pt_BR

Dia Nacional da Ciência: experimentos para o público e luta por recursos

Comemorado em 8 de julho, junto com o Dia Nacional do Pesquisador e com o aniversário da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o Dia Nacional da Ciência teve atividades por todo o Brasil.

No Rio de Janeiro, a data foi comemorada com muito movimento na Quinta da Boa Vista, em frente ao Museu Nacional. Exposições interativas, com diversos experimentos, entusiasmaram o público infanto-juvenil e os familiares que participaram do evento Domingo com Ciência, promovido pela SBPC ecom a participação de diversas entidades de divulgação científica como a Fiocruz, o Espaço Ciência Viva, o Observatório Nacional, o Museu de Astronomia,  a Fundação Cecierj e outros.

Exibições e experimentos atraem crianças, jovens e familiares na Quinta da Boa Vista

 

Tendas na frente do Museu Nacional foram ponto de encontro de manifestantes em prol da ciência brasileira no Rio de Janeiro

 

Veja destaque dos tuítes da SBPC‏:

@TaniaDominici
Mais do #DomingoComCiencia na Quinta, em frente ao @MuseuNacional. Evento cheio na comemoração pelos 70 anos da @SBPCnet e na luta pela ciência nacional #SBPC70anos. Com a presença de Luiz Davidovich, presidente da @ABCiencias, e dos deputados federais @jandira_feghali e @celsopansera

No centro, em pé, de camisa azul, o presidente da ABC Luiz Davidovich

Mais tuítes em https://twitter.com/SBPCnet 

 

Veja abaixo publicações na mídia sobre os eventos:

EDUCA MAIS BRASIL
Hoje é comemorado o Dia Nacional da Ciência
Matéria destaca que o brasileiro acredita e valoriza a ciência, de acordo com avaliação internacional promovida pela 3M. Mas não vê o país avançando: para a maioria dos entrevistados, a causa disso é o financiamento inadequado para a pesquisa científica no país.

BRASIL DE FATO
Dia da Ciência: Helena Nader enaltece a pesquisa nacional e denuncia desmonte
Para a Acadêmica e pesquisadora da Unifesp, Emenda Constitucional 95, que limita teto de gastos até 2036, “tira o sonho, tira o futuro”. E destaca que é necessário lutar para que a educação e a ciência sejam excluídas da Emenda.

Veja a entrevista da Acadêmica Helena nader para o “Brasil de Fato”:

UFMG NOTÍCIAS
Crianças e adultos celebram o Dia da Ciência na Praça da Liberdade
Para celebrar a data, a UFMG organizou, neste domingo, uma programação especial no Espaço do Conhecimento, na Praça da Liberdade, com atividades que incluíram experimentos de física e matemática, sobre o corpo humano e os sentidos.

Assista o vídeo da TV UFMG:

FOLHA DE S.PAULO
Cientistas pedem mais investimentos na ciência em marcha pela av. Paulista
Bonecos de Olinda dos cientistas Nise da Silveira, Albert Einstein, Aziz Ab’Saber e Leite Lopes abriram a marcha, organizada pela SBPC com apoio do Instituto Moreira Salles, e contou com a presença de diversas entidades científicas e cientistas que serão candidatos na eleição deste ano.

FILOS
Filos Entrevista: Márcia Barbosa
A física da UFRGS e diretora da ABC, Márcia Barbosa, falou sobre produtividade nacional, cortes na ciência, acesso aberto e o futuro da pesquisa no Brasil, destacando que os cientistas tem obrigação de fazer a melhor ciência que puder e divulgá-la, pois essa é a maneira de prestar contas ao “patrão”, que é o povo brasileiro.

