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ABC na SBPC: Acadêmicos defendem futuro da Amazônia

Na 75ª Reunião Anual da SBPC, em Curitiba, realizada entre os dias 23 e 29 de julho, a Amazônia foi tema recorrente em inúmeras palestras. Mas a sessão sobre AMAZÔNIA SUSTENTÁVEL realizada na série de debates para a 5ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia (CNCT) foi uma das mais aprofundadas, até pela presença de três expressivos nomes: os Acadêmicos Adalberto Val, Ima Vieira e Paulo Artaxo, que foram propositivos e apontaram a construção de uma bioeconomia de floresta em pé e rios fluindo e saudáveis como o caminho para uma Amazônia sustentável.

Por um Instituto da Foz do Amazonas e uma Universidade de Integração Pan Amazônica

Para facilitar o entendimento do tema, o Acadêmico Paulo Artaxo (USP) definiu o conceito de SUSTENTABILIDADE: “O desenvolvimento sustentável é definido como aquele que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazerem as suas próprias necessidades.”

Ele apontou que o modelo de “desenvolvimento” que temos agora é predatório e insustentável, porque envolve roubo de terras públicas, garimpos ilegais, invasões de terras indígenas e presença forte do crime organizado. “Além do desmatamento, a degradação florestal hoje é chave na Amazônia. A interação entre as mudanças no uso da terra, que envolvem a expansão da agricultura e, portanto, as queimadas – e as mudanças climáticas são ingredientes críticos na transição da Amazônia”. Ele ressaltou que qualquer plano para o futuro da Amazônia tem que ser feito olhando o novo clima da região.

Os pontos elencados pelo palestrante para garantir o futuro da Amazônia envolvem a ampliação da rede de ciência e tecnologia na região para promover seu desenvolvimento, reduzindo assim as desigualdades sociais. “Temos que desenvolver rapidamente uma nova bioeconomia de floresta em pé e rios fluindo e saudáveis”, alertou.

E Artaxo indicou o caminho: “Precisamos de um Instituto da Foz do Amazonas e uma Universidade de Integração Pan Amazônica para darmos aos jovens locais a oportunidade de desenvolver novos conhecimentos, tão necessários, sobre a região. Precisamos de ciência, tecnologia e inovação desenvolvidas lá. A Amazônia é chave para a sustentabilidade do Brasil e do planeta”. Citando o ex-presidente da ABC, Luiz Davidovich, o Acadêmico finalizou: “Não vamos à Lua, vamos à Amazônia!”

Por alianças entre países amazônicos e não amazônicos

A Amazônia está perto de um ponto sem retorno, dado o desmatamento e degradação florestal. Essa questão motivou a fala do vice-presidente da ABC para a região Norte, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que apontou caminhos que ainda podem levar o Brasil a um futuro sustentável.

As sugestões apresentadas pelo Acadêmico para a Amazônia envolvem a conservação, restauração e regeneração de ecossistemas, que devem ser centrais para a bioeconomia sustentável de florestas existentes e rios fluindo.  “Precisamos de investimentos em pesquisa e educação, com fortalecimento da governança regional para uma melhor gestão dos recursos naturais e dos direitos humanos e territoriais”, apontou Val.

O biólogo explicou que a ciência é fundamental para revelar o que está escondido na floresta: a imensa biodiversidade desconhecida. E também para a proteção da Amazônia – incluindo os povos originários. “Os investimentos governamentais em ciência, tecnologia e inovação na Amazônia são frágeis. Para avançar, é necessário um novo mecanismo de apoio financeiro ambicioso, descentralizado e ágil”, apontou o cientista. E acrescentou que, para um novo modelo de desenvolvimento regional, são essenciais as áreas de conservação, que precisam ser criadas.

As bases das ações planejadas na Amazônia, de acordo com o pesquisador do Inpa, devem estar firmemente baseadas em inovações tecnológicas originadas da ciência contemporânea e nos conhecimentos dos povos indígenas e das comunidades locais. Val ressaltou que “as novas tecnologias sustentáveis para a Amazônia deverão sempre observar as características locais, a cultura, as necessidades da sociedade e a conservação ambiental”.

A cooperação internacional em ciência e tecnologia foi outro aspecto fundamental abordado por Val, que afirmou que as alianças entre países amazônicos e os não amazônicos, como a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) e o Pacto de Letícia, são essenciais para implementar políticas ambientais efetivas e promover desenvolvimento. “Isso ajudará a evitar os impactos negativos da infraestrutura e do extrativismo na Amazônia e promover uma bioeconomia sustentável, por meio de novas tecnologias sustentáveis, em toda a Amazônia”, destacou Adalberto Val. E resumiu: “Tratar o clima, a biodiversidade e a sociedade humana como sistemas acoplados é a chave para o sucesso dos resultados.”

