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LQES NEWS chega na sua 400° edição

O LQES NEWS é o boletim quinzenal do Laboratório de Química do Estado Sólido do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (IQ-Unicamp). Sem qualquer interrupção desde o ano 2000, o LQES NEWS chegou à sua 400° edição e abaixo você confere o texto que o Acadêmico Oswaldo Luiz Alves, fundador e coordenador do LQES, escreveu para marcar esta trajetória:

 

Chegamos à edição 400 ! A ficha ainda não caiu completamente ! Lá, já se vão, quase 18 anos! Muitas exclamações explícitas para dizer que valeu e, está valendo a pena, continuar e fazer avançar esta aventura.

A motivação inicial veio do fato de que era importante divulgar ciência, tecnologia e inovação no mais alto nível, trabalhando a linguagem de modo a construir um universo semântico que pudesse ser entendido e absorvido por uma audiência formada por alunos de graduação, pós-graduandos, pesquisadores, amantes da ciência e público em geral.

Os desafios neste sentido foram enormes passando desde o desafio das adequações linguísticas, do equilíbrio na edição de conteúdos, familiaridade com ferramentas computacionais muito novas, do ataque de hackers, até aquele que tira o sono de qualquer editor de um boletim quinzenal: não deixar perder a periodicidade.

Fomos aprendendo com o projeto em movimento, com as muitas críticas construtivas (algumas vezes ácidas) dos amigos e colegas. O projeto, assim, foi se conformando. En bref (como dizem os franceses): hoje o Boletim LQES NEWS têm mais de 7.000 aderentes e já ultrapassou um total de 6,5 milhões de acessos.

No caminho da edição 400 várias decisões importantes foram tomadas. A primeira, logo nos primeiros anos, foi eleger as nanotecnologias como um dos carros-chefes da linha editorial. Isto fez com que o acervo do Boletim se transformasse no mais importante repositório de informações sobre esta plataforma de conhecimento em nosso país, fazendo parte da bibliografia de teses, artigos acadêmicos ou não e documentos oficiais. O fato do Boletim ser indexado (ISBN) conferiu a ele tal situação.

A segunda decisão, esta mais recente, foi a introdução no Boletim de textos em inglês, com a rubrica “As Mined”. Não foi uma decisão fácil, mas acreditamos que estamos no caminho certo pois não só houve um aumento dos acessos, como também, comentários altamente positivos de nossos aderentes. O impacto interno desta decisão fez com que a função de Editor Científico agora se confunda com a função de Curador.

Abusando da paciência de nossos aderentes e leitores, vamos a alguns números gerais do Boletim: mais de 2600 notícias de CT&I; mais de 170 artigos de opinião; mais de 80 editoriais; mais de 40 entrevistas; mais de 100 artigos de divulgação, entre outros. Todo este material está depositado no site LQES podendo ser acessado gratuitamente.

Merece destaque o fato de que muitas notícias e temas veiculados no Boletim serviram para pautar matérias na grande imprensa, revistas, jornais e sites universitários, bem como enunciados de questões de exames nacionais de avaliação e de vestibulares de universidades brasileiras.

Neste momento, só nos resta agradecer a todos que direta ou indiretamente participaram ou estão participando desta jornada. Nossos agradecimentos especiais à nossa editora de conteúdo Maria Isolete Alves e ao nosso webmaster Paulo Amaral que navegam conosco desde o primeiro içar velas.

Vamos em frente rumo a edição 500. Não nos falta entusiasmo, paixão e, principalmente o generoso apoio daqueles que compartilham os portos, avenidas, bulevares e esquinas do Boletim e do site LQES.”

Declaração do IAP: “Chamada à ação para enfrentar o crescimento da demência”

A Parceria InterAcademias para Saúde (IAP for Health) está lançando hoje a “Chamada à ação para enfrentar a sobrecarga crescente da demência”, documento assinado por mais de 50 membros da parceria – academias de medicina e de ciências de todo o mundo.

O texto destaca o fato de que em todo o mundo a proporção da população com mais de 65 anos cresceu nas últimas décadas, e que essa tendência deve continuar. Como o envelhecimento é um fator de risco para a demência, o número de portadores da doença vai triplicar até 2050, especialmente entre a população de países mais pobres.