Filos Entrevista: Márcia Barbosa

 

Acadêmica é eleita vice-presidente do recém-criado Conselho Internacional de Ciência

Em uma reunião histórica, o Conselho Internacional para Ciência (ICSU, na sigla em inglês) e o Conselho Internacional de Ciências Sociais (ISSC, na sigla em inglês) fundiram-se oficialmente no dia 04 de julho, formando o International Science Council (ISC), uma organização científica global não-governamental única, que representará tanto as ciências naturais quanto as ciências sociais. A reunião foi aberta com um discurso de Catherine Brechignac, secretária perpétua da Academia Francesa de Ciências. Ex-presidente do ICSU, Brechignac enfatizou que “as ciências naturais não devem mais ditar sozinhas a agenda de pesquisa das ciências do sistema da Terra, pois as ciências sociais são tão importantes quanto”. O príncipe Albert II, de Mônaco, deu as boas-vindas aos participantes da assembleia geral do ISC, na Maison des Océans.

O principal ponto da reunião foi a eleição de um Conselho Diretivo para liderar o Conselho. A assembleia geral elegeu Daya Reddy, da África do Sul, para ser o primeiro presidente. Peter Gluckman, ex-assessor chefe de ciências do primeiro-ministro da Nova Zelândia, tornou-se o presidente eleito e assumirá a presidência na próxima assembléia geral, em 2021. Para a vice-presidência da área de ciências naturais foi eleito Jinghai Li (China) e para a vice-presidência da área de ciências sociais foi eleita Elisa Reis (Brasil), membro titular da ABC. Alik Ismail-Zadeh (Rússia/Alemanha) foi eleito como secretário e Renée van Kessel (Holanda) como tesoureira.

Os membros ordinários do Conselho serão Geoffrey Boulton (Reino Unido), Melody Burkins (EUA), Saths Cooper (África do Sul), Anna Davies (Irlanda), Pearl Dykstra (Holanda), Sirimali Fernando (Sri Lanka), Ruth Fincher (Austrália), James C. Liao (China: Academia Sinica em Taipei), Natalia Tarasova (Rússia) e Martin Visbeck (Alemanha). Em seu discurso de aceitação, o presidente Daya Reddy falou sobre a importância da inclusão e de se envolver as diferentes regiões do planeta no trabalho do novo Conselho. Ele pediu o engajamento de cientistas em início de carreira nos projetos do ISC, apontando que eles devem contribuir para a construção das agendas. “Nós nos propusemos uma meta ambiciosa: sermos uma voz poderosa, visível e confiável. Não há tempo a perder. Vamos ao trabalho!”.

Em votação, os participantes também definiram que Muscat (Omã) sediará a 2ª assembleia geral do Conselho, em 2021. A cidade de Montreal, no Canadá, era a outra candidata a abrigar o encontro.

LQES NEWS chega na sua 400° edição

O LQES NEWS é o boletim quinzenal do Laboratório de Química do Estado Sólido do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (IQ-Unicamp). Sem qualquer interrupção desde o ano 2000, o LQES NEWS chegou à sua 400° edição e abaixo você confere o texto que o Acadêmico Oswaldo Luiz Alves, fundador e coordenador do LQES, escreveu para marcar esta trajetória:

 

Chegamos à edição 400 ! A ficha ainda não caiu completamente ! Lá, já se vão, quase 18 anos! Muitas exclamações explícitas para dizer que valeu e, está valendo a pena, continuar e fazer avançar esta aventura.

A motivação inicial veio do fato de que era importante divulgar ciência, tecnologia e inovação no mais alto nível, trabalhando a linguagem de modo a construir um universo semântico que pudesse ser entendido e absorvido por uma audiência formada por alunos de graduação, pós-graduandos, pesquisadores, amantes da ciência e público em geral.

Os desafios neste sentido foram enormes passando desde o desafio das adequações linguísticas, do equilíbrio na edição de conteúdos, familiaridade com ferramentas computacionais muito novas, do ataque de hackers, até aquele que tira o sono de qualquer editor de um boletim quinzenal: não deixar perder a periodicidade.

