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Cogumelos da Amazônia que produzem a própria luz começam a ser desvendados pela ciência

Leia matéria de Ana Lúcia Azevedo para O Globo, publicada em 21/04:

O brilho da biodiversidade ilumina a noite da Amazônia. Novas espécies de cogumelos bioluminescentes, que produzem a própria luz e só brilham na escuridão, têm sido descobertas por cientistas, num trabalho pioneiro. São criaturas ainda pouco conhecidas, que podem revelar alguns dos mecanismos que produzem a variedade das formas de vida amazônica e fazer avançar a tecnologia desenvolvida a partir desta riqueza natural.

De dia, eles passam quase despercebidos. É à noite que se revelam e transformam o chão da mata em céu de estrelas. Vários desses fungos já eram conhecidos pelos povos da floresta. Na região de São Gabriel da Cachoeira, município na fronteira do Amazonas com a Colômbia e a Venezuela, eles são os “iluminadores” das trilhas usadas pelo povo Baniwa nas noites sem luar.

— Os fungos são o princípio e o fim da vida na floresta — afirma a micologista (especialista em fungos) Noemia Ishikawa, líder do Grupo de Pesquisas Cogumelos da Amazônia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). [Ela foi membra afiliada da Academia Brasileira de Ciências no período 2009-2014].

Maioria feminina

O grupo liderado por Ishikawa descobriu cerca de 30 espécies (com e sem bioluminescência) nos últimos 12 anos. A mais recente, chamada Mycena lamprocephala, acaba de ser descrita na revista científica Phytotaxa, num estudo que teve como principal autora a micologista Célia Soares, outra integrante do grupo, composto quase que só por mulheres.

São elas que se embrenham pelas trilhas à noite em busca das chamadas “luzes vivas”. O cogumelo descrito por Soares não se mostra com facilidade de dia e levou três anos para ser classificado.

A pesquisadora Noemia Ishikawa com cogumelo de forma insólita; esporos são tão abundantes que formam nuvens. | Foto: Michael Dantas

É uma minúscula criatura (o “chapeuzinho” mede menos de 10 mm) marrom, sem charme aparente, que se multiplica em folhas e galhos mortos. Mas à noite, ele emite luz verde, em pulsos, como uma pequena estrela. Como esses cogumelos se aglomeram em grande número, formam tapetes de luz.

(…)
 
Ishikawa começou a investigar os cogumelos que brilham fascinada pelo que lhe mostraram os povos originários da Amazônia. Para várias culturas, os cogumelos e suas luzes da noite tanto são aliados nas trilhas quanto suscitam mistérios espirituais. A ciência também se deparou com enigmas.

— Não sabemos, por exemplo, por que brilham. Pode ser para se defender ou para atrair alguma outra criatura que os beneficiem. Estamos começando a arranhar a superfície de mistérios tão grandes quanto a própria floresta — diz Ishikawa.

Micoturismo

Ela e seu grupo têm realizado ainda um outro tipo de trabalho com os fungos, o micoturismo, para gerar renda para comunidades amazônicas. O nome alude à micologia, o estudo dos fungos. E tem funcionado.

Os visitantes aprendem, por exemplo, a conhecer os fungos comestíveis. A riqueza de formas, aromas e sabores de fungos da Amazônia impressiona quem pensa que prato com cogumelo se resume a shitake e três ou quatro espécies encontradas em supermercados.

Também são levados a ver fungos que “explodem” ao ser tocados, lançando nuvens de esporos no ar.

Ishikawa diz que por trás do micoturismo e da identificação de espécies há também o esforço de formar cientistas especializados altamente qualificados na própria Amazônia.

— Nosso grupo faz desde análises moleculares à taxonomia (classificação de organismos). Também temos um forte trabalho de campo, quase todo feito por mulheres. São expedições pesadas, de muitos dias de caminhada pela selva, como a feita na Cabeça do Cachorro (Amazonas). Mostramos que é possível — frisa Ishikawa.

Leia a matéria na íntegra no site de O Globo

Luiz Carlos Dias lançará livro sobre atuação de cientistas contra fake news na pandemia

O membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Luiz Carlos Dias lançará o livro: “Não há mundo seguro sem ciência – A luta de um cientista contra as pseudociências”, no dia 23 de maio durante a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), em Águas de Lindóia, SP, às 17h.

 O livro é um registro histórico sobre a pandemia de covid-19 e os desdobramentos de como essa grave crise sanitária foi afetada política contemporânea brasileira, salientando o papel decisivo da ciência. Essa crise sanitária e humanitária nos mostrou o que há de melhor e de pior na ciência, na universidade brasileira, na política, no jornalismo e na medicina. 

O Acadêmico conta sua experiência durante a pandemia, no combate ao negacionismo científico e ao obscurantismo, nas suas próprias redes sociais e onde mais ele foi convidado para falar sobre esse triste cenário. É também um reconhecimento a todas e todos, cientistas, pesquisadores, profissionais da área da saúde que atuaram na linha de frente de combate ao vírus, a quem lutou em defesa da vida, aos bons jornalistas, a todos e todas que lutaram contra o negacionismo, o charlatanismo e o obscurantismo que tomou conta do país. É uma reverência a todos e todas que defenderam as nossas universidades e institutos de pesquisas públicos, a ciência, as vacinas, a vida e os bens maiores desse país: nossa população, nossa liberdade e nossa democracia. 

