Leia entrevista de Ricardo Zorzetto com o Acadêmico Flávio Kapczinski para a revista Pesquisa Fapesp, ed. 347, de janeiro de 2025:
Nos últimos meses, o psiquiatra gaúcho Flávio Kapczinski está empenhado em dois grandes projetos. Um é consolidar, em parceria com colaboradores, um sistema que classifica os graus de evolução do transtorno bipolar. Marcado pela alternância de episódios de depressão com os de mania ou hipomania, essa doença mental afeta 3% da população. Não tratado, o transtorno costuma se agravar até atingir o ponto de reduzir a capacidade de lidar com tarefas simples, como organizar as atividades do dia.
Após mais de 10 anos de discussão, uma força-tarefa internacional de especialistas reunida na Conferência Anual da Sociedade Internacional de Transtorno Bipolar de 2024, realizada na Islândia, chegou a um modelo consensual que organiza a progressão da doença, levando em conta o número de episódios, a ocorrência de comorbidades e o prejuízo funcional.
“Ele deve ajudar os médicos a escolher o tratamento mais adequado para cada caso”, afirma Kapczinski, que é pró-reitor de Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professor emérito da Universidade McMaster, no Canadá.
O segundo grande projeto que Kapczinski tem pela frente é coordenar, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o primeiro estudo que deve determinar, em uma amostra representativa da população brasileira, a prevalência (frequência de casos) das doenças mentais mais graves.
O governo colombiano informou a morte do cientista e professor colombiano Manuel Elkin Patarroyo, criador da primeira vacina sintética contra a malária, aos 78 anos. Essa doença tropical parasitária é transmitida pela picada de mosquitos infectados e, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), causou 597 mil mortes em 2023.
Nas palavras de Helena Nader, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), “Patarroyo era um cientista brilhante com muitas colaborações com o Brasil. Grande perda para a ciência mundial.”
“Apesar das ofertas para trabalhar em centros de pesquisa no resto do mundo, ela decidiu se estabelecer em seu país, a Colômbia, trabalhando com uma pequena equipe interdisciplinar”, diz uma breve biografia da Fundação Princesa das Astúrias da Espanha, que em 1994 lhe concedeu o prêmio Príncipe das Astúrias. Ao longo de sua carreira recebeu outros reconhecimentos por suas pesquisas e seu nome passou a figurar entre os candidatos ao Prêmio Nobel de medicina.
Desde 1984, Patarrayo foi o primeiro diretor do Instituto de Imunologia do Hospital San Juan de Dios, em Bogotá. Lá ele desenvolveu sua vacina SPf66 contra a malária entre 1986 e 1988, a primeira a ser reconhecida pela OMS.
“Suas contribuições e legado em imunologia serão sempre lembrados, assim como sua engenhosidade, entusiasmo e dedicação à pesquisa e à ciência”, afirmou a Faculdade de Medicina da Universidade Nacional da Colômbia em comunicado publicado no X, à qual esteve ligado por mais de 50 anos.
(…)
Ele era a favor da universalização da ciência para evitar que suas conquistas fossem monopolizadas por grandes grupos econômicos, por isso em 1993 Patarroyo rejeitou uma oferta de 60 milhões de dólares de um laboratório bioquímico e em 12 de maio de 1993 renunciou aos direitos de exploração da vacina contra a malária à OMS.
A premiação de Fernanda Torres no Globo de Ouro foi importante para a recuperação da autoestima do povo brasileiro, que percebe que ainda está muito longe de extinguir a pobreza e a desigualdade social. Convivemos com um elevado contingente de analfabetos, com um ambiente de extrema violência, falsos discursos, um egocentrismo agudo e uma corrupção permanente. Nossos jovens, em sua maioria, têm uma educação precária. Os serviços de saúde são deficientes, e as oportunidades são para poucos. Nesse quadro, a saúde física e mental da sociedade brasileira é abalada por um sentimento de inferioridade.
Em 1950, quando a seleção brasileira foi derrotada pela seleção uruguaia de futebol na final da Copa do Mundo, em pleno Maracanã, o escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues criou a expressão “complexo de vira-lata”, que se refere a um sentimento de inferioridade por parte dos brasileiros em relação a outros países, especialmente os desenvolvidos. Isso é percebido na crença de que o Brasil, sua cultura e suas realizações são inferiores às de outras nações. Após 74 anos, já é hora de enterrar esse sentimento negativo.
