil, 17/4
Nobel de Química estimula alunos da USP a seguirem carreira científica

Futuro da Saúde, 17/4
May-Britt Moser, vencedora do Nobel de Medicina: “Diversidade enriquece o trabalho científico”

TV Brasil, 17/4
Ciência em debate: estudantes encontram vencedores do Prêmio Nobel

Rede TVT, 17/4
Ganhadores do prêmio Nobel se reúnem com estudantes para incentivar formação de novos cientistas

Valor Econômico, 16/4
Veja o que vencedores do Nobel defendem para criação de futuro mais desenvolvido e justo

Rádio Nacional, 16/4
Ganhadores do Nobel de Medicina, Física e Química estão no Brasil

Bahia Notícias, 16/4
Dra. Jaqueline Goes participa de evento com ganhadores do Prêmio Nobel no Rio de Janeiro

Anota Bahia, 16/4
Cientista baiana se reuniu com ganhadores do Prêmio Nobel em evento no Rio de Janeiro

Tribuna do Sertão, 16/4
Ganhadores do Nobel de Medicina, Física e Química estão no Brasil

Bahia Social Vip, 16/4
Cientista baiana Jaqueline Goes se reúne com ganhadores do Prêmio Nobel em evento

Alo Alo Bahia, 16/4
Cientista baiana Jaqueline Goes participa de evento com ganhadores do Prêmio Nobel

Bandnews, 15/4
Academia Brasileira de Ciências promove encontro com três premiados pelo Nobel

 

Artigos, entrevistas e matérias anteriores ao evento:

Rádio Unesp, 16/4 – áudio aqui

Tribuna do Agreste, 16/4
Ganhadores do Nobel de Medicina, Física e Química estão no Brasil

Folha de S.Paulo, 15/4
Computador quântico ainda está distante, diz ganhador do Nobel

O Globo, 15/4
Dicas do Nobel David MacMillan para jovens cientistas: “seja autêntico e suba um degrau de cada vez”

Fogao.net, 14/4
Vencedor de Prêmio Nobel de Química visita Botafogo e se impressiona: “serei torcedor para sempre”

De olho na cidade, 14/4
UEFS vai ter representante em evento com ganhadores do Prêmio Nobel

Botafogo Futebol e Regatas, 13/4
Botafogo recebe vencedor de Prêmio Nobel de Química para visitar a sede da General Severiano

O Globo, 12/4
Nobel no Brasil: como a ciência pode trazer soluções para os desafios atuais
Por Erika Lanner e Adam Smith (Nobel Prize Outreach)

Diplomacia Business, 11/4
Três ganhadores do Prêmio Nobel encontram estudantes no Rio e em SP

Notícias Univale, 11/4
Médicos formados pela Univale participam de encontro com vencedores do Prêmio Nobel

Estadão, 10/4
Ciência e sociedade: um diálogo necessário
Por Helena Nader (ABC), Marco Antonio Zago (Fapesp) e Pedro Wongtschowski (Fiesp)

Finep, 10/4
Finep e ABC trazem três Prêmio Nobel para debater o papel da ciência para o desenvolvimento do Brasil

Notícias Uerj, 10/4
Três ganhadores do Prêmio Nobel participam de evento presencial e gratuito na Uerj; inscrições estão abertas

IG-Coluna de Lu Lacerda, 10/4
Pela primeira vez três ganhadores do Prêmio Nobel estarão juntos no Rio

Notícias da UFSC, 5/4
Pesquisadoras da UFSC participam de encontro com vencedores do Prêmio Nobel

Jornal Floripa, 5/4
Pesquisadoras da UFSC participam de encontro com vencedores do Prêmio Nobel

Jornal da USP, 4/4
USP recebe vencedores do Prêmio Nobel de Medicina, Química e Física para debater os desafios da ciência

Diálogos Nobel Brasil: Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

Na tarde de 17 de abril, foi a vez da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) receber os Diálogos Nobel Brasil. O evento foi organizado pela Academia Brasileira de Ciências junto com o Nobel Prize Outreach, braço da Fundação Nobel, e foi possível graças ao apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O encontro na Fiesp foi uma iniciativa do diretor do Conselho Superior de Inovação da entidade, Pedro Wongtschowski, que lembrou que ciência e inovação andam sempre juntas.