O texto de orelha foi escrito pela Dra. Margareth Pretti Dalcolmo (Médica, pesquisadora da Fiocruz e Membro Titular da Academia Nacional de Medicina) e conta com prefácios escritos pelo Dr. Gonzalo Vecina (Médico e professor assistente da FSP/USP e da EAESP/FGV, fundador da Anvisa), Gustavo Mendes Lima Santos (Diretor de Assuntos Regulatórios, Qualidade e Ensaios Clínicos da Fundação Butantan e ex-gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos na Anvisa) e pela Dra. Luana Araujo (Infectologista, epidemiologista e comunicadora em saúde). 

Os posfácios foram escritos pelo Prof. Peter Schulz (Físico e professor titular da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, em Limeira), pela Profa. Soraya S. Smaili (Professora Titular da Escola Paulista de Medicina – Unifesp; Reitora da Universidade Federal de São Paulo entre 2013-2021 e Coordenadora do Centro de Estudos SoU_CIÊNCIA) e pela Dra. Rosana Richtmann (Médica infectologista do Instituto de Infectologia Emilio Ribas e Diretora do Comitê de imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia). 

Um segundo evento de lançamento será realizado na Livraria da Vila, da Rua Fradique Coutinho – Vila Madalena, São Paulo, no dia 4 de junho. Neste evento, haverá um bate papo entre o Professor Luiz Carlos Dias e os autores do livro Cloroquination, Chloé Pinheiro e Professor Flávio Emery. Um terceiro evento de lançamento será realizado na sede da ADUNICAMP, na Unicamp, no dia 20 de junho, às 17:30h, com a presença de Gustavo Mendes Lima Santos e Peter Schulz. Um quarto evento de lançamento está confirmado para Uberlândia no dia 10 de julho, com a presença de Gonzalo Vecina. Mais lançamentos também estão sendo planejados.

Diálogos Nobel Brasil: Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

Na tarde de 17 de abril, foi a vez da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) receber os Diálogos Nobel Brasil. O evento foi organizado pela Academia Brasileira de Ciências junto com o Nobel Prize Outreach, braço da Fundação Nobel, e foi possível graças ao apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O encontro na Fiesp foi uma iniciativa do diretor do Conselho Superior de Inovação da entidade, Pedro Wongtschowski, que lembrou que ciência e inovação andam sempre juntas.

Pedro Wongtschowski, diretor do conselho superior de inovação da Fiesp (Foto: Marcos André Pinto)

Os laureados

Os laureados presentes foram May-Britt Moser, ganhadora do Nobel de Medicina em 2014 por suas descobertas em neurociências, ajudando a avançar significativamente pesquisas sobre cognição espacial humana; Serge Haroche, membro correspondente da ABC, que recebeu o Nobel de Física em 2012 por desenvolver novos métodos experimentais que permitiram medir e manipular partículas quânticas individuais, algo considerado impossível até então; e David MacMillan, premiado com o Nobel de Química em 2021 pela criação de catalisadores sustentáveis com diversas aplicações industriais, sobretudo na produção de medicamentos.

Adam Smith, diretor científico dos Diálogos Nobel, e os três laureados: Serge Haroche, David MacMillan e May-Britt Moser (Foto: Marcos André Pinto)

Criando pontes entre ciência e indústria

A inovação é um dos maiores desafios da ciência brasileira, justamente pela falta de interação entre academia e indústria. Superar essa barreira é crucial, como apontou David MacMillan. “O maior problema é conseguir esse diálogo, é muito difícil. Mas se não houver, sobram apenas cientistas conversando com cientistas. Em Princeton fizemos uma experiência: pegamos todo o campus e levamos para falar com a indústria, em apresentações muito rápidas e abertas, onde cada pesquisador escolhia o que achava mais importante. É surpreendente a quantidade de conexões que acabam surgindo”. Mas também é preciso vontade por parte da indústria, apontou. “É fácil demais deixar isso de lado, descartar o que não é útil, mas só com investimento surgem histórias de sucesso. Na Califórnia, por exemplo, está ocorrendo um investimento significativo na educação dos jovens de baixa renda. Isso torna o estado mais forte, a economia mais forte”, completou.

Na mesma linha, Serge Haroche enfatizou a primazia dos investimentos em educação básica, algo que também fez nos encontros na USP e na UERJ. “Para formar cientistas é preciso ter uma educação básica de qualidade, não é algo trivial ensinar sobre pensamento crítico. Professores especializados precisam ganhar bem e ter reconhecimento. Esse é o melhor investimento que um país pode fazer”.

Para as indústrias, naturalmente, a atenção maior é dada a pesquisa aplicada, visando gerar novos produtos e serviços . Ainda assim, uma visão de crescimento a longo prazo pede necessariamente por investimento em pesquisa básica, o ponto inicial de qualquer inovação. “Há uma tendência hoje de gestão científica de cima para baixo. Não pode ser assim, é preciso deixar que os cientistas escolham seus próprios tópicos. O desafio é ter um ambiente que favoreça a ciência que vem de baixo. A descoberta vem, na maior parte das vezes, do inesperado. A tensões geopolíticas empurram os países para trabalhar com grandes projetos, mas considero isso um erro”, avaliou Haroche.

