pt_BR

Livro faz relato contundente da desinformação na pandemia de covid-19

Membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pesquisador da Unicamp, Luiz Carlos Dias travou na pandemia da Covid-19 uma luta contra a desinformação científica. Ao lado de outros pesquisadores, Dias buscou esclarecer a população e derrubar mitos e fake news disseminados durante a emergência sanitária. O relato contundente está no livro “Não há mundo seguro sem ciência“, que será lançado na sede da ABC, no Rio de Janeiro, em 30 de agosto.

“Sabemos como é importante levar a ciência para a população de uma forma geral. Veio a pandemia e começamos a perceber que a sociedade brasileira estava sendo vítima de uma onda enorme de fake news, desinformação e mentira. E isso afetava o combate efetivo a uma crise sanitária que foi a maior que enfrentamos”, explica.

Com linguagem acessível, “Não há mundo seguro sem ciência” leva o leitor a conhecer a emergência sanitária da Covid-19 por outro ângulo, avaliando o impacto do negacionismo e da desinformação. O livro, lançado pela editora Paraquedas, lista as principais fake news disseminadas no período e aborda temas como movimentos antivacina e o impulso dado pelo governo da época ao chamado “kit covid” – que consistia de uma série de medicamentos ineficazes contra a doença. Aborda ainda, entre outros aspectos, como é feito o desenvolvimento de vacinas, alvo frequente de informações falsas. A obra cobre eventos desde o início da pandemia, em 2019, até o pós-pandemia, em 2024, trazendo ainda reflexões sobre como os cientistas podem combater a desinformação também nos dias atuais.

Além de ter feito parte de uma força-tarefa criada na Unicamp durante a pandemia, Dias coordena, desde 2013, um consórcio com duas organizações sem fins lucrativos, Medicines for Malaria Venture (MMV) e Drugs for Neglected Diseases initiative (DNDi), que visa desenvolver medicamentos para malária e doença de chagas. Devido ao posto, ganhou conhecimento na área de desenvolvimento de vacinas e de medicamentos – caso da própria cloroquina, que é usada para tratamento da malária. No livro, o pesquisador destaca parte de sua trajetória e de outros cientistas no combate à desinformação.

A obra conta com prefácios escritos por cientistas renomados, como Gonzalo Vecina, médico e professor assistente da USP e  fundador da Anvisa; Gustavo Mendes Lima Santos, diretor de Assuntos Regulatórios, Qualidade e Ensaios Clínicos da Fundação Butantan; e Luana Araújo, infectologista, epidemiologista e comunicadora em saúde, que ficou conhecida na pandemia após ter sido alijada do cargo ao qual tinha sido indicada no Ministério da Saúde.

Apresenta ainda posfácios elaborados por Peter Schulz, físico e professor titular da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp; Soraya Smaili, professora e ex-reitora da Universidade Federal de São Paulo; e Rosana Richtmann, diretora do Comitê de Imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia. Já o texto de orelha foi escrito por Margareth Dalcolmo, médica pneumologista e pesquisadora da Fiocruz, e também reconhecida por sua atuação em defesa da ciência durante a crise sanitária.

“Foram vários os profissionais de várias áreas atuando para enfrentar essa onda negacionista, cada um procurando dar sua contribuição em levar a melhor ciência para a sociedade. A questão era como atingir uma grande parcela da população”, ressalta Dias.

Para ele, o livro “é um reconhecimento a todas e todos, cientistas, pesquisadores, profissionais da área da saúde que atuaram na linha de frente de combate ao vírus, a quem lutou nas redes sociais em defesa da vida, aos bons jornalistas, a todos e todas que lutaram contra o negacionismo, o charlatanismo e o obscurantismo que tomou conta do país. É uma reverência a todos e todas que defenderam as nossas universidades e institutos de pesquisas públicos, a ciência, as vacinas, a vida e os bens maiores deste país: nossa população, nossa liberdade e nossa democracia.”

SERVIÇO: Lançamento do livro “Não há mundo seguro sem ciência
Data: 30 de agosto
Hora: 10h
Local: Sede da Academia Brasileira de Ciências (ABC)
Endereço: Rua Anfilófio de Carvalho, 29 – 3º andar – Centro – Rio de Janeiro
Assessoria de Imprensa:
Corcovado Comunicação Estratégica
Henrique Gimenes – (21) 99383-0031 / henriquegimenes@corcovadoestrategica.com.br
Natália Cancian – (61) 98175-0172 / nataliacancian@corcovadoestrategica.com.br
Carla Russo – (21) 99196-4250 / carlarusso@corcovadoestrategica.com.br
Raphael Gomide – (21) 98734-5544 /rgomide@corcovadoestrategica.com.br

Fórum da Educação Superior ABC/SBPC

A partir de fevereiro de 2024, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) farão um webinário mensal, sempre na última terça-feira do mês, às 16h, convidando dois especialistas para discutir aspectos variados no âmbito da educação superior. Os Acadêmicos Aldo Zarbin e Sylvio Canuto coordenam a iniciativa.

