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Diálogos Nobel Brasil: Universidade de São Paulo

Na manhã de 17 de abril, o Centro de Difusão Internacional da Universidade de São Paulo (CDI-USP) recebeu mais um Diálogo Nobel Brasil 2024, onde alunos e professores da comunidade acadêmica brasileira e alguns representantes  de outros países da América Latina tiveram a oportunidade de debater com três ganhadores do célebre Prêmio Nobel. No dia 15, o encontro aconteceu na  Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

O evento é fruto de uma parceria entre a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e o Nobel Prize Outreach, braço da Fundação Nobel, e só foi possível graças ao viabilizada pelo apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Antes do evento, os três nobelistas foram recebidos pelo reitor da USP, Carlos Carlotti Júnior.


Os laureados

Os laureados presentes foram: May-Britt Moser, que recebee o Nobel de Medicina em 2014 por suas descobertas em neurociências, ajudando a avançar significativamente pesquisas sobre cognição espacial humana; Serge Haroche, ganhador do Nobel de Física em 2012 por desenvolver novos métodos experimentais que permitiram medir e manipular partículas quânticas individuais, algo considerado impossível até então; e David MacMillan, que recebeu o Nobel de Química em 2021 pela criação de catalisadores sustentáveis com diversas aplicações industriais, sobretudo na produção de medicamentos.

David MacMillan, Serge Haroche e May-Britt Moser interagiram com estudantes na USP (Foto: Julio Cesar Guimarães)

Abertura

A presidente da ABC, Helena Bonciani Nader, recepcionou o público lembrando que 2024 é um ano especial para a ciência brasileira. Com o país na presidência rotativa do G20, coube a ABC organizar o Science 20 – braço científico do grupo – e estabelecer a construção de um mundo mais justo e sustentável como meta prioritária.

“Em 2015, 193 países aprovaram uma agenda global, a ser alcançada até 2030, com o objetivo de proteger o planeta e libertar a humanidade da tirania da pobreza. Foram delineadas metas ousadas e transformadoras, e nossos governos se comprometerem a abraçá-las e orientar o mundo para um caminho sustentável e resiliente. Esses objetivos são integrados e indivisíveis e devem equilibrar as três dimensões do desenvolvimento sustentável: econômica, social e ambiental. Além disso, essa jornada coletiva está ancorada no compromisso de não deixar ninguém para trás. Estamos a sete anos do prazo estabelecido e, com preocupação, percebemos que estamos longe dos objetivos desejados e acordados”, alertou Nader.

A presidente da ABC, Helena Nader, recepcionou os nobelistas (Foto: Julio Cesar Guimarães)

De cientistas para cientistas

Os três laureados foram convidados ao palco para falar sobre vários aspectos da carreira de um cientista. A mediação foi feita por Adam Smith, diretor científico do Diálogos Nobel.

David MacMillan: estabilidade para tentar

MacMillan lembrou que, no início da carreira, sua maior preocupação era conseguir um emprego estável. “Quando fui para os EUA e comecei como professor assistente em Berkeley, o único impacto que eu queria era manter meu emprego. Conforme o tempo passou, e observando como eram feitas as coisas, comecei a perceber o que fazia sentido e o que não fazia. Comecei a pensar: ‘Há outra forma de fazer?’, e foi quando comecei a ter ideias disruptivas”.

“É muito difícil balancear essas ideias com o trabalho tradicional, principalmente quando se é jovem. Os revisores estão procurando por algo que faça sentido baseado no que já sabemos, então evitamos fazer o que não é usual. Por isso precisamos encorajar mais esses caminhos desafiadores”, completou.

Mac Millan, que foi premiado em 2021, conta que ainda está se acostumando ao Nobel. “Uma das coisas legais é que você começa fazendo algo aque ninguém dá atenção e, 20 anos depois, se torna algo que todos querem saber sobre, a indústria começa a utilizar. As pessoas do meu grupo começaram a perceber que aquele mundo fechado em que vivíamos se expandiu, perceber o impacto do nosso trabalho. Isso é muito positivo, é mostrar que o pensar, o aprender, impacta a sociedade como um todo.

Questionado por um aluno, ele respondeu como um cientista deve lidar com o fracasso. “Tem dias em que nos sentimos cansados, sobrecarregados, mas também há dias em que as coisas funcionam. Quando isso acontece é maravilhoso, é a melhor coisa da ciência. Quando você estiver pensando em desistir, lembre-se desse sentimento, lembre-se de como é bom estar contribuindo com um pedaço de conhecimento que permanecerá para sempre. Você percebe que precisa continuar tentando, continuar se entusiasmando. Fracassamos muito mais do que acertamos, mas quando chegamos a uma resposta, vale por todo o processo”.

