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ABC na 5a CNCTI: leia as matérias da ABC e do MCTI com Acadêmicos!

Leia abaixo as matérias feitas pela equipe de Comunicação da ABC sobre a participação de alguns Acadêmicos na 5a Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia (5CNCTI):

31 de julho
Presidente da ABC e Acadêmico participam de abertura da 5ª Conferência Nacional de CT&I
Destaque do primeiro dia, o Plano Nacional de IA foi entregue por Helena Nader e Sergio Rezende nas mãos do presidente da República e prevê mais de R$ 23 bi em investimentos nessa nova fronteira tecnológica.

10 de agosto
Mesa-redonda da 5ª Conferência Nacional de CT&I debate o futuro do FNDCT
Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico se tornou uma das mais importantes ferramentas de fomento à ciência, mas não pode ser a única, avaliou Helena Nader, presidente da ABC.

10 de agosto
As universidades públicas no Brasil: presente e futuro
A Acadêmica Denise Carvalho, presidente da Capes, e o Acadêmico Rodrigo Capaz debateram em plenária na 5a CNCTI. Confira!

1de agosto
Mudanças climáticas e Amazônia: implicações biológicas, sinergismos e segurança alimentar
O Acadêmico e vice-presidente da ABC para a região Norte, Adalberto Val, fez recomendações importantes para a sobrevivência das espécies na região, inclusive a humana.

5 de agosto
Debate na 5ª Conferência Nacional de CT&I aborda o futuro do programa dos INCT
Os INCT são redes temáticas de pesquisa com sucesso na solidificação de diversas áreas no país. O vice-presidente da ABC, Jailson Bittencourt, defende que eles precisam ser fortalecidos. “São um projeto prioritário para o Brasil”.

5 de agosto
Ciência, tecnologia, inovação e desenvolvimento social
Em palestra na 5ª CNCTI, a Acadêmica Elisa Reis apontou a relação indissociável entre essas forças que, juntas, podem levar à construção de uma sociedade próspera, sustentável e justa.


Veja abaixo as matérias feitas pela equipe do MCTI sobre a 5a Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5a CNCTI) que citam Acadêmicos!

2 de agosto
Grandes infraestruturas científicas do Brasil são destaque na 5ª CNCTI
Matéria do MCTI abordou mesa-redonda com o Acadêmico José Roque, diretor-chefe do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).

2 de agosto
Papel do Estado no desenvolvimento científico é tema de debate no último dia da 5ª CNCTI
Plenária contou com a participação da ministra da CT&I, da economista italiana Mariana Mazzucato e do diretor da ABC Alvaro Prata. Matéria do MCTI.

2 de agosto
Minerais estratégicos são destacados na 5ª CNCTI no contexto de um projeto nacional
Matéria do MCTI abordou discussão que contou com a participação do físico Marcos Pimenta, que citou três minerais estratégicos: nióbio, lítio e silício.

2 de agosto
Especialistas trazem insights sobre a cooperação universidade-empresa na 5ª CNCTI
Matéria do MCTI sobre mesa-redonda com participação do Acadêmico Romildo Toledo, que destacou a geração de emprego como forma de combater a fuga de cérebros.

2 de agosto
Decisões sobre extremos climáticos devem incorporar a ciência, enfatizam especialistas
Matéria do MCTI sobre painel da 5ª CNCTI, com participação da membra titular da ABC Mercedes Bustamante, destacou a necessidade de conciliar pesquisa e políticas públicas.

2 de agosto
Especialistas avaliam como Brasil pode melhorar políticas públicas de CT&I – ABC

Matéria do MCTI aborda sessão especial com participação do presidente do CNPq, Ricardo Galvão, e da presidente da Capes, Denise Pires de Carvalho, ambos membros titulares da ABC.

2 de agosto
Pesquisadores apontam a institucionalização como caminho para combater as desigualdades sociais
Matéria do MCTI abordou mesa-redonda da 5ª CNCTI com a Acadêmica Elisa Reis, que criticou a pouca institucionalização e estabilidade de políticas contra o problema.

2 de agosto
Elas na Ciência: pesquisadoras apontam desafios da participação das mulheres na CT&I – ABC
Matéria do MCTI abordou debate sobre mulheres na ciência que teve moderação da Secretária de Políticas e Programas Estratégicos da pasta, a Acadêmica Márcia Barbosa.]

1o de agosto
A ciência é uma constante reconstrução, afirma mesa-redonda com três Acadêmicos
Matéria do MCTI aborda mesa-redonda sobre evolução da ciência no séc. 21 que reuniu os membros da ABC Fernando Rizzo, Glaucius Oliva e Lívio Amaral.

1o de agosto
Painel destaca relevância de fundos estaduais e privados no fomento à CT&I
Matéria do MCTI aborda sessão com participação do Acadêmico Odir Dellagostin, que ressaltou a atuação de instituições estaduais para o financiamento e execução de iniciativas na ciência.

