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Fórum de Educação Superior ABC/SBPC debate avaliação das instituições acadêmicas

No dia 30 de abril, aconteceu a terceira edição do Fórum da Educação Superior ABC/SBPC, com o título “Panorama do Ensino Superior no Brasil”. Organizado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o encontro contou com o sociólogo e economista Luiz Roberto Curi, atual presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE) e ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep); e com a cientista política Elizabeth Balbachevsky, vice-coordenadora do Núcleo de Pesquisa sobre Políticas Públicas da USP (NUPPs/USP).

O ensino superior brasileiro enfrenta uma crise de demanda. Em 2022,  apenas 23% das vagas abertas em graduação foram preenchidas. É bem verdade que a taxa de preenchimento de vagas nas instituições públicas federais e estaduais, em torno de 74%, foi bem superior à média nacional, mas como o grosso das vagas abertas, 95%, se deu em instituições particulares, o cenário das públicas se torna pouco representativo do padrão geral do ensino superior no Brasil. Mas mesmo no ensino público a situação não é animadora, a taxa média de evasão, ou seja, de alunos que não concluem o curso, é de 52%.

Esse cenário, num país em que menos de um quarto dos jovens de 18 a 24 anos ingressam no ensino superior, é preocupante e coloca o futuro do país em cheque. Com o avanço nas tecnologias de automatização e inteligência artificial, o que o Brasil faz é deixar que a grande maioria de seus jovens fique confinada à empregos precarizados. “Não provemos aos nossos jovens capacidade de competir no mundo moderno”, sumarizou Balbachevsky.

Ocupação de vagas no ensino superior em 2022. Gráfico apresentado por Luiz Curi. Dados: MEC/Inep – Censo da Educação Superior

Avaliação não reflete o que a sociedade espera do ensino superior

O Brasil é um dos poucos países do mundo que institui uma obrigação legal de processos avaliativos das instituições de ensino superior. Esse esforço regulatório ganhou corpo em 1996 com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que organizou e sistematizou uma série de iniciativas descoladas que já existiam. “Essas primeiras experiências de avaliação foram bem sucedidas pois as comissões tinham autonomia, com avaliadores reconhecidos e que escolhiam quem entrava e que parâmetros seguir, não recebiam um calhamaço de regras pronto”, avaliou Luiz Curi.

Para o palestrante, isso começou a mudar depois que a competência da avaliação foi centralizada no Inep e se consolidou com a criação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). “O processo se tornou mais sistemático, deixou de ser focado nos avaliadores, mas sim no procedimento. A regulação até 2005 era orientada pela avaliação, e depois se inverteu. A avaliação passou a ser focada mais em normas e limites para evitar o mal-feito, mas que limitavam o bem-feito e a experimentação”.

Diante disso, Curi avalia que a reforma regulatória é um dos principais desafios do Ministério da Educação atualmente. “É importante ter uma avaliação que não vise o conforto da instituição para continuar a perseguir a expansão acrítica de matriculas, mas que vise o melhor para a sociedade brasileira”, sumarizou.

Modelos engessados de educação superior

Se por um lado a educação superior tem o papel fundamental de criar competências e uma população especializada, por outro, o sistema tem uma característica muito perceptível de hierarquização da sociedade, que muitas vezes joga contra o objetivo da inclusão. “Se continuarmos entendendo que 80% dos nossos jovens são formados num ensino com valor hierárquico menor que os 20% formados pelas universidades públicas, continuaremos alimentando desigualdade”, avaliou Elizabeth Balbachevsky.

Nesse cenário, a expansão das cotas e ações afirmativas foi um passo importante, mas que nunca será suficiente dada a própria incapacidade das instituições públicas de acolherem toda a demanda por diplomas do país. “O que temos hoje é um ambiente em que as universidades públicas se veem obrigadas a servir de vitrine para um modelo tradicional de educação e não conseguem se dinamizar. Ao mesmo tempo, as métricas para a avaliação são construídas dentro desse modelo e acabam servindo pouco para avaliar experiências com objetivos completamente diferentes”, completou.