Sobre quais devem ser os temas do futuro, os nobelistas concordaram que não é possível escolher uma área de interesse acima de todas as outras, em um mundo que tende cada vez mais à interdisciplinaridade. “Todos os campos vão contribuir. A história tem inúmeros exemplos de ciência básica levando à invenções grandiosas. Se você olhar as predições feitas sobre inovação para o século 21, quase nada se concretizou. Ao mesmo tempo, o que surgiu era inimaginável. Nesse contexto, a única solução é ter ciência em todas as direções. É muito difícil dos tomadores de decisão entenderem isso, é uma questão de curto prazo contra longo prazo”, reforçou Haroche.

May-Britt Moser foi além e reforçou o papel das humanidades. “História, Educação, Filosofia, todos esses tópicos são necessários para nos prepararmos para um futuro que não conhecemos. Para prever o futuro sempre usamos o passado, mesmo entendendo que existe o inesperado. Não podemos nos tornar paranóicos, temer o amanhã, mas é preciso se preparar”.

Os três nobelistas falaram para um auditório cheio na Fiesp (Foto: Marcos André Pinto)

Saiba como foram os outros eventos!

Diálogos Nobel Brasil: Universidade do Estado do Rio de Janeiro

A ABC juntou três laureados do Prêmio Nobel com alunos e professores das comunidades cientificas do Brasil e da América Latina. Primeiro dia foi perante o teatro lotado da UERJ!

Diálogos Nobel Brasil: Universidade de São Paulo

Os nobelistas May-Britt Moser, David MacMillan e Serge Haroche compartilharam suas experiências enquanto cientistas com um auditório lotado na USP. Confira!

Diálogos Nobel Brasil: Universidade de São Paulo

Na manhã de 17 de abril, o Centro de Difusão Internacional da Universidade de São Paulo (CDI-USP) recebeu mais um Diálogo Nobel Brasil 2024, onde alunos e professores da comunidade acadêmica brasileira e alguns representantes  de outros países da América Latina tiveram a oportunidade de debater com três ganhadores do célebre Prêmio Nobel. No dia 15, o encontro aconteceu na  Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

O evento é fruto de uma parceria entre a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e o Nobel Prize Outreach, braço da Fundação Nobel, e só foi possível graças ao viabilizada pelo apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Antes do evento, os três nobelistas foram recebidos pelo reitor da USP, Carlos Carlotti Júnior.


Os laureados

Os laureados presentes foram: May-Britt Moser, que recebee o Nobel de Medicina em 2014 por suas descobertas em neurociências, ajudando a avançar significativamente pesquisas sobre cognição espacial humana; Serge Haroche, ganhador do Nobel de Física em 2012 por desenvolver novos métodos experimentais que permitiram medir e manipular partículas quânticas individuais, algo considerado impossível até então; e David MacMillan, que recebeu o Nobel de Química em 2021 pela criação de catalisadores sustentáveis com diversas aplicações industriais, sobretudo na produção de medicamentos.

David MacMillan, Serge Haroche e May-Britt Moser interagiram com estudantes na USP (Foto: Julio Cesar Guimarães)

Abertura

A presidente da ABC, Helena Bonciani Nader, recepcionou o público lembrando que 2024 é um ano especial para a ciência brasileira. Com o país na presidência rotativa do G20, coube a ABC organizar o Science 20 – braço científico do grupo – e estabelecer a construção de um mundo mais justo e sustentável como meta prioritária.

“Em 2015, 193 países aprovaram uma agenda global, a ser alcançada até 2030, com o objetivo de proteger o planeta e libertar a humanidade da tirania da pobreza. Foram delineadas metas ousadas e transformadoras, e nossos governos se comprometerem a abraçá-las e orientar o mundo para um caminho sustentável e resiliente. Esses objetivos são integrados e indivisíveis e devem equilibrar as três dimensões do desenvolvimento sustentável: econômica, social e ambiental. Além disso, essa jornada coletiva está ancorada no compromisso de não deixar ninguém para trás. Estamos a sete anos do prazo estabelecido e, com preocupação, percebemos que estamos longe dos objetivos desejados e acordados”, alertou Nader.

A presidente da ABC, Helena Nader, recepcionou os nobelistas (Foto: Julio Cesar Guimarães)

De cientistas para cientistas

Os três laureados foram convidados ao palco para falar sobre vários aspectos da carreira de um cientista. A mediação foi feita por Adam Smith, diretor científico do Diálogos Nobel.

David MacMillan: estabilidade para tentar

MacMillan lembrou que, no início da carreira, sua maior preocupação era conseguir um emprego estável. “Quando fui para os EUA e comecei como professor assistente em Berkeley, o único impacto que eu queria era manter meu emprego. Conforme o tempo passou, e observando como eram feitas as coisas, comecei a perceber o que fazia sentido e o que não fazia. Comecei a pensar: ‘Há outra forma de fazer?’, e foi quando comecei a ter ideias disruptivas”.

“É muito difícil balancear essas ideias com o trabalho tradicional, principalmente quando se é jovem. Os revisores estão procurando por algo que faça sentido baseado no que já sabemos, então evitamos fazer o que não é usual. Por isso precisamos encorajar mais esses caminhos desafiadores”, completou.