Pedro Wongtschowski, diretor do conselho superior de inovação da Fiesp (Foto: Marcos André Pinto)

Os laureados

Os laureados presentes foram May-Britt Moser, ganhadora do Nobel de Medicina em 2014 por suas descobertas em neurociências, ajudando a avançar significativamente pesquisas sobre cognição espacial humana; Serge Haroche, membro correspondente da ABC, que recebeu o Nobel de Física em 2012 por desenvolver novos métodos experimentais que permitiram medir e manipular partículas quânticas individuais, algo considerado impossível até então; e David MacMillan, premiado com o Nobel de Química em 2021 pela criação de catalisadores sustentáveis com diversas aplicações industriais, sobretudo na produção de medicamentos.

Adam Smith, diretor científico dos Diálogos Nobel, e os três laureados: Serge Haroche, David MacMillan e May-Britt Moser (Foto: Marcos André Pinto)

Criando pontes entre ciência e indústria

A inovação é um dos maiores desafios da ciência brasileira, justamente pela falta de interação entre academia e indústria. Superar essa barreira é crucial, como apontou David MacMillan. “O maior problema é conseguir esse diálogo, é muito difícil. Mas se não houver, sobram apenas cientistas conversando com cientistas. Em Princeton fizemos uma experiência: pegamos todo o campus e levamos para falar com a indústria, em apresentações muito rápidas e abertas, onde cada pesquisador escolhia o que achava mais importante. É surpreendente a quantidade de conexões que acabam surgindo”. Mas também é preciso vontade por parte da indústria, apontou. “É fácil demais deixar isso de lado, descartar o que não é útil, mas só com investimento surgem histórias de sucesso. Na Califórnia, por exemplo, está ocorrendo um investimento significativo na educação dos jovens de baixa renda. Isso torna o estado mais forte, a economia mais forte”, completou.

Na mesma linha, Serge Haroche enfatizou a primazia dos investimentos em educação básica, algo que também fez nos encontros na USP e na UERJ. “Para formar cientistas é preciso ter uma educação básica de qualidade, não é algo trivial ensinar sobre pensamento crítico. Professores especializados precisam ganhar bem e ter reconhecimento. Esse é o melhor investimento que um país pode fazer”.

Para as indústrias, naturalmente, a atenção maior é dada a pesquisa aplicada, visando gerar novos produtos e serviços . Ainda assim, uma visão de crescimento a longo prazo pede necessariamente por investimento em pesquisa básica, o ponto inicial de qualquer inovação. “Há uma tendência hoje de gestão científica de cima para baixo. Não pode ser assim, é preciso deixar que os cientistas escolham seus próprios tópicos. O desafio é ter um ambiente que favoreça a ciência que vem de baixo. A descoberta vem, na maior parte das vezes, do inesperado. A tensões geopolíticas empurram os países para trabalhar com grandes projetos, mas considero isso um erro”, avaliou Haroche.

Sobre quais devem ser os temas do futuro, os nobelistas concordaram que não é possível escolher uma área de interesse acima de todas as outras, em um mundo que tende cada vez mais à interdisciplinaridade. “Todos os campos vão contribuir. A história tem inúmeros exemplos de ciência básica levando à invenções grandiosas. Se você olhar as predições feitas sobre inovação para o século 21, quase nada se concretizou. Ao mesmo tempo, o que surgiu era inimaginável. Nesse contexto, a única solução é ter ciência em todas as direções. É muito difícil dos tomadores de decisão entenderem isso, é uma questão de curto prazo contra longo prazo”, reforçou Haroche.

May-Britt Moser foi além e reforçou o papel das humanidades. “História, Educação, Filosofia, todos esses tópicos são necessários para nos prepararmos para um futuro que não conhecemos. Para prever o futuro sempre usamos o passado, mesmo entendendo que existe o inesperado. Não podemos nos tornar paranóicos, temer o amanhã, mas é preciso se preparar”.

Os três nobelistas falaram para um auditório cheio na Fiesp (Foto: Marcos André Pinto)

Saiba como foram os outros eventos!

Diálogos Nobel Brasil: Universidade do Estado do Rio de Janeiro

A ABC juntou três laureados do Prêmio Nobel com alunos e professores das comunidades cientificas do Brasil e da América Latina. Primeiro dia foi perante o teatro lotado da UERJ!

