A cientista carioca Rosaly Lopes, que há três décadas trabalha no Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa (JPL), concedeu uma palestra nesta quarta-feira no Rio, a convite da Academia Brasileira de Ciências (ABC) para falar do tema ao qual tem se dedicado nos últimos anos: a busca de vida extra-terrestre.
Os corpos celestes que a ela mais estuda, porém, não são planetas, e sim luas do Sistema Solar que possuem semelhanças geoquímicas com a Terra. Em entrevista ao GLOBO, Lopes falou desse trabalho e de seus estudos sobre Titã, uma lua de Saturno que deve receber em breve a visita de uma espaçonave-robô, em grande parte graças aos estudos que ela fez.
O que trouxe a senhora ao Brasil desta vez?
Estou em Campinas desde maio pelo programa Cesar Lattes, que recebe cientistas visitantes, num projeto que vai se encerrar agora. É um programa que também me proporcionou a oportunidade de continuar trabalhando com o professor Álvaro Crosta [titular da ABC], da Unicamp, fazendo um trabalho sobre Titã, uma lua de Saturno.
A Missão Cassini-Huygens orbitou o gigante gasoso durante 13 anos, desvendando suas luas e anéis. Hoje, as luas Titã e Encélado estão entre os principais candidatos a permitirem a existência de vida.
No dia 27 de novembro, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) recebeu a astrofísica brasileira Rosaly Mutel Crocce Lopes, pesquisadora da National Aeronautics and Space Administration (Nasa), para uma palestra sobre a Missão Cassini, uma empreitada conjunta entre Nasa, Agência Espacial Europeia (ESA) e Agência Espacial Italiana (ASI) para explorar as luas e os anéis de Saturno. O encontro foi organizado e mediado pelo membro titular da ABC, Alvaro Penteado Crósta.
Rosaly Lopes se formou em astronomia pela Universidade de Londres, onde fez doutorado em geologia planetária, se especializando em vulcanismo. Em 2002, ingressou na missão Cassini, lançada em 1997 e que chegaria a Saturno em 2004. A missão faria imagens do planeta, seus anéis e suas luas, e contava com radares que permitiriam sondar a superfície desses satélites. Seu nome foi dado em homenagem ao astrônomo genovês Giovanni Domenico Cassini, que, no século XVII, descobriu as primeiras luas de Saturno e a chamada divisão de Cassini, um aparente buraco entre os anéis.
“Pensávamos que na divisão Cassini não havia nada, mas com a missão foi possível ver que essa região é preenchida por anéis mais finos. Tínhamos planos de passar uma nave por entre os anéis, mas esses tiveram que ser cancelados depois disso”, brincou a astrônoma.
Saturno é um gigante gasoso com 146 luas, algumas tão grandes que podem ser comparadas a pequenos planetas. Dentre esses verdadeiros mundos congelados, com oceanos subterrâneos, está Titã, a maior lua de Saturno e, até o momento, a única lua do sistema solar com uma atmosfera significativa. O nome da sonda carregada pela Cassini, Huygens, foi dado em homenagem a Christiaan Huygens, primeiro a descobrir o imponente satélite.
“Observamos que Titã tem montanhas, lagos, rios, processos de erosão, planícies, dunas e algumas montanhas altas com crateras profundas, candidatas a vulcão. Os principais processos geológicos que conhecemos no nosso próprio planeta parecem ocorrer em Titã e, por isso, a chamamos de ‘a outra Terra do Sistema Solar’”, explicou Rosaly Lopes.
No dia 24 de dezembro de 2004, foi chegada a hora da manobra mais perigosa da missão: pousar a sonda Huygens em Titã para ver sua superfície de perto. “A sonda desacoplou da nave e foi em direção à lua. A pressão atmosférica alta ajudava a pousar, mas, como não se via nada, foi emocionante. Tínhamos medo de acabar danificando ou até perdendo a sonda”, explicou a astrônoma.
Felizmente, o pouso foi um sucesso e se deu numa das muitas planícies de Titã. Em sua trajetória foi possível ver o emaranhado de dunas e rios e, uma vez no chão, tirar fotos do solo. Rosaly exibiu as imagens, que mostram um mundo rochoso. “Alguém comentou que parece Marte, mas não parece. Marte tem pedras pontudas e essas são arredondadas, isso é por causa da erosão dos rios. É o único outro lugar do sistema solar com líquidos na superfície”, explicou.