Chefe de laboratório, MacMillan também aconselhou professores sobre como lidar com seus orientandos. “Acima de tudo, é preciso ter responsabilidade com seus estudantes, ajudá-los a crescer como indivíduos, além de cientistas. É importante que sejam independentes, que não precisem fazer só o que uma agência governamental quer que eles façam. Uma das maravilhas da ciência é que todos podem decidir por si mesmos qual caminho seguir”.

Adam Smith e David MacMillan (Foto: Julio Cesar Guimarães)

May-Britt Moser: laboratórios felizes e ciência de ponta

Vencedora do Nobel em 2014, May-Britt Moser já teve uma década para se acostumar, mas ainda reluta em deixar que a notoriedade a afaste de sua pesquisa, principal paixão na carreira. “Nós somos cientistas porque temos esse talento e devemos usá-lo. Às vezes sinto que nos dão responsabilidades demais. Eu não viajo muito porque, apesar da importância desses encontros, me pergunto se consigo lidar com todas as demandas. Me pergunto todos os dias, como estarei contribuindo mais com o mundo?”

O laboratório é sua segunda casa, e por isso Moser busca todas as maneiras de tornar esse ambiente agradável. “Eu me sinto responsável não só pela ciência, mas pelas pessoas. Se não estamos felizes no trabalho a vida fica miserável. Uma coisa é ter uma ideia abstrata de felicidade, mas para criar esse ambiente de fato é preciso enxergar a todos, conversar com todos”.

“Fazer ciência é difícil, há muitos fracassos, às vezes você se sente batendo a cabeça no muro. Mas, de repente, surge uma resposta. Quando isso acontece, se torna viciante. De certa forma somos loucos, pois quando você se vicia no que faz, não consegue mais parar. Por isso tenho muito orgulho do ambiente que criamos no laboratório, pois tentamos resolver problemas juntos, e aí quando vem o sucesso é um sucesso de todos, comemoramos todos juntos e nos tornamos mais próximos”, completou.

Mas seu campo de atuação, assim como qualquer área da ciência, é complexo, tendo um progresso lento. Às vezes, as ferramentas para avançar ainda nem sequer existem. “Tivemos que começar por algum lugar, Decidimos pelas estruturas ao redor do hipocampo e descobrimos coisas a partir dela. Não era suficiente entender como os sistemas funcionavam, mas como eles interagiam. Então percebemos que precisávamos de ferramentas. Foi quando, na década passada, tivemos acesso a novas ferramentas que nos permitiram ir além, encontrar coisas novas, entender melhor como as estruturas celulares estavam interagindo”.

“Quanto mais complexo o problema, mais campos precisamos explorar, então começamos a colaborar com especialistas de outras áreas e a precisar de mais gente. Em nosso instituto temos hoje pessoas de 30 países, pessoas de todas as cores e amamos isso. Precisamos de gente diferente, com diferentes atitudes, diferentes treinamentos, pois isso aumenta o alcance da ciência. Nós amamos a ciência juntos”, afirmou.

Inquirida por um professor sobre inovação, Moser defendeu a transferência tecnológica como fundamental para o avanço científico global. “Uma vez recebemos em nosso laboratório um brilhante cientista chinês que desenvolveu um microscópio portátil de ponta. Logo apareceram alguns pensando em como poderíamos vender aquilo, mas optamos por abrir o conhecimento, compartilhar cada pequeno detalhe, para que pessoas do mundo todo pudessem desenvolvê-lo. Isso é o que faz a ciência avançar”.

May-Britt Moser interage com o público (Foto: Julio Cesar Guimarães)

Serge Haroche: no lugar certo, na hora certa

Laureado em Física em 2012, Serge Haroche lembrou que ganhar o Prêmio Nobel não é apenas sobre mérito científico, mas também sobre estar no lugar certo na hora certa. “Eu percebi que era possível aumentar a sensibilidade ótica para enxergar um único átomo interagindo com um único próton. No início eu não tinha ideia do quão longe a ideia poderia ir, tive a sorte de ter o que precisava em mãos. Quando Einstein ou Schrödinger imaginavam esse tipo de experimento, eles não tinham as ferramentas necessárias”.