Nesta próxima terça, dia 27 de fevereiro, às 16h, a série do Fórum da Educação Superior ABC/SBPC terá início, com o Acadêmico Simon Schwartzman e o médico Naomar Monteiro de Almeida Filho fazendo suas apresentações sobre o tema “Um resgate histórico sobre o ensino superior no Brasil”.

Não é preciso fazer inscrição, basta acessar www.abc.org.br/transmissao no horário marcado. 

Saiba mais sobre os palestrantes:

 

 

 

 

 

 

 

  • Simon Schwartzman
    Doutorado em Ciência Política pela Universidade da Califórnia, Berkeley, Estados Unidos. Pesquisador associado do Instituto de Estudos de Política Econômica do Rio de Janeiro (Casa das Garças). É professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), membro titular da Academia Brasileira de Ciências, grão-mestre da Ordem Nacional do Mérito Científico e comendador da Ordem do Mérito Educacional.

  • Naomar Monteiro de Almeida Filho
    Médico, mestre em Saúde Comunitária, Ph.D. em Epidemiologia. Professor aposentado de Epidemiologia no Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde coordena o INCTI Inovação, Tecnologia e Equidade em Saúde (Inteq-Saúde). Professor visitante no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP), onde ocupa a Cátedra Alfredo Bosi de Educação Básica, desenvolvendo estudos sobre a relação entre universidade, educação, história e sociedade.

Acompanhe as atualizações da agenda de webinários na página do GT de Ensino Superior da ABC

UFMG busca voluntários entre 18 e 85 anos para nova fase da SpiN-TEC, a primeira vacina 100% brasileira

Diretor-clínico do CTVacinas é o ex-afiliado da ABC Helton Santiago

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) procura homens e mulheres que desejam participar de um marco na ciência brasileira: a SpiN-TEC, primeira vacina 100% brasileira a chegar aos testes em humanos – a última etapa antes de ser liberada à população -, foi liberada pela Anvisa para mais uma bateria de testes. E agora precisa de mais voluntários.

Este último estágio, o de testes clínicos – ou seja, testes em humanos -, é composto por três fases. A primeira já foi superada pela SpiN-TEC, que se mostrou, mais uma vez, segura e eficaz. Justamente por isso, a Anvisa liberou o início da fase 2, quando 360 voluntários precisam ser testados.

“A pesquisa clínica não se faz sem os participantes de pesquisa, sem os voluntários de pesquisa. Eles são totalmente parceiros nossos. Se os voluntários não aparecerem, a pesquisa para. Então é muito importante que as pessoas que queiram contribuir com a ciência, que queiram contribuir com o desenvolvimento científico brasileiro, se voluntariem”, afirma Helton Santiago, coordenador dos testes clínicos da SpiN-TEC e diretor clínico do CTVacinas.

Para participar do recrutamento de voluntários e contribuir com esse importante desenvolvimento da ciência brasileira, você deve, apenas, atender aos seguintes critérios: possuir entre 18 e 85 anos; ter recebido as doses iniciais de CoronaVac ou AstraZeneca, além do reforço com Pfizer ou AstraZeneca antes de maio (ou seja, há pelo menos 6 meses); não ter contraído covid-19 ou contraído a doença no máximo até maio (ou seja, há pelo menos 6 meses); ter disponibilidade para participar de acompanhamentos presenciais em Belo Horizonte.

Pessoas com doenças crônicas controladas (como hipertensão, diabetes e outras) podem se inscrever – passarão por uma avaliação médica para conferir se podem ou não participar dos testes clínicos, assim como todos os postulantes.

Caso você atenda a todos os critérios, faça a sua inscrição aqui. Se preferir, pode ligar ou chamar no WhatsApp pelo número (31) 9 9972-0292 – ou, ainda, ligar no telefone (31) 3401-1152.

Novos desafios

O avanço nas análises clínicas de vacinas ganham, ao mesmo tempo, simplificação nos processos e desafios na logística. Isso porque a quantidade de voluntários aumenta a cada nova etapa.

O sucesso da fase 1 dos testes clínicos da SpiN-TEC foi oficializado pela Anvisa, cujos resultados preliminares reforçam que se trata de uma vacina segura e imunogênica, ou seja, protege o organismo contra a covid-19. Essas características foram comprovadas a partir de análises de 38 voluntários vacinados.

