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Fórum de Educação Superior ABC/SBPC debate avaliação das instituições acadêmicas

No dia 30 de abril, aconteceu a terceira edição do Fórum da Educação Superior ABC/SBPC, com o título “Panorama do Ensino Superior no Brasil”. Organizado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o encontro contou com o sociólogo e economista Luiz Roberto Curi, atual presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE) e ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep); e com a cientista política Elizabeth Balbachevsky, vice-coordenadora do Núcleo de Pesquisa sobre Políticas Públicas da USP (NUPPs/USP).

O ensino superior brasileiro enfrenta uma crise de demanda. Em 2022,  apenas 23% das vagas abertas em graduação foram preenchidas. É bem verdade que a taxa de preenchimento de vagas nas instituições públicas federais e estaduais, em torno de 74%, foi bem superior à média nacional, mas como o grosso das vagas abertas, 95%, se deu em instituições particulares, o cenário das públicas se torna pouco representativo do padrão geral do ensino superior no Brasil. Mas mesmo no ensino público a situação não é animadora, a taxa média de evasão, ou seja, de alunos que não concluem o curso, é de 52%.

Esse cenário, num país em que menos de um quarto dos jovens de 18 a 24 anos ingressam no ensino superior, é preocupante e coloca o futuro do país em cheque. Com o avanço nas tecnologias de automatização e inteligência artificial, o que o Brasil faz é deixar que a grande maioria de seus jovens fique confinada à empregos precarizados. “Não provemos aos nossos jovens capacidade de competir no mundo moderno”, sumarizou Balbachevsky.

Ocupação de vagas no ensino superior em 2022. Gráfico apresentado por Luiz Curi. Dados: MEC/Inep – Censo da Educação Superior

Avaliação não reflete o que a sociedade espera do ensino superior

O Brasil é um dos poucos países do mundo que institui uma obrigação legal de processos avaliativos das instituições de ensino superior. Esse esforço regulatório ganhou corpo em 1996 com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que organizou e sistematizou uma série de iniciativas descoladas que já existiam. “Essas primeiras experiências de avaliação foram bem sucedidas pois as comissões tinham autonomia, com avaliadores reconhecidos e que escolhiam quem entrava e que parâmetros seguir, não recebiam um calhamaço de regras pronto”, avaliou Luiz Curi.

Para o palestrante, isso começou a mudar depois que a competência da avaliação foi centralizada no Inep e se consolidou com a criação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). “O processo se tornou mais sistemático, deixou de ser focado nos avaliadores, mas sim no procedimento. A regulação até 2005 era orientada pela avaliação, e depois se inverteu. A avaliação passou a ser focada mais em normas e limites para evitar o mal-feito, mas que limitavam o bem-feito e a experimentação”.

Diante disso, Curi avalia que a reforma regulatória é um dos principais desafios do Ministério da Educação atualmente. “É importante ter uma avaliação que não vise o conforto da instituição para continuar a perseguir a expansão acrítica de matriculas, mas que vise o melhor para a sociedade brasileira”, sumarizou.

Modelos engessados de educação superior

Se por um lado a educação superior tem o papel fundamental de criar competências e uma população especializada, por outro, o sistema tem uma característica muito perceptível de hierarquização da sociedade, que muitas vezes joga contra o objetivo da inclusão. “Se continuarmos entendendo que 80% dos nossos jovens são formados num ensino com valor hierárquico menor que os 20% formados pelas universidades públicas, continuaremos alimentando desigualdade”, avaliou Elizabeth Balbachevsky.

Nesse cenário, a expansão das cotas e ações afirmativas foi um passo importante, mas que nunca será suficiente dada a própria incapacidade das instituições públicas de acolherem toda a demanda por diplomas do país. “O que temos hoje é um ambiente em que as universidades públicas se veem obrigadas a servir de vitrine para um modelo tradicional de educação e não conseguem se dinamizar. Ao mesmo tempo, as métricas para a avaliação são construídas dentro desse modelo e acabam servindo pouco para avaliar experiências com objetivos completamente diferentes”, completou.

