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Biofísico relata pesquisas da expedição Tara Oceans

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A palestra especial do segundo dia do Simpósio Brasil-França sobre Biodiversidade promovido pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) em parceria com a Academia de Ciências da França, foi ministrada pelo biofísico Eric Karsenti. Ele foi diretor-científico da expedição Tara Oceans, que durou três anos e tinha como foco entender como os ecossistemas marinhos funcionam e como evoluíram.

Eric Karsenti

O palestrante relatou que o projeto Tara Oceans surgiu em 2009 com o objetivo de estudar a vida invisível aos olhos: protistas, bactérias, vírus e plânctons foram os protagonistas da pesquisa, considerando a importância da vida marinha e como esse ecossistema é crucial. “A interação entre os organismos é positiva, na sua maioria. Cooperação é mais importante do que competição nesse ambiente”, esclareceu.

“Foram mais de mil pessoas envolvidas nesse projeto”, contou Karsenti, cuja equipe era formada por especialistas da área da taxonomia, oceanografia, bioinformática, ecologia microbiana, celular, molecular e gerenciamento de dados, entre outras áreas.

A compreensão do ciclo dos oceanos, a partir do levantamento de dados e análise do material coletado, principalmente o plâncton, é o objetivo da pesquisa. “Usamos aparelhos de alta tecnologia para entender a biogeografia dos organismos em nível genômico, a dinâmica populacional e as interações bióticas – ou seja, a evolução da vida marinha”, apontou.

Karsenti explicou que 98% do volume da biosfera são de plâncton. “Ele é a base da rede de alimentação oceânica, responsável pelo sequestro de carbono no oceano e gera o oxigênio que respiramos”, apontou. E destacou que o plâncton também está sendo afetado pelas mudanças climáticas.

O palestrante destacou a contribuição brasileira ao projeto, através de parcerias com a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Ao fim de sua apresentação, Karsenti deixou um convite aos demais pesquisadores ali presentes: “Estamos abertos para fechar parcerias com instituições e pesquisadores que queiram implementar o projeto em água doce”, concluiu. Em 2015, Eric Karsenti recebeu a Medalha de Ouro do CNRS, a maior distinção científica francesa.

Biologia evolutiva e implicações para a biodiversidade

Vera Val, Doyle McKey, Jean François Bach, Alexandre Aleixo e Marie Anne van Sluys

O segundo dia do Simpósio Brasil-França sobre Biodiversidade, 6 de junho, foi aberto com sessão que contou com os pesquisadores Marie-Anne Van Sluys , Vera Almeida e Val, Alexandre Aleixo, Jean François Bach e Doyle McKey. O foco foram os impactos que o homem causa ao ambiente e outros fatores que estão causando problemas na região amazônica.

Diversificação evolucionária

A professora titular do Departamento de Botânica da Universidade de São Paulo (USP), Marie-Anne Van Sluys, explicou que a biodiversidade existente hoje é resultado de uma diversificação evolucionária. Ela mostrou que hoje é preciso ressintetizar a biologia, colocar os organismos de volta ao seu ambiente, conectá-lo com seu passado evolucionário. “Aí poderemos sentir o fluxo complexo resultante da união entre organismos, evolução e ambiente”, destacou.

O código genético oferece inúmeras possibilidades, segundo Van Sluys. Há restrições, mas nem todas são conhecidas. E existem diversas maneiras de estudar os genomas. Ela explica que há transferência frequente de genes relacionados a trocas entre as células e o ambiente. O projeto Biogenoma da Terra busca sequenciar em dez anos os genes de todas as formas de vida, para sua conservação, segundo a líder do GateLab da USP. Seu grupo de pesquisa investiga o papel que elementos de transposição tem na diferenciação de genomas, remodelando redes regulatórias gênicas e propiciando a diversificação de espécies.

Seleção positiva e mudanças ambientais

Em seguida, a pesquisadora titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Vera Almeida-Val, relatou como as mudanças evolutivas da enzima LDH em alguns peixes aumentaram a capacidade deles se difundirem e se tornarem um grupo diverso de vertebrados.

Vera explicou que a enzima LDH atua na oxidação do carboidrato ao final do processo de quebra da glicose, quando não há oxigênio na célula. Isso ocorre em músculos de todos os vertebrados, incluindo o homem, quando se exercitam demais. “Essa enzima é importante nos peixes porque é responsável pela capacidade natatória do músculo branco e pela sobrevivência dos peixes que habitam locais com pouco oxigênio, como o ambiente tropical quente e com muitas oscilações do oxigênio dissolvido na água”, esclareceu.

Para conquistar os ambientes mais frios, da região temperada e polar, a enzima teve que ser ativada com menos energia e ter mais flexibilidade. Vera Val mostrou que tais mudanças ocorreram durante os milhões de anos de evolução dos peixes, graças a mutações e seleção natural positiva, que proporcionaram à enzima tais propriedades. Os peixes puderam, então, habitar todos os ambientes aquáticos, conseguindo se estabelecer em ambientes quentes, frios e congelantes no globo terrestre.

Por fim, mostrou que alguns peixes tropicais, em particular da Amazônia, também possuem enzimas modificadas por seleção positiva, restando saber no que essas mudanças ajudam esses peixes a habitar esses ambientes muito variáveis.