Mac Millan, que foi premiado em 2021, conta que ainda está se acostumando ao Nobel. “Uma das coisas legais é que você começa fazendo algo aque ninguém dá atenção e, 20 anos depois, se torna algo que todos querem saber sobre, a indústria começa a utilizar. As pessoas do meu grupo começaram a perceber que aquele mundo fechado em que vivíamos se expandiu, perceber o impacto do nosso trabalho. Isso é muito positivo, é mostrar que o pensar, o aprender, impacta a sociedade como um todo.

Questionado por um aluno, ele respondeu como um cientista deve lidar com o fracasso. “Tem dias em que nos sentimos cansados, sobrecarregados, mas também há dias em que as coisas funcionam. Quando isso acontece é maravilhoso, é a melhor coisa da ciência. Quando você estiver pensando em desistir, lembre-se desse sentimento, lembre-se de como é bom estar contribuindo com um pedaço de conhecimento que permanecerá para sempre. Você percebe que precisa continuar tentando, continuar se entusiasmando. Fracassamos muito mais do que acertamos, mas quando chegamos a uma resposta, vale por todo o processo”.

Chefe de laboratório, MacMillan também aconselhou professores sobre como lidar com seus orientandos. “Acima de tudo, é preciso ter responsabilidade com seus estudantes, ajudá-los a crescer como indivíduos, além de cientistas. É importante que sejam independentes, que não precisem fazer só o que uma agência governamental quer que eles façam. Uma das maravilhas da ciência é que todos podem decidir por si mesmos qual caminho seguir”.

Adam Smith e David MacMillan (Foto: Julio Cesar Guimarães)

May-Britt Moser: laboratórios felizes e ciência de ponta

Vencedora do Nobel em 2014, May-Britt Moser já teve uma década para se acostumar, mas ainda reluta em deixar que a notoriedade a afaste de sua pesquisa, principal paixão na carreira. “Nós somos cientistas porque temos esse talento e devemos usá-lo. Às vezes sinto que nos dão responsabilidades demais. Eu não viajo muito porque, apesar da importância desses encontros, me pergunto se consigo lidar com todas as demandas. Me pergunto todos os dias, como estarei contribuindo mais com o mundo?”

O laboratório é sua segunda casa, e por isso Moser busca todas as maneiras de tornar esse ambiente agradável. “Eu me sinto responsável não só pela ciência, mas pelas pessoas. Se não estamos felizes no trabalho a vida fica miserável. Uma coisa é ter uma ideia abstrata de felicidade, mas para criar esse ambiente de fato é preciso enxergar a todos, conversar com todos”.

“Fazer ciência é difícil, há muitos fracassos, às vezes você se sente batendo a cabeça no muro. Mas, de repente, surge uma resposta. Quando isso acontece, se torna viciante. De certa forma somos loucos, pois quando você se vicia no que faz, não consegue mais parar. Por isso tenho muito orgulho do ambiente que criamos no laboratório, pois tentamos resolver problemas juntos, e aí quando vem o sucesso é um sucesso de todos, comemoramos todos juntos e nos tornamos mais próximos”, completou.

Mas seu campo de atuação, assim como qualquer área da ciência, é complexo, tendo um progresso lento. Às vezes, as ferramentas para avançar ainda nem sequer existem. “Tivemos que começar por algum lugar, Decidimos pelas estruturas ao redor do hipocampo e descobrimos coisas a partir dela. Não era suficiente entender como os sistemas funcionavam, mas como eles interagiam. Então percebemos que precisávamos de ferramentas. Foi quando, na década passada, tivemos acesso a novas ferramentas que nos permitiram ir além, encontrar coisas novas, entender melhor como as estruturas celulares estavam interagindo”.

“Quanto mais complexo o problema, mais campos precisamos explorar, então começamos a colaborar com especialistas de outras áreas e a precisar de mais gente. Em nosso instituto temos hoje pessoas de 30 países, pessoas de todas as cores e amamos isso. Precisamos de gente diferente, com diferentes atitudes, diferentes treinamentos, pois isso aumenta o alcance da ciência. Nós amamos a ciência juntos”, afirmou.

Inquirida por um professor sobre inovação, Moser defendeu a transferência tecnológica como fundamental para o avanço científico global. “Uma vez recebemos em nosso laboratório um brilhante cientista chinês que desenvolveu um microscópio portátil de ponta. Logo apareceram alguns pensando em como poderíamos vender aquilo, mas optamos por abrir o conhecimento, compartilhar cada pequeno detalhe, para que pessoas do mundo todo pudessem desenvolvê-lo. Isso é o que faz a ciência avançar”.

May-Britt Moser interage com o público (Foto: Julio Cesar Guimarães)

Serge Haroche: no lugar certo, na hora certa

Laureado em Física em 2012, Serge Haroche lembrou que ganhar o Prêmio Nobel não é apenas sobre mérito científico, mas também sobre estar no lugar certo na hora certa. “Eu percebi que era possível aumentar a sensibilidade ótica para enxergar um único átomo interagindo com um único próton. No início eu não tinha ideia do quão longe a ideia poderia ir, tive a sorte de ter o que precisava em mãos. Quando Einstein ou Schrödinger imaginavam esse tipo de experimento, eles não tinham as ferramentas necessárias”.

