O Prêmio Nobel de Medicina de 2023 foi concedido aos cientistas Katalin Karikó, da Hungria, e Drew Weissman, dos EUA, por desvendar como algumas alterações simples nos RNAs mensageiros (mRNA) poderiam deixá-los menos inflamatórios e mais passíveis de serem utilizados de forma terapêutica. Essas descobertas foram fundamentais para o desenvolvimento das vacinas de mRNA, que permitiram à humanidade sair da pandemia da covid-19. O trabalho dos dois, de 1997, é um exemplo de como a ciência básica leva a inovações revolucionárias mesmo depois de décadas.

De forma simples, os mRNAs servem como uma “receita” que traduz a informação contida no DNA, nosso código genética, em proteínas, moléculas que desempenham as mais variadas funções no organismos. Desde a descoberta dos mRNAs, a ciência vinha se perguntando se seria possível utilizá-los de forma terapêutica, mas esse objetivo sempre esbarrou em alguns obstáculos.

Um desses empecilhos era que moléculas de mRNA produzidas in vitro eram reconhecidas pelo corpo como agentes externos, causando uma resposta inflamatória danosa ao organismo. Ao comparar essas moléculas feitas em laboratório com as geradas pelo próprio organismo, os pesquisadores perceberam algumas pequenas alterações nas sequências de bases nucleotídicas, as estruturas que compõe tanto o DNA quanto o RNA. Ao replicar essas alterações, Karikó e Weissman conseguiram resultados excelentes, as repostas inflamatórias foram quase totalmente eliminadas.

A partir daí, a ciência pode se debruçar sobre uma possibilidade muito mais concreta de vacinas com base em mRNA. Mesmo assim, nos anos 2000 a expectativa era de que esses imunizantes só virariam inovações médicas depois de 2025, o que foi acelerado com a emergência sanitária. Agora, a aplicação da tecnologia vem sendo estudada para aplicações em outras doenças além da covid-19.

Os cientistas Drew Weissman e Katalin Karikó, laureados com o Nobel de Medicina em 2023 (Foto: Peggy Peterson / Pennsylvania School of Medicine / AFP)

Confira o relato do membro titular da Academia Brasileira de Ciências Luiz Carlos Dias sobre a importância da premiação:

Luiz Carlos Dias, membro titular da ABC

“O Prêmio Nobel de Medicina de 2023 foi concedido nesta segunda-feira para a bioquímica húngara Katalin Karikó e para o médico americano Drew Weissman, por suas descobertas inovadoras que auxiliaram no desenvolvimento das vacinas de RNA mensageiro (mRNA) , como as vacinas da Pfizer e da Moderna, que foram absolutamente fundamentais no enfrentamento da covid-19.

As pesquisas realizadas pelos dois cientistas foram importantíssimas para o desenvolvimento da tecnologia que culminou nas vacinas contra a covid-19, menos de um ano após o surgimento da pandemia do novo coronavírus.

As vacinas de RNA mensageiro são consideradas uma conquista extraordinária da Ciência e juntamente com as outras vacinas anti-covid mais tradicionais, foram as principais ferramentas da humanidade para combater uma pandemia que levou a quase 7 milhões de vítimas, sendo pouco mais de 705 mil óbitos no Brasil, o segundo país em número de óbitos pela Covid.

Essas vacinas evitaram milhões de mortes, preveniram casos graves de covid-19, ajudaram a reduzir a gravidade da pandemia, permitiram que nossas vidas voltassem ao normal, vencendo o negacionismo científico, a desinformação e a onda gigantesca de fake News, auxiliando no combate efetivo a uma pandemia causada por um vírus letal.

Os dois laureados, assim como outros pesquisadores, contribuíram com modificações nas bases nucleotídicas, que permitiram o desenvolvimento das vacinas revolucionárias de RNA mensageiro contra a covid-19, uma das maiores ameaças à saúde humana nos tempos modernos.

A grande expectativa da ciência é que a tecnologia de mRNA tenha potencial para servir de base para os imunizantes do futuro, ajudando a combater outras doenças como câncer e doenças infecciosas, como influenza, zika, malária, HIV, chikungunya, dengue e outras.

Sem dúvidas, esses avanços extraordinários da Ciência mudaram o mundo. Ciência, sua linda!

 

Luiz Carlos Dias, professor titular do Departamento de Química da Unicamp”