Ciência, tecnologia, inovação e desenvolvimento social

Dentro do quarto grande eixo temático da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5CNCTI), evento para cuja construção ela contribuiu, a Acadêmica Elisa Reis, socióloga, professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), participou de mesa de debate “Desigualdades e equidades sociais no Brasil”. A sessão contou também com a cientista política Daniele Costa (UFBA) e a representante do Movimento Mais Mulheres na TI (Tecnologia da Informação) do Banco do Brasil, Ângela Leal, tendo sido coordenada pela biomédica Jaqueline Góes.

Desigualdade penaliza a todos

Elisa Reis apontou que a relação entre ciência, tecnologia, inovação (CT&I) e desenvolvimento social é circular: CT&I geram desenvolvimento social e desenvolvimento social é crucial para estimular a CT&I. “Muita gente tem uma visão incorreta dessa relação, pensam que desenvolvimento social, inclusão e justiça são questões de boa vontade, de filantropia ou de solidariedade”, alertou. Ela deixou bem claro que desenvolvimento social é algo fundamental para otimizar prosperidade nacional, para aumentar a produtividade, para promover crescimento econômico e para fortalecer a democracia.

“Não podemos ignorar, ainda, que desenvolvimento social é ingrediente crucial para fomentar confiança nas pessoas e nas instituições, o que por sua vez cimenta a solidariedade, isto é, responde pelo alicerce da convivência democrática.”

Elisa acrescentou que desenvolvimento social é requisito necessário, ingrediente vital para avançar na produção de conhecimento, no avanço tecnológico, na constante inovação. “Não podemos continuar com o desperdício de talentos e energias, compactuando com os níveis de desigualdade com que convivemos”, ressaltou a pesquisadora.

Ela disse que a pobreza e a desigualdade acentuada não penalizam apenas os menos favorecidos. “Na contabilidade individual e míope de minorias, elas podem trazer benefícios. Mas na contabilidade geral, para os cidadãos e cidadãs brasileiras de hoje e do futuro, a persistência de tamanhas desigualdades priva toda a sociedade de ganhos materiais e imateriais”, destacou.

Quanto mais cedo, melhor

Outro ponto para o qual a Acadêmica chamou atenção foi o do timing dos investimentos em desenvolvimento social. “Me parece fundamental colocar ênfase na iniciação precoce da socialização na educação científica. As iniciativas de inclusão dos jovens na educação superior são certamente meritórias, mas certamente elas seriam muito mais eficazes e eficientes se começassem muito mais cedo, se a socialização escolar das crianças já permitisse familiarização com a cultura científica e estimulasse a criatividade, a inovação”, destacou Elisa Reis.

Nesse sentido, ela lembrou do sucesso que fazia, muitas décadas atrás, o kit ciência que a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) disponibilizava nas bancas de jornais. “Hoje certamente isto deveria ser adaptado para a era digital, algo que certamente poderia ter impacto muito mais amplo”, sugeriu. 

Essa socialização já na educação fundamental é algo complexo e caro, reconheceu a palestrante. “Mas o retorno é certo”, disse Reis, relatando que há evidências científicas abundantes de que o estímulo à criatividade é tanto mais eficaz, quanto mais precoce.

Divulgação científica sempre

Outro aspecto importante a ser ressaltado é a divulgação científica. Essa questão, importante desde sempre, tornou-se ainda mais crucial no presente, quando a revolução nos meios de comunicação propiciou a circulação de tantas noções equivocadas sobre veracidade, sobre validação de conhecimento, sobre a distintividade do conhecimento científico frente a outras formas de conhecimento e por aí afora.  Para Elisa, é muito importante esclarecer a sociedade quanto à especificidade do conhecimento científico.

Ela pensa que talvez seja a ignorância dos parâmetros de validade do conhecimento científico que contribui para que muita gente acredite que os critérios de validação do conhecimento científico são os mesmos critérios que justifiquem crenças religiosas, ou outras formas de conhecimento doutrinário. “É fundamental que um Plano Nacional de CT&I incorpore como prioridade campanhas que esclareçam quais são os critérios de validação do conhecimento científico, qual é o escopo de suas conclusões e sobretudo quais as implicações práticas efetivas ou potenciais dos achados da ciência”, afirmou. Ela avalia que uma população bem esclarecida sobre esses aspectos pode levar ao apoio popular a investimentos em CT&I, o que sem dúvida fortaleceria enormemente a política pública dessas áreas.  

Começar de novo…

O último ponto abordado por Elisa Reis foi a questão da institucionalização das medidas propostas. Ela destacou o quanto é importante institucionalizar não apenas as políticas de popularização da ciência. “É preciso pensar em estratégias de institucionalização de muitas outras medidas preconizadas nas discussões sobre CT& I em que nos empenhamos nessa longa jornada da preparação da 5ª Conferência Nacional”, afirmou. Um dos grandes problemas que ela vê se repetir é que estamos sempre recomeçando, sempre correndo atrás do que foi perdido. “E em ciência, recomeçar é começar tarde, é perder oportunidades e incorrer em custos mais elevados do que se poderia esperar da continuidade de iniciativas virtuosas que deixamos que se percam, porque em certo momento os ventos da política desviam projetos e põem a perder o que tinha sido conquistado”, lamentou.