Todos os testes e acompanhamentos foram realizados na Unidade de Pesquisa Clínica em Vacinas da UFMG, a UPqVac. Nesta segunda etapa, com um número de voluntários cerca de 10 vezes maior, outros dois centros uniram forças para o avanço dos estudos: o Centro Infection Control, da Unimed; e o Centro Freire, associado ao Hospital Santa Casa.

“A primeira fase é mesmo mais difícil. Apesar do número ser pequeno, é um estudo mais complexo porque é a primeira vez que a vacina está sendo testada em humanos. Exige um rigor de segurança muito maior”, conta o coordenador, também professor da UFMG.

“O estudo da segunda fase já fica mais simples, mas se torna mais complexo por causa da logística. Já na terceira fase, fica mais simples ainda, mas muito mais complexo na logística, porque é quando vai aumentando o número de participantes. Isso faz com que aumente o número de centros, o que impõe um desafio logístico e de administração grande. O desafio agora é a administração e a logística do estudo”, explica Helton Santiago.

Quando começa a terceira e última fase?

Nesta segunda etapa, a SpiN-TEC passa por comprovações de segurança – com os critérios adotados na primeira fase do estudo – e de imunogenicidade. As expectativas, segundo o coordenador dos testes clínicos da SpiN-TEC, Helton Santiago, são de que o recrutamento e vacinação dos 360 voluntários termine em fevereiro de 2024.

“Esse é um passo fundamental para o avanço em qualquer pesquisa envolvendo os seres humanos. Então, a gente conta com os participantes porque, se não forem eles, não tem vacina e não haverá inovação no Brasil. A nossa expectativa é de que a segunda fase não passe do mês de fevereiro do próximo ano”, projeta e ressalta a importância dos voluntários.

Documento da ABC: “Open Science – Overview and General Recommendations”

No dia 23 de novembro, a ABC promoveu o webinário “Considerações sobre a Ciência Aberta”. A atividade foi virtual com transmissão pelo canal da ABC no YouTube. Na ocasião, a ABC apresentou o documento Open Science: Overview and General Recommendations. O documento em português será lançado em breve.

O webinário teve como objetivo apresentar uma visão geral do movimento de Ciência Aberta (Open Science), comentando alguns dos desafios associados e oferecendo um conjunto de recomendações sobre o tema para a comunidade científica brasileira. A atividade pretende abordar algumas das facetas da Ciência Aberta, estimulando debates e iniciativas, bem como analisando seus diferentes aspectos e aplicações em diversas áreas.

Os palestrantes foram Claudia Bauzer Medeiros (Unicamp/ABC), coordenadora do webinário e do grupo de trabalho responsável pela publicação, Carlos Henrique de Brito Cruz (Elsevier/ABC), Fabio Kon (USP), Iscia Lopes-Cendes (Unicamp/ABC) e Ulisses Barres de Almeida (CBPF), que foi membro afiliado da ABC entre 2018 e 2022. Glaucius Oliva (USP), membro da Diretoria da ABC, foi o moderador.

Leia matéria sobre o evento: WEBINÁRIO E LANÇAMENTO DE DOCUMENTO SOBRE CIÊNCIA ABERTA

Acesse a gravação no YouTube da ABC.

ABC: Webinário do Dia Nacional de Defesa da Democracia Brasileira

O dia 5 de outubro de 2023 marca o aniversário de 35 anos da Constituição de 1988, a Carta Magna que fundou a Nova República sob a égide de valores democráticos. A data foi escolhida por uma mobilização de entidades científicas, lideradas pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (ABC), para comemorar o Dia Nacional de Defesa da Democracia. O objetivo é nunca esquecermos, ou de novo anistiarmos, atentados contra o regime democrático e o Estado de Direito em nosso país.

Em comemoração, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) organizou um webinário e convidou o antropólogo Ruben Oliven, vice-presidente da ABC para a regional Sul; o professor de filosofia na Universidade Federal da Bahia (UFBA) Wilson Gomes, especialista em comunicação política e democracia digital; e a presidente da ABC, Helena Nader, professora emérita da Escola Paulista de Medicina e que teve forte atuação em defesa da ciência e da democracia quando estas estiveram sob ataque.

Ruben Oliven – Mais do que institucional, democracia é uma prática de todos

A democracia não é um produto acabado, é um processo construído diariamente, não só nas instituições mas na própria célula da sociedade, o indivíduo. Ela envolve princípios e práticas cotidianas, ao que se reivindica direitos para si sem esquecer o dos outros. Ela envolve também a relação com as próprias instituições. “Democracia envolve, por exemplo, ser tratado com respeito pelo Estado, seja pelos hospitais, seja pela polícia, seja pela Justiça”, afirmou Ruben Oliven.