Pela conservação do coração da floresta na Amazônia ocidental

Academica Ima Vieira, pesquisadora do Museu Goeldi (MPEG), em Belém do Pará, apresentou possibilidades para uma Amazônia sustentável. Vieira identificou a necessidade de maior compreensão sobre as dinâmicas sociais, territorialidades e racionalidades da região. 

De acordo com a pesquisadora, a Amazônia hoje é um mosaico de florestas modificadas pelo homem, com lacunas de conhecimento ecológico. “40% da região não foram estudadas e 15% das áreas com menor probabilidade de pesquisa, geralmente em função de aspectos logísticos, estão sujeitas a severas alterações até 2050”, relatou. “Estima-se que existam 400 bilhões de árvores na Amazonia, de 16 mil espécies. Mas a maioria tem menos de mil indivíduos. A floresta é dominada por mais ou menos 240 espécies dominantes”, relatou Vieira. Ela ressaltou ainda que no ritmo atual, em 2050 teremos duas florestas – uma delas, na fronteira agrícola, quase totalmente destruída. “Precisamos valorizar a floresta em pé e levar mais CT&I para a população da Amazônia.”

Ela apontou os principais desafios para ciência, tecnologia e inovação na Amazônia: desmatamento ZERO até 2030, com restauração florestal; fortalecimento das cadeias produtivas baseadas na sociobiodiversidade; pagamento de serviços ambientais, como créditos de carbono; produção de conhecimento na região e capacitação de pessoal local; e modelos de negócios com perspectiva de impacto socioambiental. “Essas ações levariam à criação de um ecossistema de inovação em bioeconomia na Amazônia”.

E por onde seguir, com tantos obstáculos? Dentre estes, ela destacou a fragmentação cultural e institucional dos planos, programas e projetos na e para a região, com falta de continuidade, decorrente da falta aporte de recursos substanciais à ciência na e para a Amazônia. “Agora tem que ser a vez da Amazônia em todas as políticas de ciência e inovação”, apelou.

Ima Vieira citou a falecida Acadêmica Bertha Becker, grande estudiosa da Amazônia: “É preciso que haja uma valorização da floresta em pé, a conservação do coração da floresta na Amazônia ocidental, ciência e tecnologia e educação de qualidade para toda a população brasileira, especialmente, para a amazônica”.


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ABC na SBPC: Ciência e tecnologia no Parlamento brasileiro

O Brasil enfrentou quatro anos de profundos ataques contra a ciência. O governo anterior não representava apenas austeridade orçamentária, mas oposição ideológica ao conhecimento científico e as instituições de ensino públicas. Logo em 2019 a comunidade científica brasileira percebeu a necessidade de mobilização junto ao Congresso para enfrentar os ataques, e então foi criada a Iniciativa pela Ciência e Tecnologia no Parlamento (ICTP).

O grupo é composto por nove associações representativas da ciência nacional, entre elas a Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).

Para debater o papel da ICTP, foi organizada uma mesa redonda na 75ª Reunião Anual da SBPC. O debate contou com a presidente da ABC, Helena Nader, a diretora da SBPC Fernanda Sobral, o reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e ex-presidente da Andifes, Ricardo Marcelo Fonseca e o deputado federal Aliel Machado (PV-PR).

Da esquerda para a direita: Aliel Machado (PV-PR), Fernanda Sobral (SBPC), Fábio Guedes (Fapeal), Ricardo Marcelo Fonseca (Andifes) e Helena Nader (ABC)

O deputado Aliel Machado (PV-PR), que presidiu a Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI) em 2021, destacou o papel que a comissão teve na luta contra bloqueios do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), na proibição do cancelamento de bolsas na pandemia e na garantia de recursos para as universidades federais. “Apesar do momento grave, a comissão, composta por parlamentares de vários partidos, foi unânime na defesa das vacinas e dos recursos para a ciência”, afirmou.

A comissão foi dividida em 2023 e agora Ciência e Tecnologia tem uma comissão permanente própria na casa. Como a maior parte das deliberações no Congresso não se dão em plenário, ter uma comissão temática própria para a área é uma vitória da comunidade científica.

As lutas no Congresso se deram graças à ação coordenada das instituições que compõem o ICTP. A então vice-presidente da SBPC, Fernanda Sobral, listou os inúmeros posicionamentos do grupo desde agosto de 2022, como os posicionamentos contra os bloqueios do FNDCT, contra a MP da Sucata – a medida provisória que retirava recursos de pesquisa e aplicava no desmonte de caminhões – e contra a retirada de R$ 500 milhões das universidades.

Com a transição, o grupo continuou atuando, dessa vez na luta pela reconstrução da ciência brasileira e na elaboração de propostas e prioridades. Dois exemplos são as notas pedindo que a ciência ficasse de fora dos limites impostos pelo novo arcabouço fiscal e a defesa da permanência de Luciana Santos à frente do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). “Passamos de uma atuação de redução de danos para um papel mais propositivo”, disse Sobral.

O reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca, que presidiu a Andifes durante o período, disse que o novo momento pede que a comunidade científica se mobilize não apenas pela recuperação orçamentária das universidades, mas também pela recuperação simbólica. “O governo mudou, mas o discurso de ódio contra as universidades persistiu em alguns setores da sociedade. Temos que trabalhar para recuperar a imagem dos cientistas e professores, eles têm que ser vistos como heróis”.

Fonseca defendeu o aumento nos recursos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), sobretudo no aumento das bolsas. Mas lembrou que as universidade também precisam ser contempladas. “As universidades federais também pagam bolsas de iniciação científica, de extensão e de assistência estudantil. É preciso atender a todos. Já tivemos reitorias ocupadas em alguns lugares do Brasil por causa disso”, lembrou.

A presidente da ABC, Helena Nader, foi a última a falar e tratou do futuro. Ela argumentou a favor da inclusão da pós-graduação e pós-doutorado na contagem previdenciária, como já ocorre na maioria dos países desenvolvidos. Para ela, o papel do ICTP agora é trabalhar prioridades. “A próxima Lei de Diretrizes Orçamentárias está chegando e precisamos ter clareza de para onde queremos ir”, afirmou.

Nader ressaltou a importância de se investir nos jovens. “A janela demográfica do Brasil está se fechando, essa nova geração é a nossa última chance de nos tornarmos um país desenvolvido antes de nos tornarmos um país envelhecido”.

ABC na SBPC: Sobre o centenário de César Lattes

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) promoveu, na sua 75a Reunião Anual, uma sessão especial que marcou o início das comemorações do centenário de nascimento do cientista Cesar Lattes, que foi membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC).

Na mesa, os historiadores da ciência Ildeu Moreira (UFRJ) – ganhador da medalha Henrique Morize 2021, oferecida pela ABC -, Antonio Augusto Videira (UERJ), Iramaia de Paulo (UFMT) e Ivã Gurgel (USP) bucaram retratar a personalidade, a formação e a carreira do físico de renome internacional.

Antonio Augusto Videira, Ivã Gurgel, Ildeu Moreira e Iramaia de Paulo

Ildeu Moreira, está responsável, em nome da SBPC, por coordenar um grupo de trabalho para organizar as comemorações, em 2024. O grupo é formado por várias instituições brasileiras, incluindo a ABC, e realizará um grande evento em celebração à memória de Lattes. 

Gurgel abordou aspectos da formação de Cesar Lattes na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da USP, na década de 40, onde foi bastante influenciado pelo professor Gleb Wataghin. Iramaia de Paulo mostrou fotos e depoimentos da passagem de Lattes pela Universidade Federal de Mato Grosso, em Cuiabá, entre 1987 e 1989.

Já Antônio Videira apresentou uma gama enorme de fotografias e é conhecedor de detalhes que nem sempre constam nas biografias oficiais do homenageado, como sua dificuldade em lidar com a doença psiquiátrica contra a qual ele lutou por grande parte de sua vida.

Em 2024 também serão comemorados o aniversário de 100 anos do geógrafo Aziz Ab’Saber e da engenheira agrônoma Johanna Döbereiner. Os preparativos para a celebração do centenário de Döbereiner já vem mobilizando várias instituições, por iniciativa da ABC.

ABC na SBPC: Ciência, tecnologia e inovação em defesa da vida

Em 1918, um vírus letal matou 50 milhões de pessoas. A gripe espanhola surgiu num mundo com menos de 2 bilhões de pessoas e mesmo assim matou sete vezes mais que a covid-19, cujo número global de mortos hoje está na casa dos 7 milhões, numa população de 8 bilhões. O papel da ciência nesse resultado é óbvio, e através de duas tecnologias: as vacinas, que permitiram o fim da pandemia, e a internet, que permitiu manter um mínimo funcionamento da economia e sociedade mesmo que à distância.

Essa foi uma das reflexões do presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Renato Janine Ribeiro, durante o debate “Ciência, Tecnologia e Inovação em Defesa da Vida”, na 75ª Reunião Anual da SBPC, que ocorre de 23 a 29 de julho na Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba. O filósofo esteve acompanhado da presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Helena Bonciani Nader, do vice-presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Marco Aurélio Krieger e Pedro Wongtschowski, coordenador da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI).

Da esquerda para a direita: Pedro Wongtschowski, Marco Aurélio Krieger, Renato Janine Ribeiro e Helena Bonciani Nader (Foto: Jardel Rodrigues/SBPC)
A presidente da ABC, Helena Bonciani Nader

A gestão federal desastrosa da pandemia jogou contra a ciência, com alguns resultados trágicos. Além do país ter quatro vezes a média global de mortos, a campanha de descrédito contra os imunizantes fez com que a cobertura vacinal caísse, em um país que outrora já foi exemplo mundial em campanhas de imunização em massa. Mas, mesmo sob duros ataques, a resposta da ciência brasileira à crise foi positiva, avaliou Helena Nader. “A Fiocruz e o Butantan se mobilizaram, fizeram as parcerias internacionais, e conseguiram nos dar as vacinas”.

O que a ciência não conseguiu, segundo Nader, foi reverter as fake news. Ela ressalta que nem toda a comunidade científica combateu as inverdades. “Alguns cientistas e médicos inclusive apoiaram o uso da ivermectina e da cloroquina, mesmo com provas de que faziam mal à saúde humana”, destacou a biomédica.

Mas alguns dos problemas que atingiram o país na pandemia eram estruturais. A dependência externa para conseguir os ingredientes farmacêuticos ativos (IFAs) causou atrasos importantes, o que custou vidas. Essa experiência fez com que o novo governo traçasse como uma de suas primeiras metas o fortalecimento do complexo econômico-industrial da saúde, de forma a suprir pelo menos 70% de toda a demanda por insumos e fármacos no país.

O setor tem algumas vantagens que o tornam um bom alvo de investimentos para o Brasil priorizar. O país conta com expertise acumulada tanto nas universidades quanto nas empresas, além de institutos de ponta como a Fiocruz e o Butantan. Além disso, a demanda do SUS por medicamentos e insumos faz com que o Estado brasileiro tenha um poder muito grande de investimento e direcionamento da indústria para áreas prioritárias, e este deve ser utilizado. “Com isso podemos garantir volume e escala muito facilmente”, argumentou Wongtschowski, representante do setor.

“A indústria de química fina do Brasil foi destruída”, lembrou Nader. Recuperá-la é parte integral do enfrentamento às novas pandemias – que certamente virão. “Precisamos ter uma política de Estado, de modo que o investidor tenha garantias”.

Fazer isso não é apenas factível como já foi feito antes, lembrou Marco Aurélio Krieger. “A indústria farmacêutica brasileira já cresceu à níveis de Coréia e Japão por conta da política de genéricos e investimentos. Podemos fazer de novo”, disse esperançoso.

ABC na SBPC: Por que é necessária uma economia de floresta em pé?

O El Niño começou. O evento climático de aquecimento anormal das águas do Pacífico causa grandes transformações no clima global, entre elas, o prolongamento das estiagens na Amazônia. Na última vez que ocorreu, entre 2015 e 2016, o El Niño teve consequências devastadoras para a floresta, e especialistas alertam que o deste ano deve ser ainda mais forte. A conexão entre o fenômeno e a floresta é um exemplo drástico de como a conservação da Amazônia e o clima do planeta estão profundamente conectados.

O tema foi abordado pelo climatologista e membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Carlos Afonso Nobre. A palestra ocorreu durante a 75ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorre entre os dias 23 e 29 de julho na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba.

Um duplo problema

Não é segredo que a Amazônia está perto de um ponto de não retorno. Enquanto o desmatamento disparou nos últimos quatro anos, o aquecimento do planeta contribui para estiagens mais longas que diminuem a resiliência do bioma. O que agrava o cenário é o fato de esses dois problemas estarem profundamente conectados.

A floresta armazena cerca de 200 milhões de toneladas de carbono que, se forem para a atmosfera, tornarão qualquer meta climática impraticável. Esse potencial de sequestro de carbono é um serviço ecossistêmico essencial e a razão pela qual o mundo acompanha com atenção a região. “A Amazônia é um dos elementos mais críticos do sistema climático do planeta”, apontou Carlos Nobre.

As secas no chamado arco do desmatamento, as bordas oriental e sul da floresta, já estão um mês mais longas do que o normal, o que tende a se agravar com o El Niño. O climatologista alertou que, quanto maiores as estiagens, menor o potencial do bioma se recuperar. “Se a seca chegar a seis meses, e já chegam a cinco, nenhuma floresta se mantém”, disse. “Acontece o que chamamos de savanização. Mas não uma savana rica como o Cerrado. A floresta tenderá a se tornar uma savana degradada e pobre”.

Os climatologistas Carlos Nobre e Paulo Artaxo, membros titulares da ABC

Amazon Green Deal

Carlos Nobre é um dos principais defensores do que chama de bioeconomia, isto é, uma transformação radical das bases sobre as quais o desenvolvimento da região se sustentaram nas últimas décadas. “A ocupação da floresta segue as patas do boi”, disse, “mas o solo da floresta não é propício para isso, estamos falando de uma pecuária de baixíssima produtividade”.

Esse uso insustentável se dá por conta da ideia ultrapassada de que é possível expandir a fronteira agrícola indefinidamente – e mudar essa forma de pensar talvez seja a tarefa mais difícil dos ambientalistas. “Desenvolver novas práticas e produtos que possam garantir o sustento das populações locais é o principal desafio. Dois exemplos são o açaí e o cacau”, afirmou. Ambos os cultivos se dão em sistemas agroflorestais, ou seja, são feitos em meio às árvores e mantendo a floresta em pé. A comercialização do açaí cresceu 15 mil por cento entre 2012 e 2022. O produto era considerado um PANC (Produto Alimentício Não-Convencional), mas caiu tanto no gosto do brasileiro que esse nome já soa obsoleto. O cacau, segundo Nobre, já foi responsável por aumentar em sete vezes a renda de produtores amazônicos que decidiram apostar no produto. “Conheço cooperativas de indígenas que produzem o cacau e que já estão pensando em como farão para produzir também o chocolate”, conta.