Clima tem enorme importância para a biodiversidade

O clima da região é um dos responsáveis pela diversidade do bioma Amazônico, segundo Alexandre Aleixo, pesquisador titular e curador da coleção ornitológica do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). “A Amazônia se tornou o que é hoje, em parte, porque o regime de chuvas fez com que o Leste ficasse mais úmido. Então, ao longo do tempo, a floresta virou uma espécie de sanfona”, explicou Aleixo.

Ele estuda a distribuição de espécies de aves amazônicas e relata que os rios são como refúgios para as espécies endêmicas. Segundo o Aleixo, a construção de hidrelétricas em Jirau, Belo Monte e São Luiz perturbou os ecossistemas dos rios Madeira e Tapajós, tendo efeito nefasto sobre conservação da biodiversidade local.

O professor emérito da Universidade de Paris Descartes, Jean-François Bach, trouxe sua pesquisa sobre a derivação genética em mamíferos, mostrando seus experimentos com ratos. Ele explicou que a evolução da estrutura genética de qualquer população é inevitável. Com a sucessão de gerações, há uma tendência da natureza para a evolução, mesmo na ausência de forças seletivas. “As mutações espontâneas desaparecem ou se tornam permanentes em determinadas populações, de forma aleatória”, observou Bach.

Pré-colombianos e o uso sustentável da biodiversidade

Encerrando as apresentações, o professor de ecologia na Universidade de Montpellier, Doyle McKey, abordou o impacto que os povos pré-colombianos causaram na Amazônia. Sua pesquisa mostrou que estas populações eram mais numerosas do que se supunha e que alteraram substanciamente a paisagem da floresta e da savana. Mas observou que podemos aprender com eles sobre o uso sustentável da biodiversidade e dos ecossistemas.

McKey mostrou imagens identificadas como marcas dos povos pré-colombianos nas savanas e em áreas recém desmatadas de florestas que indicam o uso da terra para plantação em períodos não inundados, o que possibilitou um legado ecológico. Mesmo em solos inférteis das Guianas há registro de antigas plantações. “O longo período de ocupação pré-colombiana transformou os solos, aumentando a fertilidade e a capacidade de reter nutrientes. É a chamada ’terra preta de índios’, que foi enriquecida por resíduos orgânicos, como carvão vegetal e fragmentos cerâmicos, e continua fértil 500 anos após ser abandonada”, ressaltou McKey.

Por outro lado, o legado da engenharia dos solos nem sempre é positiva. O palestrante mostrou áreas plantadas pelos povos pré-colombianos e que foram depois colonizadas por formigas, que compactaram o solo, construindo formigueiros resistentes à erosão. “Elas trazem subsolo rico em barro para a superfície”, explicou McKey. E concluiu dizendo que muitas plantas foram domesticadas na Amazônia, como o abacaxi e a pimenta vermelha, através do uso de combinações de plantações que se protegem mutuamente.

Assim, as mudanças causadas pelo homem no ambiente foram demonstradas de diversos pontos de vista e em variados aspectos nesta sessão do evento.

Impactos do uso da terra, mudanças globais e globalização sobre a biodiversidade

 

Jansen Zuanon, Yvon le Maho, Ima Vieira, Patrick Lavelle e Kelly Swing

A quarta sessão do Simpósio Brasil-França sobre Biodiversidade, realizado na Universidade Federal do Amazonas, em Manaus, de 5 a 8 de junho, envolveu pesquisadores do Inpa, Museu Goeldi, Universidade de São Francisco do Quito (Equador), Universidade de Strasbourg e Universidade Pierre e Marie Curie (ambas na França).

Megabiodiversidade: benção e desafio

O pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Jansen Zuanon abordou o tema da sessão pela perspectiva da mais rica fauna de peixes do mundo.

A região amazônica conta com vários tipos de ambientes aquáticos: água negra, água branca, água clara, várzea etc., o que contribui para a megabiodiversidade. “É uma benção e um desafio: temos lacunas de amostragem, impedimentos taxonômicos e ameaças à biodiversidade aquática”, pontuou o palestrante.

Muitas espécies de peixes estão ameaçadas em todo o país, a maior parte por conta de desmatamento e construção de barragens. Outra ameaça, proporcionalmente bem menor, é causada por excesso de pesca.

Os efeitos sobre a biodiversidade incluem perda de espécies, mudanças na composição das espécies e não são apenas locais: podem ser continentais. “Para piorar, a legislação ambiental não é adequadamente focada na conservação”, avaliou Zuanon.

Quando se olha para os efeitos sinergéticos com as mudanças climáticas, a situação piora ainda mais, de acordo com o pesquisador. “Mas, infelizmente, não temos séries históricas para medir com precisão estes efeitos”, disse Zuanon.

Amazônia em transição

A bióloga Ima Vieira, pesquisadora titular do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG), em Belém do Pará, participa de inúmeras redes temáticas de pesquisa que envolvem estudos ecológicos sobre a Amazônia de inúmeras comissões científicas e de políticas públicas para a região.

Em sua palestra no evento, Ima apontou que o desmatamento e a degradação da floresta são atualmente muito intensas. “O leste da Amazônia não tem mais floresta contínua, tornou-se um mosaico, formado pelos distúrbios na paisagem”, ressaltou.