Haroche é um defensor ferrenho da ciência básica, pilar de todo o processo de construção do conhecimento. “Mesmo antes de qualquer aplicação, o que move um cientista é observar um fenômeno e descobrir sobre ele coisas que ninguém sabe. Perceber depois que essas coisas são uteis é muito gratificante, mas não é o motor”.

“Quando eu era jovem eu não imaginava tudo isso, de jeito nenhum. Eu era fascinado pela física quântica, tive a sorte de trabalhar com ótimos professores e ter liberdade para explorar. Isso era mais comum no passado, a pesquisa era mais de baixo para cima. Agora há uma tendência de organização mais centralizada e isso coloca uma serie de amarras. Não é assim que a pesquisa funciona. Primeiro você explora e depois surgem as aplicações, muitas vezes, em direções inimagináveis. Quem faz políticas de ciência precisa entender isso”, completou.

Para ele, fazer ciência é uma arte, que requer imaginação e criatividade Mas, diferente das artes tradicionais, é uma arte que precisa respeitar os limites do mundo físico. “Você tem que ser curioso, tem que focar e reconhecer o valor da sua pesquisa. Depende da sua personalidade. Quando trabalhando em pequenos grupos, você consegue criar uma sinergia e o suporte dos colegas se torna importante para lidar com o fracasso. Em campos que envolvem muitos pesquisadores, você precisa ter em mente que você precisará achar o seu nicho e criar seu espaço”.

Respondendo a um aluno sobre o porquê de o Brasil não ter prêmios Nobel, Serge Haroche reforçou que é preciso ter compromisso com investimentos na educação básica. “Na ciência moderna é preciso ter muitos recursos e isso dificulta a competição com laboratórios de países ricos. Mas em termos de talento, o Brasil tem o que precisa. O necessário é explorar melhor esse recurso, dar condições iguais a todos os jovens e educação básica de qualidade”. No entanto, haroche reconhece que o Prêmio Nobel deveria rever certos critérios. “No meu caso, eu sempre quis compartilhar meu Nobel com as pessoas com quem cooperei durante toda a minha carreira”, concluiu.

Serge Haroche se dirige à platéia (Foto: Julio Cesar Guimarães)

Assista à transmissão no canal do Prêmio Nobel:


Saiba como foram os outros eventos!

Diálogos Nobel Brasil: Universidade do Estado do Rio de Janeiro

A ABC juntou três laureados do Prêmio Nobel com alunos e professores das comunidades cientificas do Brasil e da América Latina. Primeiro dia foi perante o teatro lotado da UERJ!

Diálogos Nobel Brasil: Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

A última tarde do Diálogos Nobel Brasil levou os laureados para uma conversa na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, onde se discutiu a ponte entre academia e setor privado na corrida pela inovação.

Diálogos Nobel Brasil: Universidade do Estado do Rio de Janeiro

No dia 15 de abril, o teatro Odylo Costa, filho, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), recebeu a primeira edição presencial de um Diálogo Nobel na América Latina. Organizado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pela Nobel Prize Outreach, braço da Fundação Nobel, o encontro foi possível graças ao apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).


Os laureados

Os laureados presentes foram: May-Britt Moser, Nobel de Medicina em 2014 por suas descobertas em neurociências, ajudando a avançar significativamente pesquisas sobre cognição espacial humana; Serge Haroche, Nobel de Física em 2012 por desenvolver novos métodos experimentais que permitiram medir e manipular partículas quânticas individuais, algo considerado impossível até então; e David MacMillan, Nobel de Química em 2021 pela criação de catalisadores sustentáveis com diversas aplicações industriais, sobretudo na produção de medicamentos.

Durante um dia inteiro de atividade, os célebres cientistas participaram de mesas-redondas e palestras e também conversaram e tiraram fotos com os presentes. Os tópicos abordados passaram pelas dificuldades do fazer-ciência na América Latina até aspectos mais gerais da carreira e de como a ciência pode fazer mais para a sociedade.

David MacMillan, May-Britt Moser e Serge Haroche (Fotos: Julio Cesar Guimarães e Marcos André Pinto)

 

Palestra de Abertura: Serge Haroche

Haroche iniciou sua fala lembrando que a ciência está ameaçada por irracionalidades no mundo inteiro. Grupos anticiência, que negam as mudanças climáticas, as vacinas e até mesmo o formato da Terra, se proliferam globalmente. A grande contradição é que um dos veículos que mais contribuem para isso é também uma das maiores inovações da história da ciência. “A Internet, esse produto singular do desenvolvimento tecnológico, serve para carregar o melhor e o pior de nós”.