Por exemplo, no que diz respeito à grande revolução em curso com os avanços da IA, “é fundamental estabelecer metas realistas e estratégicas. Identificar sem mais delongas em que aspectos o Brasil pode de fato se tornar um parceiro relevante e concentrar esforços para que o nicho, ou os nichos, identificados se tornem de fato prioridade, de forma que as metas alcançadas atuem como garantidoras da continuidade dos investimentos realizados”, alertou Reis.

5a CNCTI: uma jornada democrática

Ela finalizou ressaltando o caráter plural e inclusivo que caracterizou a construção da 5ª Conferência Nacional de CT&I. “Participei de duas das conferências preparatórias, onde esse caráter plural e inclusivo já se evidenciava. Mas contando agora com a extraordinária documentação que nos foi oferecida, resumindo o grande número de atividades que traçaram o caminho preparatório que levou aos trabalhos desses três dias em Brasília, a gente se sente parte de uma grande jornada democrática para definir como a CT&I podem e devem ser instrumentos eficientes e eficazes para lograr um padrão de desenvolvimento justo, sustentável e inclusivo.”

Debate na 5ª Conferência Nacional de CT&I aborda o futuro do programa dos INCT

A 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5ª CNCTI), realizada entre 30 de julho e 1º de agosto, ocorreu em um momento chave para o programa dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT). O programa é um caso de grande sucesso no sistema nacional de CT&I ao fortalecer a pesquisa em rede, conectando pesquisadores e laboratórios de todo o país ao redor de temas de interesse mútuo. Os INCT englobam todas as áreas do conhecimento e sua distribuição geográfica reflete a distribuição da própria ciência brasileira.

Porém, o programa se encontra num ponto onde a vigência dos INCT da segunda chamada, de 2014, está se esgotando, enquanto uma nova chamada está sendo planejada. Naturalmente, muitos pesquisadores estão apreensivos com a possibilidade de projetos já estabelecidos serem descontinuados, e como será o futuro dessas redes.

O vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Jailson Bittencourt de Andrade, que organizou um encontro preparatório sobre os INCT em janeiro na ABC, fez uma breve introdução do tema. Atualmente, são 204 INCT no Brasil, incluindo 100 muito recentes que foram aprovados na última chamada do programa, em 2002. Com relação aos INCT de 2008 e 2014, estes últimos chegando ao prazo limite de vigência, são mais de 6300 pesquisadores principais envolvidos e R$ 850 milhões investidos.

“Também são mais de 12 mil pesquisadores formados, 79 programas de pós-graduação estabelecidos e 566 disciplinas criadas graças aos INCT. Recentemente, uma patente da UFMG, desenvolvida por INCT, foi capa da Nature. É um programa que oxigena a ciência brasileira e precisa ser salvaguardado e ampliado. É preciso assumir que os INCT são um projeto prioritário no Brasil”, defendeu Bittencourt.

O vice-presidente da ABC, Jailson Bittencourt de Andrade

Na mesma linha, o diretor-científico do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Olival Freire Jr, defendeu que o próximo edital é um momento de subir o patamar dos INCT no sistema nacional de CT&I, estabelecendo-os como uma verdadeira política de Estado. Ele argumentou que os critérios para seleção de INCT devem ser sobre a relevância do tema e a existência de pessoal qualificado no Brasil, diminuindo a ênfase em aplicações imediatas. “Se na década de 70 tivéssemos colocado como prioridade a aplicação, jamais teríamos financiado a área da ótica quântica, à época muito pequena, e que hoje é muito forte na ciência brasileira”, advertiu.

Freire defendeu também a centralidade das Humanidades para a ciência brasileira. “É preciso lembrar sempre que as Humanidades foram as primeiras a desconstruir as ideias de superioridade racial e eugenia. No Brasil, foram sociólogos como Florestan Fernandes que desconstruíram a ideia de democracia racial, permitindo os avanços posteriores em políticas públicas. É por isso que Florestan precisa ocupar o mesmo lugar que Johanna Döbereiner e Cesar Lattes ocupam na história da nossa ciência”, refletiu.

A coordenadora do INCT das Radiações na Saúde (INTERAS), Denise Zezell, lembrou que os primeiros INCT foram fundamentais para a consolidação de infraestrutura e laboratórios que hoje são amplamente usados no sistema nacional de CT&I. Também foram essas redes que, durante muito tempo, conseguiram reter talentos nacionais e formaram uma nova geração de professores para as universidades. “Esses são os desafios que devemos ter em mente: os INCT precisam voltar a fixar talentos no Brasil e também é preciso incentivar a criação de startups”.

Já o professor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) Américo Bernardes, ex-diretor de Inclusão Digital do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), defendeu a extensão como parte integrante do trabalho dos INCT. Para ele, a ideia de uma pesquisa baseada em missões deve dialogar também com a nova política industrial brasileira.

