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Sobre o Nobel de Medicina 2018

Leia o comentário do professor e pesquisador da UFRJ e Acadêmico Jerson Lima Silva sobre o prêmio Nobel de medicina de 2018:

“O câncer é um grave problema de saúde pública no mundo, correspondendo à segunda causa de morte. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), os diferentes tipos de câncer resultarão em cerca de 9,6 milhões de mortes. Por se tratar, na realidade, de várias doenças, algumas extremamente malignas, é extremamente importante a busca de novas estratégias terapêuticas. Os dois laureados deste ano com o Prêmio Nobel de Medicina fizeram contribuições científicas inovadoras, que estão abrindo a possibilidade de novas terapias.

Os pesquisadores fizeram descobertas baseadas no estímulo da habilidade inerente do sistema imune para atacar as células tumorais e que estão servindo como um novo princípio para terapia do câncer.

James P. Allison, professor do Centro de Câncer MD Anderson da Universidade de Texas, estudou durante anos uma proteína, denominada CTL4, proteína esta que funciona como um freio das células T do sistema imune. Esse freio é importante para evitar uma resposta exacerbada, como ocorre, por exemplo, nas doenças autoimunes.

Allison teve a grande ideia de fazer o contrário: encontrar uma maneira de liberar esse freio e fazer o sistema imune atacar a célula tumoral. E fez isso exatamente utilizando anticorpos que se ligam na CTL4, bloqueando a sua ação e estimulando o ataque a um tumor.

Em 1994, quando ainda estava na Universidade da California, Berkeley, ele teve sucesso em impedir o crescimento de um tumor em camundongos usando a estratégia do bloqueio do freio. Esses resultados mostraram, de forma inequívoca, a cura de animais com câncer quando tratados com anticorpos contra o freio, através da liberação da atividade de células T antitumorais.

Apesar do grande sucesso, os experimentos pré-clínicos não despertaram muito interesse da indústria farmacêutica. Alguns anos mais tarde, vários estudos em humanos confirmaram os resultados pré-clínicos e foram particularmente eficientes em pacientes com melanoma avançado.

Tasuku Honjo, da Universidade de Kyoto, foi o outro laureado pela descoberta de uma outra proteína, a PD-1, que também é expressa na superfície de células T. Honjo descobriu que a PD-1 também funcionava como um freio da atividade da célula T através de um mecanismo diferente da CTLA-4. Honjo e outros pesquisadores mostraram que o bloqueio da PD-1, em modelo de câncer animal, também levava à regressão do tumor.

O pesquisador japonês publicou vários trabalhos, muito elegantes, de como funcionava a proteína PD-1. Os trabalhos feitos durante quase duas décadas impulsionaram o uso da PD-1 como um alvo para o tratamento de pacientes com diferentes tipos de câncer. Resultados impressionantes foram obtidos na cura ou remissão de longo prazo de várias formas metastáticas de câncer revelados nos últimos seis anos.

O Comitê do Prêmio Nobel do Instituto Karolinska comentou que há quase cem anos, antes de Allison e Honjo, pesquisadores buscaram estratégias para engajar o sistema imune no ataque às células tumorais. Os trabalhos dos dois laureados mostram claramente a importância da pesquisa básica no entendimento dos mecanismos de ação de proteínas do sistema imune e de células tumorais.

Nos dois casos, duas abordagens diferentes, mas relacionadas, estão criando uma grande revolução no tratamento do câncer, que se aliam a outros tratamentos como a quimioterapia e a cirurgia.”

Veja a página original do Prêmio Nobel de Medicina 2018.

