A Academia Brasileira de Ciências (ABC), em parceria com a Rede InterAmericana de Academias de Ciências (Ianas, na sigla em inglês) e o Escritório Regional para a América Latina e Caribe da Academia Mundial de Ciências (Twas-Lacrep, na sigla em inglês), promoveu a 21ª Conferência Twas-Lacrep de Jovens Cientistas, em sua sede, no dia 20 de agosto. O encontro fez parte da programação do evento “Promoting Gender Equity in Science”, que realizou uma série de atividades relacionadas à presença da mulher na ciência, entre os dias 20 e 22 de agosto, no Rio de Janeiro.
Indicadas pela Reunião de Focal Points do Programa Mulheres para a Ciência da Ianas, as jovens cientistas latino-americanas tiveram a oportunidade de acompanhar um ciclo de palestras realizadas por quatro Acadêmicos brasileiros: Eliete Bouskela, diretora científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), Roberto Lent, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Edson Watanabe, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe/UFRJ) e Carlos Aragão, físico da UFRJ atuando na Agência Naval de Segurança Nuclear e Qualidade).
A cientista Eliete Bouskela tratou em sua fala da situação da mulher na ciência em nível global. Ela afirmou que, nas últimas décadas, as mulheres se tornaram mais presentes no campo da pesquisa científica e têm alcançado novos patamares ao longo da carreira, mas a desigualdade de gênero ainda é alarmante na área. Integrante tanto da ABC quanto da Academia Nacional de Medicina (ANM), Bouskela informou que as mulheres representam, respectivamente, apenas 14% e 5% dos membros destas Academias. Ela explicou que além de desafios como a desigualdade salarial e a conciliação entre carreira e maternidade, já durante a infância as meninas não são encorajadas a se interessar por ciência, e para que o cenário geral mude, é preciso que a educação se transforme também.
Em seguida, o Acadêmico Edson Watanabe realizou uma apresentação sobre conceitos básicos em criatividade e inovação. Watanabe tratou dos conjuntos de conhecimento, da interação entre eles e de como se transformam ao longo da vida acadêmica. O professor incentivou as pesquisadoras presentes para buscar sempre os problemas e as soluções, e publicar o que descobriram. “Descubram o que pode ser publicado para aprimorarem o currículo”, alertou. Sobre o tema da inovação, Watanabe destacou que a inovação pode ser uma boa ideia, um conceito, uma tese ou uma patente, desde que seja aprovada pelo mercado. O slideshow (em inglês) da apresentação pode ser conferido aqui.
A engenheira química Susana Arrechea, da Universidad de San Carlos de Guatemala, expressou seu interesse no tema da inovação e afirmou: “A segunda [palestra], sobre inovação, foi muito boa, porque esta é uma grande barreira que eu tenho cientificamente. Eu não sei pular da pesquisa para os produtos inovadores, e é um grande desafio com que temos de lidar”.
O físico Carlos Aragão de Carvalho Filho apresentou para as pesquisadoras latino-americanas a Agência Naval de Segurança Nuclear e Qualidade e o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). O Acadêmico falou sobre bioeconomia na nova abordagem da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), além de tratar da bioeconomia no cenário mundial e pontuar alguns números da área no caso brasileiro. Para visualizar o slideshow (em inglês) desta palestra, clique aqui.
Fechando o ciclo de palestras, o neurocientista Roberto Lent apresentou a Rede Nacional de Ciência para Educação (Rede CpE), organização que busca identificar e conectar indivíduos e grupos de diversas áreas como pesquisa, educação e empreendedorismo para discutir os vários campos de ciência aplicáveis à educação. Lent apresentou dois dos principais projetos da Rede CpE: a Plataforma CpE, ferramenta digital de busca e visualização de dados sobre pesquisadores atuantes no Brasil, cujas linhas de pesquisa tenham aplicação na aprendizagem e no ensino, e a publicação de material sobre ciência para educação voltado para professores, pesquisadores e interessados em geral.