O combate ao irracional deve ser feito desde cedo. “As crianças devem aprender o método cientifico desde pequenas, devem aprender sobre pensamento crítico, a observar e teorizar. Parte do problema está na educação básica não ser prioridade, professores não têm o reconhecimento e os salários que merecem”, refletiu.

Exemplos não faltam ao redor do mundo de sociedades e setores que se desenvolveram graças à ciência. “Coréia do Sul e Singapura eram mais pobres que os países latino-americanos há 50 anos, mas investiram pesado em educação, ciência e tecnologia”, lembrou Haroche.

Por fim, o laureado fez um apelo pela paz. “A ciência é universal pois responde a um anseio de toda a humanidade. Ela foi a primeira atividade verdadeiramente globalizada e deve perseverar sobre as tensões geopolíticas. Infelizmente, a situação na Europa e no Oriente Médio é temerosamente com a de um século atrás. São tempos difíceis em que as instituições internacionais, inclusive as científicas, têm papel crucial”.

Haroche ministra a palestra de abertura (Foto: Julio Cesar Guimarães)

Diálogos

O encontro prosseguiu com uma série de mesas-redondas onde laureados e cientistas brasileiros compartilharam suas visões sobre uma série de temas caros à ciência.

Construindo confiança

Em tempos de proliferação da anticiência, nada como juntar cientistas renomados para debater a construção de confiança junto à população. O virologista Anderson Brito, voz ativa no debate público durante a pandemia, afirmou que é preciso explicar como o método científico funciona, algo que o Brasil não faz. “Não basta explicar o resultado, é preciso falar sobre o processo para que o resultado faça sentido, senão soa como mágica. De uma maneira geral, nós cientistas não somos incentivados a divulgar, não somos avaliados por isso”.

O laureado David MacMillan, que trabalha criando soluções para a indústria farmacêutica, acredita que há um processo de democratização do acesso a medicamentos, um exemplo que pode ajudar a criar confiança. “Tecnologia, agricultura, esses dispositivos nos nossos bolsos, tudo foi criado pela ciência, ela está em todo lugar e é intrínseca a tudo que fazemos”.

Já a presidente da ABC, Helena Nader, defendeu que os produtos da ciência precisam ser usados de forma consciente. “Como a sociedade pode controlar a ciência? Não no sentido de proibir, mas de como usá-la para o bem comum. Essa é a questão central”.

Anderson Brito, David MacMillan e Helena Nader (Foto: Julio Cesar Guimarães)

A importância da diversidade

A face global da ciência ainda reproduz desigualdades relacionadas à gênero, raça e origem social. A economista Ana d’Addio, que trabalhou no Relatório de Monitoramento Global da Educação, da Unesco, abriu a conversa trazendo alguns dados. As mulheres ainda são apenas um terço dos graduados em exatas no mundo, por exemplo. “Como enfrentar essa e outras barreiras?”.

A biomédica Jaqueline Góes, coordenadora da equipe brasileira que sequenciou o Sars-Cov-2, reforçou a importância da representatividade. “A orientação é o fator mais importante quando se está trabalhando na ciência. O orientador é uma pessoa que vai servir de modelo. Quando eu comecei, eu não via outras mulheres negras. Se eu olho para os meus colegas e não vejo diversidade, porque não promover essa diversidade nas minhas orientações?”.

O atual presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos, Vinícius Soares, defendeu as políticas de cotas e auxílios permanência do Brasil como exemplos para o mundo em questão de diversidade. “Foi algo que mudou completamente a cara da universidade brasileira, criou uma geração de pessoas que foram as primeiras de suas famílias a cursar ensino superior”.

Para a nobelista May-Britt Moser quanto mais gente diferente fazendo ciência, melhores as perguntas sendo feitas e os resultados atingidos. “Se restringirmos a população onde procuramos por talentos científicos nós perdemos. Precisamos de criatividade, precisamos de todos pra ter discussões, é uma tolice não apoiar a diversidade na ciência. Precisamos de modelos que nos inspirem. Quando eu comecei eu já conhecia outras cientistas então nunca me questionei por ser mulher”.

Anna d’Addio, Jaqueline Góes, May-Britt Moser e Vinicius Soares (Foto: Pedro Kirilos)

Comunicação científica

O terceiro painel focou na questão da comunicação. O biólogo Helder Nakaya afirmou que, no debate das redes, é preciso ter empatia com o público. “É preciso entender o que o seu interlocutor está procurando e como ele pode se beneficiar da sua pesquisa”.