Acadêmico Edgar Zanotto publica artigo relacionando inteligência artificial e o desenvolvimento de vidros

O professor Edgar Zanotto e o pós-doutorando Daniel Cassar, da UFSCar, estabeleceram parceria com o professor André de Carvalho, do ICMC-USP (crédito da imagem: Mariana Pezzo/CCS-UFSCar)

Uma parceria científica bem-sucedida está acontecendo no interior do Estado de São Paulo com a união de conhecimentos entre pesquisadores que estudam materiais vítreos e os que atuam na área de inteligência artificial. Os primeiros resultados geraram um artigo, publicado na última edição de uma das principais revistas da área de Engenharia de Materiais, a Acta Materialia.
Segundo os pesquisadores, o artigo é o primeiro do mundo que aborda o emprego de uma das técnicas de inteligência artificial, as redes neurais artificias, para prever a temperatura de transição vítrea em vidros, especificamente vidros inorgânicos não metálicos. É também o terceiro artigo que fala sobre o emprego de redes neurais para estudar materiais vídeos. Intitulado Predicting glass transition temperatures using neural networks, o trabalho é assinado por três pesquisadores: Edgar Dutra Zanotto, docente do Departamento de Engenharia de Materiais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); André de Carvalho, professor e vice-diretor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos; e Daniel Roberto Cassar, pós-doutorando do Laboratório de Materiais Vítreos da UFSCar.
Para entender a relevância desse artigo, é preciso compreender que as redes neurais artificiais são técnicas computacionais que apresentam um modelo matemático inspirado na estrutura neural de organismos inteligentes, os quais adquirem conhecimento por meio da experiência. Por isso, os especialistas da área de computação precisam inserir vários dados nessas redes e treiná-las para que possam realizar a tarefa que é esperada.
Mas antes de explicar como essas redes neurais podem ser fundamentais para otimizar o desenvolvimento de novos materiais vítreos, é necessário entender também como os materiais vítreos são desenvolvidos.

No ICMC, o professor André de Carvalho está orientando mais duas pesquisas de doutorado e outras duas de pós-doutorado relacionadas a aplicações de inteligência artificial na área de materiais vítreos