Mas exemplos práticos dessa bioeconomia ainda são raros. De acordo com um levantamento feito pela equipe de Nobre, em toda a Amazônia Legal não existem nem 60 pólos produtivos de produtos florestais sustentáveis, então o desafio atual é escalonar. “Gosto sempre de trazer o exemplo da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (CAMTA), no Pará, que reúne mais de 1.800 agricultores, a maioria dos quais já atingiu rendas de classe C”, disse.

Apesar de incipiente, essa nova forma de pensar o desenvolvimento da Amazônia é absolutamente factível, mas precisa de investimento e suporte científico e tecnológico. Para isso, Nobre defende a criação de um instituto tecnológico pan-amazônico de ponta, nos melhores moldes nacionais e internacionais. “Se hoje temos a Embraer é porque tivemos o ITA. Precisamos de um ITA para a Amazônia, um MIT para a Amazônia, um AmIT”, brincou o Acadêmico.

Proporção de uso sustentável da floresta na visão de Carlos Nobre

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ABC na SBPC: Conhecemos a floresta amazônica?

ABC na SBPC: Conhecemos a floresta amazônica?

A Amazônia é o bioma com maior biodiversidade do planeta. Um hectare de floresta tem mais espécies de árvores que toda a Europa e uma grande árvore pode abrigar mais espécies de formiga que toda a Inglaterra. Gerar conhecimento sobre essa diversidade é papel da ciência, mas é também um desafio, já que a região Norte é a que menos forma doutores no Brasil.

Para debater essa defasagem, a 75ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que acontece de 23 a 29 de julho na Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba, organizou uma mesa redonda com a ecóloga Ima Célia Guimarães Vieira, do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), e os botânicos Daniela Zappi, da Universidade de Brasília (UnB), e Michael John Hopkins, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

“Não existem patrimônios abstratos. Não podemos chamar a Amazônia de patrimônio brasileiro se não a conhecemos”, refletiu o coordenador da mesa, Ennio Candotti, diretor do Museu da Amazônia (Musa).

Vazios taxonômicos

Em 2010, cientistas brasileiros e estrangeiros se uniram no Projeto Reflora para lançar um herbário virtual sobre a flora e os fungos brasileiros. O objetivo era ter um repositório onde taxonomistas – os cientistas que se especializam em classificar as espécies – pudessem acessar e adicionar com facilidade ao conhecimento existente. O problema é que a Amazônia tem apenas 9% dos taxonomistas brasileiros, o que gera distorções. “Não dá pra acreditar que o Rio de Janeiro tenha o mesmo número de espécies que a Amazônia”, exemplificou o professor Michael Hopkins.

Essas distorções são um problema para a conservação e o Brasil corre o risco de perder muitas espécies sem nem chegar a conhecê-las. A dificuldade apresentada pelo ambiente amazônico também contribui para a baixa velocidade na geração de conhecimento, com a maior parte das coletas se concentrando perto das cidades e estradas. Isso gera verdadeiros vazios taxonômicos, que são mais graves devido à alta regionalização da maior parte das espécies de flora.

“As árvores da Amazônia são dominadas por cerca de 240 espécies muito recorrentes. Grande parte das estimadas 16 mil espécies tem menos de mil indivíduos limitados à regiões pequenas”, explicou a membra titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Ima Célia Guimarães Vieira.

Comparação da quantidade de coletas para a quantidade de espécies ameaçadas conhecidas. Como conservar sem conhecer?

Crucial para enfrentar esses problemas, os mateiros e parabotânicos são cada vez mais raros. Esses profissionais geralmente não tem ensino formal em biologia, mas são donos de um conhecimento tradicional invaluável. Abrindo caminho pelas matas, eles colaboram com os cientistas na hora de coletar as amostras no topo das árvores e muitos conseguem identificar espécies novas e raras. “Gostaria de lembrar aqui de Paulo Apóstilo Assunção, parabotânico que colaborou por 30 anos com o Inpa, que perdemos para a pandemia durante a crise da falta de oxigênio em Manaus”, homenageou Hopkins.

A falta de profissionais atinge também os cientistas. De acordo com Ima Célia Vieira, pelo menos 20 linhas de pesquisa devem ser extintas com a aposentadoria próxima de pesquisadores sêniores.

“O Brasil está sentado sobre uma megadiversidade e não sabe o que fazer com isso”, resumiu Daniela Zappi.