A Cassini seguiu sua viagem e outra lua chamou a atenção da pesquisadora. “Através de análises em infravermelho, foram descobertas fraturas na crosta de Encélado onde as temperaturas eram mais quentes, ou seja, processos de vulcanismo. Posteriormente, imagens mostraram a lua expelindo uma manta de vapor d’água, que contribuía para formar os anéis de Saturno”, explicou.
Em 2008, a nave fez um voo rasante a 50 quilômetros da superfície de Encélado, por entre a pluma de vapor d’água. Assim, foi possível detectar sua composição. “Água, CO2, metano, nitrogênio, hidrocarbonetos. Algumas partículas com sais vindos diretamente do oceano submerso. Ingredientes necessários para a existência de vida”, conta.
Atualmente, os oceanos submersos de Titã e Encélado são dois dos locais extraterrestres conhecidos com maiores condições de sustentar vida. Titã é mais promissora por ter uma atmosfera espessa de metano. As temperaturas de -65°C fazem com que a água só exista como gelo. Seus rios, lagos e, é claro, seu grande oceano subterrâneo, são todos feitos de metano líquido. Por não ter o mesmo fenômeno de vulcanismo de Encélado, não foi possível para a missão Cassini analisar a composição desse misterioso ambiente.
Em 2017 as baterias acabaram e a Cassini embarcou em sua última viagem, um mergulho na atmosfera de Saturno, onde foi esmagada pela pressão. Ao longo do trajeto, a nave orbitou o planeta várias vezes, passando muito perno de seus anéis, antes de finalmente perder o contato. “Havia o risco de a nave se chocar contra Encélado ou Titã, mundos com alguma possibilidade de existir vida, causando contaminação. Então, o nosso protocolo pedia que a destruíssemos”, explicou.
Novas expedições já estão sendo planejadas para Saturno e para Júpiter, com equipamentos mais modernos que permitirão análises ainda melhores. “Já existem radares sendo desenvolvidos que podem permitir ultrapassar a crosta de gelo e observar os oceanos submersos. Mas isso vai depender de quantos quilômetros de espessura essa crosta tem, não sabemos. Estão sendo pensados como alvos Titã, Encélado e Europa, em Júpiter. Eu defendo uma missão para Encélado porque lá o material já vem em nossa direção”, argumentou Rosaly Lopes.
Em seguida, os ouvintes, presencial e virtualmente, tiveram a oportunidade de perguntar. Algumas questões foram técnicas. “Como a Cassini manda informações para a Terra?”, perguntou um aluno. “A nave tem uma antena poderosa que fica sempre voltada para a Terra, comunicando-se com antenas nos EUA, na Espanha e na Austrália. Dessa forma conseguimos captar o sinal independente de como esteja a rotação da Terra. A informação leva cerca de uma hora e meia para chegar”, respondeu Rosaly.
Outras intervenções giraram em torno de uma questão fundamental, que sempre aparece quando falamos do espaço sideral. Estamos mesmo sozinhos no universo?
“Há quem fale em vida baseada em hidrocarbonetos, algo que seria tão diferente que não sei se seríamos capazes de detectar. Acredito que a maior chance, se existir, está nos oceanos. Mas é muito difícil de sequer imaginar, porque só conhecemos um exemplo. Não temos um referencial de comparação. Por isso é ainda mais importante continuarmos procurando”, defendeu a astrônoma.
Em meio a negociações expectativas para a COP 30, o Programa Mudanças Climáticas Fapesp faz uma avaliação dos resultados práticos das 29 Conferências do Clima já realizadas e os caminhos que o Brasil deve percorrer para cumprir com seu papel na mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
O evento será realizado no dia 3 de dezembro, das 14h às 16h, no IAG-USP.