Fomos aprendendo com o projeto em movimento, com as muitas críticas construtivas (algumas vezes ácidas) dos amigos e colegas. O projeto, assim, foi se conformando. En bref (como dizem os franceses): hoje o Boletim LQES NEWS têm mais de 7.000 aderentes e já ultrapassou um total de 6,5 milhões de acessos.

No caminho da edição 400 várias decisões importantes foram tomadas. A primeira, logo nos primeiros anos, foi eleger as nanotecnologias como um dos carros-chefes da linha editorial. Isto fez com que o acervo do Boletim se transformasse no mais importante repositório de informações sobre esta plataforma de conhecimento em nosso país, fazendo parte da bibliografia de teses, artigos acadêmicos ou não e documentos oficiais. O fato do Boletim ser indexado (ISBN) conferiu a ele tal situação.

A segunda decisão, esta mais recente, foi a introdução no Boletim de textos em inglês, com a rubrica “As Mined”. Não foi uma decisão fácil, mas acreditamos que estamos no caminho certo pois não só houve um aumento dos acessos, como também, comentários altamente positivos de nossos aderentes. O impacto interno desta decisão fez com que a função de Editor Científico agora se confunda com a função de Curador.

Abusando da paciência de nossos aderentes e leitores, vamos a alguns números gerais do Boletim: mais de 2600 notícias de CT&I; mais de 170 artigos de opinião; mais de 80 editoriais; mais de 40 entrevistas; mais de 100 artigos de divulgação, entre outros. Todo este material está depositado no site LQES podendo ser acessado gratuitamente.

Merece destaque o fato de que muitas notícias e temas veiculados no Boletim serviram para pautar matérias na grande imprensa, revistas, jornais e sites universitários, bem como enunciados de questões de exames nacionais de avaliação e de vestibulares de universidades brasileiras.

Neste momento, só nos resta agradecer a todos que direta ou indiretamente participaram ou estão participando desta jornada. Nossos agradecimentos especiais à nossa editora de conteúdo Maria Isolete Alves e ao nosso webmaster Paulo Amaral que navegam conosco desde o primeiro içar velas.

Vamos em frente rumo a edição 500. Não nos falta entusiasmo, paixão e, principalmente o generoso apoio daqueles que compartilham os portos, avenidas, bulevares e esquinas do Boletim e do site LQES.”

Declaração do IAP: “Chamada à ação para enfrentar o crescimento da demência”

A Parceria InterAcademias para Saúde (IAP for Health) está lançando hoje a “Chamada à ação para enfrentar a sobrecarga crescente da demência”, documento assinado por mais de 50 membros da parceria – academias de medicina e de ciências de todo o mundo.

O texto destaca o fato de que em todo o mundo a proporção da população com mais de 65 anos cresceu nas últimas décadas, e que essa tendência deve continuar. Como o envelhecimento é um fator de risco para a demência, o número de portadores da doença vai triplicar até 2050, especialmente entre a população de países mais pobres.

Diversas doenças do cérebro estão associadas à demência, com muitos pacientes demonstrando mudanças de comportamento compatíveis com Alzheimer – a forma mais comum de demência – ou doenças cerebrovasculares.  Mas enquanto vamos aprendendo mais sobre fatores de risco usualmente associados à demência, como o hábito de fumar e a diabetes, a doença continua em lenta progressão, sendo diagnosticada depois que o processo já está instalado há anos.

Além disso, embora a demência seja rara em pessoas com menos de 60 anos, este não é o caso quando há prevalência de HIV/AIDS, como na África sub-saariana e outras regiões com baixa renda. Entre os jovens aidéticos destas regiões pode haver um aumento desproporcional de demência nos anos vindouros.

A demência afeta mais as mulheres do que os homens, sendo que elas resistem mais tempo com a doença. E são as mulheres que formam o maior contingente de cuidadores informais de pessoas com demência.

