A bela Sala Minas Gerais, em Belo Horizonte, foi mais uma vez palco da cerimônia de entrega do Prêmio CBMM de Ciência e Tecnologia, oferecido pela Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), empresa brasileira que é líder mundial na exploração, produção e fornecimento de nióbio e tecnologia relacionada. Já em sua sexta edição, o prêmio reconhece o legado de profissionais que, por meio de suas pesquisas e descobertas, abrem caminhos para transformações no Brasil e no mundo.
Em 2024, os vencedores foram o físico e Acadêmico Marcos Pimenta, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na categoria Ciência. Na categoria Tecnologia, o premiado foi o médico Marcelo Britto Passos Amato, chefe da UTI Respiratória do Incor/Hospital das Clínicas e responsável pelo Laboratório de Investigação Médica em Pneumologia Experimental (Incor e Faculdade de Medicina da USP).
A categoria Ciência é destinada a pesquisadores que colocaram o Brasil em destaque no cenário científico mundial, enquanto a premiação na categoria Tecnologia é destinada a profissionais que tenham gerado impactos relevantes ao país com o desenvolvimento de aplicações práticas. Em reconhecimento ao seu talento e à sua dedicação incansável, cada vencedor é recompensado com um valor de R$ 500 mil.
A seleção dos vencedores é sempre realizada por uma comissão julgadora independente, composta por sete especialistas reconhecidos nas áreas do Prêmio CBMM de Ciência e Tecnologia. Os critérios considerados são criatividade e originalidade e o impacto para a ciência, desenvolvimento e inovação.
Na cerimônia, o CEO da CBMM, Ricardo Lima, declarou que a CBMM oferece esse prêmio em reconhecimento a profissionais que se dedicam a abrir novos caminhos, moldando um futuro mais inovador para todos, por acreditar que “o saber é o alicerce do progresso”. Relatou que em 1955, quando a CBMM foi criada, pouco se sabia a respeito das propriedades do nióbio. “No entanto, investimos em pesquisa e desenvolvimento, e criamos um mercado que não existia. Passamos a oferecer soluções eficientes e sustentáveis para diversos setores industriais”, declarou Lima.
Hoje, a CBMM tem escritórios regionais na China, Holanda, Singapura, Suíça e Estados Unidos, fornecendo produtos e tecnologia para mais de 500 clientes em todo o mundo. “Tudo isso só foi possível graças à dedicação de cientistas e pesquisadores. Por esse motivo, a CBMM assumiu o compromisso de apoiar a ciência e tecnologia no Brasil, criando essa premiação”. Ricardo Lima finalizou destacando que as abordagens criativas e inteligentes dos vencedores homenageados na ocasião reforçam o valor da ciência. Acrescentou que a CBMM espera que o percurso e as conquistas dos premiados sirvam de referência para inspirar jovens talentos de que o país tanto precisa.
O presidente do Conselho de Administração da empresa, o Acadêmico João Fernando Gomes de Oliveira, afirmou que o prêmio CBMM reconhece e valoriza a trajetória de profissionais que estão na vanguarda da inovação no Brasil. “Os vencedores do prêmio também são escolhidos com base num critério de impacto social. Ele valoriza não apenas a inovação, mas também o que essas inovações produzem de transformação para um mundo que se desenvolva de maneira mais justa e sustentável”, disse Oliveira.
Ele destacou que a Comissão Julgadora tem um papel central nesse processo, “é a alma do Prêmio CBMM, pois garante que todos os critérios estabelecidos serão cumpridos. É formada por especialistas renomados em suas áreas, pessoas que tiveram atuação de liderança em ciência e tecnologia no Brasil”, apontou Oliveira, agradecendo aos jurados que avaliaram com rigor e imparcialidade as mais de duas mil inscrições de 2024. Integram o júri os engenheiros Helio Graciosa (PUC-Rio) e Mário Neto Borges (UFSJ), assim como os Acadêmicos Álvaro Prata (UFSC/Embrapii), Edgar Zanotto (UFSCar), Helena Nader (atual presidente da ABC, impossibilitada de comparecer), Jorge Guimarães (UFRGS) e Luiz Davidovich (UFRJ).