Em outro ponto, ele defendeu novos mecanismos de gestão profissional para os projetos, para enfrentar um problema crônico da ciência brasileira. “Não é apenas sobre os projetos estarem no CPF do pesquisador, faltam outros mecanismos de gestão. Temos que ter, assim como temos nas unidades Embrapii, recursos para contratação de profissionais de gestão, esse trabalho não pode sobrar o pesquisador”, enfatizou.

Assista à sessão “Ciência na Base da inovação e as tecnologias criticas INCTs e redes de pesquisa”:

Grandes infraestruturas científicas do Brasil são destaque na 5ª CNCTI

*Matéria publicada pelo MCTI

m encontro para discutir os principais projetos de infraestrutura científica do Brasil lotou a sessão “Grandes infraestruturas e projetos estratégicos de P&D: financiamento e institucionalidade”, nesta quinta-feira, 1º de agosto, último dia da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5CNCTI).

O painel contou representantes do radiotelescópio Bingo, que será construído no sertão da Paraíba; do Sirius/Orion, em Campinas (SP); do Telescópio Gigante de Magalhães, a ser construído no Chile; do Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez de Mello, da Petrobras, no Rio de Janeiro; toda a rede de infraestrutura da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), e o supercomputador Santos Dumont, do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), no Rio de Janeiro. Os especialistas destacaram como essas grandes infraestruturas são fundamentais para o país e apontaram as dificuldades de planejamento e execução.

Na coordenação do debate, Amilcar Queiroz, professor da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e um dos responsáveis pelo projeto do maior radiotelescópio da América Latina, o Bingo. Ele afirmou que esses projetos são de longo prazo e precisam de muitos recursos. “São projetos diferentes, mas com dificuldades semelhantes”, afirmou Queiroz.

Entre as dificuldades encontradas, segundo o professor, está a busca de fontes alternativas de recursos, além do Fundo Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Amilcar Queiroz enfatizou que os investimentos nessas infraestruturas colocam o Brasil em um patamar de destaque perante a comunidade científica mundial.

O diretor-geral do CNPEM, José Roque, alertou sobre a dificuldade para o planejamento. Segundo ele, alguns países têm órgãos institucionais que cuidam somente das questões das grandes infraestruturas. “Boa parte das atividades aqui batem na porta do MCTI pedindo dinheiro do FNDCT”, disse. O diretor lembrou que, atualmente, o FNDCT tem os recursos para a construção da infraestrutura, mas para a operacionalização são necessárias outras fontes de recursos.

Roque enfatizou que é preciso ter no Brasil um mecanismo diferenciado para o tratamento desses grandes projetos. “É preciso ter esse mecanismo. Se vai ser uma secretaria, não sabemos. Mas muitos desses projetos são transversais e envolvem também outros ministérios”, disse.

Recursos Humanos

Além do planejamento e do financiamento, também foram discutidas a atração e a permanência de mão de obra qualificada para esses grandes desafios.

De acordo com a integrante do conselho diretor do Telescópio Gigante Magalhães (GMT) e professora titular do Instituto de Astronomia da Universidade de São Paulo (USP), Cláudia Oliveira, os grandes projetos são fontes inesgotáveis de conhecimento e os pesquisadores financiados muitas vezes perdem a fonte de recursos durante o projeto. “A gente tem que cuidar com muito carinho dessas pessoas. Elas que fazem o projeto caminhar,” disse.

Por outro lado, o diretor-geral da RNP, Nelson Simões, pontuou que esses grandes projetos têm a capacidade de promover a gestão de pessoas, competências e talentos. Segundo ele, o valor oferecido para os pesquisadores muitas vezes não está dentro do que é oferecido no mercado, mas essas infraestruturas têm a capacidade de reter muitos talentos no país.  “Se eu construo um ambiente atraente, certamente muitas pessoas vão querer ficar ali pelo propósito, pelas alianças e pelo valor que aquilo gera”, acrescentou Simões.

Também participaram da sessão o representante do Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez de Mello da Petrobras, Julio Leite, e o diretor do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), Fábio Borges de Oliveira. A relatoria ficou a cargo de Nilson Dias, do Ipen.

Assista ao debate na íntegra:

Papel do Estado no desenvolvimento científico é tema de debate no último dia da 5ª CNCTI

*Matéria publicada pelo MCTI

O terceiro e último dia da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5CNCTI), nesta quinta-feira, 1º de agosto, contou com a participação internacional, de forma virtual, da pesquisadora e economista italiana, Mariana Mazzucato. Na plenária “O Estado necessário ao desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil”, Mazzucato iniciou a apresentação falando sobre estrutura governamental e como é importante compreender o sistema atual para melhorar em conjunto com a iniciativa privada.

A pesquisadora apontou que o Estado precisa ser inovador e empresarial para financiar a inovação. “É preciso garantir parcerias públicas e privadas e um maior acesso à inovação, pesquisa e desenvolvimento”, afirmou.  Para ela, essa parceria garante um suprimento da cadeia de desenvolvimento gerando uma economia mais rica, inovadora e diminuindo as desigualdades.

