O “abraço” à Faperj pela permanência do médico e Acadêmico Jerson Lima da Silva na presidência da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro Carlos Chagas Filho reuniu professores e estudantes de universidades do estado do Rio de Janeiro, funcionários da Faperj e lideranças científicas do país. A manifestação, realizada na manhã de 24 de outubro, foi organizada pela Seção Sindical dos Docentes da UFRJ (Adufrj) em resposta à notícia da exoneração do presidente da principal agência de financiamento de pesquisa do estado. A Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) já tinham publicado carta.

A manifestação foi realizada embaixo do prédio da Faperj, na rua Erasmo Braga, no Centro do Rio de Janeiro. Várias falas se sucederam. Cada um dos inscritos abordou um aspecto da importância da atuação do professor e pesquisador de renome internacional Jerson Lima da Silva à frente da fundação. Dentre eles, os Acadêmicos Vitor Ferreira e Luiz Davidovich.

Professores e Acadêmicos Vitor Ferreira (UFF) e Luiz Davidovich (UFRJ)

Luta é pelo fomento à CT&I no estado do RJ

Vitor Ferreira é professor titular livre do Departamento de Tecnologia Farmacêutica da Universidade Federal Fluminense (UFF) e assessor da Presidência da Faperj desde 2007. Ele acompanha o trabalho de Jerson Lima de perto e disse que o médico anda no fio da navalha a cada troca de secretário de Ciência e Tecnologia. “Numa ocasião a Assembleia tentou reduzir o percentual da Faperj para 1% e ele foi um grande lutador, nós conseguimos reverter isso na Assembleia aqui no Estado.”

Muita gente ali presente como professor, de acordo com Ferreira, foi aluno bolsista da Faperj e continua bolsista, ou como jovem pesquisador, ou como jovem cientista do nosso Estado, ou como cientista do nosso Estado. “A Faperj foi responsável pela formação de milhares de pessoas e é a responsável por todo o avanço da ciência e tecnologia que nós temos aqui no Rio de Janeiro”, afirmou.

E Ferreira ressaltou: “Que fique claro que não é a pessoa do Jerson que estamos defendendo e sim um conceito de fundação que atenda a alunos do ensino médio, alunos de pós-graduação, alunos de graduação, professores e pesquisadores. É isso que nós estamos defendendo: a ciência e a tecnologia do Estado de Rio de Janeiro.”

Galinha dos ovos de ouro

O Acadêmico Luiz Davidovich é físico, professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Ele destacou que a Faperj financia pesquisas sobre mobilidade urbana, sobre acesso à água e saneamento, que são grandes problemas do estado; projetos sobre energia, que são sobre a riqueza do estado do RJ. “O que a Faperj tem feito por esse povo é muita coisa e não podemos deixar que isso seja destruído”.

Na visão de Davidovich, a Faperj não é só dos funcionários dela, nem só dos cientistas que ela financia. “Ela é do povo fluminense, que usufrui dos benefícios resultantes do trabalho que ela promove”. Nesse sentido, Davidovich afirmou que a Faperj é a “galinha dos ovos de ouro” do estado do RJ. “Essa intervenção seria matar a galinha dos ovos de ouro. Não me parece que o governador vá querer assumir esse ônus.”

O abraço ao prédio da Faperj

Ao final das falas foi organizado o abraço ao prédio, com as pessoas presentes de mãos dadas circundando o edifício e a igreja ao lado, ao som da palavra de ordem: “Jerson fica!”.

“Abraço” se estendeu pela frente do prédio e pela lateral

Espera-se que o governador Claudio Castro escute a comunidade científica e reavalie sua decisão, que prejudicaria extremamente a produção científica e tecnológica na reunião e traria imenso prejuízo à população do estado do Rio de Janeiro.


Sobre a Faperj

A Faperj, agência de fomento à ciência, tecnologia e inovação do estado do Rio de Janeiro, tem como missão, descrita em seu site, contribuir para o estabelecimento de condições favoráveis ao desenvolvimento social brasileiro. Para tanto, financia nove mil pesquisadores e apoia projetos nas universidades do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), assim como no Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ).

Sobre o presidente da Faperj

Jerson Lima Silva é doutor em biofísica (Instituto de Biofísica, UFRJ, 1987). É professor titular no Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ (1997), onde é diretor do do Centro Nacional de Ressonância Magnética Nuclear Jiri Jonas (CNRMN/UFRJ), principal centro da América Latina aparelhado com equipamentos de ressonância magnética nuclear (RMN) de alto campo. Nos últimos 20 anos, mais de 400 pesquisadores do Brasil e de outros países têm usado as instalações do CNRMN.

O Dr. Silva também coordenou o Instituto Milênio de Biologia Estrutural em Biomedicina e Biotecnologia (Imbebb) apoiado pelo CNPq (2005-2008) e coordena o INCT de Biologia Estrutural e Bioimagem (desde 2008). Jerson Lima da Silva também atuou como diretor científico da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) entre 2003 e 2018 e desde janeiro 2019 atua como presidente desta fundação.

O laboratório do Dr. Jerson Lima da Silva tem prestado contribuição expressiva ao campo da biologia estrutural, enovelamento proteico, montagem viral e no entendimento dos mecanismos responsáveis pelo dobramento errado de proteínas, importante em muitas doenças humanas, que incluem câncer, doenças de príons e doença de Parkinson. desde 1998. É membro da Academia Brasileira de Ciências (membro efetivo), da Academia Nacional de Medicina (ANM) e da Academia Mundial de Ciências (TWAS).

Suas pesquisas têm sido publicadas em revistas de alto índice de impacto e seus artigos científicos são muito referenciados, com mais de 12.450 citações (Indice H= 62 Google Scholar; Índice H= 54 Web of Sci). A maioria de seus trabalhos envolve alunos de graduação e de pós-graduação como coautores, que resultaram em 32 dissertações de mestrado e 38 teses de doutorado.

Foi premiado pela Fundação John Simon Guggenheim (1991); pela International European Economic Community (1991); Howard Hughes Medical Institute (1997-2002); Ordem Nacional do Mérito Científico concedido pela Presidência da República do Brasil na classe de Comendador (2002) e na classe de Grã-Cruz (2009); Prêmio da Academia Mundial de Ciências (TWAS) de Biologia TWAS Award in Biology, 2006; Prêmio FCW 2009 em Ciência e Cultura da Fundação Conrado Wessel, 2010; Prêmio Faz Diferença – Ciência/Saúde 2012 do Jornal O Globo; Gregorio Weber Award da American Biophysical Society (2018); Medalha Vital Brazil (2021); Prêmio CBMM de Ciência e Tecnologia (2022).


Até às 13h47 do dia 28/10, a petição pública pela manutenção de Jerson Lima da Silva na presidência da Faperj já tinha 24.007 assinaturas. Assine!


Leia a nota da ABC e SBPC

Veja algumas repercussões:

Bandnews FM Rio, 23/10
Possível mudança na presidência da Faperj é criticada por membros da comunidade científica

O Globo, 23/10
Entidades científicas reagem diante da possibilidade de órgão de pesquisa do Rio passar a ser gerido por político do PL

Folha de S. Paulo, 23/10
Castro decide exonerar presidente da Faperj e gera protesto de pesquisadores e entidades