Os jurados e Acadêmicos Álvaro Prata e Jorge Guimarães; o presidente do Conselho da CBMM, Acadêmico João Fernando de Oliveira; o ex-presidente da ABC Luiz Davidovich, também jurado; o homenageado da noite, Acadêmico Marcos Pimenta; e o jurado e Acadêmico Edgar Zanotto | Foto: GCOM ABC
Óptica, nanomateriais e divulgação científica
Em seu discurso de agradecimento pela premiação, o Acadêmico Marcos Pimenta contou que seu pai foi professor da Escola de Minas de Ouro Preto e quando Marcos era criança um dia lhe deu um pedaço de quartzo. “Me lembro que fiquei curioso pra entender o que é que havia dentro daquele mineral”. Sua mãe foi a primeira professora de ciência da computação da UFMG e lhe deu uma boa formação em matemática que, de acordo com ele, foi muito importante para sua carreira posteriormente.
Pimenta fez física na UFMG e foi fazer o doutorado na França, quando começou a trabalhar com óptica, usando a luz para tentar entender o comportamento dos materiais. Ao voltar para o Brasil, estava encantado com as técnicas ópticas, especialmente com a espectroscopia Raman. “Em 1992 consegui construir um laboratório para desenvolver pesquisas nessa área e começamos a experimentar cores diferentes de luz e observar o efeito de cada uma sobre diversos materiais. Desenvolvemos então uma tecnologia para interpretar esses resultados.”
Seu interesse por nanotecnologia surgiu em 1997, quando foi passar um ano sabático no MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos Estados Unidos, para trabalhar com a professora Mildred Dresselhaus, chamada de Rainha do Carbono por sua pesquisa pioneira sobre as propriedades fundamentais desse elemento. O Acadêmico começou a pesquisar sobre nanotubos de carbono, que são folhas de grafeno enroladas como um cilindro. Quando voltou para a UFMG, decidiu implantar o estudo desses nanomateriais, que têm diversas aplicações tecnológicas, muito interessantes também do ponto de vista científico. “Era estratégico no Brasil se dominar o processo de produção desses materiais para depois estudar as propriedades fundamentais e desenvolver aplicações”, pontuou Pimenta.
Uma das principais aplicações dos nanomateriais de carbono, tanto dos nanotubos quanto do grafeno, são os materiais compósitos, misturas do material convencional com um plástico, uma borracha, uma cerâmica. “É possível transferir para essa mistura as boas propriedades dos nanomateriais de carbono, como as propriedades eletrônicas, mecânicas e as térmicas. Isso já está sendo usado na indústria automobilística e na indústria aeroespacial, substituindo algumas peças de metal por esses materiais compósitos, que são mais leves”, relatou. Pimenta explicou que a tecnologia do silício deve saturar nos próximos anos. “Por isso estão sendo procurados novos materiais que permitam a continuidade dessa revolução que estamos vivenciando, que sejam cada vez menores, mais eficientes e que consumam menos energia”, ressaltou. Nos últimos 15 anos, perceberam que havia empresas que se interessavam por essas aplicações tecnológicas. “Isso fez com que eu me dedicasse a criar um centro de tecnologia onde pudéssemos fazer a ponte entre o trabalho feito na academia e as demandas da indústria”.
Atualmente, Pimenta tem se interessado em trabalhar mais com a divulgação científica. “As pessoas que tomam as decisões muitas vezes o fazem sem ter um conhecimento claro da ciência”, refletiu. Ele já participou da elaboração de um livro de ciências para o ensino básico por meio de um Edital do Ministério da Educação (MEC), contribuindo com a parte sobre a física moderna, que possibilitou toda essa revolução na informática e na eletrônica. “Às vezes, quando estamos procurando uma coisa, encontramos outra. Então, eu quero continuar procurando.”
Conheça a história de cada um dos premiados por meio dos vídeos produzidos pela CBMM!
Marcos Pimenta | Categoria Ciência
Marcelo Amato | Categoria Tecnologia