Diversas doenças do cérebro estão associadas à demência, com muitos pacientes demonstrando mudanças de comportamento compatíveis com Alzheimer – a forma mais comum de demência – ou doenças cerebrovasculares.  Mas enquanto vamos aprendendo mais sobre fatores de risco usualmente associados à demência, como o hábito de fumar e a diabetes, a doença continua em lenta progressão, sendo diagnosticada depois que o processo já está instalado há anos.

Além disso, embora a demência seja rara em pessoas com menos de 60 anos, este não é o caso quando há prevalência de HIV/AIDS, como na África sub-saariana e outras regiões com baixa renda. Entre os jovens aidéticos destas regiões pode haver um aumento desproporcional de demência nos anos vindouros.

A demência afeta mais as mulheres do que os homens, sendo que elas resistem mais tempo com a doença. E são as mulheres que formam o maior contingente de cuidadores informais de pessoas com demência.

Assim, a declaração do IAP para Saúde faz recomendações específicas para governos e provedores de saúde pública, incluindo:

  • Conscientizar o público sobre demência, como conservar a saúde do cérebro e sobre a importância de aceitar as pessoas com demência em sua condição, valorizando as habilidades remanescentes.
  • Apoiar a pesquisa para descobrir e implementar abordagens efetivas, tanto farmacológicas como não-farmacológicas, para adiar, prevenir, ralentar, tratar, melhorar e eventualmente curar as causas mais comuns de demência.
  • Investir em sistemas nacionais de saúde, incluindo o treinamento de cuidadores em número suficiente, assim como providenciando infraestrutura para garantir que tratamento competente e personalizado esteja disponível para os doentes e seus familiares ou responsáveis em todos os estágios da doença.

“Nossa Chamada à Ação pretende desenvolver uma abordagem científica para a demência, baseada em evidências e orientada para a saúde pública”, explicou Howard Chertkow, coordenador do grupo de trabalho do IAP para Saúde. “Cada país deve fazer sua própria avaliação sobre o potencial de cada população, em relação à prevenção da demência, seguida de identificação precoce e tratamento efetivo da doença.”

O co-coordenador do IAP para a Saúde Depei Liu, da Academia Chinesa de Engenharia, afirmou: “ O crescimento da demência está afetando todos os países. O apelo do IAP é no sentido de que todas as Academias que são membros da parceria e representam a comunidade médica global- especialmente nos países mais pobres – conduzam essa divulgação aos seus respectivos governantes e através de suas redes de contatos, de forma que as recomendações sejam implementadas.”

Também co-coordenador do IAP para Saúde, Detlev Ganten, da Academia Nacional Alemã de Ciências Leopoldina, acrescentou: “Como toda as declarações do IAP, esta sobre demência foi cuidadosamente revisada e é a melhor fonte de informação imparcial para formuladores de políticas públicas nos ministérios de Saúde e Bem-Estar Social, para agências de cuidados médicos e outras instituições relevantes, assim como para tomadores de decisão em nível internacional. A demência está crescendo, especialmente em países com sociedades envelhecidas, e é hora de agir.”

Saiba mais sobre o IAP para a Saúde

O IAP para a Saúdeé uma das redes fundadas pela parceria InterAcademias (IAP), sendo formada por 78 academias de medicina e de seções médicas de academias de ciências e de engenharia. Seu compromisso é pela melhoria da saúde em todo o globo, e seus compromissos envolvem o fortalecimento da capacidade das academias de oferecer aconselhamento científico para governos no âmbito das políticas de saúde e ciência; o apoio à criação de novas academias; o apoio à criação e desenvolvimento de projetos pelas academias membro para fortalecer a pesquisa e a educação superior em seus países; e a elaboração d edocumentos consensuais em temas de importância para a saúde global. A secretaria do IAP para Saúde é hospedada pela Academia Mundial de Ciências (TWAS), em Trieste, na Itália.

Por meio do IAP, as academias de medicina e os braços médicos das academias de ciências vem produzindo declarações desde 2002, quando foi elaborada a primeira declaração sobre doenças infecciosas, “Controlando Infecções no Século XXI”. Desde então, as declarações têm abordado tópicos como os benefícios para a saúde global da mitigação das mudanças climáticas, uma chamada à ação para fortalecer a capacidade de pesquisa em países de média e baixa renda, e outra chamada voltada para cuidados médicos relativos à perda auditiva, publicada em 2015. As declarações anteriores podem ser encontradas aqui.