A premiação coloca na pauta uma importante reflexão: apesar de ser desprezada pela maioria dos governantes, a arte brasileira ainda sobrevive e brilha. Vamos tentar fazer um pequeno recorte em três dimensões das artes em nosso país: literatura, artes plásticas e música.
Na literatura brasileira, temos escritores e escritoras excepcionais que deixaram um legado extraordinário. Entre eles: Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Jorge Amado, Manuel Bandeira e Machado de Assis.
Nas artes plásticas, destacam-se artistas como Arthur Bispo do Rosário, Djanira da Motta e Silva, Hélio Oiticica, Cândido Portinari, Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral.
Na música, tanto clássica como popular, podemos citar gênios que encantaram várias gerações, como Ary Barroso, Noel Rosa, Adoniran Barbosa, Lupicínio Rodrigues, Luiz Gonzaga, Claudio Santoro, Vinicius de Moraes, Pixinguinha, Chiquinha Gonzaga, Heitor Villa-Lobos, Carlos Gomes, Renato Russo, Tom Jobim, Caetano Veloso, Chico Buarque, Paulinho da Viola, Alceu Valença, Milton Nascimento, Gilberto Gil, entre outros.
Todos os artistas citados merecem as nossas homenagens e representam matéria-prima para a construção da autoestima da sociedade brasileira. Todos e todas merecem ganhar um Globo de Ouro ou uma homenagem semelhante.
A cultura do Brasil é uma síntese da influência dos vários povos e etnias que formam a nossa sociedade. Ela não é perfeitamente homogênea, mas um mosaico de diferentes vertentes culturais. A diversidade cultural do Brasil pode ser uma fonte de riqueza e criatividade. Além de proporcionar saúde mental à sociedade brasileira, pode promover o turismo e a exportação cultural.
Além disso, a arte é um importante veículo de comunicação que detém um papel terapêutico significativo, constituindo-se como uma ferramenta da arteterapia. As artes são adequadas para ajudar a compreender e comunicar conceitos e emoções, estimulando todos os sentidos e até mesmo a capacidade de empatia. Assim, permitem que as pessoas se conectem emocional e intelectualmente com o mundo ao seu redor.
A premiação no Globo de Ouro, além de alimentar o orgulho de ser brasileiro ou brasileira, pode ser um estopim para um salto no financiamento para os artistas e suas atividades. Um povo que se alimenta da arte é um povo solidário e amoroso. Obrigado à dupla – Fernanda, mãe e filha – por deixar nossos corações cheios de alegria e iluminar caminhos para que, no futuro, tenhamos um país justo e feliz. Esse é o nosso sonho. Vamos todos, como um coral, cantar bem alto e com alegria: “Ainda estamos aqui”. Esse será o nosso mantra.
* Isaac Roitman é professor emérito da Universidade de Brasília e da Universidade de Mogi das Cruzes, pesquisador emérito do CNPq, membro da Academia Brasileira de Ciências e membro do Movimento 2022 – 2030 o Brasil e o Mundo que queremos.
A Academia Nacional de Engenharia lançou, no finalzinho de 2024, o relatório “A importância das usinas hidroelétricas para o SIN (Sistema Interligado Nacional)”. O documento produzido sob a coordenação do Acadêmico [da ANE] Flavio Miguez de Mello, com apoio de outros membros do Comitê de Energia, é um alerta ao governo. O relatório traz um histórico da geração energética no Brasil, mostra o recuo da geração hidroelétrica nos últimos anos e aponta os riscos que essa medida gera para o País.
“O crescimento de fontes renováveis não despacháveis exige complementação que, se não for hídrica, terá que ser pela adição de baterias ou por geração termoelétrica (poluente e cara), por isso é importante a construção de reservatório de uso múltiplo para a geração energia elétrica”, afirma o engenheiro Mário Menel, presidente da ANE, um dos autores do relatório.
Para Menel, as hidroelétricas são também fundamentais para mitigar os efeitos dos eventos climáticos extremos que vêm ocorrendo como secas e cheias. “A reservação é importante para preparar o País para situações como essas e que, infelizmente, têm sido cada vez mais frequentes”, disse.
O documento traz recomendações e elenca medidas a serem tomadas em benefício do desenvolvimento energético do País como a realização de retrofit de usinas hidroelétricas antigas; a revisão no manual de estudos de inventário hidroenergético; e sugere que o ONS e a ANA se esforcem para identificar e achar meios de mitigar as restrições operativas impostas às hidroelétricas; entre outras orientações.