ABERTURA
Marcio de Castro Silva, diretor científico da Fapesp Luiz Eduardo Oliveira e Cruz de Aragão, Programa Fapesp de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais Ricardo Trindade, Universidade de São Paulo (USP)
PALESTRANTES
Paulo Artaxo, Programa Fapesp de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais Thelma Krug, The Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) Karen Silverwood-Cope, WRI Brasil
LOCAL: Auditório Prof. Dr. Paulo Benevides Soares – Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP) – Rua do Matão, 1226 (Bloco G) – São Paulo/SP
TRANSMISSÃO AO VIVO: pelo canal da Agência Fapesp no You Tube
Leia matéria de Herton Escobar, publicada no Jornal da USP em 18 de novembro:
A evolução por seleção natural é uma das teorias mais bem consolidadas da ciência, amparada por mais de 160 anos de evidências científicas que confirmam e expandem os conceitos fundamentais apresentados originalmente por Charles Darwin e Alfred Russel Wallace para explicar a origem das espécies, ainda em meados do século 19. É considerada uma pedra-fundamental das ciências biológicas, tão indispensável para descrever a evolução da vida na Terra quanto as “leis” da física e da química são para descrever o funcionamento do universo e a estrutura da matéria.
A evolução da desinformação e do negacionismo científico nos últimos anos, porém, propeliu a Academia Brasileira de Ciências (ABC) a produzir um livro para reiterar seu posicionamento em defesa da teoria. O título não poderia ser mais assertivo: A Evolução é Fato.
Lançado inicialmente no Rio de Janeiro (onde fica a sede da ABC), em 19 de setembro, a obra, disponível gratuitamente neste link, é assinada por 28 cientistas, oriundos de diversas disciplinas e filiados a diversas instituições de pesquisa (incluindo 16 autores da USP). Seu conteúdo está organizado em 22 seções, que passeiam pelos diversos campos de pesquisa que se relacionam com a teoria evolutiva e que são influenciados por ela, como os primórdios da vida na Terra, a origem da espécie humana e a evolução das bactérias resistentes a antibióticos.
Um novo lançamento está agendado para esta terça-feira, 19 de novembro, no auditório da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), com a participação de vários autores em mesas-redondas que irão debater as temáticas centrais do livro.
“Compreender a evolução é fundamental para enfrentarmos desafios atuais como a conservação da biodiversidade, a proliferação de doenças infecciosas e a resistência a antibióticos, incluindo a aplicação dos conceitos da teoria evolutiva para aprimorar a compreensão de doenças comuns na sociedade contemporânea, como diabetes e câncer”, diz a biomédica Helena Nader, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e atual presidente da ABC, no prefácio do livro. “Este conhecimento nos capacita a tomar decisões conscientes e fundamentadas sobre o meio ambiente e nossa saúde.”
O livro pode ser baixado gratuitamente no site da ABC. Cópias impressas serão entregues a escolas e usadas em iniciativas de divulgação e educação científica, a serem organizadas pela Academia. Escrita em linguagem simples, a obra é voltada para o público leigo (não especializado no assunto), apresentando-se como uma síntese do conhecimento e das evidências científicas que embasam a teoria evolutiva.
A tese central da teoria (muito resumidamente) é que todos os seres vivos — animais, plantas, fungos e microrganismos — possuem uma ancestralidade comum e evoluem a partir da seleção natural de características que lhes conferem uma chance maior ou menor de sobrevivência, dentro de um determinado ambiente.
“Uma resposta para a sociedade”
O organizador do livro foi o geneticista e bioquímico Carlos Menck, professor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, que há décadas pesquisa os mecanismos moleculares envolvidos no reparo de DNA e na indução de mutações genéticas — dois temas fundamentais para a compreensão dos processos evolutivos.
Segundo Menck, a ideia de produzir um livro sobre evolução já circulava pelos membros da ABC há muitos anos; desde que a as academias nacionais de Ciência e de Medicina dos Estados Unidos publicaram uma obra conjunta sobre o tema (Science, Evolution and Creationism), em 2008. Mas o projeto só decolou mesmo em 2021, quando o então presidente da academia brasileira, Luiz Davidovich, o convidou para coordenar a elaboração do livro. Era um momento de grande preocupação com o avanço do negacionismo e da desinformação científica nos meios digitais.
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Criacionismo
A maior parte do negacionismo associado à teoria evolutiva provém de movimentos criacionistas, de cunho religioso, com vertentes que variam desde uma negação completa da evolução até uma argumentação híbrida, de que a evolução acontece, mas depende de intervenção divina para funcionar. Uma dessas vertentes é o chamado “design inteligente”, que busca se apresentar como uma teoria concorrente da evolução, supostamente capaz de comprovar “cientificamente” que a vida e o universo foram criados já na sua forma atual por uma inteligência divina.