Para ela, o objetivo de expansão do ensino superior demanda que cada vez mais formatos e desenhos institucionais sejam aceitos e valorizados. “A universidade tradicional sempre foi pensada como um instrumento de formação das elites. Um ensino que se massifica não pode ficar preso a esse modelo”.

Isso vale também para os programas de pós-graduação. “O modelo stricto sensu foi pensado como um mecanismo de reprodução da profissão acadêmica, mas agora ele precisa responder a uma demanda muito mais ampla, que só o mercado acadêmico não absorve. Para formar pessoas para outros mercados precisamos construir um modelo muito mais flexível, precisamos olhar com mais carinho para os mestrados e – por que não? – doutorados profissionais”, avaliou.

Os participantes do debate. Os Acadêmicos Aldo Zarbin e Santuza Teixeira coordenam a iniciativa

A questão do Ensino à Distância

A pandemia acelerou inúmeras transformações, uma delas foi a proliferação do ensino à distância (EAD). Hoje, matriculados no EAD já são 40% dos alunos de ensino superior brasileiro e a tendência é de que ultrapassem o número do presencial ainda nesta década. O EAD particular é o modelo de ensino superior que mais abriu vagas no último ano, mas existem preocupações legítimas relacionadas à qualidade. “Há uma defasagem absurda no EAD na proporção de professores e estudantes. Há instituições com 700 mil alunos com cerca de 200 professores, enquanto no presencial temos instituições com 40 mil alunos e 400 professores”, relatou Curi.

Mas para Balbachevsky, é preciso ter cuidado para separar o joio do trigo. Num país como o Brasil, em que a média de idade dos alunos é alta e a maior parte deles se desdobra para conciliar responsabilidades familiares e profissionais com a educação, o modelo EAD é fundamental. “Ele tem um custo de entrada e de saída muito mais baixo, mais atrativo. Mas o modelo precisa ganhar corpo, ser levado à sério, não pode ser uma estratégia de instituições privadas para cortar custos e aumentar receitas. No nosso país, com tantas regiões afastadas, eu consigo imaginar o EAD sendo fundamental, por exemplo, na formação de professores e na capacitação de servidores públicos de cidades interioranas, e em diversas outras áreas também”.

Assista ao debate completo:

Reunião Magna da ABC 2024: veja o programa e inscreva-se!

Em 2024, a Reunião Magna da ABC 2024 já tem local e data: dias 7, 8 e 9 de maio, no Museu do Amanhã, Rio de Janeiro. 

O tema é “Inteligência Artificial e as Ciências: Oportunidades e Riscos“. Os coordenadores do evento são a Acadêmica Elisa Reis e o vice-presidente da ABC para a Região  Minas Gerais e Centro-Oeste, Virgílio Almeida

Já temos nomes destacados nas conferências magnas e nas sessões!

Veja a programação e inscreva-se aqui.

Conheça aqui os palestrantes

 

EVENTO COM TRADUÇÃO SIMULTÂNEA E EMISSÃO DE CERTIFICADOS DE PARTICIPAÇÃO PRESENCIAL.

 


SERVIÇO
• Data: 07 – 09/05/2024
• Formato: Presencial
• Local: Museu do Amanhã – RJ.
• Informações: Gabriella Fialho de Mello. E-mail: gfmello@abc.org.br. Tel: (21) 3907-8100 r. 8148

 

*A imagem que compõe o logotipo da Reunião Magna 2024 da ABC foi gerada via inteligência artificial. A composição foi efetuada por um humano. =)

Conheça os palestrantes da Reunião Magna da ABC!

O principal evento da Academia Brasileira de Ciências, a Reunião Magna, está chegando. Será realizada nos dias 7, 8 e 9 de maio, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.