A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, acrescentou ao painel a importância do plano da Nova Indústria Brasil (NIB) para o desenvolvimento do país. Segundo a ministra, este é um novo marco para o crescimento na criação de novas bases tecnológicas e na direção de aproximar a produção científica da indústria e da iniciativa privada. “A NIB e as políticas públicas vão elevar o patamar de qualidade de vida e desenvolvimento do país, tornando o Brasil mais próspero”, afirmou a ministra. Ela ainda acrescentou que a nova política industrial do Governo Federal tem missões que vão desde o combate à fome até a indústria aeroespacial.

Dando continuidade ao debate, o secretário de Governança e Gestão Estratégica da Advocacia-Geral da União (AGU), Alexandre Colares, realçou a importância do Estado para o desenvolvimento tecnológico. “Não custa recordar que vieram do setor público algumas das nossas principais e mais recentes inovações como o pix, a urna eletrônica e muitas outras inovações”, disse. Colares também lembrou que a Petrobras, uma estatal brasileira, é uma das empresas que mais investe em desenvolvimento, pesquisa e inovação.

O secretário da AGU finalizou a exposição afirmando que o país precisa dar mais garantias jurídicas para gestores e pesquisadores do país. “Como o presidente Lula fala, não devemos tratar como gasto, mas sim investimento quando o assunto é ciência, tecnologia e inovação. É hora de agir e investir no nosso futuro”, completou Colares.

Em seguida, a ministra substituta de Gestão e Inovação, Cristina Mori, destacou dois desafios antigos que o país deve enfrentar, como a inclusão social e o combate à fome.  Cristina Mori também destacou que o MGI tem a função de auxiliar o Governo Federal em políticas públicas para o desenvolvimento do país, inclusive na formação de programas em conjunto com o MCTI. Mori lembrou que o MGI tem uma cadeira no Conselho Nacional de Tecnologia (CCT) e ajudou na formulação da proposta do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial.

A ministra substituta de Gestão e Inovação concluiu reforçando a importância dos recursos humanos para a construção de um país desenvolvido. “Com tantas cabeças boas que a gente tem, com os nossos centros de excelência, a gente tem uma competência enorme”, disse, acrescentando a importância do diálogo entre as pessoas e as instituições.

O penúltimo a participar do painel foi o presidente da Embrapii, Álvaro Prata que também reforçou a importância do relacionamento entre as instituições que é fortalecida pelo Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia.

Prata finalizou enfatizando o papel do Estado necessário. “O Estado tem que ser presente e estar em todas as instâncias. Quando ele não está presente, outras organizações assumem esse papel com outros interesses”, avaliou.

Segundo o presidente da Embrapii, o Estado também precisa ser dinâmico, ágil, indutor e não impositivo. “A construção se faz coletivamente”, conclui Prata.

A última participante do painel foi a vice-presidente da Sociedade Brasileira para Progresso da Ciência (SBPC), Francilene Garcia, que enfatizou que a educação, a ciência, a tecnologia e a inovação são as formas que o Estado tem para dar soberania e enfrentar os desafios. “Depois de 14 anos, quando se reúne para uma Conferência Nacional, tenho a impressão de que a gente precisa ter menos descontinuidade e mais capacidade de planejamento e investimentos”, pontuou.

Garcia ainda acrescentou que a Constituição Federal de 1988 traz a competência delegada ao Estado de assumir o desenvolvimento das políticas públicas de Ciência, Tecnologia e Inovação. “E não apenas a União, também os entes subnacionais presentes”, lembrou.

A mesa foi moderada pela Fernanda de Negri do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e a relatoria da Laura Carvalho da Universidade de São Paulo (USP).

Assista ao debate na íntegra:

Minerais estratégicos são destacados na 5ª CNCTI no contexto de um projeto nacional

*Matéria publicada pelo MCTI

Novos materiais, transição energética, chips, semicondutores, baterias, nanotecnologia. Uma série de tecnologias que se moldam para o futuro carecem dos insumos de alguns minerais estratégicos, também chamados de metais críticos pelos especialistas. Uma das mesas de debate da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5CNCTI) abordou, nesta quarta-feira (31), o posicionamento e potencialidades do Brasil em relação a esses materiais, em especial, o lítio, o nióbio e o silício.

A sessão foi coordenada pelo físico Marcos Pimenta, que justificou a ênfase nos três minerais estratégicos. Entre outras muitas aplicações, o nióbio hoje é essencial para a indústria siderúrgica, viabilizando ligas leves e resistentes de aços avançados, materiais magnéticos e supercondutores. O lítio, por sua vez, é estratégico para o armazenamento de energia em baterias, com uso em carros, aviões, celulares e também em tecnologia nuclear. Já o silício é utilizado nos chips de computadores e outros dispositivos eletrônicos, em semicondutores, células solares e em vidros especiais.

Esses minerais também constam na relação definida pela Resolução nº2/2021 do Comitê Interministerial de Análise de Projetos de Minerais Estratégico (CTAPME), que justifica a sua importância no desenvolvimento de produtos e processos de alta tecnologia, com vantagens comparativas essenciais ao desenvolvimento econômico do país. A mesa contou com uma riqueza de dados revelados por Ricardo LIma, diretor-presidente da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM); Raul Jungmann, do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram); Silvia França, do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem); Vitor Saback, do Ministério de Minas e Energia (MME); e João Fernando Oliveira, da CBMM e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).