Como nascem os vidros – Os vidros podem ser obtidos a partir de composições incluindo quase todos os elementos químicos da tabela periódica, que geralmente passam por um processo de aquecimento e fusão e, depois, de resfriamento rápido. Como há uma vasta possibilidade de fazer diferentes composições químicas, os materiais vítreos que surgem desses processos também possuem uma grande variação em suas propriedades mecânicas, óticas, térmicas, elétricas e químicas. É por isso que os vidros podem ser utilizados em inúmeras aplicações.
No entanto, esse universo abrangente gera também grandes desafios. Os especialistas estimam que existam 10 elevado a 52 composições vítreas possíveis e, até hoje, apenas 10 elevado a 5 vidros foram, de fato, produzidos nos laboratórios e indústrias de todo o mundo. Esses números dão a dimensão do quanto essa área ainda precisa ser pesquisada. “Do jeito que fazemos hoje, que apelidamos de mix and get lucky – misturar e ter a sorte de encontrar uma composição com novas propriedades –, é impossível chegarmos até 10 elevado a 52, mesmo se todos os habitantes da Terra fizerem um vidro diferente todos os dias durante milhares de séculos.  Além da escala temporal, há também a questão econômica”, explica Edgar Dutra Zanotto, que é diretor do Centro de Pesquisa, Tecnologia e Educação em Materiais Vítreos (CeRTEV), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Diante desse desafio, há cerca de dois anos o pesquisador começou a pensar em utilizar ferramentas computacionais da área de inteligência artificial, incluindo as redes neurais artificiais, para facilitar a busca por desenvolver novos materiais vítreos. Naquele momento, Zanotto não sabia se a ideia poderia dar certo, pois não tinha nenhuma experiência prévia em inteligência artificial. Foi a partir de uma conversa com o pós-doutorando Daniel Roberto Cassar, do Laboratório de Materiais Vítreos (LaMaV) – também coordenado por Zanotto e parte do CeRTeV –, que a situação mudou.
Como nasceu a parceria – Interessado pela temática, o pós-doutorando fez um curso na área de inteligência artificial e começou a redigir um manuscrito junto com Zanotto, mas havia várias dúvidas e eles resolveram buscar a ajuda dos especialistas no assunto. Então, há cerca de um ano, juntou-se ao timeEntão, há cerca de um ano, juntou-se ao time o pesquisador André Carlos Ponce de Leon Ferreira de Carvalho, docente do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, e, com ele, mais um Cepid, o Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI), do qual Carvalho é pesquisador.
Com a parceria, os três pesquisadores conseguiram construir uma rede neural para prever a temperatura de transição vítrea de diferentes composições. Ou seja, essa ferramenta de inteligência artificial faz uma previsão do que vai acontecer quando vários elementos químicos são misturados bem como identifica o intervalo de temperatura em que essa composição passará por processos de transformação que gerarão um novo material vítreo. “Mesmo os profissionais mais experientes só conseguem estimar propriedades para misturas com até cinco ou seis elementos. Com mais componentes, eles interagem e as estimativas tornam-se muito complexas. Com essas redes inteligentes, poderemos desenvolver vidros sequer imaginados, com propriedades e aplicações exóticas. Vidros contendo até 10 elementos são relativamente comuns, mas há um universo a ser explorado: composições com 15 a 80 elementos, inacessíveis empiricamente. Trata-se de uma transformação radical”, diz Zanotto.
No artigo Predicting glass transition temperatures using neural networks, os três pesquisadores usaram 55 mil composições – obtidas em bases de dados com registros depositados durante mais de 50 anos – para treinar a rede neural. “Essas redes precisam de muitos dados de boa qualidade para aprender corretamente. Quanto mais dados, mais capacidade de generalização, e este foi outro grande esforço que precisamos fazer: extrair todos esses dados, treinar e validar a rede com eles”, explica o diretor do CeRTEv.
Hoje, o pioneiro Daniel Cassar já não é mais o único pesquisador a trabalhar com as redes neurais no grupo coordenado por Zanotto. Dois anos após a conversa inicial, já há um trabalho de conclusão de curso finalizado e outro em andamento, uma pesquisa de mestrado em andamento e um segundo pesquisador de pós-doutorado. Além disso, sob a orientação do professor André de Carvalho, no ICMC, estão sendo realizadas mais duas pesquisas de doutorado e outras duas de pós-doutorado.
“Para nós, a rede é um produto, uma ferramenta para as nossas pesquisas em engenharia de materiais. Para o grupo do André, elas são o objeto de pesquisa, e eles já estão, por exemplo, estudando qual o melhor algoritmo para resolver um mesmo problema”, conta Zanotto. “Já temos algumas redes treinadas, envolvendo diferentes propriedades de vidros, e uma pesquisa que é anterior às próprias redes, relacionada ao tratamento dos dados para que não sejam inseridos registros com erro no treinamento da rede. É espetacular o avanço em pouco mais de um ano; estamos animados, cada nova propriedade, cada pesquisa abre um novo horizonte, é um tema infinitamente amplo, moderno e relevante”, avalia.
As atividades desenvolvidas também envolvem a frente da inovação, com a construção de softwares que permitam o uso das redes desenvolvidas por outros grupos na academia e na indústria. A partir da primeira rede desenvolvida por Cassar, o primeiro programa já está em desenvolvimento, em uma parceria com a empresa júnior de Computação da UFSCar (CATI Jr.). Nele, será possível inserir uma determinada composição química inorgânica, não-metálica, e prever a sua temperatura de transição vítrea. “Esta é uma aplicação com interesse principalmente científico. Mas, no futuro, quando unirmos as redes relacionadas às diferentes propriedades, poderemos ter a aplicação inversa, com uma relevância muito grande para a indústria. Com essas redes inversas, será possível dizer ao software quais propriedades são desejadas, e ele sugerirá algumas composições com maior probabilidade de apresentar essas propriedades”, finaliza Zanotto.

Unifesp e Fiocruz sediam simpósios em homenagem ao Acadêmico Luiz Travassos

O Acadêmico Luiz Travassos celebrou seu aniversário, no dia 26 de setembro, em meio a uma semana de homenagens. Na quarta-feira (26), em que completou 80 anos, o biólogo participou do mini-simpósio “Estudos em biologia molecular e celular sobre 3 doenças mortais nas Américas: criptococose, Doença de Chagas, e câncer”, na Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp).