O cientista político e membro titular da ABC José Murilo de Carvalho, falecido em agosto de 2023, nos lembrava que no Brasil os diferentes tipos de cidadania foram conquistados de forma muito peculiar, e ainda está em construção. As conquistas sociais vieram primeiro, com os direitos trabalhistas, por exemplo, quando não havia ainda acesso universal aos direitos políticos. Estes vieram só depois, apenas em 1988, quando pela primeira vez o voto se tornou realmente universal – até então analfabetos não podiam eleger representantes, por exemplo. Mas existe uma terceira dimensão de cidadania que ainda não alcançamos, uma dimensão cívica, de práticas que atentem realmente para o fato de que somos todos iguais perante a Lei, o que ainda não é uma realidade brasileira. “Apenas este ano acabamos com o direito à cela especial, algo que instituía que brasileiros seriam diferenciados, por sua escolaridade, mesmo na hora da prisão”, exemplificou Oliven.

Ainda existem dois Brasis, completamente diferentes. Um Brasil não branco, que está pior em qualquer índice social e econômico, que ainda precisa lutar para ter reconhecida sua própria existência particular. Democracia passa também por diversidade. O Brasil construído desde 1930 criou um modelo de brasilidade hegemônico, que deveria funcionar do Oiapoque ao Chuí, sendo naturalmente excludente. “É por isso que, quando a democracia voltou, o que se viu foi o surgimento de muitos grupos que queriam ser vistos como brasileiros sem deixar de afirmar suas diferenças, é o caso de grupos feministas, negros, LGBTQIA+, movimentos religiosos como os neopentecostais, movimentos tradicionalistas regionais e por aí vai”, disse.

Num país viciado em desigualdade, é preciso perceber que essa característica é um freio para o desenvolvimento. Nesse sentido, uma política de amplo sucesso foram as ações afirmativas nas universidades, que democratizou o acesso ao ensino. “Nossas elites precisam perceber que não podemos ser tão desiguais. A economia poderia ser maior, os mercados poderiam ser mais amplos. Precisamos pensar em como reformar nossa polícia, nosso sistema judiciário, nosso sistema tributário, nosso sistema penitenciário, com base nos mesmos valores”.

Wilson Gomes – As muitas ideias de democracia

Por ser um processo em construção, não teremos um conceito único para democracia, o que abre margem para interpretações inclusive sabotadoras. Uma grande contradição, fortuita ou não, que temos no Brasil é que até mesmo aqueles que a atacam dizem defendê-la. “Todos dizem amar, mas quando perguntamos ‘Que democracia?’ as coisas divergem. A perspectiva de momento é otimista porque resistimos, graças à reação da sociedade civil organizada, mas foi por pouco”, lembrou Wilson Gomes.

Um dos grandes temas dentro de uma democracia é o da igualdade versus liberdade política, debate em alta no país. Isso se dá pois a própria democracia dá armas para seus oponentes, permitindo que autoritários sejam eleitos e instituições capturadas e desviadas de seu propósito fundador. “Parte dos atores políticos brasileiros ainda acredita que a outra metade irá sair. Isso se manifestou com força na direita mas também está presente em setores de esquerda. É preciso aceitar logo que todos temos o direito legítimo de estar na sala”, disse.

Isso é uma distorção do conceito de democracia. A ideia de que ao ganhar uma eleição, antidemocrático é tudo que não ganhou. Governos são eleitos para servir o Estado, mas o Estado ainda existe e é ele quem institui as “regras do jogo”. “O grande problema conceitual do bolsonarismo foi esse, achar que vencer uma eleição era um salvo conduto para passar por cima de outras instituições igualmente legítimas”, avaliou Gomes.

Wilson Gomes se descreve como um cientista da democracia, pois esta é seu objeto de estudo. Por isso ele se inquieta com o fato de que logo a primeira geração brasileira a crescer em um regime de liberdade quase cometeu uma espécie de “liberticídio”. “Essa foi uma decisão tomada de forma racional ao avaliar que a democracia estava abaixo de outras prioridades, no caso o combate à corrupção, à esquerda e à política institucional”.

Helena Nader – Compreensão histórica pela defesa da democracia

O Dia Nacional de Defesa da Democracia deve ser visto como uma comemoração da sociedade e não só do Estado, esse é o objetivo das associações que o sustentam na visão da presidente da ABC, Helena Nader. A cientista, que viveu a ditadura, se questiona enquanto cidadã onde foi que a sociedade brasileira errou, e chega à conclusão de que foi na educação histórica.