Para ela, o objetivo de expansão do ensino superior demanda que cada vez mais formatos e desenhos institucionais sejam aceitos e valorizados. “A universidade tradicional sempre foi pensada como um instrumento de formação das elites. Um ensino que se massifica não pode ficar preso a esse modelo”.

Isso vale também para os programas de pós-graduação. “O modelo stricto sensu foi pensado como um mecanismo de reprodução da profissão acadêmica, mas agora ele precisa responder a uma demanda muito mais ampla, que só o mercado acadêmico não absorve. Para formar pessoas para outros mercados precisamos construir um modelo muito mais flexível, precisamos olhar com mais carinho para os mestrados e – por que não? – doutorados profissionais”, avaliou.

Os participantes do debate. Os Acadêmicos Aldo Zarbin e Santuza Teixeira coordenam a iniciativa

A questão do Ensino à Distância

A pandemia acelerou inúmeras transformações, uma delas foi a proliferação do ensino à distância (EAD). Hoje, matriculados no EAD já são 40% dos alunos de ensino superior brasileiro e a tendência é de que ultrapassem o número do presencial ainda nesta década. O EAD particular é o modelo de ensino superior que mais abriu vagas no último ano, mas existem preocupações legítimas relacionadas à qualidade. “Há uma defasagem absurda no EAD na proporção de professores e estudantes. Há instituições com 700 mil alunos com cerca de 200 professores, enquanto no presencial temos instituições com 40 mil alunos e 400 professores”, relatou Curi.

Mas para Balbachevsky, é preciso ter cuidado para separar o joio do trigo. Num país como o Brasil, em que a média de idade dos alunos é alta e a maior parte deles se desdobra para conciliar responsabilidades familiares e profissionais com a educação, o modelo EAD é fundamental. “Ele tem um custo de entrada e de saída muito mais baixo, mais atrativo. Mas o modelo precisa ganhar corpo, ser levado à sério, não pode ser uma estratégia de instituições privadas para cortar custos e aumentar receitas. No nosso país, com tantas regiões afastadas, eu consigo imaginar o EAD sendo fundamental, por exemplo, na formação de professores e na capacitação de servidores públicos de cidades interioranas, e em diversas outras áreas também”.

Assista ao debate completo:

Reunião na ABC debate a situação dos jovens cientistas brasileiros

Como parte das discussões preparatórias para a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5ª CNCTI), a Academia Brasileira de Ciências (ABC) organizou no dia 25 de abril a Conferência Livre – Juventudes e Ciência, de forma online. O evento foi uma parceria com a Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG), o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

O encontro abordou os desafios enfrentados por jovens doutores na consolidação de suas carreiras e na inserção no mercado de trabalho, bem como o engajamento da população jovem em CT&I através da divulgação e comunicação científica. Em um ponto bastante atual, o novo e controverso programa de repatriação anunciado pelo CNPq também foi debatido.

Panorama dos jovens doutores brasileiros

Em 2023, um grupo de membros afiliados da ABC divulgou os resultados do projeto Perfil do Jovem Cientista Brasileiro, que ouviu 4.115 pesquisadores com até 15 anos de doutoramento sobre o que pensavam da carreira. Responsáveis por liderar o trabalho, as pesquisadoras Ana Chies e Raquel Minardi trouxeram alguns dados para embasar a conferência.

Dentre os resultados, 74% dos jovens pesquisadores relataram ter muita dificuldade em conseguir financiamento. Uma das políticas mais consolidadas de estímulo à investigação científica, as bolsas de produtividade do CNPq ainda são inacessíveis nessa etapa da carreira. Apenas 10% dos respondentes são bolsistas de produtividade e 8% estão na categoria mais baixa. Outro problema é a desigualdade de gênero, homens têm o dobro de chances de serem bolsistas de produtividade do que mulheres. “O grande problema das bolsas de produtividade é que a competitividade por elas cresce a cada ano, mas o número disponível permanece constante”, avaliou Ana Chies.