O evento contou com a participação do professor Menashe Bar-Eli (Texas Unviersity) e dos ex-alunos do Acadêmico: os professores Marcio Rodrigues (Fiocruz), Rosana Puccia (EPM-Unifesp), Igor de Almeida (Texas University) e Andrey Dobroff (New Mexico University).

Entre os dias 27 e 29 de setembro, o professor foi homenageado na primeira edição do Simpósio Internacional Mecanismos de Imunopatogênese em Infecção Fúngicas, no Instituto Carlos Chagas da Fiocruz Paraná, em Curitiba.

Reconhecido como um dos principais cientistas em atividade no Brasil e um grande pioneiro na área de pesquisa em infecções fúngicas, Luiz Travassos foi homenageado por um encontro entre palestrantes e participantes para debater o avanço e desafios na área de doenças causadas por fungos. Durante o evento, foi saudado por mais um de seus estudantes, o Acadêmico Isaac Roitman.

Foto: Instituto Carlos Chagas / Fiocruz – Paraná

Acadêmico Renato Cotta recebe título de Doutor Honoris Causa na França

Engenheiro mecânico e professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Acadêmico Renato Machado Cotta será agraciado com as insígnias de Doutor Honoris Causa da Universidade de Reims Champagne-Ardenne. Em cerimônia oficial, o presidente da universidade, Guillaume Gellé, entregará as insígnias ao professor Cotta no dia 12 de outubro, às 16h, no anfiteatro nº 10 do campus Cruz Vermelha, em Reims, França.

Renato Cotta tem graduação em engenharia mecânica com ênfase nuclear pela UFRJ e doutorado em engenharia mecânica e aeroespacial pela Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Atualmente, pesquisa na área de transferência de calor e massa, principalmente nos temas: métodos híbridos e transformação integral, fenômenos de transporte nas micro e nano-escalas e intensificação de transferência de calor.

Membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), o professor já integrou também o Comitê Executivo da instituição. Faz parte da Academia Nacional de Engenharia (ANE) e da Academia Mundial de Ciências (Twas, na sigla em inglês). Ao longo de sua carreira, teve seu trabalho reconhecido por diversas organizações, tendo recebido a Comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico em 2007 e o Prêmio Hartnett-Irvine em 2009 e 2016, do Centro Internacional de Transferência de Calor e Massa (ICHMT).

Programa Aristides Pacheco Leão de Estímulo a Vocações Científicas

Saiu a lista dos estudantes selecionados para o Programa Aristides Pacheco Leão de Estímulo a Vocações Científicas (APLeão 2019).

O programa APLeão foi criado pela Academia Brasileira de Ciências em 1994 e realizado até 2004 nesta primeira edição, com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Foi reeditado em 2017, com uma primeira rodada coordenada pelo Acadêmico Wanderley de Souza. Em 2018 e 2019 foi coordenado pelos Acadêmicos Guilherme Suarez-Kurtz e Flávia Lima Ribeiro Gomes, e patrocinado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Para 2019, o Grupo Folha tornou-se um dos patrocinadores do programa.

O programa se destina a estimular vocações científicas na comunidade universitária. A escolha do nome do professor Aristides Pacheco Leão para este programa representa justa homenagem da ABC a seu Presidente Emérito, eminente neurofisiologista.

O objetivo principal do programa é criar mecanismos que permitam a universitários vocacionados para a atividade científica estagiar em laboratórios dirigidos por membros titulares da ABC, com linhas de pesquisa definidas e reconhecidamente produtivas.

Os estágios de treinamento são realizados durante o período das férias acadêmicas de verão (15 de janeiro a 28 de fevereiro de 2019), em regime de tempo integral. A continuidade do trabalho iniciado durante o estágio inicial é aspecto importante do programa e deve ser estimulada após o retorno dos universitários às suas instituições de origem.

Os recursos financeiros do Programa provêm de auxílio concedido pela Capes e Grupo Folha à ABC, na forma de uma bolsa no valor de R$ 4.480,00 e passagens de ida e volta entre as instituições de origem dos universitários e os laboratórios dos Acadêmicos. A ABC não providencia acomodação, transporte ou alimentação para os estagiários.