Diálogos Nobel Brasil: Universidade de São Paulo

Os nobelistas May-Britt Moser, David MacMillan e Serge Haroche compartilharam suas experiências enquanto cientistas com um auditório lotado na USP. Confira!

Diálogos Nobel Brasil: Universidade de São Paulo

Na manhã de 17 de abril, o Centro de Difusão Internacional da Universidade de São Paulo (CDI-USP) recebeu mais um Diálogo Nobel Brasil 2024, onde alunos e professores da comunidade acadêmica brasileira e alguns representantes  de outros países da América Latina tiveram a oportunidade de debater com três ganhadores do célebre Prêmio Nobel. No dia 15, o encontro aconteceu na  Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

O evento é fruto de uma parceria entre a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e o Nobel Prize Outreach, braço da Fundação Nobel, e só foi possível graças ao viabilizada pelo apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Antes do evento, os três nobelistas foram recebidos pelo reitor da USP, Carlos Carlotti Júnior.


Os laureados

Os laureados presentes foram: May-Britt Moser, que recebee o Nobel de Medicina em 2014 por suas descobertas em neurociências, ajudando a avançar significativamente pesquisas sobre cognição espacial humana; Serge Haroche, ganhador do Nobel de Física em 2012 por desenvolver novos métodos experimentais que permitiram medir e manipular partículas quânticas individuais, algo considerado impossível até então; e David MacMillan, que recebeu o Nobel de Química em 2021 pela criação de catalisadores sustentáveis com diversas aplicações industriais, sobretudo na produção de medicamentos.

David MacMillan, Serge Haroche e May-Britt Moser interagiram com estudantes na USP (Foto: Julio Cesar Guimarães)

Abertura

A presidente da ABC, Helena Bonciani Nader, recepcionou o público lembrando que 2024 é um ano especial para a ciência brasileira. Com o país na presidência rotativa do G20, coube a ABC organizar o Science 20 – braço científico do grupo – e estabelecer a construção de um mundo mais justo e sustentável como meta prioritária.

“Em 2015, 193 países aprovaram uma agenda global, a ser alcançada até 2030, com o objetivo de proteger o planeta e libertar a humanidade da tirania da pobreza. Foram delineadas metas ousadas e transformadoras, e nossos governos se comprometerem a abraçá-las e orientar o mundo para um caminho sustentável e resiliente. Esses objetivos são integrados e indivisíveis e devem equilibrar as três dimensões do desenvolvimento sustentável: econômica, social e ambiental. Além disso, essa jornada coletiva está ancorada no compromisso de não deixar ninguém para trás. Estamos a sete anos do prazo estabelecido e, com preocupação, percebemos que estamos longe dos objetivos desejados e acordados”, alertou Nader.

A presidente da ABC, Helena Nader, recepcionou os nobelistas (Foto: Julio Cesar Guimarães)

De cientistas para cientistas

Os três laureados foram convidados ao palco para falar sobre vários aspectos da carreira de um cientista. A mediação foi feita por Adam Smith, diretor científico do Diálogos Nobel.

David MacMillan: estabilidade para tentar

MacMillan lembrou que, no início da carreira, sua maior preocupação era conseguir um emprego estável. “Quando fui para os EUA e comecei como professor assistente em Berkeley, o único impacto que eu queria era manter meu emprego. Conforme o tempo passou, e observando como eram feitas as coisas, comecei a perceber o que fazia sentido e o que não fazia. Comecei a pensar: ‘Há outra forma de fazer?’, e foi quando comecei a ter ideias disruptivas”.

“É muito difícil balancear essas ideias com o trabalho tradicional, principalmente quando se é jovem. Os revisores estão procurando por algo que faça sentido baseado no que já sabemos, então evitamos fazer o que não é usual. Por isso precisamos encorajar mais esses caminhos desafiadores”, completou.

Mac Millan, que foi premiado em 2021, conta que ainda está se acostumando ao Nobel. “Uma das coisas legais é que você começa fazendo algo aque ninguém dá atenção e, 20 anos depois, se torna algo que todos querem saber sobre, a indústria começa a utilizar. As pessoas do meu grupo começaram a perceber que aquele mundo fechado em que vivíamos se expandiu, perceber o impacto do nosso trabalho. Isso é muito positivo, é mostrar que o pensar, o aprender, impacta a sociedade como um todo.