A pesquisa também revelou outros números preocupantes. 46% dos jovens doutores não acreditam valer a pena ser cientista no Brasil e 36% não se sentem motivados a continuar. Com relação à assédio, os dados são alarmantes, 47% das mulheres cientistas relataram já terem sofrido assédio sexual no meio acadêmico e 67% relataram assédio moral. Entre os homens, os números são de 12% e 57%, respectivamente.

O projeto foi um dos temas centrais que embasaram as discussões do 5º Encontro Nacional de Membros Afiliados da ABC, realizado em agosto de 2023. Foi produzido um sumário das deliberações, sob coordenação da comunicóloga Thaiane Moreira. As reinvindicações principais foram divididas em sete eixos:

  • Políticas nacionais de capacitação em grandes temas nacionais;
  • Financiamento e transparência na alocação de recursos;
  • Investimento em Comunicação Científica;
  • Políticas de interação público-privado;
  • Inserção dos jovens nos conselhos deliberativos das agências de fomento;
  • Estímulo ao Acesso Aberto de publicações científicas;
  • Combate às desigualdades e assimetrias da carreira.
Os participantes do 1º Painel “Os Desafios para os Jovens Doutores na Consolidação de suas Carreiras Acadêmicas”

Reconhecimento da pesquisa como atividade profissional

Outro documento lançado em 2023, o Dossiê Florestan Fernandes, organizado pela ANPG, aborda a situação profissional dos pós-graduandos no país. Uma das autoras do dossiê, a filósofa Cristiane Fairbanks, trouxe algum de seus resultados principais. “Um dos maiores problemas é que o pesquisador não é só um estudante, ele é um profissional estudante, seu trabalho é produzir ciência. É preciso compreender essa natureza híbrida”, disse.

Para Thaiane Moreira, pesquisar no Brasil não é tratado como profissão, mas como um “penduricalho” que se soma a diversas outras atribuições dos acadêmicos. Isso se reflete na inserção profissional e 70% dos doutores empregados atuam na área de educação. Esse padrão é muito característico do Brasil e bem diferente de países desenvolvidos, onde a maior parte dos doutores consegue entrar no setor privado. Por aqui, a falta de diálogo entre academia e indústria – e a própria falta de indústrias – contribui para um cenário estéril. Mesmo em áreas onde o país possui indústrias fortes, como no agro, o percentual de doutores no setor privado não passa de 30%.

De acordo com números trazidos pelo historiador Paulo Terra, especialista nas relações de trabalho brasileiras, o crescimento exponencial no doutoramento não foi acompanhado por um acréscimo no setor produtivo, o que levou à precarização. No século 21, o número de doutores formados por ano no país cresceu 466%, cinco vezes mais que a média dos países desenvolvidos. O reflexo desse aumento na competição foi que a remuneração de doutores no setor privado caiu 45% no mesmo período, muito acima da média nacional geral (6%).

“Nossa luta precisa ser para que a remuneração seja suficiente para que o mestrando e o doutorando possam realmente ter dedicação exclusiva. O dossiê mostrou que 57% deles já trabalham concomitantemente, mesmo com muitos programas não permitindo. A lei atual precisa se adequar à realidade de que a bolsa não está suficiente. A escolha por fazer ciência não pode ser um prejuízo pessoal para o pesquisador”, sumarizou Fairbanks.

Repatriação de Cérebros

Nas últimas semanas o CNPq anunciou um novo programa de repatriação de talentos que foi recebido com muitas críticas pela comunidade científica. O programa tenta atacar um grave problema da ciência brasileira, a fuga de cérebros para o exterior, mas seus críticos entendem que a medida é um esforço paliativo que não vai no cerne do problema. A ideia é atrair os cientistas com bolsas de até R$ 13 mil por mês, enquanto os pesquisadores que permaneceram no Brasil continuam sofrendo com falta de recursos. “Não sou contra a repatriação, de forma alguma, sou contra não ter reajuste para os pós-graduandos que ficaram por aqui”, sumarizou a presidente da ABC, Helena Nader.