Liderança em nióbio

A Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) se instalou em Araxá (MG), em 1955, quando o mundo ainda desconhecia as aplicações do nióbio. Hoje, a empresa responde por 75% do mercado global desse mineral. Em sua fala, o diretor-presidente da empresa, Ricardo Lima, desmistificou a ideia que o mineral é exportado na forma bruta, revelando que o negócio se detém nos valores agregados antes dele ser comercializado. Da escavação da mina até a produção, são empreendidas 160 etapas de processamento. O principal produto da CBMM é, assim, a liga ferro-nióbio, usada pela indústria de aços especiais.

De acordo com ele, a estratégia para manter o sucesso do empreendimento é aguardar o crescimento do mercado, apresentando novas aplicações na hora certa, com investimento em inovação e parceria com centros de pesquisa e universidades. As reservas do mineral são exploradas com a aposta no retorno a longo prazo, justificado por um mercado global que consome anualmente cerca de 124 mil toneladas de liga ferro-nióbio, enquanto a empresa sozinha já tem capacidade de fornecer até 150 mil toneladas.

No Brasil, a indústria de aço não tem crescido e apenas 4 % da produção do nióbio permanece no país. O restante segue na razão de 63% para a Ásia (40% só para China); 21% para a Europa, Oriente Médio e África; e 16% para as Américas. Além do ferronióbio, mercados promissores são o óxido de nióbio, com crescente uso em baterias; o nióbio metálico, utilizado em supercondutores; e ligas de grau a vácuo, para materiais com elevada pureza. As principais aplicações hoje são o uso em oleodutos e gasodutos, aços inox, aços automotivos, aços estruturais para construção civil e outras como superligas, usadas em ressonância magnética, nanomateriais e peças fundidas.

Demandas crescentes

Segundo a Agência Internacional de Energia, a demanda por minerais críticos no ano passado foi de US$ 230 bilhões e, até 2030, deve chegar a US$ 1 trilhão. A informação foi destacada pelo diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Raul Jungman. O papel estratégico desses insumos para o futuro se apoia no posicionamento favorável das nações diante de uma distribuição heterogênea desses recursos. “De uma lista de 51 minerais críticos relacionados pelos EUA, o país importa 40 deles, enquanto o Brasil tem 15 desses principais minerais estratégicos”, relata Jungmann.

Diante da questão da transição energética, que conecta a todos, esses insumos são uma chave para o traslado da energia fóssil para outras fontes, captadas e acumuladas por placas fotovoltaicas de silício e baterias de lítio. O lítio também tem aplicações relevantes para estruturas da construção. O presidente do Ibram observa que sem minerais críticos não há futuro, sendo eles não apenas insumos para superar a crise, mas, podendo aquecer toda sua cadeia produtiva em termos de mercado, emprego e tecnologia.

Lítio e silício: desafios de pureza

A diretora do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), Silvia França, apresentou o compromisso desta unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) como agente indutor para o desenvolvimento tecnológico e inovação no setor mineral, tanto na interação com empresas e arranjos produtivos locais, como no atendimento a políticas governamentais. Em todos esses níveis, relata o aumento na demanda por minerais críticos ou estratégicos, como catalisadores de grandes oportunidades.

Sobre o lítio, ela destaca a vantagem da sua ocorrência no Brasil na forma de minério, que é menos comum do que em salmoras. A pesquisadora pondera, no entanto, que o minério ainda é controlado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), por conta da possibilidade de ter um dos seus isótopos usado em combustíveis nucleares, percepção que recomenda que seja revertida, a exemplo do que ocorreu nos EUA.

Outro atraso ao melhor aproveitamento do material, apontado por Silvia, é que 85 % do lítio brasileiro vem sendo destinado à indústria de graxas e lubrificantes, sem ainda estar dimensionado para o desafio da demanda para baterias, que também prescinde de ações para purificar o mineral. Os pesquisadores indicam nessa purificação, por sua vez, uma oportunidade de usar os rejeitos (quartzos, feldspatos e mica) como matéria-prima para outras indústrias.

Em relação ao silício, embora o Brasil detenha 4,3% da produção mundial, a diretora do Cetem alerta que a pureza do material também ainda não atinge os níveis exigidos para o seu uso em semicondutores, paineis solares e mesmo em algumas ligas de alumínio. Rotas de purificação são necessárias para desenvolver essa cadeia produtiva, elevando a pureza do grau metalúrgico (99,9%) para o grau químico (99,999%). A diretora destaca a questão do orçamento como ponto crucial na direção de resolver essas dificuldades tecnológicas no desenvolvimento dessas cadeias produtivas estratégicas. Para tanto, reivindica o pagamento de royalties sobre a atividade de mineração destinados por lei às atividades de P,D&I, que se fossem cumpridos representariam um investimento de R$ 7,1 bilhões.