“Promoting Gender Equity in Science” é um tema atual e de grande relevância para as cientistas latino-americanas, que puderam ouvir e compartilhar experiências pessoais durante o evento, além de pensar estratégias para uma presença mais forte das mulheres na ciência. “Para mim, foi uma surpresa. Pensei: pelo menos alguém está falando sobre esse tema! Nós vemos barreiras muito altas para as mulheres, e nós precisamos compreender umas às outras e entender o que realmente é equidade de gênero” celebrou a engenheira civil Ingrid Alfaro, da Universidad de El Salvador.
Saiba mais sobre o evento “Promovendo Equidade de Gênero na Ciência”:
Para 16 alunas do 1º ano do Ensino Médio do Colégio Olavo Bilac, no bairro de São Cristóvão, zona norte do Rio de Janeiro, a noite de terça-feira, 21 de agosto, foi inesquecível. E para as “adultas” envolvidas no evento Meninas na Ciência: Uma Aventura no Museu, também.
Promovida pela Academia Brasileira de Ciência em parceria com o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), como parte da programação do evento “Promoting Gender Equity in Science”, a noite começou com uma atividade de observação do céu, sob responsabilidade da astrofísica do MAST Patricia Figueiró Spinelli, da museóloga bolsista Claudia Sá Rego Matos e da física bolsista Gabriela de Assis Costa Moreira.
As pesquisadoras mostraram a Lua, os planetas Marte e Saturno, o Cruzeiro do Sul, as Três Marias, as luas de Saturno e explicaram como identificar esses objetos astronômicos no céu. “Fazemos esse programa de observação do céu toda semana, às quartas e sábados, com o público visitante do museu”, contou Cláudia.
Dois diferentes de telescópio foram usados: o Schmidt-Cassegrain de 125 mm, usado ao ar livre, e a Luneta 21, que fica numa cúpula. “Esta é uma luneta histórica, centenária, sendo o único instrumento científico do acervo do museu que pode ter interação com o público. Desde que foi instalada na cúpula, que originalmente não seria para ela, nunca deixou de estar em funcionamento. Realizou muitos registros fotográficos de estrelas, participou da missão Apolo e hoje segue proporcionando ao público do museu lindas imagens do Cosmos”, relatou Cláudia. “Chamamos de Luneta 21, porque sua lente objetiva tem 21 cm de diâmetro”, explicou.
Uma lanterna laser de longa distância transformou o céu em tela, apontando com clareza os planetas e estrelas observados e mostrando o desenho da constelação de Escorpião. Apenas fascinante.
O grupo teve a companhia das pesquisadoras Eliade Ferreira Lima, professora de física da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) e e coordenadora do Projeto Energéticas, do grupo Cientistas do Pampa, e de Daniela Pavani, diretora do Planetário da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenadora do projeto Meninas na Ciência, que deram inúmeras contribuições.
A diretora da ABC e física Márcia Barbosa foi a Acadêmica responsável pela ideia geral do evento. A equipe do MAST organizou a logística para que as meninas dormissem no museu e coordenou o contato com a ABC. Márcia destaca que projetos como estes devem ser incentivados. “O CNPq acaba de lançar um edital para apoiar grupos que desenvolvem trabalhos com meninas nas escolas. Esperamos que este edital entre para o calendário do CNPq e seja oferecido todos os anos bem como copiado por outras agências. Afinal, ciências exatas são importantes demais para deixarmos somente nas mãos dos homens”. declarou.
O processo criativo: arte, ciência e feminismo
Circulando pelo amplo terreno onde se localizam o Museu de Astronomia e o Observatório Nacional, em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, as meninas e as acompanhantes lancharam na biblioteca e foram encaminhadas para o prédio do MAST, no qual um salão equipado com colchonetes lhes foi apresentado como o quarto em que passariam a noite. Livres das mochilas, voltaram ao andar térreo, onde teve início a verdadeira aventura.