Para a secretária de Políticas e Programas Estratégicos do MCTI, Márcia Barbosa, há uma confusão entre o financiamento contínuo e fomento à iniciativas pontuais. “As verbas para o programa de repatriação vêm do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que voltou a ser totalmente liberado ano passado depois de sete anos de contingenciamentos. Os programas no escopo do FNDCT têm um espírito da excepcionalidade, é algo estratégico, experimental, não é o mesmo dinheiro que vai para o ‘feijão com arroz’”, retrucou.

Mas para o afiliado Walter Beys da Silva, professor de biologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a falta de investimentos no ‘feijão com arroz’ faz com que o programa deixe a comunidade nacional em segundo plano. “Esperávamos mais desse governo, há uma escassez de bolsas do CNPq disponíveis em todas as fases. O modelo de alocação das bolsas, que considera Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da cidade do programa de pós-graduação, é problemático e ainda não foi revisto. Enquanto isso, alocam-se tantos recursos em repatriação.”

Os participantes do painel “Desafios e Estratégias para a Absorção de Recém-Doutores no Mercado de Trabalho”

Percepção Pública e Comunicação Científica”

Saindo um pouco da realidade dos pesquisadores, o debate tomou contornos mais amplos e abordou também a percepção geral dos jovens sobre o campo científico. Membra do INCT Comunicação Pública de Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT), a pesquisadora Vanessa Fagundes (UFMG) trouxe dados de levantamentos recentes que avaliaram esse cenário.

Dentre os números mais preocupantes, se avaliou que as redes sociais são a forma mais frequente que 81% dos jovens entre 15 e 24 anos brasileiros utilizam para se informar sobre ciência. “São justamente esses espaços onde eles ficam mais expostos ao negacionismo e à desinformação, por isso é importantíssimo que cientistas disputem as redes”, avaliou.

Mas para a comunicóloga Thaiane Moreira, esse trabalho precisa ser profissional. Ela criticou decretos recentes que restringiram contratação e alocação de pessoal de institutos e universidades federais em comunicação. “Não adianta um pesquisador individual criar uma página no Instagram e acabou. É preciso que as instituições emprestem sua força, tenham setores profissionais. Estamos lutando contra uma máquina de desinformação profissional, não podemos continuar de forma amadora.”

Outro dado preocupante levantado foi que o jovem brasileiro frequenta muito pouco espaços de divulgação, apenas 1% dos entrevistados afirmou ter ido a algum museu no ano anterior. Para a diretora de CT&I da ANPG, Priscila Duarte, é preciso investir em iniciativas que levem a ciência para estudantes de ensino médio. “Estudar uma ciência fechada, só conteúdo, sem enxergar o processo nem as aplicações na sua vida, desestimula. Precisamos de mais atividades práticas.”

Na mesma linha, a coordenadora de Popularização da Ciência e Tecnologia do MCTI, Luana Bonone, afirmou que a pasta está investindo em mais espaços de difusão científica nas escolas, bem como em mais atividades práticas e laboratoriais, inclusive com a concessão de bolsas para alunos e professores que escolherem se engajar nessas atividades. “Queremos fortalecer políticas já existentes, como semanas da ciência, olímpiadas, feiras e museus. A educação básica e média no Brasil ainda tem muito pouco contato com a ciência. Mas só isso não basta se quisermos atrair novos cientistas. É preciso dar perspectiva de futuro e, para isso, só valorizando a carreira.”

As participantes do painel “O Engajamento dos Jovens em CT&I”

Assista a parte da manhã da conferência:

Assista a parte da tarde da conferência:

Fusão nuclear é pop e potencialmente transformadora, mas ainda distante como energia

*Matéria de Philippe Watanabe para a Folha ouviu o membro titular da ABC Renato Machado Cotta.