Haroche é um defensor ferrenho da ciência básica, pilar de todo o processo de construção do conhecimento. “Mesmo antes de qualquer aplicação, o que move um cientista é observar um fenômeno e descobrir sobre ele coisas que ninguém sabe. Perceber depois que essas coisas são uteis é muito gratificante, mas não é o motor”.

“Quando eu era jovem eu não imaginava tudo isso, de jeito nenhum. Eu era fascinado pela física quântica, tive a sorte de trabalhar com ótimos professores e ter liberdade para explorar. Isso era mais comum no passado, a pesquisa era mais de baixo para cima. Agora há uma tendência de organização mais centralizada e isso coloca uma serie de amarras. Não é assim que a pesquisa funciona. Primeiro você explora e depois surgem as aplicações, muitas vezes, em direções inimagináveis. Quem faz políticas de ciência precisa entender isso”, completou.

Para ele, fazer ciência é uma arte, que requer imaginação e criatividade Mas, diferente das artes tradicionais, é uma arte que precisa respeitar os limites do mundo físico. “Você tem que ser curioso, tem que focar e reconhecer o valor da sua pesquisa. Depende da sua personalidade. Quando trabalhando em pequenos grupos, você consegue criar uma sinergia e o suporte dos colegas se torna importante para lidar com o fracasso. Em campos que envolvem muitos pesquisadores, você precisa ter em mente que você precisará achar o seu nicho e criar seu espaço”.

Respondendo a um aluno sobre o porquê de o Brasil não ter prêmios Nobel, Serge Haroche reforçou que é preciso ter compromisso com investimentos na educação básica. “Na ciência moderna é preciso ter muitos recursos e isso dificulta a competição com laboratórios de países ricos. Mas em termos de talento, o Brasil tem o que precisa. O necessário é explorar melhor esse recurso, dar condições iguais a todos os jovens e educação básica de qualidade”. No entanto, haroche reconhece que o Prêmio Nobel deveria rever certos critérios. “No meu caso, eu sempre quis compartilhar meu Nobel com as pessoas com quem cooperei durante toda a minha carreira”, concluiu.

Serge Haroche se dirige à platéia (Foto: Julio Cesar Guimarães)

Assista à transmissão no canal do Prêmio Nobel:


Saiba como foram os outros eventos!

Diálogos Nobel Brasil: Universidade do Estado do Rio de Janeiro

A ABC juntou três laureados do Prêmio Nobel com alunos e professores das comunidades cientificas do Brasil e da América Latina. Primeiro dia foi perante o teatro lotado da UERJ!

Diálogos Nobel Brasil: Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

A última tarde do Diálogos Nobel Brasil levou os laureados para uma conversa na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, onde se discutiu a ponte entre academia e setor privado na corrida pela inovação.

Diálogos Nobel Brasil: Universidade do Estado do Rio de Janeiro

No dia 15 de abril, o teatro Odylo Costa, filho, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), recebeu a primeira edição presencial de um Diálogo Nobel na América Latina. Organizado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pela Nobel Prize Outreach, braço da Fundação Nobel, o encontro foi possível graças ao apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).


Os laureados

Os laureados presentes foram: May-Britt Moser, Nobel de Medicina em 2014 por suas descobertas em neurociências, ajudando a avançar significativamente pesquisas sobre cognição espacial humana; Serge Haroche, Nobel de Física em 2012 por desenvolver novos métodos experimentais que permitiram medir e manipular partículas quânticas individuais, algo considerado impossível até então; e David MacMillan, Nobel de Química em 2021 pela criação de catalisadores sustentáveis com diversas aplicações industriais, sobretudo na produção de medicamentos.

Durante um dia inteiro de atividade, os célebres cientistas participaram de mesas-redondas e palestras e também conversaram e tiraram fotos com os presentes. Os tópicos abordados passaram pelas dificuldades do fazer-ciência na América Latina até aspectos mais gerais da carreira e de como a ciência pode fazer mais para a sociedade.

David MacMillan, May-Britt Moser e Serge Haroche (Fotos: Julio Cesar Guimarães e Marcos André Pinto)

 

Palestra de Abertura: Serge Haroche

Haroche iniciou sua fala lembrando que a ciência está ameaçada por irracionalidades no mundo inteiro. Grupos anticiência, que negam as mudanças climáticas, as vacinas e até mesmo o formato da Terra, se proliferam globalmente. A grande contradição é que um dos veículos que mais contribuem para isso é também uma das maiores inovações da história da ciência. “A Internet, esse produto singular do desenvolvimento tecnológico, serve para carregar o melhor e o pior de nós”.

O combate ao irracional deve ser feito desde cedo. “As crianças devem aprender o método cientifico desde pequenas, devem aprender sobre pensamento crítico, a observar e teorizar. Parte do problema está na educação básica não ser prioridade, professores não têm o reconhecimento e os salários que merecem”, refletiu.

Exemplos não faltam ao redor do mundo de sociedades e setores que se desenvolveram graças à ciência. “Coréia do Sul e Singapura eram mais pobres que os países latino-americanos há 50 anos, mas investiram pesado em educação, ciência e tecnologia”, lembrou Haroche.