Além do documento, o Comitê de Energia da ANE, coordenado pelo vice-presidente Nelson Martins, organizou um painel sobre o assunto (disponível no canal da ANE no Youtube) com a participação do ex-presidente da Eletrobras e de Itaipu, Altino Ventura, membro titular da ANE e um dos autores do documento, e Armando Araújo, ex-secretário de energia do MME e consultor internacional do Banco Mundial e ex-presidente da Eletronorte.
O tema seguirá na agenda da Academia. Está previsto para janeiro um novo debate sobre o assunto. “O relatório é um documento em defesa da sociedade brasileira. Esse é o nosso objetivo na Academia Nacional de Engenharia, lutar pelo desenvolvimento do País”, concluiu Mário Menel.
Também participaram da elaboração do relatório os Acadêmicos [da ANE] Eduardo Serra, Jerson Kelman, José Eduardo Moreira, Maria Elvira Maceira e ainda os especialistas Paulo Gomes e Paulo Sehn.
Editado por Samara Silva de Souza, Susana Braz-Mota e pelo vice-presidente da ABC para a região Norte, Adalberto Luis Val, o livro “The Future of Amazonian Aquatic Biota” é fruto dos esforços colaborativos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e marca a culminação do projeto INCT Adapta II, apoiado pela Fapeam, CNPq e Capes.
A publicação abrange os impactos das mudanças climáticas e das pressões antropogênicas na biota aquática da Amazônia, apresentando estudos detalhados sobre a diversidade de organismos aquáticos e suas respostas ao ambiente em rápida mudança. Com contribuições de renomados especialistas brasileiros e internacionais, a obra oferece uma análise aprofundada dos desafios enfrentados pelos ecossistemas aquáticos da Amazônia e propõe estratégias para sua conservação e manejo sustentável.
“A pesquisa contida neste livro é vital para entendermos melhor como as mudanças climáticas estão afetando a Amazônia, uma das regiões mais biodiversas do mundo”, diz Adalberto Luis Val, um dos editores e líder no INPA. “Estamos orgulhosos de contribuir significativamente para a ciência que define nossa compreensão e gestão dos recursos naturais nesta área crucial.”
Este trabalho não apenas destaca a pesquisa de ponta, mas também serve como um recurso crucial para pesquisadores, políticos, tomadores de decisão e conservacionistas envolvidos na preservação da natureza única da Amazônia.
A Academia Brasileira de Ciências (ABC) abre processo seletivo para preencher uma vaga de estágio em mídias sociais e audiovisual na Gerência de Comunicação. Interessados devem estar entre o 2º e o 5º período de graduação nas áreas de Comunicação/Mídias Sociais/Audiovisual e afins.
A carga horária é de 30 horas semanais, com bolsa no valor de R$ 1.200,00. Também são oferecidos vale refeição e/ou alimentação de R$ 40,46 por dia e auxílio transporte de R$320,00 mensais. No momento, a Academia está funcionando em formato híbrido, com home office às 2as feiras e presencial nos outros dias da semana.
As inscrições vão até 24 de janeiro de 2025, às 20h.
Em 22 de agosto de 2024, a diretoria da Academia Brasileira de Ciências (ABC) decidiu, por unanimidade conceder ao engenheiro Othon Luiz Pinheiro da Silva a Medalha Henrique Morize “em reconhecimento aos inestimáveis serviços prestados à Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil, especialmente no campo da energia nuclear”. Othon Luiz Pinheiro da Silva, engenheiro naval e nuclear formado pelo MIT, teve um papel crucial no desenvolvimento da tecnologia nuclear brasileira, desde coordenar projetos de construção naval até liderar inovações em propulsão e ciclo de combustível nuclear.
Othon é reconhecido por suas contribuições significativas à ciência e tecnologia do Brasil, o que levou à sua recente homenagem com a Medalha Henrique Morize pela Academia Brasileira de Ciências, entregue em homenagem realizada no dia 12 de dezembro de 2024. Durante sua carreira, ele trabalhou sobretudo na independência tecnológica do Brasil no setor nuclear, inclusive através da construção do primeiro reator nuclear projetado no país e o avanço no enriquecimento de urânio usando tecnologia nacional. Além disso, como presidente da Eletronuclear, Othon teve um impacto positivo na performance da central de Angra e apoiou a retomada da construção de Angra 3. Sua carreira é marcada por uma forte defesa do setor nuclear na matriz energética brasileira e colaborações valiosas no estabelecimento de uma política nuclear.