Suas pesquisas mostram que não há consenso sobre os impactos do uso da terara amazônica. Alguns estudos indicam uma perda marcante de espécies, mas outros não fazem diferença entre as espécies primárias e as secundárias, que crescem depois da devastação. “Mas é claro que a perda de 30% da floresta primária no Pará é devida à manufatura de óleo de palma”, disse Ima.

O Código Florestal vigente, segundo a pesquisadora, não está conservando a biodiversidade na mesma porcentagem da cobertura florestal preservada. Ima alerta para a previsão para 2050: “Mais de 3 milhões de km2 de floresta terão sido perdidos. Teremos meia Amazônia, nesse ritmo.”

Para mudar este cenário, seriam necessárias diversas ações políticas. “A intensificação de atividades rurais deveria ser rigidamente controlada e as medidas políticas deveriam reduzir tanto a perda de habitats quanto a degradação ambiental”, concluiu a cientista.

Pensamento globalizado em relação aos recursos naturais

O ecólogo Kelly Swing é professor titular na Universidad San Francisco de Quito (USFQ), no Equador. Seus interesses de pesquisa envolvem a conservação da biodiversidade e a educação científica voltada para este fim. Atuou como consultor em muitos documentários transmitidos pela BBC Nature, Animal Planet, National Geographic Channel, entre outros.
Na visão de Swing, a ocupação humana no planeta criou um ciclo vicioso. “Usamos os recursos naturais, a população cresce, então precisamos de mais recursos naturais e a população cresce mais ainda, e assim por diante”, observou. Este moto contínuo ameaça a vida na Terra. “A evolução não tem como prever o futuro”, alertou o cientista.

Há grande diferença entre obter o que é necessário para viver e obter aquilo que se deseja. E os humanos que podem se dar ao luxo de desejar não pensam nos outros, que estão no nível da sobrevivência. “A humanidade precisa evoluir deste estágio de exclusão competitiva para um nível de convivência colaborativa”, afirmou.

Os pontos chave, para Swing, envolvem a tomada consciente de decisões, baseada em informação de qualidade. “Isto tem que estar associado a campanhas educacionais para funcionar”, observou. Mas não foi muito otimista. “Esta postura mais evoluída diante da vida tem adversários fortes, como a corrupção e os interesses pessoais”, lamentou o cientista.

Oceano: ambiente rico e heterogêneo

O ecofisiologista francês da Universidade de Strasbourg Yvon Le Maho abordou a heterogeneidade dos ambientes oceânicos, em termos de temperatura, biodiversidade, nutrientes, luminosidade e outros aspectos, e a relação das tartarugas marinhas com estas variações.

“Como as tartarugas se movimentam para reproduzir e se alimentarem, diante desta variabilidade ambiental? Isto é uma das coisas que nós pesquisamos”, explicou Le Maho. Assim, eles acompanham os movimentos de tipos diferentes de tartarugas, que se comportam também de maneiras diferentes. “As tartarugas da Guiana Francesa e do Brasil, por exemplo, passam muito tempo em outros lugares”, observou o pesquisador, destacando que as temperaturas são cruciais para isso.

Seu grupo de pesquisa utiliza novas técnicas que permitem estimativas mais precisas para estes estudos. “Isso é essencial para o planejamento estratégico de conservação das espécies”, pontuou.

Envolvimento das comunidades é básico para conservação

O biólogo Patrik Lavelle é professor emérito da Université Pierre et Marie Curie (Paris 6). Suas principais áreas de pesquisa são a ecologia do solo e restauração de paisagens ecoeficientes em áreas tropicais. Em 2017, ele ganhou o Grande Prêmio da Sociedade Francesa de Ecologia.

O cientista avaliou que já sabemos que o planeta está piorando, em termos de habitabilidade, e que a única coisa que está melhorando é a capacidade dos cientistas de mensurar essas ameaças e seus possíveis resultados. “Mas temos que focar em outra mensagem”, alertou.

Lavelle estuda o que acontece com as áreas de floresta depois do desmatamento. Seu projeto, AMAZ, usa uma abordagem metodológica transdisciplinar que elabora diagnósticos conjuntos de aspectos sociais, econômicos e ambientais. “Para conservar a biodiversidade e garantir a sustentabilidade do sistema é preciso trabalhar em todos estes níveis”, ressaltou.
Ele busca formas diferentes de atingir e envolver as comunidades amazônicas, usando a música e palestras interativas para divulgação da causa amazônica.

Muitas espécies são prejudicadas pelas mudanças no uso da terra. “Cada grupo taxonômico reage de forma diferente. Mas o prejuízo é geral, pois mais de 30% da cobertura de floresta já foram afetados”, afirmou Lavelle.

Biotecnologia baseada na biodiversidade

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Jorge Alberto Jr., Fabiana Munhoz, Roberto Silveira e Gerson Pinto

No segundo dia do Simpósio Brasil-França sobre Biodiversidade, quatro empresas que desenvolvem biotecnologia baseada na biodiversidade apresentaram seus métodos de produção sustentável.