E como foi elaborada a atividade? Patricia conta que propôs às bolsistas Claudia e Gabriela, em abril, que planejassem uma visita noturna ao Museu, com lanternas, “alguma coisa envolvente”. E Gabriela, inspirada, emendou: “Que tal um mistério no museu!?” Assim definiu-se a atividade que seria desenvolvida pelas duas pesquisadoras bolsistas, que se debruçaram sobre ela com autonomia, superando as expectativas.
Ao aceitarem a proposta, as duas pesquisadoras contam que percorreram várias vezes o Museu em busca de inspiração e se fixaram na biblioteca histórica – que hoje armazena a parte ainda não processada do acervo da Academia Brasileira de Ciências. Pensaram em várias narrativas, incluindo mitos gregos, até que então surgiu a ideia de uma personagem de época, do início do século XX. O prédio havia sido construído entre 1918 e 1922. Elas imaginaram que 1932 seria uma boa época, quando as pesquisas no Museu já estariam todo vapor.
O mistério criado por Claudia – graduada em museologia (UniRio) com especialização e mestrado em geologia (UFRJ), além de estar terminando uma outra licenciatura em geografia (UERJ) – e Gabriela – física graduada pela UERJ, com especialização em popularização e divulgação de ciência pela Fiocruz – envolvia o sumiço de uma assistente administrativa do Museu, ocorrido em 1932.
Usando seu acervo de conhecimentos sobre mitologia, batizaram a personagem de Estela (estrela), levando o sobrenome Argo – referência à constelação de Argo, que deu nome ao navio dos heróis gregos Argonautas, liderados por Jasão e enviados pelo rei de Aetes em busca do velocino de ouro. Jasão foi o nome dado ao pai de Estela – e seu sobrenome – de Aetes – referia-se à sua cidade de nascimento. E assim nasceu Estela Argo de Aetes. Os outros nomes foram surgindo assim, atrelados a referências mitológicas e históricas.
“Dossiês policiais” continham cópias das plantas baixas originais do interior do prédio, cedidas pela Coordenação de Museologia do MAST, e depoimentos colhidos “na época”, incluindo uma foto produzida da desaparecida. O material foi distribuído para cada equipe. Cada um dos grupos, compostos por quatro estudantes e uma pesquisadora, tinha que procurar pelo prédio pistas sobre o ocorrido, seguindo as informações do dossiê, que foi lido em conjunto antes do início da “investigação”.
Claudia e Gabriela foram fundo na pesquisa. Buscaram as plantas do prédio que, originalmente, era do Observatório Nacional; as regras da época, que incluíam autorização de frequência exclusiva para pesquisadores na biblioteca. “Como não era permitido que mulheres se tornassem pesquisadoras, elas não tinham acesso aos livros nem ao espaço de leitura”, conta Gabriela, que descobriu ainda que apenas na década de 1950 foi contratada a primeira pesquisadora no Observatório Nacional. Levantaram informações sobre as pesquisas que eram desenvolvidas na época, universidades no Ocidente que aceitavam mulheres e dezenas de detalhes que fizeram a diferença. O nível de cuidado que tiveram, contando com a luxuosa contribuição das designers do MAST Edilene Ferreira e Mariana Corrêa, tornou a vivência muito realista, o que foi fundamental para garantir o interesse e envolvimento das estudantes.
Aprendizagem significativa
E o jogo cooperativo, não competitivo, foi um excelente experimento de aprendizagem significativa. Se a teoria do pesquisador norte-americano David Paul Ausubel (1918-2008) destaca que, para que a aprendizagem aconteça, é preciso em primeiro lugar gerar interesse no estudante e provocar reflexão sobre o significado do conteúdo, a atividade foi um grande sucesso. A excitação e envolvimento transformou as alunas em verdadeiras detetives. A cada etapa, todas se reuniam na escadaria para analisar as provas encontradas, relacioná-las com o dossiê e dar continuidade a investigação.