Contatos:

Peter McGrath
Coordenador do IAP, Trieste, Itália
Email: mcgrath@twas.org, iamp@twas.org
Tel: +39 040 2240 571; +39 040 2240 681

Howard Chertkow
Professor de neurologia, Universidade McGill; diretor científico do Consórcio Canadense de Neurodegeneração no Envelhecimento (CCNA, na sigla em inglês), Hospital Geral Judeu, Instituto de Pesquisa Lady Davis
Email: howard.chertkow@mcgill.ca
Tel: +1 514 340 8222

Morre, aos 85, Ernst Hamburger, em São Paulo

Morreu nesta quarta-feira (4) o físico e professor da USP Ernst Wolfgang Hamburger, que lutava havia três anos contra um linfoma, tipo de câncer que atinge células do sistema imunológico.

Conhecido por seus trabalhos com física nuclear, que ajudaram a entender a organização dos núcleos dos átomos, Hamburger também teve atuação marcante na divulgação e na educação científica.

Um dos destaques de sua trajetória, lembra a filha Esther, foi seu trabalho como diretor da Estação Ciência, que funcionava na Lapa (zona oeste de São Paulo). Dentro do projeto Clicar, foram alfabetizados meninos de rua que se mostravam fascinados pelo computador. Alguns se tornaram monitores da iniciativa.

Nascido em 8 de junho de 1933 em Berlim, Ernst Hamburger veio aos 3 anos com os pais para o Brasil. O pai era um magistrado foi demitido por ser judeu. Depois da guerra, chegou ao posto de desembargador. A família, de origem judia, é fundadora da Congregação Israelita Paulista.

Hamburger cresceu entre as ruas Haddock Lobo e Groenlândia, nos Jardins. Aprendeu português com os amigos na rua e estudou na Escola Estadual Presidente Roosevelt.

Ele decidiu cursar física na USP e recebeu o diploma em 1954, mesmo ano e turma na qual se formou sua futura esposa, Amélia Império Hamburger, com quem teve cinco filhos. Amélia morreu em 2011.

O físico fez doutorado na Universidade de Pittsburgh (EUA), concluído em 1959, onde também lecionou, e foi um dos mais jovens professores catedráticos da USP, aos 35 anos de idade.

São vários os reconhecimentos ao professor: era membro da Academia Brasileira de Ciências, recebeu prêmios da Unesco e uma condecoração pelo mérito científico, mas o título de que ele mais se orgulhava era o de cidadão paulistano, recebido em 2013.

“Para ele a vida era um pensamento a ser atualizado. Sempre tinha uma pergunta a fazer cuja resposta mudava totalmente a maneira de pensar”, conta Esther, professora da Escola de Comunicações e Artes, da USP.

Ernst também deixa os filhos Sônia, Vera, Fernando e Cao, cineasta, além de dois genros, uma nora e seis netos. O velório será em sua casa, das 10h às 15h nesta quinta (5), e o enterro, no Cemitério do Morumbi às 16h30.

Nanomateriais de carbono: o impacto da pesquisa e da inovação no cenário nacional

Dr. Marcos Pimenta, professor do Departamento de Física da UFMG, Coordenador Geral do INCT de Nanomateriais de Carbono e do CTNano da UFMG

Nano é um prefixo grego que significa anão. Em ciência esta palavra é usada para designar uma parte em um bilhão, ou seja, um bilionésimo. Um nanômetro corresponde a um bilionésimo de metro e materiais com esta dimensão são chamados de nanomateriais. Eles têm propriedades diferentes das propriedades do mesmo material de tamanho macroscópico, e isso se deve ao confinamento quântico e ao aumento da área específica no nanomaterial. Portanto, a nanotecnologia visa o desenvolvimento de materiais e dispositivos em escala nanométrica para aplicações tecnológicas e desenvolvimento de novos produtos.