L’Oréal: mais da metade dos de ingredientes dos cosméticos vêm de plantas

A chefe de Pesquisas Avançadas da L’Oréal Fabiana Munhoz destacou, primeiramente, que a perda de biodiversidade é um problema atual e que merece atenção e que, além disso, é também uma questão social, visto que os países e/ou populações mais pobres estão mais vulneráveis a esse problema. Por essa razão, garantir uma fonte sustentável de biodiversidade é, também, garantir a inclusão social e empoderamento econômico de determinados grupos, além de contribuir para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

Formada em física, Munhoz descreveu o processo de desenvolvimento de um novo produto: conhecimento científico; desenvolvimento de protótipos; pré-desenvolvimento do produto; e desenvolvimento do produto final. Segundo ela, as primeiras duas etapas levam de dois a cinco anos e a terceira etapa, de um a dois anos. A fim de antecipar e controlar riscos, ela destacou que é preciso controlar a escassez do suprimento que se tem como base do produto, ter atenção à reputação da empresa e estar sempre em conformidade com a lei.

Munhoz comentou que, segundo dados de 2017, a L’Oréal tem 54% do seu volume total de ingredientes vindos de plantas e destacou que a empresa está focada em aumentar o percentual de biodegradabilidade de seus materiais e diminuir a quantidade de água consumida durante os processos que realiza.

Como estudos de caso, Fabiana mostrou o trabalho que a empresa realiza com casca de quinoa, na Bolívia, e com o óleo de babaçu, no Brasil. Por fim, ela ressaltou que, quando se está trabalhando com biodiversidade, o conhecimento popular sobre determinada matéria-prima pode ser bastante útil e é muito importante que se respeite os conhecimentos tradicionais da população local.

Centroflora: produtos da biodiversidade brasileira para diversos setores da indústria

Em seguida, o chefe de Tecnologia da Centroflora, Gerson Valença Pinto, apresentou a empresa, produtora de extratos botânicos, sucos e polpas desidratadas, bem como de óleos essenciais e ativos isolados. A produção é destinada a vários segmentos industriais: farmacêutico, veterinário, de nutrição e de cuidados pessoais. Nos seus 60 anos de história, a Centroflora buscou integrar as comunidades, a natureza, os processos e, principalmente, as pessoas.

Com larga experiência em pesquisa e desenvolvimento adquiridos na Unilever, Johnson & Johnson, PepsiCo e Natura, onde trabalhou anteriormente, Gerson Pinto apresentou o Projeto MPH – Molecular Powerhouse. “O MPH é uma plataforma para descobrimento, mapeamento e otimização de produtos naturais da biodiversidade brasileira com aplicação a novos medicamentos, a plantas e ervas medicinais, a cosméticos e a comidas funcionais”, explicou, destacando que o projeto é fruto de parceria entre a Centroflora, o Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) e a empresa Phytobios.

Segundo o palestrante, o perfil da descoberta de novas drogas tem mudado. Além do fechamento de diversas instalações da grande indústria farmacêutica voltadas à pesquisa e ao desenvolvimento na Europa e nos Estados Unidos, a terceirização da descoberta de novos medicamentos é uma nova moda. Dentro desse contexto, a biodiversidade do Brasil é muito atraente.

Gerson observou que o Brasil é campeão de importação de medicamentos e insumos da farmacologia e precisa melhorar o perfil de desenvolvedor e produtor de químicos farmacêuticos e extratos botânicos. Segundo ele, o país tem, além da vasta biodiversidade, infraestrutura humana e laboratorial suficientes para tal. Para ele, a chave para o sucesso do país nesta área está na cooperação internacional e nas parcerias público-privadas.

Bombons Finos da Amazônia: incentivando o extrativismo consciente

A terceira apresentação foi da empresa Bombons Finos da Amazônia. O diretor Jorge Alberto Jr., engenheiro de produção, apresentou a trajetória da companhia. “Além dos bombons, produzimos também barras de chocolate, geleias e artesanato. Nossa proposta é apresentar os sabores da Amazônia ao mundo com versatilidade e comprometimento socioambiental”, ressaltou.

A empresa, fundada em 1998, começou com um investimento inicial de R$ 300, produzindo apenas 200 unidades por dia, numa área de 16m² e com dois funcionários. Hoje, instalada numa área de 1110m², produz 30 mil unidades por dia, gerando 51 empregos diretos e 200 indiretos.

Jorge Alberto Jr., Fabiana Munhoz, Roberto Silveira e Gerson Pinto

A partir de 2012, a companhia começou a desenvolver projetos sustentáveis, como a produção de embalagens de artesanato a partir de resíduos e subprodutos da floresta amazônica. São exemplos de matérias-primas a casca de cupuaçu, casca de castanha-do-pará, casca de coco e molongó, um tipo de árvore da região. Para isso, a empresa investe no mapeamento e catalogação de produtos, no registro de artesãos, associações e cooperativas que possam produzir e no treinamento dos mesmos. Dessa forma, a empresa acredita incentivar o extrativismo consciente, a conservação da floresta e a valorização e disseminação da marca “Amazônia”.

 

Fazenda São Nicolau: sequestro de carbono e refúgio para espécies ameaçadas

Por fim, o coordenador científico da Fazenda São Nicolau, Roberto Silveira, falou sobre a propriedade rural, localizada no noroeste do Mato Grosso, que é resultado de uma parceria público-privada entre a Peugeot e a ONF-Brasil (Escritório Nacional de Florestas, na sigla em francês). A Fazenda São Nicolau é a matriz do projeto de sequestro de carbono da Peugeot-ONF.