David MacMillan avaliou que a Química, sua área, é tradicionalmente difícil de explicar. “Quando pensamos em física pensamos nas estrelas, no espaço; já na biologia, pensamos nos animais, nas plantas; mas na química sempre pensamos em poluentes”, disse o laureado de forma bem- humorada. Para ele, a presença dos cientistas nas redes sociais serve, sobretudo, para humaniza-los. “É interessante sabermos quem as pessoas são por trás da ciência”.

Por sua vez, Cristiani Machado, vice-presidente de Comunicação da Fiocruz, lembrou que as instituições precisam ajudar seus cientistas a se comunicar. “Existem grandes cientistas que não são bons professores, e vice-versa. Comunicação com o grande público é ainda mais difícil, precisamos aceitar que não podemos fazer tudo e ter o suporte necessário”.

Cristiani Machado, David MacMillan e Helder Nakaya (Foto: Pedro Kirilos)

Conversas se estenderam por toda a tarde

Após o almoço, os três laureados participaram de sessões separadas em que conversaram com alunos do Brasil e da América Latina sobre problemas e inquietações comuns no início da carreira. Após essa parte, todos voltaram ao teatro para mais bate-papos com professores.

A colaboração científica foi muito debatida. A reitora da UERJ, Gulnar Azevedo, lembrou de uma experiência bem-sucedida durante a epidemia de Zika. “Laboratórios de todo o pais se juntaram para entender o que estava acontecendo que tantos bebes estavam nascendo com microcefalia”.

May-Britt Moser trouxe a experiência de seu laboratório para defender o trabalho colaborativo entre estudantes, e reforçou a importância do respeito e das interações humanas. “Se o ambiente for divertido, relaxante, não significa que não levamos a ciência a sério, mas que continuamos sendo humanos, e humanos precisam se divertir”.

David MacMillan refletiu sobre cooperações passadas. “A parte mais difícil é combinar o esforço de todos, entender quanto as pessoas estão dispostas a colaborar. As melhores colaborações foram com amigos próximos, porque tive mais abertura para conversar”.

Outro tema abordado foi o letramento científico, que todos concordaram deveria ser estimulado desde a primeira infância. O físico e ex-presidente da ABC Luiz Davidovich frisou que a ciência não é a única forma válida de conhecimento. “Existem conhecimentos tradicionais invaluáveis no Brasil, muitos dos quais sobre a nossa rica biodiversidade. Ensinar as crianças sobre essa riqueza deveria ser parte fundamental da nossa cultura”.

Sobre gestão de ciência, Serge Haroche afirmou existir uma contradição entre o curto prazo da política e o longo prazo da ciência. “Há uma tendência atual entre gestores de organizar as coisas de cima pra baixo. Mas a ciência é feita de baixo pra cima, do financiamento de descobertas para depois gerar aplicação. Descobrir se algo é possível vem antes de descobrir se algo é útil”.

Os três laureados agradecem o público ao final da cerimônia (Foto: Julio Cesar Guimarães)

Saiba como foram os outros eventos!

Diálogos Nobel Brasil: Universidade de São Paulo
Os nobelistas May-Britt Moser, David MacMillan e Serge Haroche compartilharam suas experiências enquanto cientistas com um auditório lotado na USP. Confira!

Diálogos Nobel Brasil: Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
A última tarde do Diálogos Nobel Brasil levou os laureados para uma conversa na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, onde se discutiu a ponte entre academia e setor privado na corrida pela inovação.


Veja as fotos do encontro no Rio de Janeiro

 


Assista a transmissão pelo canal do Prêmio Nobel:


Saiba como foram os outros eventos!

Diálogos Nobel Brasil: Universidade de São Paulo
Os nobelistas May-Britt Moser, David MacMillan e Serge Haroche compartilharam suas experiências enquanto cientistas com um auditório lotado na USP. Confira!

Diálogos Nobel Brasil: Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
A última tarde do Diálogos Nobel Brasil levou os laureados para uma conversa na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, onde se discutiu a ponte entre academia e setor privado na corrida pela inovação.

Nobel no Brasil: ‘treinar e nutrir as mentes dos jovens é a melhor coisa que um país pode fazer’, diz Serge Haroche

Três cientistas agraciados com o Prêmio Nobel estão no Brasil para mostrar a estudantes brasileiros e latino-americanos como a ciência pode ser usada na promoção de mudanças por um mundo melhor. Organizado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pela Fundação Nobel, o Diálogo Nobel Brasil 2024 recebeu David MacMillan (Nobel de Química em 2021), May-Britt Moser (Medicina em 2014) e Serge Haroche (Física em 2012), nesta segunda-feira (15), na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). A íntegra dos debates pode ser assistida aqui.