“A ABC entende que religião e ciência não são mutuamente excludentes”, afirma Helena Nader, presidente da ABC, no prefácio do livro. “No entanto”, completa ela, “cabe lembrar que este livro reafirma a importância da evolução como conceito central para entender a vida na Terra, destacando o papel dos métodos científicos rigorosos e das evidências empíricas na formação do nosso conhecimento. (…) Por meio desta publicação, a ABC aponta como a ciência se diferencia do criacionismo e expressa, de forma inequívoca (…) que o criacionismo ou design inteligente não têm lugar na explicação da origem da vida no mundo em que vivemos.”
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Para Menck, o design inteligente é “uma ideia que pode ser muito bem discutida numa aula de teologia”, mas que não pode, de forma alguma, ser interpretada como uma teoria científica. “A resposta dela para todas as questões que se colocam é sempre a mesma: que houve um criador. Isso não é ciência”, diz o professor.
A missão Cassini-Huygens orbitou Saturno de 2004 a 2017 fazendo novas descobertas sobre a atmosfera, os anéis e as muitas luas de Saturno. A Cassini carregava uma sonda, Huygens, que pousou em Titã, a maior lua de Saturno, revelando sua superfície pela primeira vez. Nos últimos meses da missão a Cassini orbitou mais perto de Saturno e, finalmente, mergulhou no planeta em setembro de 2017, encerrando a missão. A palestra analisará as muitas descobertas feitas pela missão e por sua equipe internacional de cientistas, principalmente a geologia da paisagem de Titã, desvendada pelo sensor imageador de radar, e o vulcanismo de gelo nas luas Encélado e Titã. A palestra também abordará a possibilidade da lua Titã ser habitável.
Sobre a palestrante
Rosaly Mutel Crocce Lopes é brasileira, carioca. Mudou-se para Londres aos 18 anos e ingressou no curso de astronomia na Universidade de Londres, onde formou-se como uma das primeiras da classe em 1978. No seu último semestre, fez um curso de ciência planetária com o geólogo John Guest e na terceira semana de curso, o Monte Etna, na Itália, explodiu. Rosaly então resolveu mudar de área e estudar vulcões, tanto na Terra quanto no espaço.
Fez o mestrado e o doutorado na mesma universidade. Em seu doutorado, Rosaly se especializou em geologia e vulcanologia planetária, terminando seu Ph.D. em ciência planetária em 1986 com uma tese que comparava os processos vulcânicos em Marte e na Terra. Durante o doutoramento, viajou bastante, visitando vulcões ativos e tornou-se membro do time de vigilância de erupções vulcânicas do Reino Unido. Estudou ainda criovulcanismo em luas geladas.
Ingressou no Jet Propulsion Laboratory, da NASA, em Pasadena, EUA, como pesquisadora residente, em 1989 e depois de dois anos, tornou-se membro do projeto da sonda Galileo, onde identificou 71 vulcões ativos na superfície de Io, satélite de Júpiter. Em 2002 passou a integrar a equipe do Radar Cassini, no qual atuou até 2019. Integrou também a missão New Horizons, como colaboradora nas observações do sobrevoo de Júpiter. Atualmente ela é vice-diretora e cientista-chefe da Diretoria de Ciências Planetárias do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA. Seus trabalhos incluem 156 publicações revisadas por pares e dez livros.
Foi homenageada com diversos prêmios e títulos, dentre os quais o Prêmio de Serviço Público Excepcional da NASA (2019) e Medalha de Serviço Excepcional (2007); Prêmio Embaixadora da American Geophysical Union (AGU) e membro honorário (2018); Membro da Geological Society of America (2015); Membro da American Association for the Advancement of Science (2006). O asteroide (22454) foi batizado como Rosalylopes.
A bela Sala Minas Gerais, em Belo Horizonte, foi mais uma vez palco da cerimônia de entrega do Prêmio CBMM de Ciência e Tecnologia, oferecido pela Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), empresa brasileira que é líder mundial na exploração, produção e fornecimento de nióbio e tecnologia relacionada. Já em sua sexta edição, o prêmio reconhece o legado de profissionais que, por meio de suas pesquisas e descobertas, abrem caminhos para transformações no Brasil e no mundo.