Em 1998, a Peugeot pediu ao ONF o reflorestamento de aproximadamente 2 mil hectares de espécies nativas. O reflorestamento ocorreu entre 1999 e 2004 e, desde 2001, o projeto tem como principal objetivo monitorar o sequestro de carbono até 2038 e testar o conceito. O projeto conta com especialistas brasileiros e franceses de diversos institutos e universidades. Além disso, a propriedade da Fazenda está aberta a outros pesquisadores que queiram conduzir pesquisas no local.

Os números são impressionantes. São mais de 2,5 milhões de árvores plantadas. Desde 1999, a Fazenda São Nicolau já recuperou mais de um milhão de toneladas de CO2 em 1.974 hectares de área reflorestada, além de preservar 1.815 hectares de floresta amazônica nativa desde 2010. Além disso, parcerias com pesquisadores geraram mais de 40 artigos científicos e quatro livros, com outros três ainda em andamento.
A Fazenda compreende, aproximadamente, 75% da biodiversidade de todo o noroeste do estado de Mato Grosso. Lá, foram descritas 23 novas espécies de besouros, uma nova espécie de peixe e há uma possível nova espécie de pássaro sob estudos.

Devido ao alto grau de conservação, o local também funciona como refúgio para espécies em extinção, já que a Fazenda está em meio à uma área de intenso desmatamento. Por essa razão, o projeto preocupa-se em informar aos habitantes locais sobre a importância da conservação. O projeto está previsto para continuar até 2038.

Biodiversidade e a saúde no ambiente urbano

 

Kleber del Claro, Fabricio Santos, Vera Gaiesky, Benoit de Thoisy e Cintia Cornelius

O terceiro dia do Simpósio Brasil-França sobre Biodiversidade, realizado em Manaus (AM) de 5 a 8 de junho pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Academia de Ciências da França, contou com apresentações dos palestrantes Fabricio Rodrigues dos Santos (UFMG), Benoit de Thoisy (Instituto Pasteur da Guiana Francesa), Cintia Cornelius (Ufam), Vera Lúcia Gaiesky (UFRGS) e Kleber Del Claro (UFU).

Foco nos ecossistemas costeiros

O professor titular e pesquisador em genética e evolução na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Fabrício Rodrigues dos Santos, afirmou que em termos de biodiversidade, a América do Sul apresenta diversos ambientes peculiares. Um deles é a costa das Guianas, que sofre influência direta da barreira formada pela foz do Rio Amazonas no oeste do Oceano Atlântico.

Nesse ambiente, podemos encontrar uma população singular de peixes-boi, a qual contêm híbridos entre as espécies Trichechus manatus, cujo habitat é o mar, e T. inunguis, de água doce. “Essa população de híbridos é extensa, vai desde a foz do Amazonas até a Guiana Inglesa. Hoje em dia ainda não se tem uma regra específica para a proteção desses animais, embora sejam fruto de reprodução natural. Devemos pensar em maneiras de preservá-los”, alertou o pesquisador.

Em sua visão, ecossistemas costeiros deveriam representar uma prioridade de conservação, em face da crescente urbanização e de atividades de prospecção de petróleo.

Planejamento urbano para integrar aspectos sociais, econômicos e ecológicos

A seguir, o pesquisador do Laboratório de Interações de Vírus Anfitrião do Instituto Pasteur da Guiana Francesa, Benoit de Thoisy, levantou questões sobre a perda da biodiversidade em áreas urbanas e as consequências que isso traz para a população e para a natureza.

“A alta biodiversidade da Guiana Francesa também pode ser observada em suas cidades, que concentram uma fauna diversa, incluindo espécies novas para a ciência”, disse o palestrante. Apesar de incipiente, a urbanização do país é concentrada na costa, que já apresenta problemas como surtos de doenças tropicais e conflitos por posse de terras.

A apresentação de Benoit indicou que a a chave para combinar desenvolvimento social, econômico e ecológico e o planejamento urbano.

Áreas verdes nas cidades são fundamentais

A professora do departamento de Biologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Cíntia Cornelius mostrou dados de sua pesquisa que indicam que a modificação de habitats é a principal causadora de perda de biodiversidade em grandes cidades.

“Áreas verdes proporcionam benefícios relacionados à regulação de temperatura e ruído, possuindo valor turístico e educacional”, destacou a pesquisadora.

A cidade de Manaus, no estado do Amazonas, é a maior cidade em meio à Amazônia, e diversos estudos têm se dedicado a estudar as respostas da fauna à fragmentação das florestas tropicais. Uma linha de pesquisa promissora, de acordo com Cintia, é o estudo das pressões seletivas e das possíveis respostas adaptativas da fauna à fragmentação.

Insetos como bioindicadores

A professora titular da Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Acadêmica Vera Lúcia Gaiesky abordou a importância da conservação dos insetos. Ela explicou que elementos da fauna podem atuar como indicadores da integridade ambiental dos ambientes urbanos.

Gaiesky mostrou estudos com a família Drosophilidae que têm sugerido que moscas do gênero Drosophila podem atuar como bioindicadoras de poluição do ar em Porto Alegre, no sul do Brasil. Futuramente, moscas de Drosophilidae podem vir a ser utilizadas como bioindicadoras em diversas regiões, tais como a Amazônia.