Assim, a declaração do IAP para Saúde faz recomendações específicas para governos e provedores de saúde pública, incluindo:

  • Conscientizar o público sobre demência, como conservar a saúde do cérebro e sobre a importância de aceitar as pessoas com demência em sua condição, valorizando as habilidades remanescentes.
  • Apoiar a pesquisa para descobrir e implementar abordagens efetivas, tanto farmacológicas como não-farmacológicas, para adiar, prevenir, ralentar, tratar, melhorar e eventualmente curar as causas mais comuns de demência.
  • Investir em sistemas nacionais de saúde, incluindo o treinamento de cuidadores em número suficiente, assim como providenciando infraestrutura para garantir que tratamento competente e personalizado esteja disponível para os doentes e seus familiares ou responsáveis em todos os estágios da doença.

“Nossa Chamada à Ação pretende desenvolver uma abordagem científica para a demência, baseada em evidências e orientada para a saúde pública”, explicou Howard Chertkow, coordenador do grupo de trabalho do IAP para Saúde. “Cada país deve fazer sua própria avaliação sobre o potencial de cada população, em relação à prevenção da demência, seguida de identificação precoce e tratamento efetivo da doença.”

O co-coordenador do IAP para a Saúde Depei Liu, da Academia Chinesa de Engenharia, afirmou: “ O crescimento da demência está afetando todos os países. O apelo do IAP é no sentido de que todas as Academias que são membros da parceria e representam a comunidade médica global- especialmente nos países mais pobres – conduzam essa divulgação aos seus respectivos governantes e através de suas redes de contatos, de forma que as recomendações sejam implementadas.”

Também co-coordenador do IAP para Saúde, Detlev Ganten, da Academia Nacional Alemã de Ciências Leopoldina, acrescentou: “Como toda as declarações do IAP, esta sobre demência foi cuidadosamente revisada e é a melhor fonte de informação imparcial para formuladores de políticas públicas nos ministérios de Saúde e Bem-Estar Social, para agências de cuidados médicos e outras instituições relevantes, assim como para tomadores de decisão em nível internacional. A demência está crescendo, especialmente em países com sociedades envelhecidas, e é hora de agir.”

Saiba mais sobre o IAP para a Saúde

O IAP para a Saúdeé uma das redes fundadas pela parceria InterAcademias (IAP), sendo formada por 78 academias de medicina e de seções médicas de academias de ciências e de engenharia. Seu compromisso é pela melhoria da saúde em todo o globo, e seus compromissos envolvem o fortalecimento da capacidade das academias de oferecer aconselhamento científico para governos no âmbito das políticas de saúde e ciência; o apoio à criação de novas academias; o apoio à criação e desenvolvimento de projetos pelas academias membro para fortalecer a pesquisa e a educação superior em seus países; e a elaboração d edocumentos consensuais em temas de importância para a saúde global. A secretaria do IAP para Saúde é hospedada pela Academia Mundial de Ciências (TWAS), em Trieste, na Itália.

Por meio do IAP, as academias de medicina e os braços médicos das academias de ciências vem produzindo declarações desde 2002, quando foi elaborada a primeira declaração sobre doenças infecciosas, “Controlando Infecções no Século XXI”. Desde então, as declarações têm abordado tópicos como os benefícios para a saúde global da mitigação das mudanças climáticas, uma chamada à ação para fortalecer a capacidade de pesquisa em países de média e baixa renda, e outra chamada voltada para cuidados médicos relativos à perda auditiva, publicada em 2015. As declarações anteriores podem ser encontradas aqui.

Contatos:

Peter McGrath
Coordenador do IAP, Trieste, Itália
Email: mcgrath@twas.org, iamp@twas.org
Tel: +39 040 2240 571; +39 040 2240 681

Howard Chertkow
Professor de neurologia, Universidade McGill; diretor científico do Consórcio Canadense de Neurodegeneração no Envelhecimento (CCNA, na sigla em inglês), Hospital Geral Judeu, Instituto de Pesquisa Lady Davis
Email: howard.chertkow@mcgill.ca
Tel: +1 514 340 8222

Morre, aos 85, Ernst Hamburger, em São Paulo

Morreu nesta quarta-feira (4) o físico e professor da USP Ernst Wolfgang Hamburger, que lutava havia três anos contra um linfoma, tipo de câncer que atinge células do sistema imunológico.