Os recursos disponíveis para o programa permitem acolher até 32 (trinta e dois) universitários do país nos laboratórios participantes do programa nas áreas de ciências biológicas, biomédicas e da saúde.

O programa é oferecido a estudantes de graduação matriculados em instituições de ensino superior do país, com exceção de instituições com sede nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. Os alunos selecionados na edição de 2018 não poderão se inscrever na edição de 2019.

Ao final do estágio, cada estudante deverá enviar ao orientador um relatório circunstanciado (máximo de 3 laudas) de suas atividades durante o período de estágio, que será avaliado pelo orientador e enviado por ele à Academia Brasileira de Ciências.

L’Oréal premia sete cientistas brasileiras na 13ª edição do “Para Mulheres Na Ciência”

Nesta quinta-feira (04/10/2018), a nova sede da L’Oréal Brasil, no Porto Maravilha, foi palco da premiação da 13ª edição do “Para Mulheres na Ciência”, programa desenvolvido pela L´Oréal Brasil em parceria com a UNESCO no Brasil e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) em prol da igualdade de gênero no ambiente científico. Na ocasião, sete jovens pesquisadoras de diferentes regiões do país receberam uma bolsa-auxílio no valor de R$ 50 mil cada uma para dar prosseguimento aos seus estudos.

A mestre de cerimônia, a jornalista Renata Capucci, abriu o evento apresentando a comissão julgadora e chamando ao palco An Verhulst-Santos, presidente da L’Oréal Brasil. Em seu discurso, a executiva destacou a importância do prêmio na promoção da igualdade de gênero no ambiente científico. “As mulheres representam apenas 30% dos pesquisadores em todo o mundo. Não queremos uma sociedade na qual desigualdades de gênero são reproduzidas, reforçadas e perpetuadas. Por isso, temos muito orgulho de poder dar mais visibilidade às mulheres na ciência brasileira”, disse.

Para o coordenador interino de Ciências Naturais da UNESCO no Brasil, Fábio Eon, a organização “sempre pautou sua ação no campo das ciências em dois objetivos: a busca do progresso científico como um direito humano. O que está muito evidenciado no artigo 27 da Declaração Universal dos Direitos Humanos que esse ano completa 70 anos. E na redução dos hiatos e assimetrias entre homens e mulheres nas ciências. Essa tem sido grande a bandeira da UNESCO no tocante ao direito ao progresso científico para ‘TODOS’ e ‘TODAS’”. Segundo Fábio, “falar de mulheres na ciência em pleno século XXI não é mais apenas um imperativo ético, mas sim um imperativo de desenvolvimento. “

O presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich, ressaltou o caráter inspirador da premiação: “De fato, esse prêmio é simbólico. Ele realmente motiva as meninas que estão no ensino fundamental e no ensino médio a começar a pensar em ciência. Aponta um caminho para as mulheres, e para as meninas que ainda não decidiram o que vão fazer.” Para o professor, o prêmio vai contra estereótipos e contra uma cultura que separa as pessoas de acordo com o gênero. “No mundo contemporâneo, não há mais razão para as mulheres não fazerem ciência tanto quanto os homens”, completou Davidovich.

Anualmente, são escolhidas pesquisas das áreas de Ciências da Vida, Química, Matemática e Física com potencial de encontrar soluções para importantes questões ambientais, econômicas e de saúde.  A avaliação também considera a trajetória profissional das candidatas em suas áreas de atuação.

Angelica Vieira, Fernanda Cruz, Jaqueline Soares, Nathalia Bezerra, Ethel Wilhelm, Luna Lamonaco e Sabrina Lisboa

As sete cientistas vencedoras deste ano foram: Fernanda Cruz, do Rio de Janeiro; Sabrina Lisboa e Luciana Lomonaco, de São Paulo; Angélica Vieira e Jaqueline Soares, de Minas Gerais; Ethel Wilhelm, do Rio Grande do Sul; e Nathalia Lima, de Pernambuco. Elas foram escolhidas por um júri acadêmico formado por integrantes da ABC, da Unesco e da L´Oréal, que selecionaram sete pesquisas científicas entre os 524 trabalhos inscritos nesta edição do Prêmio. Saiba mais sobre as premiadas.