A agenda está quase fechada, com a maioria dos palestrantes confirmados. As Conferências Magnas, que são seis, já estão todas confirmadas!

No dia 7 de maio, 3a feira, teremos o sociólogo NICK COULDRY, da London School of Economics, cuja pesquisa é voltada para estudos de mídia e comunicações, cultura e poder, e teoria social. Hoje, a construção da realidade é cada vez mais influenciada por algoritmos e processos de dados que rastreiam nossas atividades em plataformas online ou ao usar objetos “conectados” (a “internet das coisas”). Será que a teoria social pode revelar como, mesmo quando nos sentimos mais autênticos e conectados aos outros, ainda podemos estar profundamente envolvidos nas engren,agens do poder? 

No mesmo dia, contaremos com a presença do vice-presidente do Google, VINTON CERF. Ele é um dos arquitetos da Internet moderna, tendo co-projetado o protocolo TCP/IP que define como os computadores se comunicam em um sistema em rede. Desde 2005 ele trabalha no Google, onde agora é responsável pelo desenvolvimento de negócios do setor público para produtos e serviços avançados baseados na Internet. Ele é membro do Comitê Consultivo da NASA e do Comitê de Visitas para Tecnologia Avançada do Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos EUA. 

 

No dia 8 de maio, 4a feira, a primeira Conferência Magna será apresentada pela professora de Ciência da Computação da Universidade de Princeton, MARGARET MARTONOSI. Seu trabalho inclui a ferramenta de modelagem de energia amplamente utilizada Wattch e o projeto de rede de sensores móveis ZebraNet da Universidade de Princeton para o design e implantação real de coleiras de rastreamento de zebras no Quênia. 

Na mesma data, contaremos com a palestra de MATTHIAS SCHEFFLER, físico teórico alemão da Sociedade Max-Planck. Ele é especialmente conhecido por suas contribuições para a teoria do funcional da densidade e para a mecânica quântica de muitos elétrons, bem como por seu desenvolvimento de abordagens multiescala. Nos últimos anos, ele tem se concentrado cada vez mais em conceitos em métodos científicos centrados em dados e no objetivo de que os dados da ciência dos materiais devem ser “encontráveis e prontos para a inteligência artificial”. 

 

Finalmente, no dia 8 de maio, 5a feira, a primeira Conferência Magna será do cientista da computação RANVEER CHANDRA, diretor de Pesquisa para a Indústria e o CTO de AgriFood na Microsoft. Lidera o Grupo de Pesquisa em Redes na Microsoft Research, em Redmond, nos EUA. Anteriormente, Ranveer foi cientista-chefe da Microsoft Azure Global. Sua pesquisa foi incorporada em diversos produtos da Microsoft, incluindo wi-fi virtual no Windows 7 em diante, wi-fi de baixo consumo de energia no Windows 8, perfis de energia no Visual Studio, baterias definidas por software no Windows 10 e o protocolo do controlador sem fio no XBOX One. Ele iniciou o Projeto FarmBeats na Microsoft em 2015 e também liderou o projeto de pesquisa de bateria e o projeto de redes de espaços em branco na Microsoft Research, tendo implementado a primeira rede de espaços em branco urbana do mundo. 

A última Conferencista Magna é a antropóloga KARIN STRIER, professora da Universidade de Wisconsin-Madison. É uma autoridade internacional sobre o macaco muriqui do norte, ameaçado de extinção, que ela estuda desde 1982 na Mata Atlântica brasileira. Sua pesquisa de campo pioneira e de longo prazo tem sido fundamental para os esforços de conservação desta espécie e tem sido influente na ampliação das perspectivas comparativas sobre a diversidade comportamental e ecológica dos primatas. Atualmente, ela é co-presidente da Rede InterAmericana de Ciências (IANAS), junto com Helena Nader, presidente da Academia Brasileira de Ciências.

