A Academia Brasileira de Ciências sediou, no dia 28 de outubro, a celebração do centenário da célebre Acadêmica Eloísa Mano, pioneira na área da química de polímeros brasileira. O encontro foi realizado pelo Instituto de Macromoléculas Professora Eloísa Mano, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IMA – UFRJ).

Formada em Química Industrial e Engenharia Química pela Universidade do Brasil, predecessora da UFRJ, e doutora em Química Orgânica pela mesma instituição, Eloísa ajudou a fundar, em 1976, o instituto que leva seu nome. “Por suas inúmeras contribuições e sua grande liderança, Eloísa tornou-se membra da ABC em 1978, uma época em que mulheres Acadêmicas eram raríssimas”, exaltou a diretora da ABC Maria Domingues Vargas.

O pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa da UFRJ, João Torres de Melo Neto, participou da cerimônia. Ele destacou a energia e o impacto das pesquisas da professora Eloísa Mano, que continuaram mesmo após sua aposentadoria. “Mesmo com mais de 80 anos, ela comparecia diariamente e continuava muito produtiva. Nossa carreira tem essas singularidades, não são todas as profissões que a pessoa se aposenta e escolhe continuar trabalhando”, refletiu.

A mesa de abertura. Da esquerda para a direita: Francisco Nelson Linhares (Itamaraty), Emerson Oliveira da Silva (IMA), Maria Inês de Bruno (IMA), Maria Vargas (ABC) e João Torres (UFRJ)

O lado humano da docência

A professora Eloísa Mano

A celebração foi marcada por depoimentos de professores e ex-alunos do IMA, todos os quais tiveram suas carreiras marcadas de alguma forma pela professora. A atual diretora do instituto, Maria Inês de Bruno Tavares, recordou quando chegou ao IMA para fazer mestrado, sem certeza de como seria, foi recebida por Eloísa em sua sala, com café e biscoitos, e guiada por ela sobre o que fazer e a quem procurar.

A história se repetiu de muitas formas através dos relatos. Eloísa foi descrita como alguém acessível, que se importava com o bem-estar de seus estudantes. Uma de suas máximas era que nenhuma reunião podia terminar sem um café com biscoitos, enfatizando o lado humano das relações. Em sala de aula, era uma pessoa com o dom da didática.

“Ela revolucionou o ensino da química orgânica na Escola de Química da UFRJ. Antes era complicado, textos e mais textos estéreis. O que ela fez? Modificou o ensino, tornou fácil, aprendíamos de forma leve. Ela demonstrava os materiais que estávamos usando e apresentava os assuntos como um jogo, ensinando-nos a reconhecer o polímero no artefato”, contou a professora Elisabeth Erbel da Costa Monteiro, primeira aluna de doutorado de Eloísa Mano.

A Acadêmica também era à frente de seu tempo em seus interesses de pesquisa. “Ela já enfatizava a ideia da sustentabilidade quando poucos falavam sobre isso. Hoje, o tema de microplásticos interessa a todos e eu, graças a uma ideia plantada por ela, posso contribuir na busca de soluções para esse problema”, contou o professor Emerson Oliveira da Silva.

Em 1978, Eloísa Mano recebeu o grau Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, maior honraria da ciência brasileira. Também recebeu diversos prêmios e nomeações internacionais na área de polímeros. Ao longo de sua vida, orientou dezenas de alunos de pós-graduação, publicou 176 artigos e nove livros.

A Acadêmica faleceu em 2019, aos 94 anos. No dia em que completaria 100 anos, o legado científico da Acadêmica ficou demonstrado, na forma de pessoas que ela ajudou a formar e do instituto que ajudou a construir.

Assista à cerimônia: