Rogério Cézar Cerqueira Leite faleceu na madrugada do dia 1º de dezembro, aos 93 anos. Foi um dos mais importantes cientistas do país.
Ele foi o primeiro no país a utilizar o laser para estudar propriedades dos materiais. Ainda na Unicamp, implantou o Departamento de Música e em seguida o Instituto de Artes, além de ter assumido a Coordenadoria Geral das Faculdades.
Cerqueira Leite teve uma vasta produção científica. Um dos físicos mais respeitados do Brasil, publicou ao longo de sua vida acadêmica cerca de 80 artigos científicos em periódicos indexados – citados mais de 3 mil vezes por seus pares – e 15 livros sobre temas diversos, relacionados à física, energia e música clássica, incluindo um livro de contos e uma autobiografia.
Destaques da carreira
Graduado em engenharia eletrônica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) em 1958, doutor em física pela Universidade de Paris (Sorbonne), em 1962.
Trabalhou como pesquisador da Bell Laboratories de 1962 até 1970. Lecionou na Universidade de Paris.
De volta ao Brasil, no início dos anos de 1970, quando se iniciaram os grandes programas de pós-graduação vinculados a grandes projetos de P&D, Cerqueira Leite dirigiu o Departamento de Física do Estado Sólido e o Instituto de Física Gleb Wataghin da Universidade Estadual de Campinas (IFWG-Unicamp), instituições fundamentais nas áreas de telecomunicação e de fibras ópticas.
Foi idealizador do projeto e liderou o debate que culminou na criação da Companhia de Desenvolvimento do Polo de Alta Tecnologia de Campinas (Ciatec).
Criou e dirigiu por 20 anos a Codetec, empresa que criou a primeira incubadora tecnológica do Brasil (1975-96) e desenvolveu mais de uma centena de projetos para diferentes organizações públicas e privadas.
Foi membro do grupo de trabalho de Energia da União Internacional de Física Pura e Aplicada (Iupap).
Foi membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Conselhão).
Era presidente de Honra do Conselho de Administração do CNPEM (Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais), entidade responsável pela gestão dos Laboratórios Nacionais de Luz Síncrotron (LNLS), de Biociências (LNBio), de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) e de Nanotecnologia (LNNano).
Foi membro de vários conselhos de entidades científicas, tais como SBPC e FAPESP e consultor de várias agências estatais, tais como a Finep, e de organizações privadas.
Participou dos debates do Pró-Álcool e foi crítico feroz da tecnologia adotada pelo Programa Nuclear Brasileiro durante o governo Geisel no final dos anos 1970.
No início dos anos 80, tornou-se vice-presidente executivo da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) e liderou o projeto de construção do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas.
Defendeu a instalação dos Laboratórios Nacionais de Biociências (LNBio) e de Nanotecnologia (LNNano) no início de 2000 e, no final da década, articulou a criação do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) para ampliar as oportunidades econômicas de produção do biocombustível no país. Estas instituições hoje constituem o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas.
Cerqueira Leite acreditava que era possível projetar e construir equipamentos científicos competitivos no Brasil, apesar do ceticismo de parte da comunidade acadêmica e das crises econômicas e políticas. Sirius – o novo acelerador de elétrons brasileiro e maior projeto da ciência nacional – de diferentes formas, materializa suas convicções.
Em 2017 concebeu a Ilum Escola de Ciência, uma instituição de ensino superior brasileira sem fins lucrativos gerida pelo CNPEM e financiada pelo Ministério da Educação Foi membro do Conselho Editorial da Folha de S.Paulo desde 1978.
Professor emérito da Unicamp, Cerqueira Leite colecionou prêmios, títulos e obras de arte. Dentre eles, recebeu o “TWAS Regional Prize for Building Scientific Institutions”. Foi nomeado Personalidade do ano na categoria Inovação, Ciência e Tecnologia pelo UNA Brasil. Recebeu do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) a “Homenagem pelas inúmeras e relevantes contribuições na construção e consolidação de políticas e instituições de Ciência, Tecnologia e Inovação”.Foi agraciado com a Comenda da Ordem Nacional do Mérito da França e com a Cátedra da Universidade de Montreal, Canadá.