A medalha, que leva o nome do primeiro presidente da ABC, foi entregue pelas mãos da atual mandatária, Helena Bonciani Nader, que enalteceu o legado do premiado.
“Graças ao trabalho do Almirante Othon em acreditar que a ciência muda um país, o Brasil hoje domina toda a cadeia de enriquecimento de urânio. Conseguir isso sempre dependeu de materiais cuja venda é restrita, mas sua equipe conseguiu desenvolver aqui. Estamos falando de uma tecnologia cujo impacto vai muito além da área militar, contribuindo para geração de energia e para tratamentos de saúde. Gostaria de registrar aqui o meu agradecimento”, disse Nader.
Em seguida, foi dada a palavra a Joana Domingues Vargas, filha do ex-presidente da ABC José Israel Vargas, que falou em nome de seu pai.
“O vice-almirante e engenheiro Othon Pinheiro desenvolveu o enriquecimento isotópico do urânio para a centrifugação, uma contribuição extraordinariamente valiosa que ensejou a independência nuclear do Brasil. Ainda com base nas ligas magnéticas especiais utilizadas na ultracentrifugação, ele projetou uma mini turbina a fio d’água capaz de permitir a autonomia energética de pequenas comunidades. Trata-se de um método muito original e proveitoso que permite, por exemplo, gerar energia elétrica nos leitos dos cursos d’água da Amazônia, onde as pequenas cidades são dependentes de diesel”, explicou Vargas, “Registro que me detive apenas nas suas maiores contribuições à ciência e à tecnologia brasileira. Haveria muito mais o que falar em sua homenagem”.
Visivelmente emocionado, o homenageado compartilhou a honra com a equipe que comandou no programa nuclear.
“Os cientistas são os faróis, eles alargam as fronteiras do conhecimento. Depois vêm os engenheiros, os físicos, os técnicos, que, iluminados pelos cientistas, transformam esse conhecimento em tecnologia. Naquele programa, tive a honra de ter sido designado pelo grande Almirante Márcio Vianna da Fonseca. Costumo dizer que os almirantados são como vinhos, algumas safras são melhores que as outras, e esta era, sem dúvida, uma excelente safra. Na vida, eu nada mais fui do que um dedicado cumpridor de missões, que deu a sorte de conseguir juntar uma equipe fantástica de engenheiros, físicos, técnicos, que, iluminados pelos cientistas que estavam no sistema universitário, fizeram com que nós caminhássemos com as próprias pernas por caminhos que muitos países do mundo não conseguem caminhar. Muitos daquela equipe já se foram e eu me lembro deles com saudade, foram anos de muito trabalho mas, quando o ambiente é bom, isso traz grande satisfação. Sozinho ninguém faz nada, portanto, posso dizer que fui iluminado pelos cientistas com quem tive o prazer de conviver e agora recebo mais esta dádiva por eles”, agradeceu o Almirante Othon Pinheiro.
Estiveram presentes na cerimônia os membros da diretoria da ABC e os Acadêmicos Aldo Zarbin, Débora Foguel, Jorge Almeida Guimarães, e Renato Cotta. O atual comandante da Marinha, Almirante Marcos Olsen, o presidente do Clube de Engenharia, Francis Bogossian e a vice-presidente, Olga Simbalista, também participaram.
A Medalha Henrique Morize foi criada em 2014 com o propósito de homenagear indivíduos ou instituições que realizem ou tenham realizado contribuições expressivas para a Academia Brasileira de Ciências, bem como para o desenvolvimento da ciência brasileira. Os agraciados são selecionados pela Diretoria da ABC.
Como presidente e em nome da Diretoria da Academia Brasileira de Ciências, desejo a todos boas festas. Que o ano de 2025 reforce ainda mais a esperança de alcançarmos o Brasil que desejamos: justo, que reconheça as diferenças e trate a todos com equidade, e igualitário, que garanta que todos tenham as mesmas oportunidades e direitos.
Desejamos a todos Esperança, nas palavras de Mário Quintana:
“Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
– Ó delicioso voo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança…
E em torno dela indagará o povo:
– Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
– O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA…”
Helena Bonciani Nader
A ABC estará em recesso entre os dias 21 de dezembro e 5 de janeiro. Voltamos no dia 6.