 


Veja a programação e conheça todos os palestrantes 

O EVENTO É GRATUITO, MAS REQUER INSCRIÇÃO, EM FUNÇÃO DA LOTAÇÃO DO AUDITÓRIO DO MUSEU DO AMANHÃ

INSCREVA-SE AQUI

Panorama Atual do Ensino Superior no Brasil

No dia 30 de abril, 3ª feira, às 16h, a terceira edição do Fórum ABC/SBPC de Educação Superior vai trazer Luiz Roberto L. Curi (CNE) e Elizabeth Balbachevsky (USP) para apresentarem um Panorama Atual do Ensino Superior no Brasil.

Confira! O evento é on-line e será transmitido pelo YouTube da Academia Brasileira de Ciências.

A série de eventos é coordenada pelos Acadêmicos Aldo Zarbin e Sylvio Canuto.

 

Os palestrantes:

Luiz Roberto L. Curi (CNE)

Sociólogo e doutor em Economia, ambos pela Unicamp. É conselheiro e atual presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE). Atuou no CNPq, no CGEE, foi presidente do INEP/Ministério da Educação. Atuou também no Governo do Estado de São Paulo e na Prefeitura de Campinas, entre outros destacados cargos de gestão.

 

 

Elizabeth Balbachevsky (USP)

Doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP, onde é livre docente pelo Departamento de Ciência Política e professora associada no mesmo departamento. É vice-coordenadora do Núcleo de Pesquisa sobre Políticas Públicas da USP (NUPPs/USP). Desenvolve pesquisas na área de políticas de ciência, inovação e ensino superior, além de estudos na área de comportamento político.

 

 

 

 


SERVIÇO:

Evento: Fórum ABC/SBPC de Educação Superior
Tema:  Panorama Atual do Ensino Superior no Brasil
Palestrantes: Luiz Roberto L. Curi (CNE) e Elizabeth Balbachevsky (USP)
Local: YouTube da ABC
Data: 30 de abril, 3a feira
Hora: 16h

Frontiers Planet Prize anuncia vencedores nacionais

O Frontiers Planet Prize anunciou hoje os 22 vencedores nacionais de sua segunda edição. O Prémio reconhece cientistas cuja pesquisa promove a sustentabilidade e trazem soluções que impeçam o ultrapassar das nove fronteiras planetárias, um quadro apresentado pelo cientista Johan Rockström, são elas: mudanças climáticas; integridade da biosfera; mudanças no da terra; disponibilidade de água potável; fluxos biogeoquímicos; acidificação dos oceanos; mudanças na composição atmosférica; depredação da camada de ozônio; e outras entidades (grupo que inclui liberação de radiação ou substancias e organismos sintéticos na natureza). Destas nove, apenas três – acidificação dos oceanos, mudanças na composição atmosférica e depredação da camada de ozônio – estão sob controle.

Prof. Alexander Turra

O vencedor brasileiro foi o professor Alexander Turra, da Universidade de São Paulo (USP), com o artigo “Avanços na identificação de hotspots de poluição por plástico em nível subnacional: o Brasil como um estudo de caso no Sul Global”, publicado na Science Direct. O estudo quantifica e analisa regionalmente a geração de lixo plástico no Brasil, bem como encontra dois pontos focais de transmissão deste lixo para os oceanos, na Baía de Guanabara, RJ, e nas partes brasileiras da Bacia do Rio da Prata.

“Sempre fui inundado pelo oceano desde muito jovem. Com base na minha experiência em ecologia marinha e gestão costeira, tive a um aprendizado transdisciplinar que me permite dialogar com os mais diversos atores sociais relacionados ao oceano. A integração entre oceano e sociedade e entre ciência e tomada de decisão tornou-se minha prática diária e representa um dos principais objetivos da Cátedra UNESCO para Sustentabilidade dos Oceanos, que coordeno na Universidade de São Paulo. O lixo marinho é um dos desafios que a cátedra aborda a partir de uma equipe interdisciplinar, como foi com o estudo premiado”, disse Turra, que teve a oportunidade de escrever um ensaio sobre sua temática e seu trabalho, em inglês, que você confere aqui.