Conhecido por seus trabalhos com física nuclear, que ajudaram a entender a organização dos núcleos dos átomos, Hamburger também teve atuação marcante na divulgação e na educação científica.

Um dos destaques de sua trajetória, lembra a filha Esther, foi seu trabalho como diretor da Estação Ciência, que funcionava na Lapa (zona oeste de São Paulo). Dentro do projeto Clicar, foram alfabetizados meninos de rua que se mostravam fascinados pelo computador. Alguns se tornaram monitores da iniciativa.

Nascido em 8 de junho de 1933 em Berlim, Ernst Hamburger veio aos 3 anos com os pais para o Brasil. O pai era um magistrado foi demitido por ser judeu. Depois da guerra, chegou ao posto de desembargador. A família, de origem judia, é fundadora da Congregação Israelita Paulista.

Hamburger cresceu entre as ruas Haddock Lobo e Groenlândia, nos Jardins. Aprendeu português com os amigos na rua e estudou na Escola Estadual Presidente Roosevelt.

Ele decidiu cursar física na USP e recebeu o diploma em 1954, mesmo ano e turma na qual se formou sua futura esposa, Amélia Império Hamburger, com quem teve cinco filhos. Amélia morreu em 2011.

O físico fez doutorado na Universidade de Pittsburgh (EUA), concluído em 1959, onde também lecionou, e foi um dos mais jovens professores catedráticos da USP, aos 35 anos de idade.

São vários os reconhecimentos ao professor: era membro da Academia Brasileira de Ciências, recebeu prêmios da Unesco e uma condecoração pelo mérito científico, mas o título de que ele mais se orgulhava era o de cidadão paulistano, recebido em 2013.

“Para ele a vida era um pensamento a ser atualizado. Sempre tinha uma pergunta a fazer cuja resposta mudava totalmente a maneira de pensar”, conta Esther, professora da Escola de Comunicações e Artes, da USP.

Ernst também deixa os filhos Sônia, Vera, Fernando e Cao, cineasta, além de dois genros, uma nora e seis netos. O velório será em sua casa, das 10h às 15h nesta quinta (5), e o enterro, no Cemitério do Morumbi às 16h30.

Nanomateriais de carbono: o impacto da pesquisa e da inovação no cenário nacional

Dr. Marcos Pimenta, professor do Departamento de Física da UFMG, Coordenador Geral do INCT de Nanomateriais de Carbono e do CTNano da UFMG

Nano é um prefixo grego que significa anão. Em ciência esta palavra é usada para designar uma parte em um bilhão, ou seja, um bilionésimo. Um nanômetro corresponde a um bilionésimo de metro e materiais com esta dimensão são chamados de nanomateriais. Eles têm propriedades diferentes das propriedades do mesmo material de tamanho macroscópico, e isso se deve ao confinamento quântico e ao aumento da área específica no nanomaterial. Portanto, a nanotecnologia visa o desenvolvimento de materiais e dispositivos em escala nanométrica para aplicações tecnológicas e desenvolvimento de novos produtos.

Em particular, os nanotubos de carbono e o grafeno estão desempenhando um papel fundamental no desenvolvimento da nanociência e da nanotecnologia. O grafeno é um cristal bidimensional (2D) formado por átomos de carbono e corresponde a uma única camada atômica de grafite. Um nanotubo de carbono corresponde a uma camada de grafeno enrolada em uma estrutura cilíndrica, com diâmetros de cerca de 1 nm (nanotubos de parede única) a dezenas de nanômetros (nanotubos de paredes múltiplas). Eles apresentam propriedades físicas, químicas e biológicas excepcionais. Devido à forte interação química carbono-carbono, estes materiais são extremamente resistentes mecanicamente. Um nanotubo de carbono pode ser metálico ou semicondutor, dependendo apenas da forma como a camada de grafeno é enrolada para formar um cilindro.