Produção de minerais

O secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do MME,  Vitor Saback, lembrou que os minerais destacados na sessão fazem parte de uma lista de minerais críticos elaborada pelo Comitê Interministerial de Análise de Projetos de Minerais Estratégicos (CTAPME), em 2021. O representante do MME sugere o enfoque dos minerais para a energia limpa, pois o viés da transição energética se torna mais amplo, demandando políticas públicas capazes de desenvolver esses setores de forma competitiva com outros países.

Saback destaca que as parcerias com o setor privado que já são grandes, citando uma grande província de produção de lítio no Vale do Jequitinhonha. Primeiro, ele indica que seja estimulada a produção das reservas, de modo a alcançar a escala adequada para o estabelecimento das indústrias que utilizam esses recursos.

Bateria de carga super rápida

Membro do conselho diretor da Embrapii e da CBMM, João Fernandes, ressalta o papel das parcerias entre empresas e centros de pesquisas, e o intermédio de programas como o da Embrapii, para o desenvolvimento dos insumos necessários. Ele reforçou a proatividade da CBMM em inovação, reunindo esta 42 projetos somente no programa de baterias. A intenção dessas pesquisas é acelerar o desenvolvimento de novas aplicações com nióbio.

A ação envolve parcerias nacionais e internacionais e também associadas a empresas, culminando com uma nova planta para produção de 3 mil toneladas de nióbio. Numa parceria com a Toshiba e a Wolkswagem, a empresa lançou um e-bus de recarga super rápida, que usa bateria de íon lítio contendo o nióbio em lugar do grafite. O novo conceito aplicado à bateria desse ônibus elétrico permite a sua recarga em menos de 10 minutos, a eliminação dos riscos de explosão e a durabilidade até três vezes maior do que as anteriores.

Assista ao debate na íntegra:

Especialistas trazem insights sobre a cooperação universidade-empresa na 5ª CNCTI

*Matéria publicada pelo MCTI

A 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5CNCTI) destacou, na tarde desta quarta-feira (31), a crescente importância da cooperação entre universidades e empresas em um painel intitulado “Cooperação Universidade-Empresa: Articulação e Adequação de Instrumentos”.

O debate abordou a necessidade de expandir a inovação por todo o país, além de alinhar a formação acadêmica com as demandas do mercado. Outro ponto central das discussões foi a importância de políticas de ciência e tecnologia bem estruturadas, interligadas e financiadas adequadamente.

O painel, mediado pelo diretor de inovação da Finep, Elias Ramos, contou com a participação do professor Clélio Campolina, da Universidade Federal de Minas Gerais; Tony Chierighini, diretor da incubadora Celta; Romildo Toledo, diretor-executivo do Parque Tecnológico da UFRJ; e Gesil Sampaio, presidente da Associação Fórum Nacional de Gestores de Inovação e Transferência de Tecnologia (FORTEC).

Coordenando a mesa, Elias Ramos apresentou os programas de incentivo e financiamento da Finep que promovem o aumento das atividades de inovação e impulsionam a economia do país. “Lançamos, neste ano, 13 chamadas públicas de subvenção econômica, com fluxo contínuo. Dez dessas chamadas estão incluídas no FINEP Mais Inovação, um programa alinhado com as missões e os eixos estruturantes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial”, destacou.  Além disso, citou um edital de Agricultura Familiar e o edital Amazônia – Bioeconomia e Desenvolvimento Regional que, juntos, totalizam recursos na ordem de R$ 2,3 bilhões.

Representando a primeira incubadora tecnológica do Brasil, o Celta, Tony Chierighini destacou o surgimento dos parques tecnológicos como atrativos para empresas estrangeiras e fez um breve balanço dos impactos positivos do Celta em Florianópolis, especialmente no mercado de trabalho.

“O que está acontecendo é que muitas empresas de fora do Brasil estão querendo se instalar aqui devido aos nossos parques tecnológicos, pois eles estão acostumados com esse modelo. O Brasil está começando a ter seus próprios parques tecnológicos, com várias equipes, e isso é um grande avanço para nós”, avaliou.

Fuga de cérebros

Durante o debate, os especialistas discutiram o desafio da perda de mão de obra qualificada em inovação para o exterior e a necessidade de contrapartidas em editais e programas de subvenção econômica para mitigar esse fenômeno, conhecido popularmente como “fuga de cérebros”, que prejudica a capacidade do país de desenvolver e implementar inovações tecnológicas, além de afetar sua competitividade.

“Precisamos implementar políticas públicas que integrem todo o país e incentivem a formação e retenção de mão de obra qualificada. Estamos perdendo talentos para o exterior, com pessoas indo estudar fora. O país investe pesadamente na formação desses profissionais, mas não tem estrutura para absorvê-los e retê-los. Não basta um plano de reintegração; precisamos de um plano para garantir que eles trabalhem com qualidade aqui”, provocou Romildo Toledo.

O diretor-executivo do Parque Tecnológico da UFRJ também enfatizou a necessidade de investir não apenas em inovação tecnológica, mas também em inovação social. “Precisamos valorizar talentos das favelas e periferias, apoiar a indústria criativa e do entretenimento, e aproveitar o conhecimento local. Devemos criar editais que fomentem essa inovação, e não apenas a inovação tecnológica”, destacou.