Toda a ação foi sendo desenvolvida pelos diversos ambientes do Museu, até chegar ao desfecho, na porta da biblioteca histórica. Até lá, as “detetives” descobriram que embora a maioria dos depoimentos apresentados no dossiê levassem a crer que Estela tinha uma vida desregrada, pois chegava em casa “em horários incompatíveis com o comportamento adequado a uma moça de boa família”, isso ocorria porque ela estudava à noite, escondida, na biblioteca do Museu. E foram alertadas, também, de que esta é a maneira mais corriqueira e cruel que nossa sociedade tem para oprimir uma mulher: desmoralizando-a.
Mas não, Estela não tinha um amante: tinha um projeto de pesquisa, que queria desenvolver. E assim, quando o pai vendeu a fazenda e deixou para ela a pequena fortuna de 8 mil contos de réis, ela se organizou para fugir e estudar em Harvard – única universidade do Ocidente que aceitava mulheres nos anos 30.
Gostinho de “quero mais”
Ao final da aventura, sentadas em círculo dentro da biblioteca histórica, todos os aspectos do mistério foram sendo esclarecidos na conversa das pesquisadoras com as estudantes. Foram discutidas as questões científicas das órbitas planetárias estudadas por Estela, assim como foi detalhada a contribuição da cientista pioneira Bertha Lutz, que era uma das personagens do enredo.
Principalmente, foram debatidas questões sociais e de gênero. “Vocês viram a foto”, lembrou Gabriela. “De que cor era a pele de Estela?”, perguntou. E todas responderam: “branca”. “E qual era a sua classe social?”, perguntou Gabriela. Por conta da herança que teria recebido a personagem e por residir em Botafogo – dados do dossiê policial – concordaram que ela seria de classe média alta. “E qual a possibilidade de uma moça preta, pobre e da periferia poder ser pesquisadora naquela época?”, acrescentou Gabriela, obtendo resposta unânime: “Zero”.
Hoje, mais de 80 anos se passaram desde o período em que a história foi contextualizada, e as possibilidades das moças pretas, pobres e de periferia se ampliaram um pouco. Embora muito chão ainda exista a ser percorrido para chegarmos a uma mudança socioeconômica e científica consistente nesse sentido, eventos como esse promovido pela ABC e MAST trazem esperança. Especialmente quando no dia seguinte, durante as atividades matutinas oferecidas às “detetives” por grupos de mulheres cientistas nas áreas de computação, engenharia e física – Engenheiras de Borborema, Tem Menina no Circuito e ProgramAmazonas -, ouvimos a pergunta tímida de uma das estudantes envolvidas: “Tia, o que que a gente têm que estudar pra fazer isso aí que você faz?” Este é o momento que faz todo trabalho valer a pena.
Veja aqui a galeria de fotos da noite no Museu.
O que você aprendeu? Conte sua experiência!
Carla Gonzaga de Sena, 18 anos, gostou mais de ver a Lua. Ela aprendeu que as mulheres devem se valorizar, não só falar de homem. “As mulheres também têm poder”.
Imara dos Santos Cabral, 17 anos, quis participar do evento para “fazer uma coisa diferente”. Ela achava que ia ser chato e se surpreendeu. O que mais gostou foi da aventura, pois “se divertiu à beça”.
Khecia das Neves Silva, 16 anos, disse que o que aprendeu com a aventura é que “a gente não depende de homem pra viver a vida, nem de emprego nenhum”.
Sthefanny Santana Nascimento, 17 anos, quis participar para aprender coisas novas e pela oportunidade de dormir “nesse Museu tão lindo”. Gostou mais de ver as cores dos planetas, até porque “tudo era novidade”. Da aventura, o que ficou para ela é que “a gente nunca pode desacreditar de si; que se a gente vê alguém se jogando pra baixo, deve estender a mão pra levantar. E que a gente não deve julgar as pessoas sem antes se colocar no lugar dela, para saber o que ela está sentindo.”
Taniele Santana Silva, baiana de 17 anos, está no Rio há três anos com a mãe, “porque é melhor para estudar e para conseguir trabalho”. Ela quis participar “porque gosta muito de descobrir o novo” e achou a Lua muito bonita. Ela quer ser psicóloga no futuro, “porque quer entender melhor as pessoas, porque as pessoas são ‘assim'”.