O grafeno e os nanotubos de carbono são usados em diferentes aplicações tecnológicas. Devido às suas propriedades eletrônicas, mecânicas, térmicas e químicas, eles podem ser misturados a outros diferentes materiais, como polímeros, cerâmicas, cimento e fibras, transferindo para o compósito suas propriedades excepcionais. O grafeno e os nanotubos de carbono também são usados ​​para produzir protótipos de novos dispositivos eletrônicos, como transistores, emissores de elétrons para displays, sensores biológicos e de gás, entre outros. Eles prometem também desempenhar um papel importante no futuro da nanoeletrônica. Do ponto de vista biológico os nanomateriais de carbono apresentam uma alta área para funcionalização e rápida resposta aos estímulos externos de radiação e integração com sistemas de interesse para aplicação em nanomedicina.

Cientistas brasileiros têm feito contribuições importantes para a ciência e aplicações do grafeno e nanotubos, e destacam-se como referências mundiais para essa área. Segundo a base de dados do sistema Scopus, cerca de 2500 artigos em nanotubos e 1500 artigos em grafeno foram publicados por cientistas brasileiros nos últimos anos. A primeira iniciativa importante para agregar pesquisadores nesta área, no Brasil, foi a formação da Rede Brasileira de Nanotubos de Carbono, em 2005, apoiada pelo CNPq. Ela era composta por 40 cientistas, de 14 instituições e em 8 diferentes estados do Brasil. O principal objetivo dessa Rede foi permitir a mobilidade de cientistas de diferentes regiões para a cooperação, a instalação de equipamentos multiusuários e organização de reuniões anuais onde todos os pesquisadores compartilharam informações e iniciaram colaborações.

A segunda iniciativa nacional muito relevante na área foi a criação do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) em Nanomateriais de Carbono, em 2009, com o apoio do CNPq e da FAPEMIG. Um dos objetivos do INCT em Nanomateriais de Carbono foi dar continuidade às atividades da Rede Brasileira de Nanotubos de Carbono, trabalhando para melhorar e ampliar a produção de nanotubos e desenvolver aplicações visando a transferência tecnológica. Além disso, foram incluídos novos objetivos, como a produção de grafeno por diferentes métodos (esfoliação mecânica e química, CVD, SiC) e estudos sobre toxicologia e segurança em relação aos nanomateriais de carbono. Como uma evolução das iniciativas anteriores neste campo, que envolveu principalmente físicos e químicos, a equipe do INCT em Nanomateriais de Carbono também incluiu biólogos, médicos e engenheiros. Nesta perspectiva o Instituto também tem se destacado pela disseminação de conceitos sobre nanotecnologia via palestras, materiais didáticos, cursos de capacitação, entre outros, para o público em geral e estudantes em diferentes níveis. Em 2018 inicia-se uma nova fase do INCT em Nanomateriais de Carbono, ampliando focos e metodologias de pesquisa, instituições de ciência e tecnologia e interlocução com o setor produtivo, reforçando a importância da rede de colaboração em ciência, tecnologia e inovação sobre o tema Nanomateriais de Carbono.