Agora que energia limpa é pop, por todo canto você acha declarações de avanços sobre o tema. Mas, entre todas as evoluções —as reais—, uma teve um brilho próprio: a fusão nuclear, forma de obtenção de energia que, sob o domínio humano, é citada como de potencial revolucionário. Afinal, estamos falando da reação que mantém o Sol ardendo sobre nossas cabeças.

O fato é que a fusão tem saído de um campo quase ficcional para uma realidade, marcando presença em jornais e em revistas científicas. Porém, tudo indica, uma realidade ainda um tanto distante.

De forma resumida, a fusão nuclear ocorre quando dois núcleos de hidrogênio se fundem e formam um átomo de hélio. Isso só é possível quando as partículas estão a milhões de graus Celsius —em forma de plasma, o quarto estado da matéria—, sob alta pressão. Quando o hélio se forma, o resultado são enormes quantidades de energia, o que poderia servir à humanidade.

Curiosamente, o domínio da fusão sempre foi pensado como um processo que poderia mudar o mundo, mas, ao mesmo tempo, algo para o futuro. Pesquisadores ouvidos pela Folha contam que, de 30 a 40 anos atrás, já se falava em fusão para dali 30 ou 40 anos.

(…)

Leia a matéria completa na Folha.

Vaga de estágio aberta na editoria dos Anais da ABC

A Academia Brasileira de Ciências (ABC) abriu processo seletivo para vaga de estágio na editoria dos Anais da ABC (AABC). A carga horária é de 30h semanais, com bolsa de R$ 1.200, vale alimentação de R$ 38,96 por dia e auxílio transporte no valor de R$320,00. A ABC fica no Centro do Rio de Janeiro.

Publicados pela primeira vez em 1929, os Anais da ABC são a mais antiga revista científica em circulação contínua no país. Seu conteúdo é multidisciplinar e recebe submissões de autores do Brasil e do exterior, fazendo parte da biblioteca eletrônica online Scielo. Atualmente, o editor-chefe dos AABC é o membro titular Alexander Kellner.

O candidato deve estar matriculado em curso superior de LETRAS-ESPECIALIDADE PORTUGUÊS/INGLÊS, entre o 2º e o 5º período, e ter inglês avançado em leitura e escrita. Os interessados devem enviar todo o material requisitado no edital até o dia 15 de maio de 2024.

Acesse o edital completo.

 

Academia Chinesa de Ciências lança programa de bolsas para pesquisadores estrangeiros

Como parte da Década das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Academia Chinesa de Ciências (CAS) e a Aliança de Organizações Científicas Internacionais (Anso) criaram conjuntamente o programa de bolsas CAS-ANSO. A bolsa aceita inscrições de cientistas e especialistas em cooperação internacional não-chineses para fazer visitas de curto prazo ou passar meses fazendo pesquisas in loco em instituições e universidades vinculadas a CAS. As categorias são:

Categoria I: Bolsa de Parceria ANSO

Elegibilidade: Pesquisadores sêniores e pessoal administrativo de instituições científicas e educacionais fora da China. Será dada prioridade aos membros da ANSO.

Período de tempo: 1-2 semanas.

Subsídio: RMB (Yuan Chinês) 10.000/semana + subsídio único de viagem de ida e volta.

Categoria II: Bolsa de Cientistas Visitantes da ANSO

Elegibilidade: Acadêmicos de instituições científicas e educacionais fora da China. Eles poderiam ser professores assistentes (incluindo pós-doutorandos), professores associados, professores ou profissionais de nível comparável em áreas afins.

Período de tempo: 1-6 meses.

Financiamento:

15.000 RMB/mês (antes de impostos) para professores assistentes (incluindo pós-doutorandos) ou profissionais de nível comparável. Um subsídio de viagem de ida e volta;

25.000 RMB/mês (antes de impostos) para professores associados ou profissionais de nível comparável. Um subsídio de viagem de ida e volta;

RMB 35.000/mês (antes de impostos) para professores titulares ou profissionais de nível comparável, Um subsídio de viagem de ida e volta.