Valéria da Silva, 16 anos, disse que gostou de ver a Lua e os planetas Marte e Saturno. Na atividade de desvendar o mistério, ela disse que o que aprendeu foi que o objetivo da vida “não é só ganhar, e sim compartilhar e se aventurar”.
Yasmin dos Santos Pereira, 17 anos, aprendeu sobre os planetas e a constelação de Escorpião. Sobre a aventura, disse que aprendeu “que não se pode julgar o livro pela capa” e que “curtiu muito e nunca vai se esquecer” daquela noite no Museu.
A Academia Brasileira de Ciências (ABC), em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), promove mais uma edição do Programa Aristides Pacheco Leão. Buscando estimular as vocações científicas na comunidade universitária, a iniciativa concede aos estudantes da graduação, habilitados para ingressar na área da pesquisa, a oportunidade de estagiar em laboratórios dirigidos por membros titulares da ABC. As inscrições para o programa vão até 6 de setembro.
Na edição de 2019, os estágios serão realizados durante as férias acadêmicas, de 15 de janeiro a 28 de fevereiro. Após este período, é essencial a continuidade do trabalho pelo universitário, ao retornar para sua instituição de origem. Serão selecionados até 32 estudantes, que receberão uma bolsa de R$ 4.480 e passagens de ida e volta entre suas universidades e os laboratórios dos Acadêmicos.
Podem se candidatar alunos da graduação das instituições de ensino superior do Brasil, exceto universidades com sede em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Os selecionados na edição anterior também não poderão participar. Estudantes que se inscreveram na edição de 2018 e não foram contemplados estão aptos a se inscrever novamente.
Para fazer sua inscrição, clique aqui. O resultado da seleção sairá no dia 5 de outubro.
Acadêmica Mariangela Hungria foi primeira mulher a ser oradora da turma de homenageados
No dia 21 de agosto de 2018, em Maceió, a Acadêmica Mariangela Hungria, pesquisadora da Embrapa Soja, recebeu a Medalha do Mérito como engenheira agrônoma, a maior das homenagens no campo das engenharias e agronomia, concedida pelo sistema dos Conselhos Federal e Regionais de Engenharia e Agronomia (Confea/CREA). Em fevereiro deste ano, Mariangela também recebeu a Medalha do Mérito do CREA do Paraná.
Embora a primeira agrônoma só tenha sido indicada 37 anos após a instituição do prêmio, ocorrida em 1958, o reconhecimento da atuação feminina vem se intensificando, sendo Mariangela a quinta mulher nessa categoria. Apesar disso, em 60 anos de homenagem, esta foi a primeira vez que uma mulher foi a oradora da turma.
A pesquisadora foi escolhida em nível nacional por seus serviços prestados à microbiologia do solo, com o desenvolvimento de pesquisas e tecnologias que levam à substituição dos fertilizantes químicos, caros e poluentes, pela ação de bactérias fixadoras de nitrogênio e promotoras do crescimento de plantas, resultando em impactos econômicos e ambientais relevantes ao país. Ela iniciou seu dicurso enfatizando a felicidade e a importância do momento. “É um sonho estar vivenciando isso. Quando fui indicada para essa cerimônia, não consegui acreditar, era o sonho de uma garotinha de cinco anos se realizando”, comentou a homenageada.
Apesar do momento delicado em que se encontra ciência, a Acadêmica não deixou o otimismo de lado. “Nós engenheiros somos otimistas, visionários, e incansáveis. Construímos o Brasil e transformamos o país em potência mundial na agricultura. Temos a melhor profissão do mundo”, disse com confiança. “É um orgulho poder fazer parte do rol desses grandes engenheiros e engenheiras do Brasil”, completou.