Paralelamente, o Centro de Tecnologia em Nanomateriais (CTNano), projeto de pesquisa e inovação da UFMG que nasceu da necessidade proeminente dos pesquisadores e do setor produtivo, busca fazer a ponte entre a pesquisa feita na academia e a demanda das indústrias por novas soluções tecnológicas para os desafios das novas gerações. O CTNano está instalado no parque tecnológico de Belo Horizonte (BHTec) e sua equipe é pioneira no Brasil na produção em larga escala de grafeno e nanotubos de carbono. O CTNano tem financiamento do BNDES, das empresas Petrobrás e InterCement, e das agências Fapemig e FINEP. Um produto importante do Centro é o cimento com nanotecnologia, onde a adição de apenas 0,1% de nanotubos no cimento aumenta as propriedades mecânicas do concreto em 50%. Outros produtos do Centro são os polímeros misturados com grafeno e nanotubos, que serão usados em componentes do sistema de extração de petróleo em plataformas marinhas.

Ressalta-se que a Nanotecnologia promete uma grande revolução tecnológica nos próximos anos e os nanomateriais de carbono ocupam um espaço importante de aplicações neste contexto. Do ponto de vista científico, o Brasil ocupa um espaço muito importante na pesquisa básica e aplicada destes nanomateriais, entretanto avanços também têm sido obtidos em inovação nos últimos anos para que se agregue valor tecnológico, traduzindo o conhecimento produzido na academia para o setor produtivo e à população em geral.

Veja a matéria diretamente no Blog aqui

Um Olhar Sobre o Mundo com José Goldemberg

“Eletricidade é cara. Aproximadamente 40% da conta de energia são impostos, mas ao gerar sua própria eletricidade no telhado de sua casa você se torna um autoprodutor e aí não tem imposto. Sol é gratuito”, disse José Goldemberg, presidente da FAPESP e membro titular da ABC, no programa Um Olhar Sobre o Mundo, da TV Brasil.

Em entrevista ao jornalista Moisés Rabinovici, apresentador do programa, Goldemberg falou inicialmente sobre a produção de eletricidade a partir da energia solar.

“O problema são os equipamentos [necessários para gerar eletricidade]. Mas se houver financiamento, você pode produzir eletricidade, vender para a concessionária durante o dia e comprar de volta à noite, quando o uso é maior. De modo que, a rigor, se você instalar um coletor solar no telhado de sua casa, você pode passar a ser alguém para quem a eletricidade tem custo zero, exceto pelo investimento inicial”, disse.

Goldemberg, que foi presidente da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) de 1982 a 1985, elogiou a produção de energia no país. “Apesar de todos os altos e baixos que tivemos, a matriz energética brasileira é das que têm mais energias renováveis no mundo; 45% da energia usada no Brasil vem de fontes renováveis”, disse.

Destacou, entretanto, perigos enfrentados pela matriz energética no país. “A espinha dorsal do sistema energético brasileiro é a eletricidade gerada em hidrelétricas e surgiram problemas sobre os quais precisaríamos nos debruçar com mais cuidado”, disse, referindo-se à questão dos reservatórios em hidrelétricas.

Segundo ele, a ausência de reservatórios pode fazer com que hidrelétricas em locais onde chove bastante apenas em parte do ano fiquem ociosas nos períodos de ausência de chuva.

“Isso precisa ser rediscutido. A ideia de simplesmente proibir hidrelétricas com reservatórios não é um bom presságio para o que pode acontecer no futuro”, disse, ressaltando também a importância das questões sociais e ambientais envolvidas no tema. “Esses problemas são reais, mas podem ser equacionados.”

Goldemberg também destacou a importância do apoio à inovação para o desenvolvimento do país, particularmente a inovação produzida em pequenas empresas.

“Na FAPESP, fazemos um grande esforço nesse sentido, principalmente com o programa PIPE [Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas], porque a inovação surge principalmente nas pequenas empresas, não nas grandes. É preciso apoiar os jovens que saem das boas universidades para que eles desenvolvam suas ideias e seus produtos inovadores”, disse.

Goldemberg lembrou que, diferentemente de países como Israel e Estados Unidos, no Brasil é mais comum a empresários deixar dinheiro no banco rendendo juros do que investir em inovação. “Na FAPESP já apoiamos mais de 1 mil projetos de pesquisas conduzidos por startups. Em 2017 apenas, aprovamos em média um projeto por dia. Seria muito bom se houvesse mais apoio como esse no país para ideias inovadoras”, disse.