Na abertura, a presidente da ABC, Helena Nader, destacou a importância de proporcionar esse encontro aos jovens estudantes e lembrou que o evento faz parte da agenda do S20 (Science 20), que reúne as academias de ciências dos países do G20.

“Esse Diálogo é o resultado dos esforços conjuntos de todos que trabalharam juntos para organizar esse evento. Agradecemos aos laureados por nos dedicar seu tempo e conversar com os estudantes”, afirmou Nader.

Durante a manhã, os cientistas laureados participaram de debates sobre diversidade, negacionismo, benefícios que a ciência traz para a sociedade e os desafios da área. “Vivemos tempos difíceis com problemas políticos que trazem impactos à ciência”, disse Serge Haroche.

O físico citou a disseminação de informações falsas como um dos principais desafios. “Apesar dos avanços da ciência, cada vez mais há uma desconfiança sobre a comunidade científica. Cada vez mais grupos de indivíduos se unem e atacam a ciência com fake news”, apontou. Ele defendeu a necessidade de educar as futuras gerações como forma de combater o negacionismo. “O remédio é ampliar o acesso ao conhecimento”, ressaltou.

Para Haroche, “treinar e nutrir as mentes dos jovens é a melhor coisa que um país pode fazer.”

Já David MacMillan destacou os benefícios que a sociedade ganha com o investimento em ciência. “Tudo ao nosso redor é baseado na ciência. Medicamentos e tecnologia, por exemplo. E é irônico como as pessoas duvidam dela e disseminam essas dúvidas usando tecnologias criadas pela ciência”, apontou.“Você não sabe que algo é possível até se tornar possível. Isso é ciência”, destacou.

“Precisamos ser mais claros quando falamos sobre os benefícios da ciência. Temos que ir às escolas e incentivar alunos e professores a pensarem em formas de produzir ciência“, defendeu Nader, durante participação no mesmo painel.

Em outra apresentação, May-Britt Moser defendeu a necessidade de aumentar a diversidade na área. “Para ser um cientista é preciso dedicação. E se você restringir a população que pode fazer ciência, você não chega a nenhum lugar. Precisamos de todo mundo. Precisamos de discussão. Então, seria bobagem não apoiar a diversidade”, disse.

Erika Lanner, diretora do Nobel Prize Museum, em Estocolmo, destacou a importância de promover conversas com cientistas que conquistaram a láurea. “Sabemos que os feitos dos laureados são inspiradores para as pessoas em todo o mundo. E por isso facilitamos esse diálogo, para inspirar a todos e estimular o pensamento crítico”, explicou.

Na manhã da próxima quarta-feira (17), os três laureados irão a São Paulo conversar com estudantes, cientistas e convidados no Centro de Difusão Internacional da Universidade de São Paulo (USP). Já na parte da tarde, o grupo participará de uma reunião com empresários, autoridades e formuladores de políticas públicas na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Este é o terceiro evento no Brasil fruto da parceria da ABC com a Fundação Nobel, sendo o primeiro deles feito presencialmente. Os dois anteriores ocorreram de forma virtual em 2021, devido à pandemia de Covid. Neste ano, o tema do encontro é “Creating our future together with science(Criando o nosso futuro juntos com a ciência).

O Diálogo Prêmio Nobel Rio e São Paulo 2024 tem o apoio da 3M, ABB, Capgemini, EQT, H2 Green Steel e Scania, parceiros internacionais do Nobel, e da Finep, Fapesp e Klabin, parceiras no Brasil. UERJ, USP e FIESP são apoiadores locais da atividade.

 

 

Veja as fotos do encontro no Rio de Janeiro

 

 


SERVIÇO

São Paulo
Data: 17 de abril
Horário: de 10h às 12h
Local: Auditório do Centro de Difusão Internacional da USP
Endereço: Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 310, Butantã, São Paulo – SP

CREDENCIAMENTO DE IMPRENSA:
Jornalistas interessados em fazer a cobertura do evento em São Paulo devem enviar nome, veículo e telefone para henriquegimenes@corcovadoestrategica.com.br até 16 de abril.