A Academia Brasileira de Ciências (ABC) foi convidada a atuar na seleção das candidaturas do Brasil, considerando apenas candidatos baseados em instituições nacionais. Para a submissão, a ABC acionou instituições de ensino superior públicas, privadas e confessionais de todo o país, assim como unidades de pesquisa ligadas ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

O Prêmio envolveu 20 academias de ciências e 475 universidades e instituições de investigação líderes de 43 países. Os 23 vencedores nacionais foram escolhidos por um júri independente de 100 cientistas do qual participaram os membros da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Carlos Nobre e Mercedes Bustamante. Eles representam um grupo diverso de pesquisadores em diferentes estágios da carreira e terão a oportunidade de compartilhar seus trabalhos premiados através de conferências nacionais e internacionais para facilitar a mudança sistémica necessária para salvaguardar a saúde do nosso planeta.

Em palestra a empresários, ganhadores do Prêmio Nobel destacam a importância da pesquisa básica

Leia matéria de José Tadeu Arantes para Agência Fapesp, publicada em 19/4:

“Tem sido energizante e também exaustivo”: assim o escocês David MacMillan, Prêmio Nobel de Química em 2021, resumiu suas impressões sobre a visita ao Brasil. Depois de participar de um evento na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e de outro na Universidade de São Paulo (USP), MacMillan iniciava sua última apresentação no país, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na avenida Paulista, em São Paulo. Junto com ele, estavam o francês (nascido no Marrocos) Serge Haroche, Prêmio Nobel de Física de 2012, e a norueguesa May-Britt Moser, Prêmio Nobel de Medicina de 2014.

Sempre acompanhados pelo neurocientista Adam Smith, diretor científico da Nobel Prize Outreach, o serviço de divulgação da Fundação Nobel, os três ganhadores do Prêmio Nobel participaram de uma rodada de eventos enfeixados pelo título “Creating our future together with Science” (Criando o nosso futuro juntos com a ciência).

O ciclo, promovido pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) em parceria com a Fundação Nobel, com apoio da Fapesp, não visou explorar em profundidade os temas que levaram esses três pesquisadores a receber a mais prestigiosa premiação do mundo. Mas trazê-los para um contato informal com a comunidade universitária, no caso da Uerj e da USP, e com tomadores de decisões, no caso da Fiesp. O fio condutor foi a valorização da ciência, em um contexto de negacionismo, que se espalhou pelo mundo como uma pandemia.

Na contramão dessa tendência, Haroche citou algumas grandes realizações da ciência nos anos recentes, como a comprovação experimental da existência das ondas gravitacionais e a torrencial descoberta de exoplanetas. O problema, segundo o veterano pesquisador, já com 79 anos, é que ocorre atualmente uma forte predominância de projetos ambiciosos, de cima para baixo, enquanto deveria ser criado um ambiente que favorecesse uma ciência de baixo para cima. “Os resultados, às vezes, vêm de áreas inesperadas. A história nos dá muitos exemplos de pesquisas básicas que, tempos depois, propiciaram grandes aplicações tecnológicas. O princípio físico do laser foi visualizado por Einstein em 1916. Hoje, o laser é um componente fundamental do sistema mundial de comunicações. Precisamos estimular a ciência básica em todas as direções possíveis e esperar que as aplicações venham. E, antes da ciência, necessitamos de educação básica. Para isso, é imprescindível garantir bons salários para os professores”, disse.