Em particular, os nanotubos de carbono e o grafeno estão desempenhando um papel fundamental no desenvolvimento da nanociência e da nanotecnologia. O grafeno é um cristal bidimensional (2D) formado por átomos de carbono e corresponde a uma única camada atômica de grafite. Um nanotubo de carbono corresponde a uma camada de grafeno enrolada em uma estrutura cilíndrica, com diâmetros de cerca de 1 nm (nanotubos de parede única) a dezenas de nanômetros (nanotubos de paredes múltiplas). Eles apresentam propriedades físicas, químicas e biológicas excepcionais. Devido à forte interação química carbono-carbono, estes materiais são extremamente resistentes mecanicamente. Um nanotubo de carbono pode ser metálico ou semicondutor, dependendo apenas da forma como a camada de grafeno é enrolada para formar um cilindro.

O grafeno e os nanotubos de carbono são usados em diferentes aplicações tecnológicas. Devido às suas propriedades eletrônicas, mecânicas, térmicas e químicas, eles podem ser misturados a outros diferentes materiais, como polímeros, cerâmicas, cimento e fibras, transferindo para o compósito suas propriedades excepcionais. O grafeno e os nanotubos de carbono também são usados ​​para produzir protótipos de novos dispositivos eletrônicos, como transistores, emissores de elétrons para displays, sensores biológicos e de gás, entre outros. Eles prometem também desempenhar um papel importante no futuro da nanoeletrônica. Do ponto de vista biológico os nanomateriais de carbono apresentam uma alta área para funcionalização e rápida resposta aos estímulos externos de radiação e integração com sistemas de interesse para aplicação em nanomedicina.

Cientistas brasileiros têm feito contribuições importantes para a ciência e aplicações do grafeno e nanotubos, e destacam-se como referências mundiais para essa área. Segundo a base de dados do sistema Scopus, cerca de 2500 artigos em nanotubos e 1500 artigos em grafeno foram publicados por cientistas brasileiros nos últimos anos. A primeira iniciativa importante para agregar pesquisadores nesta área, no Brasil, foi a formação da Rede Brasileira de Nanotubos de Carbono, em 2005, apoiada pelo CNPq. Ela era composta por 40 cientistas, de 14 instituições e em 8 diferentes estados do Brasil. O principal objetivo dessa Rede foi permitir a mobilidade de cientistas de diferentes regiões para a cooperação, a instalação de equipamentos multiusuários e organização de reuniões anuais onde todos os pesquisadores compartilharam informações e iniciaram colaborações.

A segunda iniciativa nacional muito relevante na área foi a criação do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) em Nanomateriais de Carbono, em 2009, com o apoio do CNPq e da FAPEMIG. Um dos objetivos do INCT em Nanomateriais de Carbono foi dar continuidade às atividades da Rede Brasileira de Nanotubos de Carbono, trabalhando para melhorar e ampliar a produção de nanotubos e desenvolver aplicações visando a transferência tecnológica. Além disso, foram incluídos novos objetivos, como a produção de grafeno por diferentes métodos (esfoliação mecânica e química, CVD, SiC) e estudos sobre toxicologia e segurança em relação aos nanomateriais de carbono. Como uma evolução das iniciativas anteriores neste campo, que envolveu principalmente físicos e químicos, a equipe do INCT em Nanomateriais de Carbono também incluiu biólogos, médicos e engenheiros. Nesta perspectiva o Instituto também tem se destacado pela disseminação de conceitos sobre nanotecnologia via palestras, materiais didáticos, cursos de capacitação, entre outros, para o público em geral e estudantes em diferentes níveis. Em 2018 inicia-se uma nova fase do INCT em Nanomateriais de Carbono, ampliando focos e metodologias de pesquisa, instituições de ciência e tecnologia e interlocução com o setor produtivo, reforçando a importância da rede de colaboração em ciência, tecnologia e inovação sobre o tema Nanomateriais de Carbono.