Sobre a homenagem
A Medalha do Mérito e a Inscrição in memorium no Livro do Mérito são conferidos, anualmente, pelo sistema dos Conselhos Federal e Regionais de Engenharia e Agronomia (Confea/CREA). A homenagem foi instituída em 1958 e o primeiro agraciado com a Medalha do Mérito foi o presidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira, pela construção de Brasília.
Desde então, já foram homenageados profissionais, entidades de classe, instituições de ensino e conselhos profissionais, por serviços expressivos prestados ao Sistema Confea/CREA, às profissões, à regulamentação profissional, ao aprimoramento técnico-profissional e à comunidade.
Começa, na última semana de agosto, o ciclo de debates “Eleições 2018: Propostas para o Brasil”, no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP). O primeiro encontro acontecerá em 31 de agosto, e será seguido por mais quatro reuniões nos dias 3, 17, 20 e 28 de setembro, sempre às 10h. Gratuito e aberto ao público, o evento tem por objetivo a elaboração de propostas que servirão de base para a elaboração de uma carta aos candidatos à Presidência, a partir do debate entre os palestrantes e a comunidade acadêmica.
Cada encontro contará com a presença de dois expositores para discutirem sobre gestão pública, saúde, educação, economia e inovação.
No primeiro dia de atividades, o Acadêmico José Goldemberg, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), apresentará o tema da educação. O Acadêmico José Eduardo Krieger, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), também participará do evento, e mediará a discussão sobre saúde no último dia de palestras, em 28 de setembro.
Para participar, não há necessidade de inscrição prévia. Saiba mais informações clicando aqui.
As palestras também serão transmitidas ao vivo no site do IEA.
Sérgio Mascarenhas, membro titular da ABC e físico-químico do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) e do Instituto de Estudos Avançados (IES/USP), é o próximo convidado do USP Lecture. Com o tema de “Ciência, Tecnologia e Inovação com Transdisciplinaridade”, a palestra a ser proferida pelo professor emérito da USP abordará temas como desenvolvimento tecnológico, sistemas robóticos e os desafios para contornar a presente crise econômica no Brasil e na América Latina.
A palestra acontecerá no dia 30 de agosto de 2018, das 14h30 às 16h30, na Sala do Conselho Universitário (Rua da Reitoria, 374 – Cidade Universitária da Universidade de São Paulo). As inscrições serão feitas no local e por ordem de chegada. Por essa razão, aconselha-se chegar por volta de 13h30. Haverá emissão de certificados para os presentes e transmissão online neste link. Mais informações nesta página.
Sobre o USP Lecture
O USP Lecture tem por intuito trazer renomados pesquisadores internacionais e nacionais para a Universidade de São Paulo, a fim de promover o intercâmbio de ideias e ampliar o acesso a discussões científicas atuais.
Membro correspondente da ABC, Étienne Ghys (IMPA) profere palestra no Congresso Internacional de Matemáticos
A neve é um fenômeno meteorológico que costuma encantar crianças, adultos e também cientistas. O matemático francês Étienne Ghys é um apaixonado pelo tema. Pesquisador emérito do IMPA e ganhador do primeiro Clay Award for Dissemination of Mathematical Knowledge, Ghys reapresentou no auditório Ricardo Mañé, nesta segunda-feira (20), a palestra “A geometria dos flocos de neve”, um dos destaques do Ciclo IMPA-Serrapilheira de Popularização da Matemática, no Congresso Internacional de Matemáticos (ICM) 2018, realizado no início deste mês no Rio de Janeiro.
Em pouco mais de uma hora, Ghys fez uma divertida viagem partindo do século 16 até os dias atuais, mostrando como a curiosidade de 11 pessoas, entre eles um bispo, matemáticos, físicos e até um fotógrafo foi capaz de desvendar parte dos “segredos” sobre a estrutura dos flocos de neve.
O pioneiro nessa jornada foi o bispo sueco Olaus Magnus que na obra “História dos Povos Nórdicos”, de 1555, fez as primeiras ilustrações de flocos de neve. Obviamente que, sem qualquer acesso à tecnologia, suas ilustrações nada correspondiam com a realidade, mas foi um primeiro passo para que os flocos de neve pudessem despertar o interesse da ciência.