Nessa trilha de valorização dos resultados recentes da ciência, MacMillan lembrou as pesquisas destinadas a retardar o processo de envelhecimento, que avançaram muito nas últimas décadas. E, diante de uma plateia formada majoritariamente por pessoas ligadas ao segmento empresarial, enfatizou a necessidade de interação e colaboração entre a academia e a indústria, afirmando que seu grupo de pesquisa, na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, mantém atualmente pelo menos 15 acordos de colaboração com empresas farmacêuticas. “Obtivemos da indústria um aporte de US$ 100 milhões para a pesquisa”, contou.

Além de uma conversa até certo ponto informal entre os três cientistas, animada pelo diretor científico Smith, May-Britt Moser participou também de um painel sobre “Como aumentar a diversidade na ciência”. Com a presença de interlocutores brasileiros, o painel destacou as limitações que ainda existem para a participação de mulheres, negros e grupos minoritários no processo científico. “Existe, infelizmente, uma situação pendular no mundo. Na Noruega, as universidades eram muito abertas para o mundo todo. Agora, estão mais fechadas, voltando-se, principalmente, para estudantes europeus”, falou.

Mas, perguntada sobre o que diria para uma menina que, como ela mesma na infância, manifestasse muita curiosidade científica, Moser foi enfática: “Por que eu deveria dizer para uma menina algo diferente do que eu diria para um menino? Precisamos quebrar essas caixas, esses rótulos. Embora eu ame ser avó, não quero ser definida como avó. Vivam uma vida sem rótulos. Sejam anjos de luz!”, clamou. E fez questão de repetir a fórmula: “Vivam uma vida sem rótulos. Sejam anjos de luz!”.

Entre vários convidados, participaram do encontro na Fiesp Erika Lanner, CEO e diretora do Nobel Prize Museum em Estocolmo (Suécia); Helena Nader, presidente da Academia Brasileira de Ciências; Marco Antonio Zago, presidente do Conselho Superior da FAPESP; Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente da FAPESP, e Pedro Wongtschowski, membro do Conselho Superior da FAPESP e do Conselho Superior de Inovação e Competitividade da Fiesp. Zago ressaltou a importância da “liberdade de pesquisa e a responsabilidade das agências de fomento para uma ciência realmente criativa”.


Leia a matéria original, aberta, no site da Agência Fapesp

Repercussão dos Diálogos Nobel Brasil

Confira aqui a repercussão dos Diálogos Nobel Rio e São Paulo 2024 na grande mídia e em mídias locais:

Agência Fapesp, 19/4
Em palestra a empresários, ganhadores do Prêmio Nobel destacam a importância da pesquisa básica

Agência Fapesp, 19/4
Três ganhadores do Prêmio Nobel encontram estudantes no RJ e em SP

Folha de S.Paulo, 19/4
Interesse em ciência ajuda democracias em todo o mundo, diz Nobel de Medicina

Valor Econômico, 17/4
Ganhadores do Nobel debatem financiamento da ciência

 Veja Saúde, 17/4
May-Britt Moser: a vencedora do prêmio Nobel que investiga a memória

Agência Brasil, 17/4
Nobel de Química estimula alunos da USP a seguirem carreira científica

Futuro da Saúde, 17/4
May-Britt Moser, vencedora do Nobel de Medicina: “Diversidade enriquece o trabalho científico”

TV Brasil, 17/4
Ciência em debate: estudantes encontram vencedores do Prêmio Nobel

Rede TVT, 17/4
Ganhadores do prêmio Nobel se reúnem com estudantes para incentivar formação de novos cientistas

Valor Econômico, 16/4
Veja o que vencedores do Nobel defendem para criação de futuro mais desenvolvido e justo

Rádio Nacional, 16/4
Ganhadores do Nobel de Medicina, Física e Química estão no Brasil

Bahia Notícias, 16/4
Dra. Jaqueline Goes participa de evento com ganhadores do Prêmio Nobel no Rio de Janeiro

Anota Bahia, 16/4
Cientista baiana se reuniu com ganhadores do Prêmio Nobel em evento no Rio de Janeiro

Tribuna do Sertão, 16/4
Ganhadores do Nobel de Medicina, Física e Química estão no Brasil