Representando todas as vencedoras, a cientista gaúcha Ethel falou da importância desse reconhecimento para as mulheres cientistas. “Parece que vivemos todos os dias na invisibilidade e esse prêmio fez com que nos sentíssemos especiais, iluminadas e empoderadas. Trouxe à tona aquela sensação de que ainda vale à pena fazermos ciência apesar de todos os obstáculos”, discursou.

Há 13 anos, o “Para Mulheres na Ciência” ajuda no prosseguimento de pesquisas, promove a participação das mulheres no ambiente científico e contribui para que a ciência brasileira ganhe destaque. A edição 2018 bateu recorde de participação: ao todo, foram registradas 524 inscrições, 34% a mais que em 2017.

Saiba mais sobre o L’Oréal/UNESCO/ABC Para Mulheres na Ciência:

Facebook: www.facebook/paramulheresnaciencia

Twitter: @mulhernaciencia

Site Oficial: www.paramulheresnaciencia.com.br

MCTIC realiza consulta pública para o Plano de Ciência, Tecnologia e Inovação para Carvão Mineral

O Plano de CT&I em Carvão Mineral 2018-2022 é um documento de orientação estratégica do MCTIC para sua atuação na área temática priorizada referente aos minerais estratégicos que apresentam déficit comercial e importância econômica estratégica para o setor energético do País e ao desenvolvimento integral da cadeia produtiva do carvão mineral brasileiro, sendo parte integrante da Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI 2016-2022).

Para tanto, solicitamos a sua colaboração para fornecer críticas, sugestões, elogios e recomendações de modo a garantir a transparência no processo de formulação de políticas públicas.

As consultas públicas são processos de construção coletiva de políticas públicas entre governo e sociedade. As ações e programas do governo poderão atingir seus objetivos e ser aprimorados de acordo com as demandas coletivas com a colaboração dos cidadãos, empresas, movimentos e organizações da sociedade.

Participe clicando aqui.

Três cientistas ganham Prêmio Nobel de Física por suas pesquisas com laser

O Nobel de Física de 2018, anunciado nesta terça (2), foi para o americano Arthur Ashkin, para a canadense Donna Strickland e o francês Gérard Mourou por suas pesquisas com laser.

Ashkin, ligado aos Laboratórios Bell (EUA), foi premiado com metade do valor do prêmio por sua pesquisa com as chamadas pinças ópticas (veja ao lado).

Mourou, da École Polytechnique (França), e Strickland, da Universidade de Walterloo (Canadá), dividirão a outra metade por seu método de gerar pulsos ópticos supercurtos de alta intensidade.
Strickland é a terceira mulher a vencer o prêmio de física. Antes dela, foram laureadas Marie Curie (1903) e Maria Goeppert-Mayer (1963).

Arthur Ashkin foi premiado por transformar a luz em uma espécie de ferramenta em miniatura. O americano inventou as chamadas pinças ópticas, que usam a força do raio laser focalizada para manipular objetos microscópicos, incluindo organismos vivos, como vírus e bactérias.

Strickland e Mourou desenvolveram um método de geração de pulsos de laser ultracurtos de alta intensidade. A técnica desenvolvida por eles abriu novas áreas de pesquisa e levou a amplas aplicações industriais e médicas, como perfurar materiais com extrema precisão, e o surgimento da cirurgia Lasik, usada para tratar ou curar problemas de vista como miopia, hipermetropia e astigmatismo.

“Ashkin conseguiu, na década de 1980, usar feixes de laser para aprisionar átomos ou moléculas individuais. Trata-se literalmente uma pinça feita de luz”, diz o físico Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências.

A técnica logo demonstrou suas muitas possibilidades. “Ela dá ferramentas para se fazer com grande precisão o que podemos chamar de cirurgias celulares: inserir material genético dentro de uma célula, esticar membranas”, diz Carlos Lenz, professor da Unicamp e da Universidade Federal do Ceará, que trabalhou com Ashkin na época que ele desenvolvia as tais pinças.