Paralelamente, o Centro de Tecnologia em Nanomateriais (CTNano), projeto de pesquisa e inovação da UFMG que nasceu da necessidade proeminente dos pesquisadores e do setor produtivo, busca fazer a ponte entre a pesquisa feita na academia e a demanda das indústrias por novas soluções tecnológicas para os desafios das novas gerações. O CTNano está instalado no parque tecnológico de Belo Horizonte (BHTec) e sua equipe é pioneira no Brasil na produção em larga escala de grafeno e nanotubos de carbono. O CTNano tem financiamento do BNDES, das empresas Petrobrás e InterCement, e das agências Fapemig e FINEP. Um produto importante do Centro é o cimento com nanotecnologia, onde a adição de apenas 0,1% de nanotubos no cimento aumenta as propriedades mecânicas do concreto em 50%. Outros produtos do Centro são os polímeros misturados com grafeno e nanotubos, que serão usados em componentes do sistema de extração de petróleo em plataformas marinhas.

Ressalta-se que a Nanotecnologia promete uma grande revolução tecnológica nos próximos anos e os nanomateriais de carbono ocupam um espaço importante de aplicações neste contexto. Do ponto de vista científico, o Brasil ocupa um espaço muito importante na pesquisa básica e aplicada destes nanomateriais, entretanto avanços também têm sido obtidos em inovação nos últimos anos para que se agregue valor tecnológico, traduzindo o conhecimento produzido na academia para o setor produtivo e à população em geral.

Veja a matéria diretamente no Blog aqui

Um Olhar Sobre o Mundo com José Goldemberg

“Eletricidade é cara. Aproximadamente 40% da conta de energia são impostos, mas ao gerar sua própria eletricidade no telhado de sua casa você se torna um autoprodutor e aí não tem imposto. Sol é gratuito”, disse José Goldemberg, presidente da FAPESP e membro titular da ABC, no programa Um Olhar Sobre o Mundo, da TV Brasil.

Em entrevista ao jornalista Moisés Rabinovici, apresentador do programa, Goldemberg falou inicialmente sobre a produção de eletricidade a partir da energia solar.

“O problema são os equipamentos [necessários para gerar eletricidade]. Mas se houver financiamento, você pode produzir eletricidade, vender para a concessionária durante o dia e comprar de volta à noite, quando o uso é maior. De modo que, a rigor, se você instalar um coletor solar no telhado de sua casa, você pode passar a ser alguém para quem a eletricidade tem custo zero, exceto pelo investimento inicial”, disse.

Goldemberg, que foi presidente da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) de 1982 a 1985, elogiou a produção de energia no país. “Apesar de todos os altos e baixos que tivemos, a matriz energética brasileira é das que têm mais energias renováveis no mundo; 45% da energia usada no Brasil vem de fontes renováveis”, disse.

Destacou, entretanto, perigos enfrentados pela matriz energética no país. “A espinha dorsal do sistema energético brasileiro é a eletricidade gerada em hidrelétricas e surgiram problemas sobre os quais precisaríamos nos debruçar com mais cuidado”, disse, referindo-se à questão dos reservatórios em hidrelétricas.

Segundo ele, a ausência de reservatórios pode fazer com que hidrelétricas em locais onde chove bastante apenas em parte do ano fiquem ociosas nos períodos de ausência de chuva.

“Isso precisa ser rediscutido. A ideia de simplesmente proibir hidrelétricas com reservatórios não é um bom presságio para o que pode acontecer no futuro”, disse, ressaltando também a importância das questões sociais e ambientais envolvidas no tema. “Esses problemas são reais, mas podem ser equacionados.”

Goldemberg também destacou a importância do apoio à inovação para o desenvolvimento do país, particularmente a inovação produzida em pequenas empresas.

“Na FAPESP, fazemos um grande esforço nesse sentido, principalmente com o programa PIPE [Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas], porque a inovação surge principalmente nas pequenas empresas, não nas grandes. É preciso apoiar os jovens que saem das boas universidades para que eles desenvolvam suas ideias e seus produtos inovadores”, disse.

Goldemberg lembrou que, diferentemente de países como Israel e Estados Unidos, no Brasil é mais comum a empresários deixar dinheiro no banco rendendo juros do que investir em inovação. “Na FAPESP já apoiamos mais de 1 mil projetos de pesquisas conduzidos por startups. Em 2017 apenas, aprovamos em média um projeto por dia. Seria muito bom se houvesse mais apoio como esse no país para ideias inovadoras”, disse.

Outro tema abordado pelo presidente da FAPESP no programa foi o uso da energia nuclear para fins militares, que voltou à tona por conta da Coreia do Norte.