“Quando conseguimos recuperar a democracia, pensamos ‘vamos olhar pra frente’. Deveríamos ter insistido em punições. Não podemos esquecer o que foi 1968, a Batalha da Maria Antônia, a Passeata dos Cem Mil, o congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) organizado em Ibiúna na clandestinidade. O jovem precisa conhecer essas histórias. Não podemos esquecer os mortos e torturados.”

A falta de compreensão histórica acaba por trazer o passado de volta. “Enquanto ensinarmos que o Brasil foi descoberto, continuamos negando os povos originários, por exemplo. É preciso ensinar também à respeitar a Constituição de 1988 e o Brasil que foi fundado a partir dela”, afirmou Nader.

A presidente da ABC criticou o Projeto de Emenda Constitucional que tramita no Congresso para que o legislativo tenha o poder de não respeitar decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). “É um absurdo que algo dessa magnitude tenha sido aprovado em comissão no Senado em menos de um minuto”. Em outro ponto, Nader lembrou que defender a democracia passa também por denunciar autoritarismos externos. “Precisamos estar atentos ao que acontece na Nicarágua, por exemplo”.

Debate

Ao final, os participantes tiveram a oportunidade de conversar entre si e com Acadêmicos que acompanhavam o webinário. A questão da educação democrática foi apontada como necessária em todos os níveis. “O debate sobre polícia não deveria ser um sobre se é militar o civil, a questão é que tanto o policial militar como civil não aprende sobre democracia. O servidor que tem monopólio sobre a violência é o que mais precisa entender o que é uma democracia, e a soberania que o povo tem nela”, criticou Wilson Gomes.

Sobre democracia no ambiente universitário, Helena Nader abordou a mobilização grevista que vem se instalando na Universidade de São Paulo. “É algo legítimo, mas sinto falta de mais diálogo e pautas concretas. É preciso sempre deixar claro pelo que estão lutando”, disse.

Assista ao webinário na íntegra:

Nobel de Medicina vai para cientistas que possibilitaram as vacinas contra a covid-19

O Prêmio Nobel de Medicina de 2023 foi concedido aos cientistas Katalin Karikó, da Hungria, e Drew Weissman, dos EUA, por desvendar como algumas alterações simples nos RNAs mensageiros (mRNA) poderiam deixá-los menos inflamatórios e mais passíveis de serem utilizados de forma terapêutica. Essas descobertas foram fundamentais para o desenvolvimento das vacinas de mRNA, que permitiram à humanidade sair da pandemia da covid-19. O trabalho dos dois, de 1997, é um exemplo de como a ciência básica leva a inovações revolucionárias mesmo depois de décadas.

De forma simples, os mRNAs servem como uma “receita” que traduz a informação contida no DNA, nosso código genética, em proteínas, moléculas que desempenham as mais variadas funções no organismos. Desde a descoberta dos mRNAs, a ciência vinha se perguntando se seria possível utilizá-los de forma terapêutica, mas esse objetivo sempre esbarrou em alguns obstáculos.

Um desses empecilhos era que moléculas de mRNA produzidas in vitro eram reconhecidas pelo corpo como agentes externos, causando uma resposta inflamatória danosa ao organismo. Ao comparar essas moléculas feitas em laboratório com as geradas pelo próprio organismo, os pesquisadores perceberam algumas pequenas alterações nas sequências de bases nucleotídicas, as estruturas que compõe tanto o DNA quanto o RNA. Ao replicar essas alterações, Karikó e Weissman conseguiram resultados excelentes, as repostas inflamatórias foram quase totalmente eliminadas.

A partir daí, a ciência pode se debruçar sobre uma possibilidade muito mais concreta de vacinas com base em mRNA. Mesmo assim, nos anos 2000 a expectativa era de que esses imunizantes só virariam inovações médicas depois de 2025, o que foi acelerado com a emergência sanitária. Agora, a aplicação da tecnologia vem sendo estudada para aplicações em outras doenças além da covid-19.

Os cientistas Drew Weissman e Katalin Karikó, laureados com o Nobel de Medicina em 2023 (Foto: Peggy Peterson / Pennsylvania School of Medicine / AFP)

Confira o relato do membro titular da Academia Brasileira de Ciências Luiz Carlos Dias sobre a importância da premiação:

Luiz Carlos Dias, membro titular da ABC

“O Prêmio Nobel de Medicina de 2023 foi concedido nesta segunda-feira para a bioquímica húngara Katalin Karikó e para o médico americano Drew Weissman, por suas descobertas inovadoras que auxiliaram no desenvolvimento das vacinas de RNA mensageiro (mRNA) , como as vacinas da Pfizer e da Moderna, que foram absolutamente fundamentais no enfrentamento da covid-19.