Por fim, o laureado fez um apelo pela paz. “A ciência é universal pois responde a um anseio de toda a humanidade. Ela foi a primeira atividade verdadeiramente globalizada e deve perseverar sobre as tensões geopolíticas. Infelizmente, a situação na Europa e no Oriente Médio é temerosamente com a de um século atrás. São tempos difíceis em que as instituições internacionais, inclusive as científicas, têm papel crucial”.

Haroche ministra a palestra de abertura (Foto: Julio Cesar Guimarães)

Diálogos

O encontro prosseguiu com uma série de mesas-redondas onde laureados e cientistas brasileiros compartilharam suas visões sobre uma série de temas caros à ciência.

Construindo confiança

Em tempos de proliferação da anticiência, nada como juntar cientistas renomados para debater a construção de confiança junto à população. O virologista Anderson Brito, voz ativa no debate público durante a pandemia, afirmou que é preciso explicar como o método científico funciona, algo que o Brasil não faz. “Não basta explicar o resultado, é preciso falar sobre o processo para que o resultado faça sentido, senão soa como mágica. De uma maneira geral, nós cientistas não somos incentivados a divulgar, não somos avaliados por isso”.

O laureado David MacMillan, que trabalha criando soluções para a indústria farmacêutica, acredita que há um processo de democratização do acesso a medicamentos, um exemplo que pode ajudar a criar confiança. “Tecnologia, agricultura, esses dispositivos nos nossos bolsos, tudo foi criado pela ciência, ela está em todo lugar e é intrínseca a tudo que fazemos”.

Já a presidente da ABC, Helena Nader, defendeu que os produtos da ciência precisam ser usados de forma consciente. “Como a sociedade pode controlar a ciência? Não no sentido de proibir, mas de como usá-la para o bem comum. Essa é a questão central”.

Anderson Brito, David MacMillan e Helena Nader (Foto: Julio Cesar Guimarães)

A importância da diversidade

A face global da ciência ainda reproduz desigualdades relacionadas à gênero, raça e origem social. A economista Ana d’Addio, que trabalhou no Relatório de Monitoramento Global da Educação, da Unesco, abriu a conversa trazendo alguns dados. As mulheres ainda são apenas um terço dos graduados em exatas no mundo, por exemplo. “Como enfrentar essa e outras barreiras?”.

A biomédica Jaqueline Góes, coordenadora da equipe brasileira que sequenciou o Sars-Cov-2, reforçou a importância da representatividade. “A orientação é o fator mais importante quando se está trabalhando na ciência. O orientador é uma pessoa que vai servir de modelo. Quando eu comecei, eu não via outras mulheres negras. Se eu olho para os meus colegas e não vejo diversidade, porque não promover essa diversidade nas minhas orientações?”.

O atual presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos, Vinícius Soares, defendeu as políticas de cotas e auxílios permanência do Brasil como exemplos para o mundo em questão de diversidade. “Foi algo que mudou completamente a cara da universidade brasileira, criou uma geração de pessoas que foram as primeiras de suas famílias a cursar ensino superior”.

Para a nobelista May-Britt Moser quanto mais gente diferente fazendo ciência, melhores as perguntas sendo feitas e os resultados atingidos. “Se restringirmos a população onde procuramos por talentos científicos nós perdemos. Precisamos de criatividade, precisamos de todos pra ter discussões, é uma tolice não apoiar a diversidade na ciência. Precisamos de modelos que nos inspirem. Quando eu comecei eu já conhecia outras cientistas então nunca me questionei por ser mulher”.

Anna d’Addio, Jaqueline Góes, May-Britt Moser e Vinicius Soares (Foto: Pedro Kirilos)

Comunicação científica

O terceiro painel focou na questão da comunicação. O biólogo Helder Nakaya afirmou que, no debate das redes, é preciso ter empatia com o público. “É preciso entender o que o seu interlocutor está procurando e como ele pode se beneficiar da sua pesquisa”.

David MacMillan avaliou que a Química, sua área, é tradicionalmente difícil de explicar. “Quando pensamos em física pensamos nas estrelas, no espaço; já na biologia, pensamos nos animais, nas plantas; mas na química sempre pensamos em poluentes”, disse o laureado de forma bem- humorada. Para ele, a presença dos cientistas nas redes sociais serve, sobretudo, para humaniza-los. “É interessante sabermos quem as pessoas são por trás da ciência”.

Por sua vez, Cristiani Machado, vice-presidente de Comunicação da Fiocruz, lembrou que as instituições precisam ajudar seus cientistas a se comunicar. “Existem grandes cientistas que não são bons professores, e vice-versa. Comunicação com o grande público é ainda mais difícil, precisamos aceitar que não podemos fazer tudo e ter o suporte necessário”.

Cristiani Machado, David MacMillan e Helder Nakaya (Foto: Pedro Kirilos)

Conversas se estenderam por toda a tarde

Após o almoço, os três laureados participaram de sessões separadas em que conversaram com alunos do Brasil e da América Latina sobre problemas e inquietações comuns no início da carreira. Após essa parte, todos voltaram ao teatro para mais bate-papos com professores.

A colaboração científica foi muito debatida. A reitora da UERJ, Gulnar Azevedo, lembrou de uma experiência bem-sucedida durante a epidemia de Zika. “Laboratórios de todo o pais se juntaram para entender o que estava acontecendo que tantos bebes estavam nascendo com microcefalia”.

