Na tarde de 17 de abril, foi a vez da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) receber os Diálogos Nobel Brasil. O evento foi organizado pela Academia Brasileira de Ciências junto com o Nobel Prize Outreach, braço da Fundação Nobel, e foi possível graças ao apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O encontro na Fiesp foi uma iniciativa do diretor do Conselho Superior de Inovação da entidade, Pedro Wongtschowski, que lembrou que ciência e inovação andam sempre juntas.

Pedro Wongtschowski, diretor do conselho superior de inovação da Fiesp (Foto: Marcos André Pinto)

Os laureados

Os laureados presentes foram May-Britt Moser, ganhadora do Nobel de Medicina em 2014 por suas descobertas em neurociências, ajudando a avançar significativamente pesquisas sobre cognição espacial humana; Serge Haroche, membro correspondente da ABC, que recebeu o Nobel de Física em 2012 por desenvolver novos métodos experimentais que permitiram medir e manipular partículas quânticas individuais, algo considerado impossível até então; e David MacMillan, premiado com o Nobel de Química em 2021 pela criação de catalisadores sustentáveis com diversas aplicações industriais, sobretudo na produção de medicamentos.

Adam Smith, diretor científico dos Diálogos Nobel, e os três laureados: Serge Haroche, David MacMillan e May-Britt Moser (Foto: Marcos André Pinto)

Criando pontes entre ciência e indústria

A inovação é um dos maiores desafios da ciência brasileira, justamente pela falta de interação entre academia e indústria. Superar essa barreira é crucial, como apontou David MacMillan. “O maior problema é conseguir esse diálogo, é muito difícil. Mas se não houver, sobram apenas cientistas conversando com cientistas. Em Princeton fizemos uma experiência: pegamos todo o campus e levamos para falar com a indústria, em apresentações muito rápidas e abertas, onde cada pesquisador escolhia o que achava mais importante. É surpreendente a quantidade de conexões que acabam surgindo”. Mas também é preciso vontade por parte da indústria, apontou. “É fácil demais deixar isso de lado, descartar o que não é útil, mas só com investimento surgem histórias de sucesso. Na Califórnia, por exemplo, está ocorrendo um investimento significativo na educação dos jovens de baixa renda. Isso torna o estado mais forte, a economia mais forte”, completou.

Na mesma linha, Serge Haroche enfatizou a primazia dos investimentos em educação básica, algo que também fez nos encontros na USP e na UERJ. “Para formar cientistas é preciso ter uma educação básica de qualidade, não é algo trivial ensinar sobre pensamento crítico. Professores especializados precisam ganhar bem e ter reconhecimento. Esse é o melhor investimento que um país pode fazer”.

Para as indústrias, naturalmente, a atenção maior é dada a pesquisa aplicada, visando gerar novos produtos e serviços . Ainda assim, uma visão de crescimento a longo prazo pede necessariamente por investimento em pesquisa básica, o ponto inicial de qualquer inovação. “Há uma tendência hoje de gestão científica de cima para baixo. Não pode ser assim, é preciso deixar que os cientistas escolham seus próprios tópicos. O desafio é ter um ambiente que favoreça a ciência que vem de baixo. A descoberta vem, na maior parte das vezes, do inesperado. A tensões geopolíticas empurram os países para trabalhar com grandes projetos, mas considero isso um erro”, avaliou Haroche.

Sobre quais devem ser os temas do futuro, os nobelistas concordaram que não é possível escolher uma área de interesse acima de todas as outras, em um mundo que tende cada vez mais à interdisciplinaridade. “Todos os campos vão contribuir. A história tem inúmeros exemplos de ciência básica levando à invenções grandiosas. Se você olhar as predições feitas sobre inovação para o século 21, quase nada se concretizou. Ao mesmo tempo, o que surgiu era inimaginável. Nesse contexto, a única solução é ter ciência em todas as direções. É muito difícil dos tomadores de decisão entenderem isso, é uma questão de curto prazo contra longo prazo”, reforçou Haroche.

May-Britt Moser foi além e reforçou o papel das humanidades. “História, Educação, Filosofia, todos esses tópicos são necessários para nos prepararmos para um futuro que não conhecemos. Para prever o futuro sempre usamos o passado, mesmo entendendo que existe o inesperado. Não podemos nos tornar paranóicos, temer o amanhã, mas é preciso se preparar”.

Os três nobelistas falaram para um auditório cheio na Fiesp (Foto: Marcos André Pinto)

Saiba como foram os outros eventos!

Diálogos Nobel Brasil: Universidade do Estado do Rio de Janeiro

A ABC juntou três laureados do Prêmio Nobel com alunos e professores das comunidades cientificas do Brasil e da América Latina. Primeiro dia foi perante o teatro lotado da UERJ!

Diálogos Nobel Brasil: Universidade de São Paulo

Os nobelistas May-Britt Moser, David MacMillan e Serge Haroche compartilharam suas experiências enquanto cientistas com um auditório lotado na USP. Confira!