Bahia Social Vip, 16/4
Cientista baiana Jaqueline Goes se reúne com ganhadores do Prêmio Nobel em evento

Alo Alo Bahia, 16/4
Cientista baiana Jaqueline Goes participa de evento com ganhadores do Prêmio Nobel

Bandnews, 15/4
Academia Brasileira de Ciências promove encontro com três premiados pelo Nobel

 

Artigos, entrevistas e matérias anteriores ao evento:

Rádio Unesp, 16/4 – áudio aqui

Tribuna do Agreste, 16/4
Ganhadores do Nobel de Medicina, Física e Química estão no Brasil

Folha de S.Paulo, 15/4
Computador quântico ainda está distante, diz ganhador do Nobel

O Globo, 15/4
Dicas do Nobel David MacMillan para jovens cientistas: “seja autêntico e suba um degrau de cada vez”

Fogao.net, 14/4
Vencedor de Prêmio Nobel de Química visita Botafogo e se impressiona: “serei torcedor para sempre”

De olho na cidade, 14/4
UEFS vai ter representante em evento com ganhadores do Prêmio Nobel

Botafogo Futebol e Regatas, 13/4
Botafogo recebe vencedor de Prêmio Nobel de Química para visitar a sede da General Severiano

O Globo, 12/4
Nobel no Brasil: como a ciência pode trazer soluções para os desafios atuais
Por Erika Lanner e Adam Smith (Nobel Prize Outreach)

Diplomacia Business, 11/4
Três ganhadores do Prêmio Nobel encontram estudantes no Rio e em SP

Notícias Univale, 11/4
Médicos formados pela Univale participam de encontro com vencedores do Prêmio Nobel

Estadão, 10/4
Ciência e sociedade: um diálogo necessário
Por Helena Nader (ABC), Marco Antonio Zago (Fapesp) e Pedro Wongtschowski (Fiesp)

Finep, 10/4
Finep e ABC trazem três Prêmio Nobel para debater o papel da ciência para o desenvolvimento do Brasil

Notícias Uerj, 10/4
Três ganhadores do Prêmio Nobel participam de evento presencial e gratuito na Uerj; inscrições estão abertas

IG-Coluna de Lu Lacerda, 10/4
Pela primeira vez três ganhadores do Prêmio Nobel estarão juntos no Rio

Notícias da UFSC, 5/4
Pesquisadoras da UFSC participam de encontro com vencedores do Prêmio Nobel

Jornal Floripa, 5/4
Pesquisadoras da UFSC participam de encontro com vencedores do Prêmio Nobel

Jornal da USP, 4/4
USP recebe vencedores do Prêmio Nobel de Medicina, Química e Física para debater os desafios da ciência

Diálogos Nobel Brasil: Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

Na tarde de 17 de abril, foi a vez da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) receber os Diálogos Nobel Brasil. O evento foi organizado pela Academia Brasileira de Ciências junto com o Nobel Prize Outreach, braço da Fundação Nobel, e foi possível graças ao apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O encontro na Fiesp foi uma iniciativa do diretor do Conselho Superior de Inovação da entidade, Pedro Wongtschowski, que lembrou que ciência e inovação andam sempre juntas.

Pedro Wongtschowski, diretor do conselho superior de inovação da Fiesp (Foto: Marcos André Pinto)

Os laureados

Os laureados presentes foram May-Britt Moser, ganhadora do Nobel de Medicina em 2014 por suas descobertas em neurociências, ajudando a avançar significativamente pesquisas sobre cognição espacial humana; Serge Haroche, membro correspondente da ABC, que recebeu o Nobel de Física em 2012 por desenvolver novos métodos experimentais que permitiram medir e manipular partículas quânticas individuais, algo considerado impossível até então; e David MacMillan, premiado com o Nobel de Química em 2021 pela criação de catalisadores sustentáveis com diversas aplicações industriais, sobretudo na produção de medicamentos.