As pesquisas realizadas pelos dois cientistas foram importantíssimas para o desenvolvimento da tecnologia que culminou nas vacinas contra a covid-19, menos de um ano após o surgimento da pandemia do novo coronavírus.

As vacinas de RNA mensageiro são consideradas uma conquista extraordinária da Ciência e juntamente com as outras vacinas anti-covid mais tradicionais, foram as principais ferramentas da humanidade para combater uma pandemia que levou a quase 7 milhões de vítimas, sendo pouco mais de 705 mil óbitos no Brasil, o segundo país em número de óbitos pela Covid.

Essas vacinas evitaram milhões de mortes, preveniram casos graves de covid-19, ajudaram a reduzir a gravidade da pandemia, permitiram que nossas vidas voltassem ao normal, vencendo o negacionismo científico, a desinformação e a onda gigantesca de fake News, auxiliando no combate efetivo a uma pandemia causada por um vírus letal.

Os dois laureados, assim como outros pesquisadores, contribuíram com modificações nas bases nucleotídicas, que permitiram o desenvolvimento das vacinas revolucionárias de RNA mensageiro contra a covid-19, uma das maiores ameaças à saúde humana nos tempos modernos.

A grande expectativa da ciência é que a tecnologia de mRNA tenha potencial para servir de base para os imunizantes do futuro, ajudando a combater outras doenças como câncer e doenças infecciosas, como influenza, zika, malária, HIV, chikungunya, dengue e outras.

Sem dúvidas, esses avanços extraordinários da Ciência mudaram o mundo. Ciência, sua linda!

 

Luiz Carlos Dias, professor titular do Departamento de Química da Unicamp”

Covid-19 está associada ao aumento de bactérias resistentes na microbiota intestinal

Confira matéria sobre estudo feito pelo grupo da afiliada da ABC Angélica Thomaz Vieira:

Destaques:

  • Estudo aponta alterações na microbiota intestinal, com aumento da prevalência de microrganismos resistentes a antibióticos, após a infecção por Covid-19
  • Camundongos que receberam amostras de fezes de humanos que tiveram Covid desenvolveram sintomas como inflamação pulmonar e perda de memória
  • Alimentação saudável pode ser estratégia para tratar ou prevenir efeitos da Covid longa e quadros relacionados à disseminação de superbactérias no organismo

Uma pesquisa mostra pela primeira vez a associação entre Covid longa e alterações no funcionamento da microbiota intestinal. Mesmo quadros leves ou assintomáticos de Covid-19 estão relacionados à maior presença de bactérias resistentes a antibióticos no intestino quando comparados a indivíduos saudáveis. São constatações que pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e outros de instituições brasileiras e estrangeiras apontam em artigo publicado na revista “Gut Microbes” nesta terça (5).

Foram observadas as amostras fecais de dois grupos de 131 voluntários, divididos entre aqueles que foram infectados pelo vírus da Covid-19 anteriormente e os que não tiveram a doença, verificando maior número de bactérias resistentes nas fezes no primeiro grupo. As pessoas que se voluntariam já estavam sem traços do vírus da Covid-19 e não tiveram casos graves da doença ou associados a hospitalizações.

Angelica Vieira, pesquisadora do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG e líder da pesquisa, explica que, “a origem do aumento da resistência bacteriana é incerta, podendo estar ligado ao uso excessivo de antibióticos sem prescrição ou à própria infecção pelo vírus”.

Para comprovar os dados, camundongos livres de germes receberam amostras de fezes humanas – coletadas meses após os voluntários terem tido Covid-19. Os animais manifestaram sintomas como baixa cognição, perda da memória, mudança da fisiologia intestinal e inflamação pulmonar, que comprometeu a resposta imune do pulmão desses camundongos na defesa subsequente a uma infecção bacteriana pulmonar. Já essas mesmas alterações, quando comparadas, não foram observadas nos camundongos que receberam fezes de pessoas que não tiveram Covid-19.

Antes da pandemia, os efeitos da má alimentação no aumento da resistência a antibióticos já era tema de estudo do grupo de Vieira. O intestino, na condição de reservatório desses microrganismos, já era olhado com atenção. O trabalho agora reforça a importância de conter o avanço das superbactérias no contexto da Covid-19. “A Covid-19 está acelerando outra pandemia que já estava prevista, a de organismos microbianos resistentes, como as superbactérias”, explica Vieira.

Tanto a canja rica em alimentos nutritivos das vovós quanto o alimento rico em fibras que trouxer melhor qualidade de vida é bom para nossa saúde, afinal, “entender os mecanismos de disseminação de bactérias resistentes nos ajuda a pensar em estratégias terapêuticas que mantêm a nossa microbiota benéfica que vive no nosso intestino e ajuda a ter uma imunidade e qualidade de vida bem melhor”, completa a pesquisadora.