Assessoria de Imprensa:
Corcovado Comunicação Estratégica

Henrique Gimenes
(21) 99383-0031 / henriquegimenes@corcovadoestrategica.com.br

Natália Cancian
(61) 98175-0172 / nataliacancian@corcovadoestrategica.com.br

Carla Russo
(21) 99196-4250 / carlarusso@corcovadoestrategica.com.br

Raphael Gomide
(21) 98734-5544 / rgomide@corcovadoestrategica.com.br

Encontro no Rio reuniu cientistas brasileiros com três laureados do Nobel. Próximo encontro será amanhã (17) em São Paulo (Foto: Julio Cesar Guimarães)

Conferência Livre do GT de Ensino Superior: 3ª e 4ª Sessões

01No dia 8 de abril a Academia Brasileira de Ciências (ABC) promoveu a Conferência Livre “Modernização da estrutura de ensino superior brasileira para o desenvolvimento socioeconômico sustentável”, organizada pelo grupo de trabalho sobre Ensino Superior Brasileiro da ABC. A reunião fez parte do calendário preparatório para a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5ª CNCTI).

A primeira mesa da parte da tarde teve como tema a criação de centros de formação de recursos humanos em áreas estratégicas. A proposta do grupo é de seis áreas: Bioeconomia; Agricultura e Agronegócio; Transição Energética; Saúde e Bem-Estar; Transformação Digital e Materiais Avançados e Tecnologias Quânticas.

José Roberto Piqueira

O engenheiro e professor da Escola Politécnica da USP José Roberto Piqueira lembrou que a procura pela área de exatas vem encolhendo nas universidades e que, dos que ingressam, apenas 16% concluem a graduação. Para piorar o cenário, muitos desses empregos estão em áreas diferentes da formação original.

Para ele, o atual modelo das universidades é muito engessado e não engloba as diferenças regionais do Brasil, nem se esforça para integrar questões a realidade de um grupo cada vez mais diverso de alunos.  “Uma experiência que eu fazia em sala de aula foi agrupar alunos de diferentes origens socioeconômicas e pedir para que descrevessem a eletrificação de suas casas, isso mostrava a todos as diferenças sociais em infraestrutura”.

Mas não é apenas a engenharia elétrica que precisa dialogar com a realidade, praticamente qualquer área tecnológica disposta a desenvolver inovação precisa entender os problemas da sociedade. “Sabem por que o Brasil se desenvolveu tão rápido em automação bancária? Por causa da hiperinflação da década de 80. Se a transação não fosse rápida se perdia dinheiro, então os banqueiros trouxeram para si engenheiros de sistemas que criaram uma competência muito grande na área”, exemplificou.

O novo aprendizado deve ter amplitude, pois ninguém sabe o que os alunos vão precisar daqui a 50 anos. A interdisciplinaridade já se tornou um mantra, mas é preciso leva-la a sério, compreendendo quais as inquietações dos novos alunos e aceitando que estes são diferentes dos alunos de 20 anos atrás.  “Eu sou engenheiro, não é importante para mim saber falar sobre correntes filosóficas, mas é importante que eu saiba ouvir. Da mesma forma, para um historiador, não é importante que ele saiba construir uma ponte, mas é importante que ele saiba ouvir e compreender sobre esse processo”, finalizou.

Centros de Formação de Recursos Humanos em Áreas Estratégicas (CFEA)

Adalberto Fazzio

O físico e Acadêmico Adalberto Fazzio, diretor-fundador da Ilum Escola de Ciência, graduação integrada em ciências associada ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas, afirmou que o modelo de produção de ciência no século 21 precisa diminuir a ênfase na relação mestre-aprendiz, que ainda remete ao século 19. “O jovem precisa estar desde cedo num ambiente que estimule sua independência científica. Hoje em dia nossos alunos vão atingir essa independência muito tardiamente, após doutorados e pós-doutorados, já beirando os 40 anos”.

Fazzio lembrou que a ABC produziu uma série de documentos temáticos que servem como guias para introduzir os assuntos e também ajudaram a definir as áreas estratégicas. Ele reforçou que o país precisa ter áreas prioritárias. “Já conheci reitores cuja mentalidade para a divisão de recursos era dividir igualmente por todas as áreas. Não pode ser assim, é preciso entender as demandas de cada área e, sobretudo, é preciso definir quais são as prioridades. No Brasil temos uma dificuldade enorme em fazer escolhas”, avaliou.

A ideia dos CFEAs é justamente trabalhar em torno dos temas prioritários, trazendo grupos de pesquisa diversos para pesquisar com um olhar atento aos problemas da sociedade. É preciso entender quais são as demandas da indústria e superar o preconceito mútuo entre academia e setor privado. “Precisamos de centros com metas claras de desenvolvimento de inovação, não apenas inovação tecnológica mas novos modelos de negócio, estimulando startups”.