Adam Smith, diretor científico dos Diálogos Nobel, e os três laureados: Serge Haroche, David MacMillan e May-Britt Moser (Foto: Marcos André Pinto)

Criando pontes entre ciência e indústria

A inovação é um dos maiores desafios da ciência brasileira, justamente pela falta de interação entre academia e indústria. Superar essa barreira é crucial, como apontou David MacMillan. “O maior problema é conseguir esse diálogo, é muito difícil. Mas se não houver, sobram apenas cientistas conversando com cientistas. Em Princeton fizemos uma experiência: pegamos todo o campus e levamos para falar com a indústria, em apresentações muito rápidas e abertas, onde cada pesquisador escolhia o que achava mais importante. É surpreendente a quantidade de conexões que acabam surgindo”. Mas também é preciso vontade por parte da indústria, apontou. “É fácil demais deixar isso de lado, descartar o que não é útil, mas só com investimento surgem histórias de sucesso. Na Califórnia, por exemplo, está ocorrendo um investimento significativo na educação dos jovens de baixa renda. Isso torna o estado mais forte, a economia mais forte”, completou.

Na mesma linha, Serge Haroche enfatizou a primazia dos investimentos em educação básica, algo que também fez nos encontros na USP e na UERJ. “Para formar cientistas é preciso ter uma educação básica de qualidade, não é algo trivial ensinar sobre pensamento crítico. Professores especializados precisam ganhar bem e ter reconhecimento. Esse é o melhor investimento que um país pode fazer”.

Para as indústrias, naturalmente, a atenção maior é dada a pesquisa aplicada, visando gerar novos produtos e serviços . Ainda assim, uma visão de crescimento a longo prazo pede necessariamente por investimento em pesquisa básica, o ponto inicial de qualquer inovação. “Há uma tendência hoje de gestão científica de cima para baixo. Não pode ser assim, é preciso deixar que os cientistas escolham seus próprios tópicos. O desafio é ter um ambiente que favoreça a ciência que vem de baixo. A descoberta vem, na maior parte das vezes, do inesperado. A tensões geopolíticas empurram os países para trabalhar com grandes projetos, mas considero isso um erro”, avaliou Haroche.

Sobre quais devem ser os temas do futuro, os nobelistas concordaram que não é possível escolher uma área de interesse acima de todas as outras, em um mundo que tende cada vez mais à interdisciplinaridade. “Todos os campos vão contribuir. A história tem inúmeros exemplos de ciência básica levando à invenções grandiosas. Se você olhar as predições feitas sobre inovação para o século 21, quase nada se concretizou. Ao mesmo tempo, o que surgiu era inimaginável. Nesse contexto, a única solução é ter ciência em todas as direções. É muito difícil dos tomadores de decisão entenderem isso, é uma questão de curto prazo contra longo prazo”, reforçou Haroche.

May-Britt Moser foi além e reforçou o papel das humanidades. “História, Educação, Filosofia, todos esses tópicos são necessários para nos prepararmos para um futuro que não conhecemos. Para prever o futuro sempre usamos o passado, mesmo entendendo que existe o inesperado. Não podemos nos tornar paranóicos, temer o amanhã, mas é preciso se preparar”.

Os três nobelistas falaram para um auditório cheio na Fiesp (Foto: Marcos André Pinto)

Saiba como foram os outros eventos!

Diálogos Nobel Brasil: Universidade do Estado do Rio de Janeiro

A ABC juntou três laureados do Prêmio Nobel com alunos e professores das comunidades cientificas do Brasil e da América Latina. Primeiro dia foi perante o teatro lotado da UERJ!

Diálogos Nobel Brasil: Universidade de São Paulo

Os nobelistas May-Britt Moser, David MacMillan e Serge Haroche compartilharam suas experiências enquanto cientistas com um auditório lotado na USP. Confira!

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