Questionado por um aluno, ele respondeu como um cientista deve lidar com o fracasso. “Tem dias em que nos sentimos cansados, sobrecarregados, mas também há dias em que as coisas funcionam. Quando isso acontece é maravilhoso, é a melhor coisa da ciência. Quando você estiver pensando em desistir, lembre-se desse sentimento, lembre-se de como é bom estar contribuindo com um pedaço de conhecimento que permanecerá para sempre. Você percebe que precisa continuar tentando, continuar se entusiasmando. Fracassamos muito mais do que acertamos, mas quando chegamos a uma resposta, vale por todo o processo”.

Chefe de laboratório, MacMillan também aconselhou professores sobre como lidar com seus orientandos. “Acima de tudo, é preciso ter responsabilidade com seus estudantes, ajudá-los a crescer como indivíduos, além de cientistas. É importante que sejam independentes, que não precisem fazer só o que uma agência governamental quer que eles façam. Uma das maravilhas da ciência é que todos podem decidir por si mesmos qual caminho seguir”.

Adam Smith e David MacMillan (Foto: Julio Cesar Guimarães)

May-Britt Moser: laboratórios felizes e ciência de ponta

Vencedora do Nobel em 2014, May-Britt Moser já teve uma década para se acostumar, mas ainda reluta em deixar que a notoriedade a afaste de sua pesquisa, principal paixão na carreira. “Nós somos cientistas porque temos esse talento e devemos usá-lo. Às vezes sinto que nos dão responsabilidades demais. Eu não viajo muito porque, apesar da importância desses encontros, me pergunto se consigo lidar com todas as demandas. Me pergunto todos os dias, como estarei contribuindo mais com o mundo?”

O laboratório é sua segunda casa, e por isso Moser busca todas as maneiras de tornar esse ambiente agradável. “Eu me sinto responsável não só pela ciência, mas pelas pessoas. Se não estamos felizes no trabalho a vida fica miserável. Uma coisa é ter uma ideia abstrata de felicidade, mas para criar esse ambiente de fato é preciso enxergar a todos, conversar com todos”.

“Fazer ciência é difícil, há muitos fracassos, às vezes você se sente batendo a cabeça no muro. Mas, de repente, surge uma resposta. Quando isso acontece, se torna viciante. De certa forma somos loucos, pois quando você se vicia no que faz, não consegue mais parar. Por isso tenho muito orgulho do ambiente que criamos no laboratório, pois tentamos resolver problemas juntos, e aí quando vem o sucesso é um sucesso de todos, comemoramos todos juntos e nos tornamos mais próximos”, completou.

Mas seu campo de atuação, assim como qualquer área da ciência, é complexo, tendo um progresso lento. Às vezes, as ferramentas para avançar ainda nem sequer existem. “Tivemos que começar por algum lugar, Decidimos pelas estruturas ao redor do hipocampo e descobrimos coisas a partir dela. Não era suficiente entender como os sistemas funcionavam, mas como eles interagiam. Então percebemos que precisávamos de ferramentas. Foi quando, na década passada, tivemos acesso a novas ferramentas que nos permitiram ir além, encontrar coisas novas, entender melhor como as estruturas celulares estavam interagindo”.

“Quanto mais complexo o problema, mais campos precisamos explorar, então começamos a colaborar com especialistas de outras áreas e a precisar de mais gente. Em nosso instituto temos hoje pessoas de 30 países, pessoas de todas as cores e amamos isso. Precisamos de gente diferente, com diferentes atitudes, diferentes treinamentos, pois isso aumenta o alcance da ciência. Nós amamos a ciência juntos”, afirmou.

Inquirida por um professor sobre inovação, Moser defendeu a transferência tecnológica como fundamental para o avanço científico global. “Uma vez recebemos em nosso laboratório um brilhante cientista chinês que desenvolveu um microscópio portátil de ponta. Logo apareceram alguns pensando em como poderíamos vender aquilo, mas optamos por abrir o conhecimento, compartilhar cada pequeno detalhe, para que pessoas do mundo todo pudessem desenvolvê-lo. Isso é o que faz a ciência avançar”.