“O problema com as armas nucleares é que o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, de 1968, tentou congelar o mundo entre os que tinham armas nucleares e os que não tinham. E foi tomado o compromisso, de boa fé, de que a médio ou longo prazo as grandes potências – na época Estados Unidos, União Soviética, Inglaterra, França e China – com o tempo desativariam as armas nucleares, mas isso não aconteceu”, disse.

“Foram os físicos que desenvolveram as armas nucleares, mas são eles os primeiros a lutar contra a utilização dessas armas na sociedade, pois compreendem bem seu poder destrutivo avassalador. Espero que esse entendimento dos Estados Unidos com a Coreia do Norte leve a uma redução progressiva. Desnuclearizar representa, de fato, um fator de segurança para o futuro”, disse.

Assista ao programa com José Goldemberg no site da TV Brasil ou abaixo:

Atlas mostra captura e armazenamento de carbono no Sul e Sudeste

Pesquisadores do Centro de Pesquisa de Inovação em Gás (RCGI) estudam um método para verificar a possibilidade de estocar gás carbônico em folhelhos da Bacia Sedimentar do Paraná, que ocorrem desde o Mato Grosso até o Uruguai, e nos turbiditos do offshore da Bacia de Santos, área de exploração petrolífera.

Segundo o RCGI, a ideia é verificar se essas rochas têm capacidade para armazenar o gás carbônico e se seria possível, no caso dos folhelhos, injetar o CO2 ao mesmo tempo em que se retira o gás de folhelho (popularmente chamado de gás de xisto) contido neles. O resultado será divulgado no Atlas de CCS das regiões Sul e Sudeste do Brasil, que será publicado no final do projeto, previsto para 2020.

Sediado na Escola Politécnica (Poli) da USP, o RCGI é um Centro de Pesquisa em Engenharia financiado por FAPESP e Shell.

No Atlas deverão constar todas as informações geológicas das unidades estudadas, os dados obtidos e a localização das áreas mais favoráveis para a utilização de tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCS na sigla em inglês) nas regiões Sul e Sudeste do Brasil.

“O projeto também avaliará a viabilidade econômica de realização de CCS nos lugares selecionados geologicamente. E, ainda, critérios para avaliações de impactos ambientais e socioambientais da estocagem do CO2 nesses locais. Com base em todas essas informações poderá ser definido se uma área pode ou não receber CO2 com segurança”, disse Colombo Celso Gaeta Tassinari, coordenador do projeto e diretor do Instituto de Energia e Ambiente da USP.

Segundo Tassinari, os folhelhos possuem vantagens sobre as outras rochas. “Primeiro, eles retêm naturalmente o gás carbônico e não precisam de rochas selantes, que impedem o escape do CO2, a não ser que estejam completamente fraturados. Segundo, eles contêm gás de folhelho, então é possível injetar gás carbônico e retirar o gás que está armazenado na rocha”, disse ao RCGI.

Já os turbiditos da Bacia de Santos são rochas sedimentares de granulometria variável que contêm camadas de argila intercaladas, e é nessas argilas que a equipe vai focar os estudos.

Na pesquisa, as amostras das rochas estudadas serão submetidas a análises em laboratório para determinação dos minerais e das matérias orgânicas, sua porosidade, permeabilidade, quantidade de carbono disponível e outros.

“Iremos trabalhar dentro dos parâmetros usados em nível mundial para qualificar uma rocha como própria ou não para estocagem de CO2. E este será mais um desafio, pois esses parâmetros variam de um lugar para outro”, disse Tassinari.

Mais informações: www.rcgi.poli.usp.br.

Mês de julho traz mobilizações pela ciência no país

O dia 8 de julho é o Dia Nacional da Ciência,  Dia Nacional do Pesquisador e data da criação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em 1948. Assim, contará com manifestações em diversas cidades do país: há atos agendados em diversas capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Na Bahia, a manifestação foi em 2 de julho, junto com o desfile referente à data cívica máxima do estado. A data celebra a expulsão dos portugueses em 1823, dez meses depois da Independência, que na Bahia não foi pacífica: envolveu confronto entre tropas de brasileiros e tropas aliadas aos portugueses.