Ciência e tecnologia para os povos amazônicos

Os herbários começaram a se consolidar na Amazônia na segunda metade do século XX com a criação de instituições como o Inpa e o Museu Emílio Goeldi. Os estudos mais aprofundados sobre o impacto da ação humana na floresta datam da década de 80 e a consolidação de redes robustas de pesquisadores se dá apenas na década de 90. Por tudo isso, estima-se que o conhecimento taxonômico sobre a região esteja atrasado em cerca de 60 anos com relação às outras regiões do país, como mostrou Michael Hopkins.

O Brasil atingiu a metade do conhecimento atual sobre a Amazônia 65 anos após o resto do país, mostra Michael Hopkins

Dois parques ecológicos se destacam na produção de ciência: a reserva Ducke e a reserva do Mocambo, nos arredores de Manaus e Belém, respectivamente. É preciso tomá-los como exemplo e expandir a pesquisa para outras zonas de conservação, mas, para isso, é necessário pessoal. “Os programas precisam durar décadas para serem efetivos, fazendo o acompanhamento árvore por árvore ao longo do tempo”, alertou Ima Vieira.

Para isso, é necessário fazer cada vez mais uso de tecnologias de ponta, como drones e satélites, que dependem de profissionais especializados. “Muitos pesquisadores vão para a região, mas logo retornam para suas origens. É preciso formar pessoal da região, com mais facilidade para se fixar”, disse Daniela Zappi. Entretanto, o investimento federal em recursos para a Amazônia ainda é baixo, o que só contribui para o abismo existente entre as regiões do país. “A Amazônia gera 8% do PIB nacional, mas ainda recebe um retorno de apenas metade disso quando se trata de investimentos em ciência e tecnologia”, finalizou Ima Vieira.

 

 

Da esquerda para a direita: Ima Célia Vieira, Ennio Candotti, Michael John Hopkins e Daniela Zappi (Foto: Jardel Rodrigues/SBPC)

 

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ABC na SBPC: Avanços nas perspectivas de manejos de viroses

A pandemia da covid-19 escancarou o quanto a humanidade está despreparada para doenças emergentes. Enquanto os sistemas de saúde do mundo inteiro colapsavam, a ciência teve que inventar e reinventar para combater um vírus desconhecido. Desde então, a preparação para futuras pandemias se tornou uma urgência, e especialistas alertam que a destruição dos ecossistemas e as mudanças climáticas são uma bomba-relógio para a contaminação por novas e velhas doenças.

Pensando nisso, a 75ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que acontece entre os dias 23 e 29 na UFPR, em Curitiba, organizou a mesa-redonda “Avanços nas perspectivas de manejos de viroses” com os professores Mauro Martins Teixeira (UFMG), Fernando de Queiroz Cunha (USP) e Giselle Fazzioni Passos (UFRJ), para trazer os últimos avanços científicos no tratamento e prevenção de doenças como dengue, zika, chicungunha e covid-19.

Mauro Martins Teixeira

Dengue: novas perspectivas para um velho problema

A dengue é um problema antigo para os brasileiros, e suas formas de prevenção já são amplamente conhecidas. Evitar água parada, tomar cuidado com o mosquitinho listrado e os famosos carros fumacês já são parte do imaginário coletivo. Mas isso não tem evitado que surtos da doença continuem acontecendo. “A baixa eficácia do fumacê já está comprovada, mas ele é chamativo, passa a mensagem de que estamos fazendo algo”, criticou Mauro Teixeira.

O membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) está participando de um estudo inovador em Belo Horizonte com o chamado Método Wolbachia para substituição de vetores. A ideia consiste em infectar mosquitos Aedes aegypti com bactérias Wolbachia e soltá-los nas cidades. A bactéria impede o mosquito de transmitir o vírus e, uma vez liberados, eles se misturam e se reproduzem. “Estudos na Indonésia têm obtido resultados muito promissores, queremos ver se conseguimos o mesmo aqui”, afirmou.

O projeto Evita Dengue conta com financiamento do National Institute of Health (NIH), dos Estados Unidos, e tem previsão para publicar seus primeiros resultados em 2025. A preocupação de países não tropicais com a doença tem razão de ser. “Eles sabem muito bem que, com o aquecimento do planeta, a dengue tende a subir. É investimento em prevenção, algo que também devemos fazer”, alertou o Acadêmico.

Outra forma de prevenção são as vacinas. Até o ano passado, apenas uma vacina estava disponível para aplicação no Brasil, a Dengvaxia, da fabricante francesa Sanofi Pasteur. O problema é que o imunizante só pode ser aplicado em quem já teve contato prévio com o vírus, então a necessidade de testes sorológicos reduz a possibilidade de que o imunizante seja incorporado em campanhas nacionais de vacinação.

Em março deste ano a Anvisa aprovou o registro da Qdenga, do laboratório japonês Takeda. O imunizante mostrou-se seguro para quem nunca teve a doença mas, assim como a Dengvaxia, só está disponível na rede privada. A previsão para que chegue ao SUS é de um ou dois anos, e a intenção manifestada pelo Ministério da Saúde de priorizar a vacina nacional, que está sendo desenvolvida pelo Instituto Butantan, gerou controvérsias.