May-Britt Moser interage com o público (Foto: Julio Cesar Guimarães)

Serge Haroche: no lugar certo, na hora certa

Laureado em Física em 2012, Serge Haroche lembrou que ganhar o Prêmio Nobel não é apenas sobre mérito científico, mas também sobre estar no lugar certo na hora certa. “Eu percebi que era possível aumentar a sensibilidade ótica para enxergar um único átomo interagindo com um único próton. No início eu não tinha ideia do quão longe a ideia poderia ir, tive a sorte de ter o que precisava em mãos. Quando Einstein ou Schrödinger imaginavam esse tipo de experimento, eles não tinham as ferramentas necessárias”.

Haroche é um defensor ferrenho da ciência básica, pilar de todo o processo de construção do conhecimento. “Mesmo antes de qualquer aplicação, o que move um cientista é observar um fenômeno e descobrir sobre ele coisas que ninguém sabe. Perceber depois que essas coisas são uteis é muito gratificante, mas não é o motor”.

“Quando eu era jovem eu não imaginava tudo isso, de jeito nenhum. Eu era fascinado pela física quântica, tive a sorte de trabalhar com ótimos professores e ter liberdade para explorar. Isso era mais comum no passado, a pesquisa era mais de baixo para cima. Agora há uma tendência de organização mais centralizada e isso coloca uma serie de amarras. Não é assim que a pesquisa funciona. Primeiro você explora e depois surgem as aplicações, muitas vezes, em direções inimagináveis. Quem faz políticas de ciência precisa entender isso”, completou.

Para ele, fazer ciência é uma arte, que requer imaginação e criatividade Mas, diferente das artes tradicionais, é uma arte que precisa respeitar os limites do mundo físico. “Você tem que ser curioso, tem que focar e reconhecer o valor da sua pesquisa. Depende da sua personalidade. Quando trabalhando em pequenos grupos, você consegue criar uma sinergia e o suporte dos colegas se torna importante para lidar com o fracasso. Em campos que envolvem muitos pesquisadores, você precisa ter em mente que você precisará achar o seu nicho e criar seu espaço”.

Respondendo a um aluno sobre o porquê de o Brasil não ter prêmios Nobel, Serge Haroche reforçou que é preciso ter compromisso com investimentos na educação básica. “Na ciência moderna é preciso ter muitos recursos e isso dificulta a competição com laboratórios de países ricos. Mas em termos de talento, o Brasil tem o que precisa. O necessário é explorar melhor esse recurso, dar condições iguais a todos os jovens e educação básica de qualidade”. No entanto, haroche reconhece que o Prêmio Nobel deveria rever certos critérios. “No meu caso, eu sempre quis compartilhar meu Nobel com as pessoas com quem cooperei durante toda a minha carreira”, concluiu.

Serge Haroche se dirige à platéia (Foto: Julio Cesar Guimarães)

Assista à transmissão no canal do Prêmio Nobel:


Saiba como foram os outros eventos!

Diálogos Nobel Brasil: Universidade do Estado do Rio de Janeiro

A ABC juntou três laureados do Prêmio Nobel com alunos e professores das comunidades cientificas do Brasil e da América Latina. Primeiro dia foi perante o teatro lotado da UERJ!

Diálogos Nobel Brasil: Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

A última tarde do Diálogos Nobel Brasil levou os laureados para uma conversa na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, onde se discutiu a ponte entre academia e setor privado na corrida pela inovação.

Diálogos Nobel Brasil: Universidade do Estado do Rio de Janeiro

No dia 15 de abril, o teatro Odylo Costa, filho, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), recebeu a primeira edição presencial de um Diálogo Nobel na América Latina. Organizado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pela Nobel Prize Outreach, braço da Fundação Nobel, o encontro foi possível graças ao apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).


Os laureados

Os laureados presentes foram: May-Britt Moser, Nobel de Medicina em 2014 por suas descobertas em neurociências, ajudando a avançar significativamente pesquisas sobre cognição espacial humana; Serge Haroche, Nobel de Física em 2012 por desenvolver novos métodos experimentais que permitiram medir e manipular partículas quânticas individuais, algo considerado impossível até então; e David MacMillan, Nobel de Química em 2021 pela criação de catalisadores sustentáveis com diversas aplicações industriais, sobretudo na produção de medicamentos.

Durante um dia inteiro de atividade, os célebres cientistas participaram de mesas-redondas e palestras e também conversaram e tiraram fotos com os presentes. Os tópicos abordados passaram pelas dificuldades do fazer-ciência na América Latina até aspectos mais gerais da carreira e de como a ciência pode fazer mais para a sociedade.