Futuros estudos do grupo da UFMG devem seguir investigando as sequelas pós-Covid na microbiota humana, mas o fato é que a adoção de padrões alimentares mais saudáveis – rica nutricionalmente e que aquecem ou confortam – como forma de prevenir ou reverter os sintomas da infecção são um caminho para uma vida mais saudável.

Fonte: Agência Bori

ABC na SBPC: Avanços nas perspectivas de manejos de viroses

A pandemia da covid-19 escancarou o quanto a humanidade está despreparada para doenças emergentes. Enquanto os sistemas de saúde do mundo inteiro colapsavam, a ciência teve que inventar e reinventar para combater um vírus desconhecido. Desde então, a preparação para futuras pandemias se tornou uma urgência, e especialistas alertam que a destruição dos ecossistemas e as mudanças climáticas são uma bomba-relógio para a contaminação por novas e velhas doenças.

Pensando nisso, a 75ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que acontece entre os dias 23 e 29 na UFPR, em Curitiba, organizou a mesa-redonda “Avanços nas perspectivas de manejos de viroses” com os professores Mauro Martins Teixeira (UFMG), Fernando de Queiroz Cunha (USP) e Giselle Fazzioni Passos (UFRJ), para trazer os últimos avanços científicos no tratamento e prevenção de doenças como dengue, zika, chicungunha e covid-19.

Mauro Martins Teixeira

Dengue: novas perspectivas para um velho problema

A dengue é um problema antigo para os brasileiros, e suas formas de prevenção já são amplamente conhecidas. Evitar água parada, tomar cuidado com o mosquitinho listrado e os famosos carros fumacês já são parte do imaginário coletivo. Mas isso não tem evitado que surtos da doença continuem acontecendo. “A baixa eficácia do fumacê já está comprovada, mas ele é chamativo, passa a mensagem de que estamos fazendo algo”, criticou Mauro Teixeira.

O membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) está participando de um estudo inovador em Belo Horizonte com o chamado Método Wolbachia para substituição de vetores. A ideia consiste em infectar mosquitos Aedes aegypti com bactérias Wolbachia e soltá-los nas cidades. A bactéria impede o mosquito de transmitir o vírus e, uma vez liberados, eles se misturam e se reproduzem. “Estudos na Indonésia têm obtido resultados muito promissores, queremos ver se conseguimos o mesmo aqui”, afirmou.

O projeto Evita Dengue conta com financiamento do National Institute of Health (NIH), dos Estados Unidos, e tem previsão para publicar seus primeiros resultados em 2025. A preocupação de países não tropicais com a doença tem razão de ser. “Eles sabem muito bem que, com o aquecimento do planeta, a dengue tende a subir. É investimento em prevenção, algo que também devemos fazer”, alertou o Acadêmico.

Outra forma de prevenção são as vacinas. Até o ano passado, apenas uma vacina estava disponível para aplicação no Brasil, a Dengvaxia, da fabricante francesa Sanofi Pasteur. O problema é que o imunizante só pode ser aplicado em quem já teve contato prévio com o vírus, então a necessidade de testes sorológicos reduz a possibilidade de que o imunizante seja incorporado em campanhas nacionais de vacinação.

Em março deste ano a Anvisa aprovou o registro da Qdenga, do laboratório japonês Takeda. O imunizante mostrou-se seguro para quem nunca teve a doença mas, assim como a Dengvaxia, só está disponível na rede privada. A previsão para que chegue ao SUS é de um ou dois anos, e a intenção manifestada pelo Ministério da Saúde de priorizar a vacina nacional, que está sendo desenvolvida pelo Instituto Butantan, gerou controvérsias.

O imunizante brasileiro está em fase três de testes clínicos e deve ser submetido à aprovação da Anvisa em 2024. A eficácia de 80% em evitar a doença é similar à da Qdenga. “Eu não tenho dúvidas de que teremos várias vacinas para dengue nos próximos anos. A questão vai passar a ser, assim como foi para a covid-19, saber qual o melhor imunizante para cada pessoa”, finalizou Mauro Teixeira.

Fernando de Queiroz Cunha

Novos alvos terapêuticos para lesões pulmonares da covid-19

O membro titular da ABC Fernando de Queiroz Cunha lembrou que quando começou a pandemia, ele e seus colaboradores se viram num beco sem saída, já que os laboratórios foram fechados e as pesquisas paralisadas. O foco único de todos passou a ser a covid-19, mas como reagir a uma doença tão nova e tão avassaladora?