Efeitos da urbanização sobre o bioma Cerrado

Por fim, o professor titular da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Kleber Del Claro, apresentou sua pesquisa sobre as mudanças climáticas e suas consequências para as interações bióticas na savana brasileira.
O Cerrado é um bioma de elevada biodiversidade crescentemente ameaçado pelas atividades humanas. Embora a vegetação do Cerrado esteja sempre próxima das cidades, de acordo com Kleber, há poucos estudos sobre ecologia urbana no bioma.

“Recentemente, foi observado que parâmetros climáticos afetam o resultado de interações entre formigas, plantas e herbívoros e, possivelmente, serviços que a biodiversidade presta para as cidades”, explicou o cientista.
Os estudos em ecologia urbana, de acordo com o palestrante, possuem alto potencial para entendimento do efeito da urbanização sobre a biodiversidade do Cerrado

Impactos da biodiversidade na saúde humana

 

Marcus Lacerda, Yvon Le Maho, Jean Luc Imler, Daniele Medeiros e João Batista Calixto

No dia 7 de junho, a sessão sobre saúde humana do Simpósio Brasil-França sobre Biodiversidade, realizado em Manaus pela ABC em parceria com a Academia de Ciências da França, reuniu especialistas com diferentes abordagens do tema.

Avanço no conhecimento requer parcerias diversificadas

O médico Marcus Vinicius Lacerda, que coordena o Centro Internacional de Pesquisa Clínica em Malária em Manaus desde 2007 e atua como diretor de Ensino e Pesquisa da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD, falou sobre doenças tropicais. Segundo ele, diversas destas doenças apresentam relevância na região amazônica. Entre elas, se destacam malária, febre amarela, leishmaniose, dengue, zika, chikungunya e doença de Chagas.
Ele falou sobre a pesquisa sobre malária, que tem uma rede de colaboração em pesquisa centrada no sudeste do país, embora a maior parte dos casos esteja concentrada ao norte. “O número de casos no Brasil vem caindo. Mas não na Amazônia”, apontou Lacerda.

Ampliar o financiamento de pesquisa para que se desenvolva realmente uma ciência da erradicação da doença é fundamental, na visão do cientista. “São poucas as drogas conhecidas que combatem a malária. A vacina tem pouca eficácia e há uma grande descrença da população em relação às possibilidades de erradicação efetiva da doença”, observou o palestrante.

Lacerda ressaltou a importância de fomentar a diversificação das parcerias em pesquisa para avançar no conhecimento sobre a doenças tropicais. Ele integra o Expert Scientific Advisory Committee (ESAC) do Medicines for Malaria Venture (MMV) e da World Wide Antimalarial Resistance Network (WWARN).

Legislação brasileira impede a pesquisa da biodiversidade amazônica

O vice-presidente da ABC para a Região Sul, João Batista Calixto , dirige o Centro de Inovação e Ensaios Pré-Clínicos (CIEnP) em Santa Catarina. Suas principais áreas de atuação são etnofarmacologia, farmacologia autonômica e farmacologia bioquímica e molecular.

Em sua palestra, Calixto explicou que grande parte dos medicamentos é derivada de micro-organismos, plantas e animais. “Uma vez que a biodiversidade do Brasil é gigante, há grande potencial para o desenvolvimento de medicamentos a partir de produtos naturais”, apontou o Acadêmico.

Ele esclareceu que os produtos naturais são usados como fontes de agentes terapêuticos diretos, como drogas puras e como fitoterápicos. “Estes produtos servem também como matéria-prima para a elaboração de drogas semissintéticas”, disse Calixto, destacando que as plantas podem ser utilizadas como marcadores taxonômicos para a descoberta de novas drogas. “Hoje, 60 a 80% das drogas antibacterianas e anticâncer são derivadas de produtos naturais”, destacou.

No entanto, o Brasil não possui um programa robusto para explorar sua biodiversidade e gerar conhecimento científico de alto nível. E há dificuldades grandes para desenvolver pesquisas na área. Primeiro, porque não há uma legislação específica para controlar e facilitar o acesso às fontes biológicas em seus habitats naturais. Depois, porque é realmente difícil isolar, purificar e caracterizar quimicamente os compostos ativos, sendo este processo muito mais demorado do que o desenvolvimento de drogas sintéticas.

Ele citou diversos exemplos de parcerias com empresas no desenvolvimento de produtos cosméticos e fitoterápicos a partir do abacate, do babaçu, do cacau, do coco, do murumuru, do buriti, do açaí, do cajá e outros frutos.

“É importante que a legislação brasileira, em especial aquela que rege o acesso a biodiversidade, deixe de impor entraves burocráticos à pesquisa que visa o desenvolvimento de medicamentos a partir de produtos naturais”, defendeu Calixto.
Ele reforçou, por fim, a necessidade de um projeto estratégico de longo prazo do Governo Federal que ofereça condições adequadas para os pesquisadores terem acesso ao conhecimento genético para propósitos científicos e para inovação tecnológica, com facilidades para a geração de patentes.

Novos arbovírus introduzidos no país impactam a saúde pública

A pesquisadora em saúde pública do Instituto Evandro Chagas, em Belém do Pará Daniele Barbosa Medeiros é membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (2018-2022).

Ela explicou que as arboviroses apresentam forte impacto na saúde pública brasileira. “Surtos recentes de chikungunya, zika, e febre amarela são exemplos disso, e novas introduções de doenças podem acontecer”, alertou.