May-Britt Moser trouxe a experiência de seu laboratório para defender o trabalho colaborativo entre estudantes, e reforçou a importância do respeito e das interações humanas. “Se o ambiente for divertido, relaxante, não significa que não levamos a ciência a sério, mas que continuamos sendo humanos, e humanos precisam se divertir”.

David MacMillan refletiu sobre cooperações passadas. “A parte mais difícil é combinar o esforço de todos, entender quanto as pessoas estão dispostas a colaborar. As melhores colaborações foram com amigos próximos, porque tive mais abertura para conversar”.

Outro tema abordado foi o letramento científico, que todos concordaram deveria ser estimulado desde a primeira infância. O físico e ex-presidente da ABC Luiz Davidovich frisou que a ciência não é a única forma válida de conhecimento. “Existem conhecimentos tradicionais invaluáveis no Brasil, muitos dos quais sobre a nossa rica biodiversidade. Ensinar as crianças sobre essa riqueza deveria ser parte fundamental da nossa cultura”.

Sobre gestão de ciência, Serge Haroche afirmou existir uma contradição entre o curto prazo da política e o longo prazo da ciência. “Há uma tendência atual entre gestores de organizar as coisas de cima pra baixo. Mas a ciência é feita de baixo pra cima, do financiamento de descobertas para depois gerar aplicação. Descobrir se algo é possível vem antes de descobrir se algo é útil”.

Os três laureados agradecem o público ao final da cerimônia (Foto: Julio Cesar Guimarães)

Saiba como foram os outros eventos!

Diálogos Nobel Brasil: Universidade de São Paulo
Os nobelistas May-Britt Moser, David MacMillan e Serge Haroche compartilharam suas experiências enquanto cientistas com um auditório lotado na USP. Confira!

Diálogos Nobel Brasil: Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
A última tarde do Diálogos Nobel Brasil levou os laureados para uma conversa na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, onde se discutiu a ponte entre academia e setor privado na corrida pela inovação.


Veja as fotos do encontro no Rio de Janeiro

 


Assista a transmissão pelo canal do Prêmio Nobel:


Saiba como foram os outros eventos!

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A última tarde do Diálogos Nobel Brasil levou os laureados para uma conversa na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, onde se discutiu a ponte entre academia e setor privado na corrida pela inovação.

Nobel no Brasil: Como a ciência pode trazer soluções para os desafios atuais?

O Rio de Janeiro receberá, em novembro, os líderes das maiores economias do mundo para a influente cúpula do G20. O objetivo principal é claro, mas complexo de resolver: contribuir para criar um mundo justo e um planeta sustentável. A ciência pode ajudar a acelerar o progresso em direção a esse objetivo, e o Brasil, por meio do investimento em educação e ciência, tem um papel crucial.

Há 123 anos, o Prêmio Nobel reconhece avanços científicos que contribuem significativamente para a prosperidade e o bem-estar humano, desde antibióticos e insulina até fertilizantes artificiais que ajudam a alimentar bilhões de pessoas. Essas descobertas, entre muitas outras, têm sido propulsoras essenciais ao progresso econômico e social no mundo.

Essa evolução, resultado positivo do trabalho conjunto da ciência com a sociedade, provavelmente nunca teria acontecido não fosse por descobertas de cientistas altamente comprometidos com a pesquisa básica.

A própria ciência avança, ao longo de gerações, por meio do compromisso com o acúmulo constante de conhecimento, do diálogo aberto e do livre compartilhamento de informações. Chegamos a um estado da arte quando países investem em capital intelectual e proporcionam um ambiente acolhedor para os jovens, onde a curiosidade, o pensamento crítico e a criatividade são, de fato, valorizados.

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Leia o artigo completo no O Globo.


Erika Lanner é diretora do Museu do Prêmio Nobel; Adam Smith é Diretor Científico de Divulgação do Prêmio Nobel

Vacina do Butantan contra a dengue orgulha a nossa ciência

Leia artigo de Drauzio Varella par a Folha de SP, em 7/2, na qual destaca o papel de dois Acadêmicos na produção da vacina da dengue:

No início dos anos 1980, a dengue era uma doença negligenciada: não havia grandes epidemias nem interesse em estudá-la. O panorama foi esse até a comunidade científica se convencer de que o aquecimento do planeta era uma ameaça real e que a proliferação de mosquitos associada a ele poderia causar epidemias pelo mundo.

Essa possibilidade motivou vários virologistas a procurar uma vacina contra a dengue, virose causada por quatro sorotipos próximos, mas distintos do ponto de vista imunológico: os sorotipos 1, 2 3 e 4. As implicações clínicas dessa diversidade são relevantes: a infecção por um deles não confere imunidade cruzada contra os demais. Assim, podemos ter a doença até quatro vezes.

A disparidade entre os vírus criou um desafio: se os quatro sorotipos provocam respostas imunológicas diferentes, como obter proteção contra todos com uma única vacina?

Um dos cientistas que se interessaram por esses problemas foi Steven Whitehead, virologista dos National Institutes of Health (NIH), que criou culturas dos quatro vírus mantidas a menos 70º Celsius, à procura de cepas mutantes atenuadas que levassem a um imunizante eficaz contra cada um deles, para numa segunda etapa juntar os quatro numa vacina única, tetravalente.