David MacMillan, May-Britt Moser e Serge Haroche (Fotos: Julio Cesar Guimarães e Marcos André Pinto)

 

Palestra de Abertura: Serge Haroche

Haroche iniciou sua fala lembrando que a ciência está ameaçada por irracionalidades no mundo inteiro. Grupos anticiência, que negam as mudanças climáticas, as vacinas e até mesmo o formato da Terra, se proliferam globalmente. A grande contradição é que um dos veículos que mais contribuem para isso é também uma das maiores inovações da história da ciência. “A Internet, esse produto singular do desenvolvimento tecnológico, serve para carregar o melhor e o pior de nós”.

O combate ao irracional deve ser feito desde cedo. “As crianças devem aprender o método cientifico desde pequenas, devem aprender sobre pensamento crítico, a observar e teorizar. Parte do problema está na educação básica não ser prioridade, professores não têm o reconhecimento e os salários que merecem”, refletiu.

Exemplos não faltam ao redor do mundo de sociedades e setores que se desenvolveram graças à ciência. “Coréia do Sul e Singapura eram mais pobres que os países latino-americanos há 50 anos, mas investiram pesado em educação, ciência e tecnologia”, lembrou Haroche.

Por fim, o laureado fez um apelo pela paz. “A ciência é universal pois responde a um anseio de toda a humanidade. Ela foi a primeira atividade verdadeiramente globalizada e deve perseverar sobre as tensões geopolíticas. Infelizmente, a situação na Europa e no Oriente Médio é temerosamente com a de um século atrás. São tempos difíceis em que as instituições internacionais, inclusive as científicas, têm papel crucial”.

Haroche ministra a palestra de abertura (Foto: Julio Cesar Guimarães)

Diálogos

O encontro prosseguiu com uma série de mesas-redondas onde laureados e cientistas brasileiros compartilharam suas visões sobre uma série de temas caros à ciência.

Construindo confiança

Em tempos de proliferação da anticiência, nada como juntar cientistas renomados para debater a construção de confiança junto à população. O virologista Anderson Brito, voz ativa no debate público durante a pandemia, afirmou que é preciso explicar como o método científico funciona, algo que o Brasil não faz. “Não basta explicar o resultado, é preciso falar sobre o processo para que o resultado faça sentido, senão soa como mágica. De uma maneira geral, nós cientistas não somos incentivados a divulgar, não somos avaliados por isso”.

O laureado David MacMillan, que trabalha criando soluções para a indústria farmacêutica, acredita que há um processo de democratização do acesso a medicamentos, um exemplo que pode ajudar a criar confiança. “Tecnologia, agricultura, esses dispositivos nos nossos bolsos, tudo foi criado pela ciência, ela está em todo lugar e é intrínseca a tudo que fazemos”.

Já a presidente da ABC, Helena Nader, defendeu que os produtos da ciência precisam ser usados de forma consciente. “Como a sociedade pode controlar a ciência? Não no sentido de proibir, mas de como usá-la para o bem comum. Essa é a questão central”.

Anderson Brito, David MacMillan e Helena Nader (Foto: Julio Cesar Guimarães)

A importância da diversidade

A face global da ciência ainda reproduz desigualdades relacionadas à gênero, raça e origem social. A economista Ana d’Addio, que trabalhou no Relatório de Monitoramento Global da Educação, da Unesco, abriu a conversa trazendo alguns dados. As mulheres ainda são apenas um terço dos graduados em exatas no mundo, por exemplo. “Como enfrentar essa e outras barreiras?”.

A biomédica Jaqueline Góes, coordenadora da equipe brasileira que sequenciou o Sars-Cov-2, reforçou a importância da representatividade. “A orientação é o fator mais importante quando se está trabalhando na ciência. O orientador é uma pessoa que vai servir de modelo. Quando eu comecei, eu não via outras mulheres negras. Se eu olho para os meus colegas e não vejo diversidade, porque não promover essa diversidade nas minhas orientações?”.

O atual presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos, Vinícius Soares, defendeu as políticas de cotas e auxílios permanência do Brasil como exemplos para o mundo em questão de diversidade. “Foi algo que mudou completamente a cara da universidade brasileira, criou uma geração de pessoas que foram as primeiras de suas famílias a cursar ensino superior”.