Além de enfoques de cunho médico, abordagens ambientais são essenciais para o entendimento dos ciclos de transmissão e de estratégias de mitigação dos impactos de arboviroses. “Para melhor compreender o comportamento destas doenças, é importante prestar atenção à Amazônia”, observou, destacando que antes do surto de febre amarela de 2016 o último caso registrado da doença no país havia ocorrido em 1942. “E o surto ocorreu muito mais amplamente na região amazônica, porque o vírus se adaptou muito bem ao ecossistema”, alertou a pesquisadora, apontando que isso pode acontecer com outros arbovírus mais à frente.

Drástica redução na população de pinguis-rei

O ecofisiologista francês Yvon Le Maho é diretor emérito de Pesquisa da Universidade de Strasbourg. Seu trabalho trata da adaptação de vertebrados marinhos às mudanças ambientais, com foco nos impactos do aquecimento global na população de pinguins-rei.

A biodiversidade é uma valiosa e ainda pouco explorada fonte de informação biomédica. Estudos envolvendo animais como ursos e pinguins-rei com o uso de robôs têm servido como exemplos de como podemos aprender a partir da fisiologia de organismos de vida livre.

Seus resultados de pesquisa indicam uma queda de 40% nos nascimentos destes pinguins nos últimos dez anos. Além disso, houve uma queda de 16% na sobrevivência de animais adultos e de 50% nos filhotes até três anos.
Yvon Le Maho, que é membro da Academia de Ciências da França, na seção de biologia integrativa, defendeu que a fisiologia de animais constitui uma promissora fonte de informação biomédica a ser explorada.

Manipulação genética de mosquitos podem impedir novas epidemias

O engenheiro Jean Luc Imler é diretor do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) da Universidade de Strasbourg, na França. Desenvolve colaboração com pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) sobre a interação entre mosquitos e os vírus que transmitem doenças aos seres humanos, como a dengue e chikungunya.
Ele relatou que a pesquisa sobre o controle genético de infecções virais tem avançado muito nos últimos anos, em virtude do uso de moscas do gênero Drosophila como modelos de estudo.

A informação sobre biodiversidade de vírus, segundo Imler, pode ajudar a entender a dinâmica da competência dos vetores, a descobrir ferramentas virais para manipular mosquitos e assim prevenir epidemias de novos vírus.
“A biodiversidade representa uma fonte promissora de moléculas que exercem papeis-chave na resistência e resposta imune ao mais diversos tipos de infecções”, concluiu o palestrante.

Cooperação científica para a biodiversidade

Hernán Chaimovich, Marcelo Morales, Eric Karsenti (moderador), Marco Erlich, Olivier Fudym e Sandoval Carneiro

Representantes de diversas instituições discutiram o tema no último dia do Simpósio Brasil-França sobre Biodiversidade, em manaus, no Amazonas.

O CNPq e a biodiversidade

A primeira apresentação coube a Marcelo Marcos Morales, doutor em biofísica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor de Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Morales apresentou um breve histórico da criação da instituição, fundada em 1951, após proposta do engenheiro Almirante Álvaro Alberto da Motta e Silva , então presidente da ABC.

Sob a prerrogativa de que a ciência e a inovação são as estruturas do desenvolvimento nacional, Morales apresentou os numerosos programas e ações que a instituição tem com a finalidade de preservar a biodiversidade, além de citar parcerias com instituições francesas, como o Instituto Francês de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD, na sigla em francês) e o Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS, na sigla em francês), com quem já trabalharam em dezenas de ocasiões. Entre 2006 e 2015, o CNPq concedeu 218 milhões de reais para a biodiversidade. Esse dinheiro foi colocado em projetos para conservação de solos, conservação de biomas e pesquisas com fitoterápicos, por exemplo.

Por fim, ele destacou o projeto de implementação do Centro Nacional de Sínteses em Biodiversidade e Ecossistemas, que contará com a cooperação de outras agências de fomento brasileiras e também de pesquisadores internacionais.

O Instituto Tecnológico Vale: pesquisa, educação e empreendedorismo

O Acadêmico Sandoval Carneiro, doutor em engenharia elétrica e diretor de Tecnologia de Inovação da empresa Vale, apresentou o Instituto de Tecnologia da Vale (ITV), que conta com duas sedes: uma de desenvolvimento sustentável em Belém, no Pará, e outra de mineração em Ouro Preto, em Minas Gerais. As atividades do ITV, instituído em 2009, concentram-se na pesquisa, educação e no empreendedorismo.
O ITV de Belém conta com diversos projetos voltados para a biodiversidade da fauna e da flora da Serra dos Carajás. Um deles, que reúne 90 especialistas de 30 instituições, diz respeito à flora de cangas da região. Além deste, a instituto também realizar pesquisas nas cavernas da região, identificando plantas e mensurando a riqueza de espécies animais presentes nesses ecossistemas.

Em seguida, Sandoval comentou sobre parcerias com outras instituições na concessão de bolsas de pesquisa e em programas de pós-graduação. Em números, a Vale já contribuiu, por exemplo, com 1,5 milhão de reais em bolsas para professores visitantes ou pesquisadores no Brasil e no exterior, em parceria com CNPq. Já em parceria com a Capes, o ITV ajuda no financiamento de bolsas de mestrado e doutorado.