Gesil Sampaio ressaltou a importância da Política Nacional de Inovação. “Parabéns à Finep por exigir que as instituições incluam suas políticas de inovação nos editais. Isso é fundamental, pois essas políticas são mais do que documentos formais; elas refletem as normas e a gestão dos recursos de colaboração. Empresas também solicitam essas políticas como um elemento de segurança. Muitas vezes, investimentos científicos são desperdiçados devido à falta de preparo na gestão do sistema de inovação institucional. As exigências mínimas nas políticas de inovação visam reduzir essa insegurança”, salientou.

Finalizando o painel, o professor Clélio Campolina apontou uma ironia nas exigências burocráticas que frequentemente impedem a utilização de produtos nacionais no mercado interno, apesar de o Brasil estar produzindo e exportando tecnologia avançada. “Um professor e seus alunos desenvolveram um nanoscópio e já exportaram a primeira unidade para a Alemanha. Dependendo da configuração, um nanoscópio pode custar até US$ 1 milhão. Embora estejam vendendo para a Alemanha, ao negociar no Brasil pediram três concorrentes para comparação de preços, mas poucos lugares no mundo fabricam nanoscópios. Apesar de fabricarmos e vendermos nanoscópios para a Alemanha, precisamos de concorrentes locais para validar os preços no mercado interno”, ironizou.

Assista ao debate na íntegra:

Decisões sobre extremos climáticos devem incorporar a ciência, enfatizam especialistas

*Matéria publicada pelo MCTI

A sessão especial que debateu o tema de eventos climáticos extremos, na terça-feira (31), em Brasília (DF), durante a 5a Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, apontou a necessidade de incorporação de evidências científicas nos processos decisórios de todos os níveis governamentais e de poderes, na formulação de políticas públicas, com especial atenção nos planos da esfera municipal.

“Um dos desafios é como incorporar a ciência em políticas públicas. Como incorporar a mudança do clima nos planos diretores, considerando áreas vulneráveis? Como incorporar no código de obras a dimensão climática?”, ponderou o representante do Centro Brasil no Clima, Fábio Feldmann.

Feldmann citou o exemplo da construção de edificações que precisam ser adaptadas para favorecer a ventilação natural e amenizar as temperaturas, pois, se as projeções Se concretizarem, além do aumento das temperaturas e da frequência e intensidade das ondas de calor, não se sabe se haverá energia suficiente para abastecer a demanda gerada pelo uso de condicionadores de ar para conforto térmico. “Esse é um caminho para contribuir com as ações de mitigação”, disse.

Os debatedores da sessão ainda lembraram da importância da elaboração do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), cujo primeiro relatório fomentou e embasou a criação da Convenção do Clima. Do mesmo modo, eles também se recordaram do relatório especial sobre eventos extremos, produzido pelo órgão científico da ONU em 2012, que alertou sobre a tendência de aumento e frequência desses fenômenos climáticos.

“Os governos participam da definição de escopo dos relatórios; depois, a ciência trabalha para compilar o conhecimento; e a síntese [relatórios] é, então, aprovada palavra por palavra pelos governos”, disse a professora da Universidade de Brasília (UnB) e autora do IPCC, Mercedes Bustamante, que também enfatizou que a ciência, há tempos, alerta reiteradamente sobre as tendências de eventos extremos.

Bustamante mencionou ainda o aumento da produção científica global sobre eventos extremos. Contudo, há assimetrias entre o Norte e o Sul Global, indicando a necessidade de produção de conhecimento local. A pesquisadora enfatizou a importância de se buscar o alcance da meta no sentido de manter o aquecimento global em até 1.5oC, comparado aos níveis pré-industriais. “O 1.5ºC é uma barreira biofísica e deve ser uma meta a ser perseguida”, afirmou.

Contextualização – A diretora interina do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), Regina Alvalá, fez uma contextualização sobre o tema nas esferas internacional e nacional. Ela destacou que os desastres são resultado da combinação entre a ameaça climática, a vulnerabilidade e a exposição. Segundo ela, as tipologias que mais impactam no Brasil são os deslizamentos de terra e as enxurradas e inundações. “Os desastres têm significativos impactos socioeconômicos e nos ecossistemas”, afirmou.

Segundo Alvalá, a tragédia de 2011 na região Serrana do Rio de Janeiro, que motivou a criação do Cemaden, resultou em cerca de mil mortes e mais de R$5 bilhões em prejuízos. Ela citou a preocupação dos órgãos de gerenciamento de risco com as Regiões Sul e Sudeste, por conta da topografia, das ameaças climáticas e da densidade populacional.

A pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Flávia Costa, destacou como a extensão e a intensidade das secas estão levando fogo para áreas onde as queimadas não eram comuns em localidades da Amazônia; e os desdobramentos e implicações que esses impactos impõem, como a fumaça que afeta a saúde das populações.  A seca também é uma tipologia de desastre.

Assista ao debate na íntegra:

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