O imunizante brasileiro está em fase três de testes clínicos e deve ser submetido à aprovação da Anvisa em 2024. A eficácia de 80% em evitar a doença é similar à da Qdenga. “Eu não tenho dúvidas de que teremos várias vacinas para dengue nos próximos anos. A questão vai passar a ser, assim como foi para a covid-19, saber qual o melhor imunizante para cada pessoa”, finalizou Mauro Teixeira.

Fernando de Queiroz Cunha

Novos alvos terapêuticos para lesões pulmonares da covid-19

O membro titular da ABC Fernando de Queiroz Cunha lembrou que quando começou a pandemia, ele e seus colaboradores se viram num beco sem saída, já que os laboratórios foram fechados e as pesquisas paralisadas. O foco único de todos passou a ser a covid-19, mas como reagir a uma doença tão nova e tão avassaladora?

O jeito era voltar aos estudos. Nos primeiros meses trancados em casa, o pesquisador se debruçou sobre a doença, para qual começavam a surgir novos estudos e informações em um volume nunca antes visto. Ele se perguntava como poderia colaborar nesses esforços. “Foi aí que eu vi a imagem de uma sepse, uma lesão pulmonar que a covid-19 causa. Logo pensei ‘isso aqui eu conheço, nisso posso colaborar’”, conta.

Nessa época, Fernando estudava as chamadas armadilhas extracelulares de neutrófilos, ou NETs, sigla em inglês para Neutrophil extracellular traps. A sigla é fortuita, pois “net” em inglês significa rede, e é exatamente assim que a armadilha age, como uma rede de pescador que captura patógenos. “Essas NETs são fibras de DNA, expelidos do núcleo da célula até o meio extracelular, decoradas com enzimas tóxicas que prendem os patógenos”, descreve.

O fenômeno é bonito quando observado no microscópio, mas, assim como outras respostas imunológicas, seus efeitos podem agravar a situação do paciente. O Acadêmico já conhecia a relação do mecanismo com lesões teciduais em outras doenças, o que o levou a pergunta: Estariam as NETs envolvidas nas sepses pulmonares da covid-19?

Análises de autópsias mostraram que todos os pacientes com a forma grave da doença mostravam um aumento de Neutrófilos produtores de NETs no pulmão. “Testes in vitro subsequentes conseguiram mostrar a relação entre as NETs e uma maior morte celular, logo, inibir, bloquear ou quebrar esse mecanismo podia evitar as lesões. Tínhamos aí um alvo terapêutico”, disse.

Medicamentos inibidores de NETs já eram conhecidos, e sua aplicação para a covid-19 já estão em testes clínicos, com perspectivas promissoras. Enquanto durante a pandemia medicamentos não eficazes foram propagandeados para a população com consequências graves, esses resultados mostram a necessidade se respeitar os métodos da ciência. “É possível sim que medicamentos antigos sirvam para novas doenças, só precisa ser feito com embasamento e muita pesquisa”, finalizou Fernando Cunha.

O mecanismo de NET em ação. Os filamentos verdes são a enzima antimicrobiana Mieloperoxidase, em vermelho as histonas, que compactam e descompactam o DNA e em azul o DNA extracelular descompactado (Imagem disponibilizada por Flávio Protásio Veras)
Giselle Fazzioni Passos

Alvos terapêuticos para efeitos neurológicos de viroses

Dois exemplos práticos de como doenças conhecidas podem atravessar as fronteiras de onde surgiram são a zika e a chicungunha. Ambas foram descobertas na África já nas décadas de 40 e 50, mas só vieram a causar alarde no Brasil em 2016. A zika, em particular, gerou grande comoção quando ficou constatado que ela causava microcefalia em fetos quando infectava mulheres grávidas.

A neurocientista Giselle Fazzioni esteve entre os pesquisadores que atuaram nas descobertas dos efeitos neurais dessas doenças.  Através de testes em camundongos, ela e seus colaboradores conseguiram mostrar que a infecção por zika durante o neurodesenvolvimento dos animais levava à microcefalia e convulsões, e também induzia à inflamação no sistema nervoso. “Os mecanismos de inflamação são amplamente conhecidos, se dão através das citocinas inflamatórias. A partir daí podíamos trabalhar com estratégias de reposicionamento de drogas para combater essa doença”.

Os testes mostraram também que, tanto o vírus da zika quanto o da chicungunha atuavam no hipocampo e em outras regiões associadas à memória, com eimpactos na capacidade de recordação dos animais. Os pesquisadores descobriram que isso se dava através de um processo já conhecido, a poda sináptica, que ocorre quando as microglias, células imunoprotetoras específicas do tecido neural, começam a “devorar” as ligações entre os neurônios.