Cientistas baianos fazem manifesto contra redução de verba durante Ato Cívico

Pesquisadores e professores baianos realizaram um protesto contra o corte de verbas nas instituições federais no desfile do Dois de Julho, na manhã de terça-feira (2). A manifestação teve o propósito de chamar atenção para a falta de financiamento em pesquisas e projetos.

O presidente da Academia de Ciências da Bahia e membro titular da Academia Brasileira de Ciências, Jailson Bittencourt de Andrade, participou do ato. Ele disse que a manifestação foi em favor da ciência. “Estamos aqui pra chamar atenção da sociedade e do governo sobre o valor da ciência. Praticamente estamos com a metade do orçamento de cinco anos atrás Por isso, aproveitamos o Dois de Julho, que é a maior data da Bahia, para fazer esse ato”.

No centro, Jailson Andrade (ACB), Ildeu Moreira (SBPC) e Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC)

Para o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu Moreira, a falta de investimento traz constantes problemas para a população. “Todo aparato de ciência e tecnologia do país está ameaçado. Quando se deixa de investir em ciência todo mundo fica prejudicado, principalmente, quem precisa de saúde e educação. Queremos defender a ciência brasileira”, afirmou.

A participação da Academia de Ciências da Bahia e entidades apoiadoras a favor da pesquisa científica começou por volta das 7h, no Largo da Lapinha, próximo ao Coreto, exatamente onde tradicionalmente ocorre a concentração para a saída do desfile. No local, como explica o presidente da ACB, Jailson Andrade, foi lançado o manifesto Em Defesa da Ciência, a ser assinado por diversas instituições.

O objetivo, segundo Andrade, é ressaltar a importância da ciência para a sociedade e pontuar que “trata-se de uma atividade complexa e que não pode ser descontinuada. Requer, entre outros fatores, planejamento e financiamento adequados e de longo prazo”. Segundo ele, há pelo menos cinco anos o setor vem sofrendo cortes orçamentários significativos e que comprometem o seu futuro no Brasil.

“A situação é de penúria generalizada”, diz ele, complementando: “Se, por um lado, a maioria dos governos estaduais não cumpre os seus compromissos com o investimento em ciência e tecnologia, por outro lado o governo federal, além de não cumprir os repasses para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (FNDCT), tem imposto à área grandes cortes orçamentários”.

O fato de a Academia ter escolhido os festejos pela Independência da Bahia para essa manifestação a favor da Ciência não foi por acaso. “O 2 de Julho é uma data heroica para a Bahia e o Brasil. Simboliza a verdadeira independência do País. Nesse sentido, a Academia de Ciências da Bahia está liderando esta manifestação, com o objetivo de despertar a população para o valor da ciência, bem como revelar o perigo que a atual situação de penúria orçamentária representa para o futuro do país”, finaliza.

Veja a matéria original de Milena Teixeira para o Correio 24 horas

Cientistas vão às ruas de diversas capitais contra o sucateamento do setor

O mês em que a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), completa 70 anos é também o mês de lutas contra o sucateamento do setor. A situação orçamentária, que sempre esteve distante da ideal, se agravou nos dois últimos anos. Em 2017, o orçamento reduzido sofreu contingenciamento de 45% já no começo do ano.

“Dialogamos com o governo e conseguimos recuperar parte desse valor. Mesmo assim, o valor executado foi de R$ 4,6 bilhões, metade do que se vinha utilizando em 2013. Neste ano, o orçamento aumentou um pouco, mas continuou ruim, na casa de R$ 4,5 bilhões, que caiu para R$ 4,1 com um contingenciamento”, conta o presidente da SBPC, o físico Ildeu de Castro Moreira.

De acordo com a entidade, sediada em São Paulo, desde o início do ano, dos cerca de R$ 1,6 bilhão gastos pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), R$ 83 milhões foram utilizados pela Secretaria de Telecomunicações (Setec), enquanto a Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação obteve pouco mais de R$ 19 mil. Também sob a rubrica da pasta, o Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene) recebeu, até o momento, de R$ 740 mil, dos quais R$ 680 mil serviram para cobrir apenas despesas correntes, sobrando R$ 60 mil para investimentos.