Em 2024, os vencedores foram o físico e Acadêmico Marcos Pimenta, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na categoria Ciência. Na categoria Tecnologia, o premiado foi o médico Marcelo Britto Passos Amato, chefe da UTI Respiratória do Incor/Hospital das Clínicas e responsável pelo Laboratório de Investigação Médica em Pneumologia Experimental (Incor e Faculdade de Medicina da USP).
A categoria Ciência é destinada a pesquisadores que colocaram o Brasil em destaque no cenário científico mundial, enquanto a premiação na categoria Tecnologia é destinada a profissionais que tenham gerado impactos relevantes ao país com o desenvolvimento de aplicações práticas. Em reconhecimento ao seu talento e à sua dedicação incansável, cada vencedor é recompensado com um valor de R$ 500 mil.
A seleção dos vencedores é sempre realizada por uma comissão julgadora independente, composta por sete especialistas reconhecidos nas áreas do Prêmio CBMM de Ciência e Tecnologia. Os critérios considerados são criatividade e originalidade e o impacto para a ciência, desenvolvimento e inovação.
Na cerimônia, o CEO da CBMM, Ricardo Lima, declarou que a CBMM oferece esse prêmio em reconhecimento a profissionais que se dedicam a abrir novos caminhos, moldando um futuro mais inovador para todos, por acreditar que “o saber é o alicerce do progresso”. Relatou que em 1955, quando a CBMM foi criada, pouco se sabia a respeito das propriedades do nióbio. “No entanto, investimos em pesquisa e desenvolvimento, e criamos um mercado que não existia. Passamos a oferecer soluções eficientes e sustentáveis para diversos setores industriais”, declarou Lima.
Hoje, a CBMM tem escritórios regionais na China, Holanda, Singapura, Suíça e Estados Unidos, fornecendo produtos e tecnologia para mais de 500 clientes em todo o mundo. “Tudo isso só foi possível graças à dedicação de cientistas e pesquisadores. Por esse motivo, a CBMM assumiu o compromisso de apoiar a ciência e tecnologia no Brasil, criando essa premiação”. Ricardo Lima finalizou destacando que as abordagens criativas e inteligentes dos vencedores homenageados na ocasião reforçam o valor da ciência. Acrescentou que a CBMM espera que o percurso e as conquistas dos premiados sirvam de referência para inspirar jovens talentos de que o país tanto precisa.
O presidente do Conselho de Administração da empresa, o Acadêmico João Fernando Gomes de Oliveira, afirmou que o prêmio CBMM reconhece e valoriza a trajetória de profissionais que estão na vanguarda da inovação no Brasil. “Os vencedores do prêmio também são escolhidos com base num critério de impacto social. Ele valoriza não apenas a inovação, mas também o que essas inovações produzem de transformação para um mundo que se desenvolva de maneira mais justa e sustentável”, disse Oliveira.
Ele destacou que a Comissão Julgadora tem um papel central nesse processo, “é a alma do Prêmio CBMM, pois garante que todos os critérios estabelecidos serão cumpridos. É formada por especialistas renomados em suas áreas, pessoas que tiveram atuação de liderança em ciência e tecnologia no Brasil”, apontou Oliveira, agradecendo aos jurados que avaliaram com rigor e imparcialidade as mais de duas mil inscrições de 2024. Integram o júri os engenheiros Helio Graciosa (PUC-Rio) e Mário Neto Borges (UFSJ), assim como os Acadêmicos Álvaro Prata (UFSC/Embrapii), Edgar Zanotto (UFSCar), Helena Nader (atual presidente da ABC, impossibilitada de comparecer), Jorge Guimarães (UFRGS) e Luiz Davidovich (UFRJ).
Os jurados e Acadêmicos Álvaro Prata e Jorge Guimarães; o presidente do Conselho da CBMM, Acadêmico João Fernando de Oliveira; o ex-presidente da ABC Luiz Davidovich, também jurado; o homenageado da noite, Acadêmico Marcos Pimenta; e o jurado e Acadêmico Edgar Zanotto | Foto: GCOM ABC
Óptica, nanomateriais e divulgação científica
Em seu discurso de agradecimento pela premiação, o Acadêmico Marcos Pimenta contou que seu pai foi professor da Escola de Minas de Ouro Preto e quando Marcos era criança um dia lhe deu um pedaço de quartzo. “Me lembro que fiquei curioso pra entender o que é que havia dentro daquele mineral”. Sua mãe foi a primeira professora de ciência da computação da UFMG e lhe deu uma boa formação em matemática que, de acordo com ele, foi muito importante para sua carreira posteriormente.