Lenz, que fez as primeiras pinças ópticas no Brasil, em 1991, já utilizou a técnica para estudar propriedades das hemácias do sangue num trabalho sobre anemia falciforme. Em outra pesquisa, o brasileiro prendeu um parasita na pinça para observar a maneira como o invasor se comportava ao se aproximar de um tecido do corpo humano.

“Ele é uma das figuras mais simpáticas e generosas que já conheci”, diz Lenz, que ficou de 1988 a 1990 nos Laboratórios Bell. “Tinha um grande conhecimento tanto de física teórica como experimental e atendia a todos que o procuravam”.

Com 96 anos –o que faz dele o Nobel mais velho da história–, Ashkin mantém uma rotina de trabalho. Após o anúncio do prêmio, o cientista declarou que não poderia dar entrevistas pois estava muito ocupado com o seu próximo artigo científico.

Na mesma época que Ashkin produzia seus trabalhos sobre pinças ópticas, Mourou, 74, e Strickland, 59, desenvolviam a técnica para criar pulsos de luz muito rápidos e extremamente intensos.

À época, explica o físico Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp, o processo de tornar os feixes mais intensos acabava, a partir de certo ponto, danificando os amplificadores. “Isso impunha uma barreira ao aumento da intensidade”, diz.

Esse limite foi vencido por meio de uma técnica criada pela dupla, que estica o pulso comprimido, amplifica a sua intensidade, e depois o comprime novamente (veja infográfico). “A sacada deles foi espetacular e permitiu produzir pulsos de laser com muito mais intensidade”, diz.

Segundo Luiz Davidovich, os pulsos ópticos são como flashes ultrarrápidos que permitem congelar os movimentos de partículas. “Com isso, é possível estudar fenômenos da natureza que são muito velozes, como o processo de ionização, em que um elétron é ejetado de um átomo. Ao se emitir uma série de pulsos ultracurtos, é possível fazer um ‘filme’ desse processo”

Além de suas aplicações práticas, o método pode abrir uma nova fronteira de pesquisas em física de partículas. Segundo Brito Cruz, já se começam a aplicar a técnica para acelerar partículas subatômicas, o que pode, no futuro, substituir os grandes aceleradores, como o LHC.

“Essas novas máquina caberiam na mesa do laboratório, reduzindo custos, facilitando a repetição dos experimentos.”

A ideia da nova técnica foi apresentada num artigo de 1985, o primeiro publicado por Strickland, então aluna de doutorado de Mourou.

No ano passado, os vencedores foram os cientistas que realizaram a primeira detecção das ondas gravitacionais. Previstas pelo físico Albert Einstein (1879-1955) há um século, essas ondas são perturbações no tecido que os físicos denominam espaço-tempo e se propagam na velocidade da luz.

Os vencedores dividirão o prêmio de 9 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 4,1 milhões). O dinheiro vem de um fundo de quase 4,5 bilhões de coroas suecas (em valores atuais) deixado pelo patrono do prêmio, Alfred Nobel (1833-1896), inventor da dinamite. Os prêmios são distribuídos desde 1901. Além do valor em dinheiro, o laureado recebe uma medalha e um diploma.

A escolha do vencedor é realizada por um grupo de 50 pesquisadores ligados ao Instituto Karolinska, na Suécia, escolhido por Alfred Nobel em seu testamento para eleger aquele que tenha feito notáveis contribuições ao futuro da humanidade.

Nesta quarta (3) será anunciado o prêmio de química. Os dois são distribuídos pela Academia Real Sueca de Ciências.

O Nobel da Paz, dado por um comitê escolhido pelo Parlamento Norueguês será anunciado na sexta (5); o Prêmio de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel, apelidado como Nobel de Economia, será anunciado na próxima segunda (8) e também fica a cargo da Academia Real Sueca de Ciências.

Quanto ao prêmio de literatura de 2018, após uma série de denúncias e escândalos, a Academia Sueca anunciou que a entrega foi cancelada.

Jean-Claude Arnault, uma importante figura no meio cultural sueco, foi acusando de assédio e agressão sexual e condenado por estupro.

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