Categoria III: Bolsa de ex-alunos CAS-ANSO

Elegibilidade: graduados da Bolsa CAS-TWAS / Programa de Bolsas de Mestrado CAS “The Belt and Road” / Bolsa CAS-ANSO (anteriormente conhecida como Bolsa ANSO para Jovens Talentos) que trabalham em áreas de C&T nos países e regiões da iniciativa Belt and Road chinesa

Período de tempo: 1-2 semanas.

Financiamento:

RMB 10.000/semana (antes de impostos) + subsídio de viagem de ida e volta.

A análise da primeira rodada para 2024 será realizada entre 11 de maio de 2024 e meados de junho. As inscrições recebidas após 10 de maio de 2024 não serão processadas até a próxima rodada de análise (horário a ser determinado posteriormente).

Para mais informações, acesse.

Luiz Carlos Dias lançará livro sobre atuação de cientistas contra fake news na pandemia

O membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Luiz Carlos Dias lançará o livro: “Não há mundo seguro sem ciência – A luta de um cientista contra as pseudociências”, no dia 23 de maio durante a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), em Águas de Lindóia, SP, às 17h.

 O livro é um registro histórico sobre a pandemia de covid-19 e os desdobramentos de como essa grave crise sanitária foi afetada política contemporânea brasileira, salientando o papel decisivo da ciência. Essa crise sanitária e humanitária nos mostrou o que há de melhor e de pior na ciência, na universidade brasileira, na política, no jornalismo e na medicina. 

O Acadêmico conta sua experiência durante a pandemia, no combate ao negacionismo científico e ao obscurantismo, nas suas próprias redes sociais e onde mais ele foi convidado para falar sobre esse triste cenário. É também um reconhecimento a todas e todos, cientistas, pesquisadores, profissionais da área da saúde que atuaram na linha de frente de combate ao vírus, a quem lutou em defesa da vida, aos bons jornalistas, a todos e todas que lutaram contra o negacionismo, o charlatanismo e o obscurantismo que tomou conta do país. É uma reverência a todos e todas que defenderam as nossas universidades e institutos de pesquisas públicos, a ciência, as vacinas, a vida e os bens maiores desse país: nossa população, nossa liberdade e nossa democracia. 

O texto de orelha foi escrito pela Dra. Margareth Pretti Dalcolmo (Médica, pesquisadora da Fiocruz e Membro Titular da Academia Nacional de Medicina) e conta com prefácios escritos pelo Dr. Gonzalo Vecina (Médico e professor assistente da FSP/USP e da EAESP/FGV, fundador da Anvisa), Gustavo Mendes Lima Santos (Diretor de Assuntos Regulatórios, Qualidade e Ensaios Clínicos da Fundação Butantan e ex-gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos na Anvisa) e pela Dra. Luana Araujo (Infectologista, epidemiologista e comunicadora em saúde). 

Os posfácios foram escritos pelo Prof. Peter Schulz (Físico e professor titular da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, em Limeira), pela Profa. Soraya S. Smaili (Professora Titular da Escola Paulista de Medicina – Unifesp; Reitora da Universidade Federal de São Paulo entre 2013-2021 e Coordenadora do Centro de Estudos SoU_CIÊNCIA) e pela Dra. Rosana Richtmann (Médica infectologista do Instituto de Infectologia Emilio Ribas e Diretora do Comitê de imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia). 

Um segundo evento de lançamento será realizado na Livraria da Vila, da Rua Fradique Coutinho – Vila Madalena, São Paulo, no dia 4 de junho. Neste evento, haverá um bate papo entre o Professor Luiz Carlos Dias e os autores do livro Cloroquination, Chloé Pinheiro e Professor Flávio Emery. Um terceiro evento de lançamento será realizado na sede da ADUNICAMP, na Unicamp, no dia 20 de junho, às 17:30h, com a presença de Gustavo Mendes Lima Santos e Peter Schulz. Um quarto evento de lançamento está confirmado para Uberlândia no dia 10 de julho, com a presença de Gonzalo Vecina. Mais lançamentos também estão sendo planejados.