Outro tema abordado pelo presidente da FAPESP no programa foi o uso da energia nuclear para fins militares, que voltou à tona por conta da Coreia do Norte.

“O problema com as armas nucleares é que o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, de 1968, tentou congelar o mundo entre os que tinham armas nucleares e os que não tinham. E foi tomado o compromisso, de boa fé, de que a médio ou longo prazo as grandes potências – na época Estados Unidos, União Soviética, Inglaterra, França e China – com o tempo desativariam as armas nucleares, mas isso não aconteceu”, disse.

“Foram os físicos que desenvolveram as armas nucleares, mas são eles os primeiros a lutar contra a utilização dessas armas na sociedade, pois compreendem bem seu poder destrutivo avassalador. Espero que esse entendimento dos Estados Unidos com a Coreia do Norte leve a uma redução progressiva. Desnuclearizar representa, de fato, um fator de segurança para o futuro”, disse.

Assista ao programa com José Goldemberg no site da TV Brasil ou abaixo:

Atlas mostra captura e armazenamento de carbono no Sul e Sudeste

Pesquisadores do Centro de Pesquisa de Inovação em Gás (RCGI) estudam um método para verificar a possibilidade de estocar gás carbônico em folhelhos da Bacia Sedimentar do Paraná, que ocorrem desde o Mato Grosso até o Uruguai, e nos turbiditos do offshore da Bacia de Santos, área de exploração petrolífera.

Segundo o RCGI, a ideia é verificar se essas rochas têm capacidade para armazenar o gás carbônico e se seria possível, no caso dos folhelhos, injetar o CO2 ao mesmo tempo em que se retira o gás de folhelho (popularmente chamado de gás de xisto) contido neles. O resultado será divulgado no Atlas de CCS das regiões Sul e Sudeste do Brasil, que será publicado no final do projeto, previsto para 2020.

Sediado na Escola Politécnica (Poli) da USP, o RCGI é um Centro de Pesquisa em Engenharia financiado por FAPESP e Shell.

No Atlas deverão constar todas as informações geológicas das unidades estudadas, os dados obtidos e a localização das áreas mais favoráveis para a utilização de tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCS na sigla em inglês) nas regiões Sul e Sudeste do Brasil.

“O projeto também avaliará a viabilidade econômica de realização de CCS nos lugares selecionados geologicamente. E, ainda, critérios para avaliações de impactos ambientais e socioambientais da estocagem do CO2 nesses locais. Com base em todas essas informações poderá ser definido se uma área pode ou não receber CO2 com segurança”, disse Colombo Celso Gaeta Tassinari, coordenador do projeto e diretor do Instituto de Energia e Ambiente da USP.

Segundo Tassinari, os folhelhos possuem vantagens sobre as outras rochas. “Primeiro, eles retêm naturalmente o gás carbônico e não precisam de rochas selantes, que impedem o escape do CO2, a não ser que estejam completamente fraturados. Segundo, eles contêm gás de folhelho, então é possível injetar gás carbônico e retirar o gás que está armazenado na rocha”, disse ao RCGI.

Já os turbiditos da Bacia de Santos são rochas sedimentares de granulometria variável que contêm camadas de argila intercaladas, e é nessas argilas que a equipe vai focar os estudos.

Na pesquisa, as amostras das rochas estudadas serão submetidas a análises em laboratório para determinação dos minerais e das matérias orgânicas, sua porosidade, permeabilidade, quantidade de carbono disponível e outros.

“Iremos trabalhar dentro dos parâmetros usados em nível mundial para qualificar uma rocha como própria ou não para estocagem de CO2. E este será mais um desafio, pois esses parâmetros variam de um lugar para outro”, disse Tassinari.

Mais informações: www.rcgi.poli.usp.br.

teste