Para a nobelista May-Britt Moser quanto mais gente diferente fazendo ciência, melhores as perguntas sendo feitas e os resultados atingidos. “Se restringirmos a população onde procuramos por talentos científicos nós perdemos. Precisamos de criatividade, precisamos de todos pra ter discussões, é uma tolice não apoiar a diversidade na ciência. Precisamos de modelos que nos inspirem. Quando eu comecei eu já conhecia outras cientistas então nunca me questionei por ser mulher”.

Anna d’Addio, Jaqueline Góes, May-Britt Moser e Vinicius Soares (Foto: Pedro Kirilos)

Comunicação científica

O terceiro painel focou na questão da comunicação. O biólogo Helder Nakaya afirmou que, no debate das redes, é preciso ter empatia com o público. “É preciso entender o que o seu interlocutor está procurando e como ele pode se beneficiar da sua pesquisa”.

David MacMillan avaliou que a Química, sua área, é tradicionalmente difícil de explicar. “Quando pensamos em física pensamos nas estrelas, no espaço; já na biologia, pensamos nos animais, nas plantas; mas na química sempre pensamos em poluentes”, disse o laureado de forma bem- humorada. Para ele, a presença dos cientistas nas redes sociais serve, sobretudo, para humaniza-los. “É interessante sabermos quem as pessoas são por trás da ciência”.

Por sua vez, Cristiani Machado, vice-presidente de Comunicação da Fiocruz, lembrou que as instituições precisam ajudar seus cientistas a se comunicar. “Existem grandes cientistas que não são bons professores, e vice-versa. Comunicação com o grande público é ainda mais difícil, precisamos aceitar que não podemos fazer tudo e ter o suporte necessário”.

Cristiani Machado, David MacMillan e Helder Nakaya (Foto: Pedro Kirilos)

Conversas se estenderam por toda a tarde

Após o almoço, os três laureados participaram de sessões separadas em que conversaram com alunos do Brasil e da América Latina sobre problemas e inquietações comuns no início da carreira. Após essa parte, todos voltaram ao teatro para mais bate-papos com professores.

A colaboração científica foi muito debatida. A reitora da UERJ, Gulnar Azevedo, lembrou de uma experiência bem-sucedida durante a epidemia de Zika. “Laboratórios de todo o pais se juntaram para entender o que estava acontecendo que tantos bebes estavam nascendo com microcefalia”.

May-Britt Moser trouxe a experiência de seu laboratório para defender o trabalho colaborativo entre estudantes, e reforçou a importância do respeito e das interações humanas. “Se o ambiente for divertido, relaxante, não significa que não levamos a ciência a sério, mas que continuamos sendo humanos, e humanos precisam se divertir”.

David MacMillan refletiu sobre cooperações passadas. “A parte mais difícil é combinar o esforço de todos, entender quanto as pessoas estão dispostas a colaborar. As melhores colaborações foram com amigos próximos, porque tive mais abertura para conversar”.

Outro tema abordado foi o letramento científico, que todos concordaram deveria ser estimulado desde a primeira infância. O físico e ex-presidente da ABC Luiz Davidovich frisou que a ciência não é a única forma válida de conhecimento. “Existem conhecimentos tradicionais invaluáveis no Brasil, muitos dos quais sobre a nossa rica biodiversidade. Ensinar as crianças sobre essa riqueza deveria ser parte fundamental da nossa cultura”.

Sobre gestão de ciência, Serge Haroche afirmou existir uma contradição entre o curto prazo da política e o longo prazo da ciência. “Há uma tendência atual entre gestores de organizar as coisas de cima pra baixo. Mas a ciência é feita de baixo pra cima, do financiamento de descobertas para depois gerar aplicação. Descobrir se algo é possível vem antes de descobrir se algo é útil”.

Os três laureados agradecem o público ao final da cerimônia (Foto: Julio Cesar Guimarães)

Saiba como foram os outros eventos!

Diálogos Nobel Brasil: Universidade de São Paulo
Os nobelistas May-Britt Moser, David MacMillan e Serge Haroche compartilharam suas experiências enquanto cientistas com um auditório lotado na USP. Confira!

Diálogos Nobel Brasil: Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
A última tarde do Diálogos Nobel Brasil levou os laureados para uma conversa na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, onde se discutiu a ponte entre academia e setor privado na corrida pela inovação.


Veja as fotos do encontro no Rio de Janeiro

 


Assista a transmissão pelo canal do Prêmio Nobel:


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