Frontiers Planet Prize anuncia vencedores nacionais

O Frontiers Planet Prize anunciou hoje os 22 vencedores nacionais de sua segunda edição. O Prémio reconhece cientistas cuja pesquisa promove a sustentabilidade e trazem soluções que impeçam o ultrapassar das nove fronteiras planetárias, um quadro apresentado pelo cientista Johan Rockström, são elas: mudanças climáticas; integridade da biosfera; mudanças no da terra; disponibilidade de água potável; fluxos biogeoquímicos; acidificação dos oceanos; mudanças na composição atmosférica; depredação da camada de ozônio; e outras entidades (grupo que inclui liberação de radiação ou substancias e organismos sintéticos na natureza). Destas nove, apenas três – acidificação dos oceanos, mudanças na composição atmosférica e depredação da camada de ozônio – estão sob controle.

Prof. Alexander Turra

O vencedor brasileiro foi o professor Alexander Turra, da Universidade de São Paulo (USP), com o artigo “Avanços na identificação de hotspots de poluição por plástico em nível subnacional: o Brasil como um estudo de caso no Sul Global”, publicado na Science Direct. O estudo quantifica e analisa regionalmente a geração de lixo plástico no Brasil, bem como encontra dois pontos focais de transmissão deste lixo para os oceanos, na Baía de Guanabara, RJ, e nas partes brasileiras da Bacia do Rio da Prata.

“Sempre fui inundado pelo oceano desde muito jovem. Com base na minha experiência em ecologia marinha e gestão costeira, tive a um aprendizado transdisciplinar que me permite dialogar com os mais diversos atores sociais relacionados ao oceano. A integração entre oceano e sociedade e entre ciência e tomada de decisão tornou-se minha prática diária e representa um dos principais objetivos da Cátedra UNESCO para Sustentabilidade dos Oceanos, que coordeno na Universidade de São Paulo. O lixo marinho é um dos desafios que a cátedra aborda a partir de uma equipe interdisciplinar, como foi com o estudo premiado”, disse Turra, que teve a oportunidade de escrever um ensaio sobre sua temática e seu trabalho, em inglês, que você confere aqui.

A Academia Brasileira de Ciências (ABC) foi convidada a atuar na seleção das candidaturas do Brasil, considerando apenas candidatos baseados em instituições nacionais. Para a submissão, a ABC acionou instituições de ensino superior públicas, privadas e confessionais de todo o país, assim como unidades de pesquisa ligadas ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

O Prêmio envolveu 20 academias de ciências e 475 universidades e instituições de investigação líderes de 43 países. Os 23 vencedores nacionais foram escolhidos por um júri independente de 100 cientistas do qual participaram os membros da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Carlos Nobre e Mercedes Bustamante. Eles representam um grupo diverso de pesquisadores em diferentes estágios da carreira e terão a oportunidade de compartilhar seus trabalhos premiados através de conferências nacionais e internacionais para facilitar a mudança sistémica necessária para salvaguardar a saúde do nosso planeta.

Diálogos Nobel Brasil: Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

Na tarde de 17 de abril, foi a vez da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) receber os Diálogos Nobel Brasil. O evento foi organizado pela Academia Brasileira de Ciências junto com o Nobel Prize Outreach, braço da Fundação Nobel, e foi possível graças ao apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O encontro na Fiesp foi uma iniciativa do diretor do Conselho Superior de Inovação da entidade, Pedro Wongtschowski, que lembrou que ciência e inovação andam sempre juntas.

Pedro Wongtschowski, diretor do conselho superior de inovação da Fiesp (Foto: Marcos André Pinto)

Os laureados

Os laureados presentes foram May-Britt Moser, ganhadora do Nobel de Medicina em 2014 por suas descobertas em neurociências, ajudando a avançar significativamente pesquisas sobre cognição espacial humana; Serge Haroche, membro correspondente da ABC, que recebeu o Nobel de Física em 2012 por desenvolver novos métodos experimentais que permitiram medir e manipular partículas quânticas individuais, algo considerado impossível até então; e David MacMillan, premiado com o Nobel de Química em 2021 pela criação de catalisadores sustentáveis com diversas aplicações industriais, sobretudo na produção de medicamentos.