Para o presidente da entidade, a situação catastrófica pode se arrastar caso a Emenda Constitucional (EC) 95, que congela investimentos federais por 20 anos, não seja revogada. Por isso a entidade deve intensificar a pressão sobre o Congresso Nacional, onde serão analisadas a proposta de diretrizes orçamentárias para o próximo ano.

A mobilização da sociedade para ampliar as pressões em prol de mais investimentos em ciência, tecnologia, inovação e educação no Brasil, que coloca em risco o futuro na nação, pautará os atos em comemoração dos 70 anos da SBPC.

No dia 8 de julho, Dia Nacional da Ciência:

  • Em São Paulo, a SBPC promove a marcha pela Ciência, às 1oh, na Av. Paulista. A concentração será no Instituto Moreira Salles (IMS).
  • No Rio de Janeiro, será realizado o “Domingo com Ciência na Quinta”. O evento foi em frente ao Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, das 10 às 14 horas.
  • Em Belo Horizonte serão realizadas atividades no Espaço do Conhecimento da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), praça da Liberdade, às 10 horas.

Haverá atividades em diversas outras capitais ao longo do mês:

  • Em Belém, a Secretaria Regional da SBPC no Pará realiza atividade na segunda-feira (9). É o Seminário “Ciência e Tecnologia no Brasil em tempo de Desmonte das Políticas Públicas”, no auditório da Faculdade de Engenharia Mecânica da UFPA (Universidade Federal do Pará).
  • Em Brasília, a atividade será no dia 12, no Plenário da Câmara. O deputado Celso Pansera (PT-RJ) fez o requerimento para a realização da Comissão Geral “Marcha para a Ciência: o Presente e o Futuro do Setor de Ciência e Tecnologia no País”. O evento é aberto e contará com a participação de representantes de entidades científicas e deputados.
  • No dia 13 haverá o seminário “70 anos da SBPC: Contexto e Desafios para a Ciência Brasileira e Catarinense”, em Chapecó.

Acessse a matéria original de Cida Teixeira para a Rede Brasil Atual.

ABC e SBPC sem resposta à carta enviada ao ministro Etchegoyen

Leiam a carta da ABC e SBPC enviada ao ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República em 24 de maio e ainda sem resposta:

Excelentíssimo Senhor
Ministro SERGIO WESTPHALEN ETCHEGOYEN
Coordenador do Comitê de Desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro (CDPEB)
Ministro-Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República
Brasília, DF.

Senhor Ministro,

A Resolução nº 1, de 1º de março de 2018, que definiu o Regimento Interno do Comitê de Desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro – CDPEB estabeleceu, no Artigo 18 daquele Regimento, que a Academia Brasileira de Ciências – ABC e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC são considerados convidados permanentes para reuniões da Secretaria de Apoio Técnico-Administrativo, nos momentos pertinentes aos seus respectivos temas de expertise e sem direito a votos.

Temos tido conhecimento, por resoluções do CDPEB já publicadas no Diário Oficial, de que algumas medidas importantes já estão sendo estudadas e planejadas, como a proposta de criação de empresa pública destinada à exploração de atividades relacionadas ao desenvolvimento de projetos e equipamentos aeroespaciais ou a de se estabelecer um projeto mobilizador para o setor espacial brasileiro, visando fomentar o desenvolvimento da indústria nacional quanto aos seus componentes basilares, quais sejam, satélite, lançador e infraestrutura de lançamento e operação, com vistas à potencialização do Programa Espacial Brasileiro.

A ABC e a SBPC, como entidades nacionais representativas da comunidade científica brasileira, creem que tais estudos e decisões têm importância dentro do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação e que nossas entidades, por meio de representantes qualificados, podem contribuir tecnicamente para esclarecimentos dessas matérias e similares.
Por isto, gostariam de ser convidadas a debater estas questões em reuniões da Secretaria de Apoio Técnico-Administrativo e eventualmente fazer sugestões sobre tais temas. Colocamo-nos também à disposição para sugestões de nomes de pesquisadores e especialistas, que podem contribuir em grupos de trabalho eventualmente criados pela CDPEB.

Certos de contar com a anuência de Vossa Excelência à nossa solicitação, despedimo-nos atenciosamente,

Atenciosamente

Luiz Davidovich – Presidente da ABC
Ildeu Moreira – Presidente da SBPC

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