O presente de Kepler Uma das primeiras pessoas a olhar para os flocos de neve um olhar científico foi o matemático alemão Johannes Kepler. Cientista excepcional, ele queria presentear seu amigo Baron Wackher von Wackhenfels com um exemplar desta estrutura, mas como derretia, resolveu pensar matematicamente o floco de neve. O resultado foi o folheto intitulado Strena Seu de Nive Sexangula (“Um Presente de Ano Novo de Neve Hexagonal”). Neste tratado, notou que todos os flocos de neve têm seis pontas, definindo a simetria hexagonal deles, o que serviu de base para outros estudos.
As primeiras imagens reais da neve foram obra do fotógrafo americano Wilson Bentley. Em pleno século 19, convenceu seus pais a presenteá-lo com uma câmera fotográfica, artigo raro e bastante caro à época. Com a ajuda de um microscópio conseguiu captar imagens que encantaram o mundo e que comprovaram aquilo que Kepler tinha dito em 1611: os flocos têm simetria hexagonal.
Mas o trabalho de Bentley não foi dos mais fáceis. Além da tecnologia incipiente, percebeu que ao cair no chão as pontas se quebravam. Segundo ele, para fotografar um floco de neve bonito e perfeito são necessários ver cerca de outros mil. Imagine a paciência e dedicação dele para registrar as diferentes formas desta estrutura?
“Devemos a Bentley o fato das imagens de flocos de neve se tornarem símbolos do Natal e do frio em todo o mundo”, explica Ghys.
Entre os anos 1920 e 1930, os físicos William Bragg e Linus Pauling deram grande contribuição para estudos sobre o tema quando compreenderam a estrutura da molécula de gelo. O que foi essencial para que na década de 1940 o cientista japonês Ukichiro Nakaya conseguisse criar uma escala com as 35 diferentes formas de flocos de neve, inclusive, criando-os em laboratório.
Passadas décadas, a escala já conta com outras 120 formas e outros cientistas, especialmente físicos, têm se debruçado em compreender como essa estrutura cresce respeitando um modelo matemático belo e perfeito.
O tema tem encantado Ghys, matemático especialista em Sistemas Dinâmicos, que vê na sua área um espaço interessante para novas pesquisas sobre o assunto. Com mais perguntas do que respostas ele tem apenas uma certeza: “Existe uma queda permanente dessas joias que derretem quando chegam ao chão”.
Com tantas questões em aberto, a palestra de Ghys certamente desperta a curiosidade para novas pesquisas matemáticas sobre a beleza dos flocos de neve.
A 8° Conferência Internacional sobre Materiais e Aplicações de Óptica, Optoeletrônica e Fotônica (ICOOPMA, na sigla em inglês) acontecerá entre os dias 26 e 31 de agosto de 2018, no Beach Hotel Maresias, em Maresias, na cidade de São Sebastião (SP). Os Acadêmicos Sidney Ribeiro (Instituto de Química/Unesp) e Anderson S. Gomes (Departamento de Física/UFPE) são responsáveis pela organização do evento, juntamente com Marcelo Nalin (Instituto de Química/Unesp), Rogéria R. Gonçalves (Departamento de Química/USP-Ribeirão Preto) e Hernane Barud (Uniara).
Os Acadêmicos Cid Bartolomeu de Araújo (Departamento de Física/UFPE) e Oscar L. Malta (Departamento de Química/UFPE) também estarão no evento dentre os palestrantes convidados.
Para maiores informações sobre valores, local e inscrição, basta visitar o site http://www.icoopma.org/.
As últimas sete ICOOPMAs aconteceram em: Darwin, Austrália (2006); Londres, Reino Unido (2007); Edmonton, Canadá (2008); Budapeste, Hungria (2010); Nara, Japão (2012); Leed, Reino Unido (2014) e Montreal, Canadá (2016).
A conferência não possui fins lucrativos e é organizada por cientistas para cientistas e sem restrições institucionais.