Adam Smith, diretor científico dos Diálogos Nobel, e os três laureados: Serge Haroche, David MacMillan e May-Britt Moser (Foto: Marcos André Pinto)

Criando pontes entre ciência e indústria

A inovação é um dos maiores desafios da ciência brasileira, justamente pela falta de interação entre academia e indústria. Superar essa barreira é crucial, como apontou David MacMillan. “O maior problema é conseguir esse diálogo, é muito difícil. Mas se não houver, sobram apenas cientistas conversando com cientistas. Em Princeton fizemos uma experiência: pegamos todo o campus e levamos para falar com a indústria, em apresentações muito rápidas e abertas, onde cada pesquisador escolhia o que achava mais importante. É surpreendente a quantidade de conexões que acabam surgindo”. Mas também é preciso vontade por parte da indústria, apontou. “É fácil demais deixar isso de lado, descartar o que não é útil, mas só com investimento surgem histórias de sucesso. Na Califórnia, por exemplo, está ocorrendo um investimento significativo na educação dos jovens de baixa renda. Isso torna o estado mais forte, a economia mais forte”, completou.

Na mesma linha, Serge Haroche enfatizou a primazia dos investimentos em educação básica, algo que também fez nos encontros na USP e na UERJ. “Para formar cientistas é preciso ter uma educação básica de qualidade, não é algo trivial ensinar sobre pensamento crítico. Professores especializados precisam ganhar bem e ter reconhecimento. Esse é o melhor investimento que um país pode fazer”.

Para as indústrias, naturalmente, a atenção maior é dada a pesquisa aplicada, visando gerar novos produtos e serviços . Ainda assim, uma visão de crescimento a longo prazo pede necessariamente por investimento em pesquisa básica, o ponto inicial de qualquer inovação. “Há uma tendência hoje de gestão científica de cima para baixo. Não pode ser assim, é preciso deixar que os cientistas escolham seus próprios tópicos. O desafio é ter um ambiente que favoreça a ciência que vem de baixo. A descoberta vem, na maior parte das vezes, do inesperado. A tensões geopolíticas empurram os países para trabalhar com grandes projetos, mas considero isso um erro”, avaliou Haroche.

Sobre quais devem ser os temas do futuro, os nobelistas concordaram que não é possível escolher uma área de interesse acima de todas as outras, em um mundo que tende cada vez mais à interdisciplinaridade. “Todos os campos vão contribuir. A história tem inúmeros exemplos de ciência básica levando à invenções grandiosas. Se você olhar as predições feitas sobre inovação para o século 21, quase nada se concretizou. Ao mesmo tempo, o que surgiu era inimaginável. Nesse contexto, a única solução é ter ciência em todas as direções. É muito difícil dos tomadores de decisão entenderem isso, é uma questão de curto prazo contra longo prazo”, reforçou Haroche.

May-Britt Moser foi além e reforçou o papel das humanidades. “História, Educação, Filosofia, todos esses tópicos são necessários para nos prepararmos para um futuro que não conhecemos. Para prever o futuro sempre usamos o passado, mesmo entendendo que existe o inesperado. Não podemos nos tornar paranóicos, temer o amanhã, mas é preciso se preparar”.

Os três nobelistas falaram para um auditório cheio na Fiesp (Foto: Marcos André Pinto)

Saiba como foram os outros eventos!

Diálogos Nobel Brasil: Universidade do Estado do Rio de Janeiro

A ABC juntou três laureados do Prêmio Nobel com alunos e professores das comunidades cientificas do Brasil e da América Latina. Primeiro dia foi perante o teatro lotado da UERJ!

Diálogos Nobel Brasil: Universidade de São Paulo

Os nobelistas May-Britt Moser, David MacMillan e Serge Haroche compartilharam suas experiências enquanto cientistas com um auditório lotado na USP. Confira!

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