Era pesquisador emérito do Conselho Nacional de Desenvolvimento CIientífico e Tecnológico (CNPq). Recebeu a Ordem Nacional do Mérito Científico na Classe de Grã-Cruz.
Era considerado o maior colecionador brasileiro de arte africana e pré-colombiana.
Depoimentos dos seus pares
“O prof. Rogério foi um grande cientista, comprometido com o desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação associado ao desenvolvimento social e sustentável no país. Tive o privilégio de conhecê-lo e de ter participado do conselho do CNPEM por alguns anos. Inteligente, criativo e contestador, com um senso de humor muito peculiar. Não tinha medo de ousar, arriscar, sonhar. Fará falta.”
Helena Nader, presidente da Academia Brasileira de Ciências
“Cientista com ”alma de artista”, com uma coleção de obras de arte de imenso valor. O seu maior legado foi a “construção” do CNPEM (Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais), entidade responsável pela gestão dos Laboratórios Nacionais de Luz Síncrotron (LNLS), de Biociências (LNBio), de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) e de Nanotecnologia (LNNano). A sua contribuição para a educação, ciência, tecnologia e inovação é imensurável.”
Jailson B. de Andrade, Vice-Presidente da Academia Brasileira de Ciências
“O professor Rogério Cezar de Cerqueira Leite foi um físico visionário e um pensador à frente de seu tempo. Sua incansável dedicação à educação e ao desenvolvimento do país deixou marcas profundas e ensinamentos que perdurarão. Sua ausência será profundamente sentida, mas seu exemplo continuará a nos inspirar e impulsionar.”
Álvaro Prata, presidente da Embrapii
“A morte de Cerqueira Leite deixa a ciência brasileira menor. Um grande cientista, que atuou como pesquisador e teve grande influência na pesquisa de física da Unicamp e como defensor público da ciência, em especial no Conselho Editorial da Folha. Mas sua maior obra, pela qual será sempre admirado, foi organizar e viabilizar a construção do primeiro síncroton brasileiro, e mais recentemente, foi a grande força por trás da montagem do Sirius, o mais importante instrumento de pesquisa científica do Brasil. Sua resiliência, tenacidade e clareza de objetivos serão exemplos permanentes para nós.” Acadêmico Marco Antonio Zago, presidente da Fapesp
“O professor Rogério foi um grande cientista e um grande cidadão brasileiro. Envolveu-se nas questões importantes para o país, nunca se omitindo em dar sua opinião e participando dos grandes debates, desde a questão da democracia até as de energia renováveis. Sempre entendeu a importância de se ter grandes projetos para o país. Vai deixar saudades e fazer muita falta.”
Acadêmico Antonio José Roque da Silva, ddiretor-geral do CNPEM
Foi um eminente patriota, defensor da soberania nacional e das causas democráticas e progressistas. Sua morte abre imensa lacuna não somente nas ciências brasileiras, mas também na vida social e política.
Veja as matérias originais a partir das quais foi montado esse texto e parte da repercussão na mídia.
AGÊNCIA BRASIL
Morre aos 93 anos o físico Rogério Cerqueira Leite
AGÊNCIA FAPESP
Morre Rogério Cezar de Cerqueira Leite
BRASIL 247
Faleceu aos 93 anos o cientista Rogério Cerqueira Leite
Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais
CNPEM se despede do Prof. Rogério Cezar de Cerqueira Leite
BAHIA NOTÍCIAS
Luto na Ciência: Morre Cerqueira Leite, físico e um dos maiores cientistas do Brasil, aos 93 anos
ESTADÃO
Morre aos 93 anos o físico Rogério Cerqueira Leite
O GLOBO
Rogério Cerqueira Leite, um dos maiores cientistas brasileiros, morre aos 93 anos
FOLHA DE S. PAULO
Morre Rogério Cezar de Cerqueira Leite, um dos principais cientistas do país, aos 93 anos