O jeito era voltar aos estudos. Nos primeiros meses trancados em casa, o pesquisador se debruçou sobre a doença, para qual começavam a surgir novos estudos e informações em um volume nunca antes visto. Ele se perguntava como poderia colaborar nesses esforços. “Foi aí que eu vi a imagem de uma sepse, uma lesão pulmonar que a covid-19 causa. Logo pensei ‘isso aqui eu conheço, nisso posso colaborar’”, conta.

Nessa época, Fernando estudava as chamadas armadilhas extracelulares de neutrófilos, ou NETs, sigla em inglês para Neutrophil extracellular traps. A sigla é fortuita, pois “net” em inglês significa rede, e é exatamente assim que a armadilha age, como uma rede de pescador que captura patógenos. “Essas NETs são fibras de DNA, expelidos do núcleo da célula até o meio extracelular, decoradas com enzimas tóxicas que prendem os patógenos”, descreve.

O fenômeno é bonito quando observado no microscópio, mas, assim como outras respostas imunológicas, seus efeitos podem agravar a situação do paciente. O Acadêmico já conhecia a relação do mecanismo com lesões teciduais em outras doenças, o que o levou a pergunta: Estariam as NETs envolvidas nas sepses pulmonares da covid-19?

Análises de autópsias mostraram que todos os pacientes com a forma grave da doença mostravam um aumento de Neutrófilos produtores de NETs no pulmão. “Testes in vitro subsequentes conseguiram mostrar a relação entre as NETs e uma maior morte celular, logo, inibir, bloquear ou quebrar esse mecanismo podia evitar as lesões. Tínhamos aí um alvo terapêutico”, disse.

Medicamentos inibidores de NETs já eram conhecidos, e sua aplicação para a covid-19 já estão em testes clínicos, com perspectivas promissoras. Enquanto durante a pandemia medicamentos não eficazes foram propagandeados para a população com consequências graves, esses resultados mostram a necessidade se respeitar os métodos da ciência. “É possível sim que medicamentos antigos sirvam para novas doenças, só precisa ser feito com embasamento e muita pesquisa”, finalizou Fernando Cunha.

O mecanismo de NET em ação. Os filamentos verdes são a enzima antimicrobiana Mieloperoxidase, em vermelho as histonas, que compactam e descompactam o DNA e em azul o DNA extracelular descompactado (Imagem disponibilizada por Flávio Protásio Veras)
Giselle Fazzioni Passos

Alvos terapêuticos para efeitos neurológicos de viroses

Dois exemplos práticos de como doenças conhecidas podem atravessar as fronteiras de onde surgiram são a zika e a chicungunha. Ambas foram descobertas na África já nas décadas de 40 e 50, mas só vieram a causar alarde no Brasil em 2016. A zika, em particular, gerou grande comoção quando ficou constatado que ela causava microcefalia em fetos quando infectava mulheres grávidas.

A neurocientista Giselle Fazzioni esteve entre os pesquisadores que atuaram nas descobertas dos efeitos neurais dessas doenças.  Através de testes em camundongos, ela e seus colaboradores conseguiram mostrar que a infecção por zika durante o neurodesenvolvimento dos animais levava à microcefalia e convulsões, e também induzia à inflamação no sistema nervoso. “Os mecanismos de inflamação são amplamente conhecidos, se dão através das citocinas inflamatórias. A partir daí podíamos trabalhar com estratégias de reposicionamento de drogas para combater essa doença”.

Os testes mostraram também que, tanto o vírus da zika quanto o da chicungunha atuavam no hipocampo e em outras regiões associadas à memória, com eimpactos na capacidade de recordação dos animais. Os pesquisadores descobriram que isso se dava através de um processo já conhecido, a poda sináptica, que ocorre quando as microglias, células imunoprotetoras específicas do tecido neural, começam a “devorar” as ligações entre os neurônios.

“Esse processo de poda sináptica é comum em cérebros em desenvolvimento e quando não ocorre da forma correta pode levar ao autismo e outras neurodivergências. Agora, quando ela acontece de forma pronunciada em cérebros maduros acaba levando a perda de memória e é uma das principais vias da Alzheimer”, explica Giselle.

Essas descobertas mostram que a inibição dos agentes que causam tanto a neuroinflamação quanto a poda sináptica são potencias alvos teurapêuticos, os quais podem ser atacados com drogas já existentes. Com a chegada da pandemia, isso se tornou ainda mais relevante. “Observamos que mecanismos semelhantes estão envolvidos nos efeitos neurológicos da covid longa, quando os sintomas persistem por mais de 12 semanas”, finalizou.


#SBPCnaUFPR
#CienciaGeraDesenvolvimento

teste