Àquela altura, entra em cena um dos maiores nomes da ciência brasileira: o saudoso professor [e Acadêmico] Isaias Raw, que trazia em seu currículo a demissão da Universidade de São Paulo durante a ditadura, por atividades supostamente subversivas que, nós, seus alunos jamais testemunhamos.

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Quando o imunologista [e Acadêmico Jorge Kalil assumiu a diretoria do Butantan, a vacina recebeu o impulso que faltava: o investimento para iniciar um estudo fase 2, com 300 voluntários saudáveis, com a finalidade de avaliar a resposta imunológica contra os quatro sorotipos.

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 A vacina do Butantan está para ser submetida ao crivo da agência; se tudo correr conforme esperado, estará disponível no próximo ano.

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O desenvolvimento dessa vacina é prova da competência tecnológica do Instituto Butantan, demonstra que temos pesquisadores de alto nível e que a ciência brasileira responde aos anseios da sociedade sempre que dispõe dos recursos necessários.

Leia o artigo na íntegra na Folha de SP

Começam as atividades do Centenário de Johanna Döbereiner

O ano de 2024 marca o centenário de nascimento da cientista Johanna Döbereiner, e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) está organizando uma série de ações para comemorar o marco. A abertura dessas ações será no dia 20 de fevereiro, a partir das 10 horas, na Embrapa Agrobiologia (Seropédica, RJ), com a realização de duas mesas-redondas sobre a pesquisadora.

A cerimônia contará com a presença da presidente da Embrapa, Sílvia Massruhá, que estará na mesa de abertura ao lado da presidente da ABC, Helena Nader, do presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Renato Janine, e de representante da Secretaria de Política e Programas Estratégicos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Osvaldo Moraes.

Além de ressaltar a importância de Johanna para o cenário científico nacional e para a agricultura brasileira, o evento abrirá as portas aos presentes para aquele que foi o principal local de trabalho da pesquisadora. Os visitantes poderão conferir o acervo da chamada “Sala JD”, com algumas das lembranças deixadas pela cientista, que foi a primeira chefe-geral da Embrapa Agrobiologia, e ainda terão a oportunidade de prestigiar o recebimento, na Unidade, de um busto de bronze feito em homenagem à Johanna, cedido pela Prefeitura Municipal de Seropédica.


As mesas-redondas serão transmitidas on-line pelo YouTube, aqui.


As ações do centenário estão sendo idealizadas por um comitê organizador formado por representantes da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj), Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).


Confira abaixo a programação do evento de abertura:

10h00| Recepção dos convidados

10h30 |  Mesa-redonda
Abertura do ano do centenário de nascimento de Johanna Dobereiner – a revolução biológica na agricultura
• Silvia Massruhá, Embrapa
Helena Nader, ABC
Renato Janine, SBPC
• Osvaldo Moraes, MCTI

11h30 | Mesa-redonda
Johanna, a mulher cientista e seu legado para a formação de cientistas, empresários e seu compromisso com a comunicação para a sociedade
Avilio Franco
• Ivo Baldani
Mariangela Hungria
• Everaldo Zonta
• Sergio Brandão
• Representante da ANPII (nome a confirmar)

12h30 | Inauguração de escultura em homenagem à Johanna Döbereiner e encerramento


Quem foi Johanna Döbereiner?

Johanna nasceu em 1924 na cidade de Aussig, Republica Tcheca, uma região de influência alemã. No Pós-guerra, ainda jovem, precisou deixar a capital Praga às pressas, fugindo com os avós da perseguição à população de língua alemã, fato que implicou na morte de sua mãe, em um campo de concentração. Na Alemanha Ocidental, teve o contato com a terra e a agricultura, trabalhou em fazendas para sustentar a família e custear os estudos na Faculdade de Agronomia da Universidade de Munique, na qual ingressou em 1947. Ali ela conheceu o estudante de Medicina Veterinária, Jürgen Döbereiner, com quem se casou em 1950.

Seguindo os passos do pai, também cientista, Johanna e o marido vieram para o Brasil em 1948. Aqui, foi contratada pelo Instituto de Ecologia e Experimentação Agrícola, atual Centro Nacional de Pesquisa em Agrobiologia da Embrapa. Fruto de uma educação isonômica, sem diferenciação de gênero, conduzida pela mãe, destacou-se em um universo predominantemente masculino. Com suas pesquisas, conquistou não apenas a comunidade científica brasileira como teve seu trabalho reconhecido mundialmente.

A principal linha de pesquisa de Johanna Döbereiner foi visando à fixação biológica do nitrogênio (FBN) e as bactérias capazes de realizar esse processo por meio da captação do nitrogênio presente no ar e sua transformação em um elemento assimilável pelas plantas. Seus estudos foram fundamentais para o avanço do programa brasileiro Pró-Álcool e também para colocar o Brasil como segundo maior produtor mundial de soja, atrás apenas dos Estados Unidos. Além de substituir adubos químicos nitrogenados, a FBN tem vantagens econômicas, sociais e ambientais para o produtor, para o consumidor e para o meio ambiente. Conforme dados da Embrapa, estima-se que a FBN tenha uma contribuição global para os diferentes ecossistemas da ordem de 258 milhões de toneladas de nitrogênio (N) por ano, sendo que a contribuição na agricultura é estimada em 60 milhões de toneladas. 

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