Pimenta fez física na UFMG e foi fazer o doutorado na França, quando começou a trabalhar com óptica, usando a luz para tentar entender o comportamento dos materiais. Ao voltar para o Brasil, estava encantado com as técnicas ópticas, especialmente com a espectroscopia Raman. “Em 1992 consegui construir um laboratório para desenvolver pesquisas nessa área e começamos a experimentar cores diferentes de luz e observar o efeito de cada uma sobre diversos materiais. Desenvolvemos então uma tecnologia para interpretar esses resultados.”
Seu interesse por nanotecnologia surgiu em 1997, quando foi passar um ano sabático no MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos Estados Unidos, para trabalhar com a professora Mildred Dresselhaus, chamada de Rainha do Carbono por sua pesquisa pioneira sobre as propriedades fundamentais desse elemento. O Acadêmico começou a pesquisar sobre nanotubos de carbono, que são folhas de grafeno enroladas como um cilindro. Quando voltou para a UFMG, decidiu implantar o estudo desses nanomateriais, que têm diversas aplicações tecnológicas, muito interessantes também do ponto de vista científico. “Era estratégico no Brasil se dominar o processo de produção desses materiais para depois estudar as propriedades fundamentais e desenvolver aplicações”, pontuou Pimenta.
Uma das principais aplicações dos nanomateriais de carbono, tanto dos nanotubos quanto do grafeno, são os materiais compósitos, misturas do material convencional com um plástico, uma borracha, uma cerâmica. “É possível transferir para essa mistura as boas propriedades dos nanomateriais de carbono, como as propriedades eletrônicas, mecânicas e as térmicas. Isso já está sendo usado na indústria automobilística e na indústria aeroespacial, substituindo algumas peças de metal por esses materiais compósitos, que são mais leves”, relatou. Pimenta explicou que a tecnologia do silício deve saturar nos próximos anos. “Por isso estão sendo procurados novos materiais que permitam a continuidade dessa revolução que estamos vivenciando, que sejam cada vez menores, mais eficientes e que consumam menos energia”, ressaltou. Nos últimos 15 anos, perceberam que havia empresas que se interessavam por essas aplicações tecnológicas. “Isso fez com que eu me dedicasse a criar um centro de tecnologia onde pudéssemos fazer a ponte entre o trabalho feito na academia e as demandas da indústria”.
Atualmente, Pimenta tem se interessado em trabalhar mais com a divulgação científica. “As pessoas que tomam as decisões muitas vezes o fazem sem ter um conhecimento claro da ciência”, refletiu. Ele já participou da elaboração de um livro de ciências para o ensino básico por meio de um Edital do Ministério da Educação (MEC), contribuindo com a parte sobre a física moderna, que possibilitou toda essa revolução na informática e na eletrônica. “Às vezes, quando estamos procurando uma coisa, encontramos outra. Então, eu quero continuar procurando.”
Conheça a história de cada um dos premiados por meio dos vídeos produzidos pela CBMM!
O Acadêmico João Calixto, diretor e fundador do Centro de Inovação e Ensaios Pré-Clínicos (Cienp), em Florianópolis, foi o entrevistado do programa Tech SC do dia 21 de outubro, que trata de ciência, tecnologia e inovação realizados no estado de Santa Catarina.
O Cienp foi criado em 2008, mas suas atividades só se iniciaram em 2014. Nestes dez anos, o Centro se tornou referência na América Latina em testes de medicamentos, cosméticos e vacinas.
No dia 29 de outubro, 3a feira, às 14h, o Núcleo de Estudos Avançados do Instituto Oswaldo Cruz promove debate intitulado “Novas pandemias: Os desafios da Saúde Global no Século XXI”. O evento é coordenado pelo Acadêmico Renato Cordeiro e terá como palestrantes Tulio de Oliveira (UKZN, África do Sul), Margareth Dalcomo (Fiocruz), Esper Kallás (USP/Butantan) e Rivaldo Venâncio da Cunha (Fiocruz/Ministério da Saúde).