“Cooperação é sobrevivência”

Dando continuidade à sessão, Marco Ehrlich, subdiretor Científico e Tecnológico do Instituto Amazônico de Investigações Científicas SINCHI, na Colômbia, destacou a extensão do bioma amazônico, que é quase 10 vezes maior que o território da França e possui mais de 60% de sua área em território brasileiro.

O pesquisador mencionou o desafio de conservar tamanha riqueza na parcela colombiana da Amazônia. Segundo ele, a taxa de desmatamento é maior que 30%. O cultivo de coca pelos cartéis colombianos também toma mais de 40% da região, além de outras mazelas, como o roubo de terras, o aumento da desnutrição em algumas populações indígenas e ocorrência do menor IDH do país.

O SINCHI é uma entidade pública fundada em 1993, ligada ao Ministério do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável da Colômbia, com autonomia financeira e administrativa e com a finalidade de promover apoio científico na implantação de políticas públicas. O instituto atua através de seis programas: Ecossistemas e Recursos Naturais, Sustentabilidade e Intervenção, Modelos de Funcionamento, Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Colombiana, Gestão Compartilhada e Fortalecimento Institucional.

Ehrlich destacou a importância da união com parceiros locais, regionais e internacionais, além da comunidade. “Informação é poder. Os pesquisadores precisam aprender a usar isso para conservar a Amazônia e desenvolver respostas sustentáveis às mais variadas questões”, concluiu, destacando que cooperação é questão de sobrevivência.

Organização e disponibilização dos dados para estudos de biodiversidade

Olivier Fudym, diretor da filial brasileira do Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS-Rio, na sigla em francês), falou em seguida e focou sua apresentação nos inúmeros projetos que a entidade realiza em parceria com outras instituições. Um exemplo é o projeto LIA MARRIO, que estuda a biodiversidade de esponjas existente entre a Martinica, um território insular francês, e o Rio de Janeiro. Outro ótimo exemplo é o LIA PALMHEAT, um projeto voltado para garantir a segurança alimentar em meio às mudanças climáticas, através da identificação de novos recursos genéticos e mecanismos moleculares que resistam ao estresse de temperatura.

Por fim, mencionou o desejo de criar o Centro de Síntese para a Biodiversidade, com o objetivo de reunir e combinar a numerosa quantidade de dados que a biodiversidade gera. “Isso facilitaria novas análises e traria uma nova abordagem às pesquisas em biodiversidade com o melhor uso das informações e conhecimentos disponíveis”, ressaltou Fudym.

Fapesp: ciência básica de qualidade para aplicações consistentes e adequadas

Para finalizar a sessão, foi a vez do Acadêmico Hernan Chaimovich falar sobre o tema. Ele é doutor em bioquímica e atualmente atua na Coordenação Adjunta de Programas Especiais e Colaborações em Pesquisas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Após breve histórico da instituição, Chaimovich destacou que, mundialmente, as pessoas enxergam a ciência como útil apenas quando ela torna os negócios mais competitivos, cura os doentes ou faz os pobres melhorarem de vida. Porém, para a Fapesp, a ciência que faz a humanidade mais sábia deve ser valorizada também. “Os impactos intelectuais são tão importantes quanto os impactos econômicos e sociais”, defendeu o Acadêmico.

Para tornar isto realidade, a Fapesp atua em parcerias internacionais através do financiamento conjunto com agências de fomento à pesquisa, universidades e companhia privadas. Essas parcerias ocorrem principalmente em três temas: bioenergia, mudanças climáticas e biodiversidade.

Falando da cooperação entre Brasil e França, ainda que o maior número de parcerias aconteça na área de computação, Chaimovich comentou que, nos 10 anos de parceria, cerca de 11,5 milhões já foram alocados em projetos.

Finalizando, o pesquisador apresentou o Instituto Virtual de Biodiversidade, uma rede de mais de 200 cientistas que identifica e caracteriza a biodiversidade do estado de São Paulo e define mecanismos para sua conservação e uso sustentável.

Acadêmico participa de seminário no Palácio Itamaraty

No dia 19 de junho, terça-feira, o Acadêmico Evaldo Vilela representou a ABC no Seminário “Diálogo com Grupos de Engajamento do G20”. O evento ocorreu na Sala San Tiago Dantas do Palácio Itamaraty, em Brasília, Distrito Federal.

O seminário teve como objetivo promover o diálogo entre o Governo Brasileiro e representantes da sociedade civil que participam nos sete grupos de engajamento do G20.

O Presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), Evaldo Vilela, participou da Sessão “Academia de Ciências”, na qual falou por 25 minutos sobre as atividades da ABC no tema do S20 “Segurança Alimentar e Nutricional”, abrindo espaço para apresentar a obra “Challenges and Opportunities for Food and Nutrition Security in the Americas: The View of the Academies of Science“, lançada no mês passado.

Ele também deu um panorama geral sobre o trabalho da Academia em prol da ciência brasileira e internacional, além de apresentar alguns avanços científicos benéficos ao país.  Além disso, comentou sobre “Um Projeto de Ciência para o Brasil”, preparado pela ABC para orientar decisões prioritárias da pesquisa nacional, e também sobre a Carta aos Presidenciáveis 2018, com propostas para os pré-candidatos à Presidência da República.

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