“Esse processo de poda sináptica é comum em cérebros em desenvolvimento e quando não ocorre da forma correta pode levar ao autismo e outras neurodivergências. Agora, quando ela acontece de forma pronunciada em cérebros maduros acaba levando a perda de memória e é uma das principais vias da Alzheimer”, explica Giselle.

Essas descobertas mostram que a inibição dos agentes que causam tanto a neuroinflamação quanto a poda sináptica são potencias alvos teurapêuticos, os quais podem ser atacados com drogas já existentes. Com a chegada da pandemia, isso se tornou ainda mais relevante. “Observamos que mecanismos semelhantes estão envolvidos nos efeitos neurológicos da covid longa, quando os sintomas persistem por mais de 12 semanas”, finalizou.


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ABC na SBPC: Abertura da 75ª Reunião Anual da SBPC

Começou no domingo, 23 de julho, a 75ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o maior encontro da comunidade científica brasileira e maior evento científico a América Latina. Em sessão solene lotada no Teatro Guaíra, em Curitiba, diversos representantes da ciência nacional reforçaram o lema desta edição: “Ciência e Democracia para um Brasil justo e desenvolvido”. O evento foi de 23 a 29 de julho, na Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Além de palestras, mesas-redondas e discussões sobre todos os principais temas científicos da atualidade no Brasil, as reuniões da SBPC também são conhecidas pela diversidade de atividades culturais que oferece. Para abrir a reunião deste ano, foram convidados a se apresentar cinco coletivos da UFPR: a Téssera Companhia de Dança; a Companhia de Teatro; a Orquesta Filarmônica; o coral e o Grupo de MPB da universidade.

A Orquestra Filarmônica da UFPR se apresentou na abertura da 75ª Reunião Anual da SBPC (Foto: Jardel Rodrigues/SBPC)

Após as cinco apresentações, foram convidados a compor a mesa de abertura representantes de sociedades e órgãos científicos, além de autoridades como o prefeito de Curitiba e a ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação. A Academia Brasileira de Ciências esteve representada por sua presidente, Helena Bonciani Nader, que sentou-se ao lado da também Acadêmica Mercedes Bustamante, atual presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

O tom da abertura foi de celebração da resiliência da comunidade científica nacional após quatro anos de negação oficial da ciência. Helena Nader afirmou estar emocionada e apontou: “A ciência voltou. O Brasil voltou. Juntos vamos reconstruí-lo para todas e todos”. Ressaltou que, no entanto, é preciso estarmos sempre atentos: “Democracia é algo que se conquista diariamente”. 

A presidente da Capes adicionou que o acesso à educação pública de qualidade demanda defesa contínua e intransigente. “Essa é uma reunião para definirmos nosso caminho nas próximas décadas”.

A presidente da ABC, Helena Nader, discursa ao lado da presidente da Capes, Mercedes Bustamante, e do presidente da Finep, Celso Pansera (Foto: Jardel Rodrigues/SBPC)
A ministra Luciana Santos (Foto: Jardel Rodrigues/SBPC)

A ministra Luciana Santos destacou algumas iniciativas importantes do MCTI até o momento, destacando o reajuste nas bolsas de pós-graduação, a retomada do Conselho de Ciência e Tecnologia (CCT) e a condecoração dos médicos Adele Benzaken e Marcus Vinícius Guimarães com a Ordem Nacional do Mérito Científico, de quem a honraria havia sido revogada pelo obscurantismo ideológico do governo anterior. E anunciou, em primeira mão, o retorno do Pró-Infra, programa para recuperação, fortalecimento e expansão da infraestrutura das instituições científicas, que deve mobilizar R$ 3,6 bilhões nos próximos dois anos.

Em seguida foi a vez da cerimônia homenagear três grandes mestres que dedicaram suas vidas à educação brasileira: a economista Maria da Conceição Tavares; o engenheiro agrônomo e titular da ABC Fábio de Oliveira Pedrosa e o médico Erney Plessmann de Camargo, que nos deixou em março deste ano. Após as homenagens, foi entregue o Prêmio José Reis de Divulgação Científica à jornalista de ciência Sabine Righetti, cofundadora da Agência Bori.

O presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro (Foto: Jardel Rodrigues/SBPC)

Para finalizar a sessão solene, foi a vez do anfitrião. O presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, lembrou dos 700 mil mortos da pandemia, a maioria dos quais ainda poderia estar viva caso o país tivesse enfrentado a crise com responsabilidade e respeito à ciência. Olhando para a frente, ele passou pelo imperativo ambiental brasileiro, pela importância da defesa dos povos tradicionais e pelas discussões em torno do Novo Ensino Médio (NEM), o qual criticou por reduzir a carga horária de formação científica.

Janine reforçou a carta conjunta redigida por SBPC e ABC em defesa da permanência de Luciana Santos no governo. “O MCTI não pode mais ser moeda de troca”, alertou.

 

Assista a íntegra da abertura:


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