Para o bioquímico Jorge Almeida Guimarães, ex-presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), o foco deve ser a inovação, mas tendo em mente quem será beneficiado por ela. Ele lembrou que os pilares da inovação são a presença de talentos científicos, instituições qualificadas e empresas de ponta, além de investimentos do Estado e o incentivo à cultura do empreendedorismo pessoal – tudo isso, para algumas áreas pelo menos, o Brasil já tem.

O Acadêmico Jorge Almeida Guimarães participou de forma virtual

Os desafios estão justamente em fazer todos esses fatores dialogarem. Além da gigantesca burocracia estatal e dos imbróglios jurídicos e regulamentares com que pesquisadores precisam gastar tempo, é preciso superar a resistência empresarial à inovação aberta e nacional. “Precisamos reduzir o Custo Brasil e operar o modelo tripla-hélice – investimentos conjuntos de governo, universidade e empresa – em larga escala”, afirmou.

Para ele, o modelo dos CFEAs deve ser iniciado com chamadas públicas, desenhadas por agências de fomento, para selecionarem, à princípio, 15 grupos de pesquisa de comprovada liderança nas áreas. Esses grupos serão credenciados como CFEAs e vinculados à uma universidade sede, mas manterão certas autonomias. “Eles não podem ser engessados na estrutura da universidade, a autonomia precisa estar desde o planejamento de ações, na alocação de pessoal e recursos e na assinatura de contratos. O principal é ter autonomia decisória”.

Um novo ensino superior para a Amazônia

Adalberto Val

Durante a mesa final do evento, o biólogo e vice-presidente da ABC para a Região Norte, Adalberto Luis Val, defendeu que novos modelos precisam ser pensados, inclusive, como forma de superar um problema histórico da educação superior brasileira: a falta de interiorização. “A Amazônia segue com investimento muito baixo em capacitação. Dessa forma, segue sendo incapaz de gerar soluções robustas para as questoes ambientais e sociais, para a geração de uma bioeconomia. Estamos em 2024 e o conhecimento segue sendo gerado pela sociedade externa à Amazonia”, avaliou.

Isso gera contradições notáveis. A maior parte da produção científica sobre produtos florestais – como a castanha, o açaí, o cacau e peixes como o tambaqui e o pirarucu – acontece no exterior. Nenhum dos peixes amazônicos, tão importantes para a dieta da região, está inserido no mercado global, gerando dividendos para a região. Entretanto, algumas espécies, como o pacu-vermelho, já estão sendo criadas e vendidas por países asiáticos. “Por aqui essas cadeias de valor ainda estão no nascedouro. Uma bioeconomia forte depende de desvendar o conhecimento escondido na floresta”.

Mas essa produção ainda escorrega e a região sofre para fixar pesquisadores. Há uma divisão muito desigual entre as unidades de pesquisa na parte Atlântica e no interior do Brasil. “Há uma nova linha de Tordesilhas que separa onde se faz ciência de onde não se faz. Ainda em 2005, na época em que Jorge Guimarães presidiu a Capes, foi definido que todos os alunos matriculados em pós-graduações reconhecidas na Amazônia receberiam bolsa. O objetivo era fazer com que se fixassem, mas desde então avançamos pouco”.

Fator Tordesilhas – Mapas apresentados por Adalberto Val

Para Val, o novo Sistema Nacional de CT&I não deve ser pensado a partir de modelos homogeneizantes, muito pelo contrário, devem entender a diversidade como positiva e conectada às diferenças de cada sociedade. É preciso fomentar a colaboração e novas formas de organização de grupos de pesquisa, capacitando pessoal sempre com o olhar voltado à demanda da região.

“O dinamismo do mundo moderno não combina mais com a rigidez das áreas de conhecimento convencionais. Precisamos de um sistema mais flexível em que as instituições tenham autonomia de gestão, de aplicação de recursos e na definição de prioridades. Não basta mais publicar nas melhores revistas do mundo, é preciso contribuir com a sociedade”, finalizou o Acadêmico.

 


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Conferência Livre do GT de Educação Superior: Primeira Sessão

Conferência Livre do GT de Educação Superior: Segunda Sessão

Nobel no Brasil: Como a ciência pode trazer soluções para os desafios atuais?

O Rio de Janeiro receberá, em novembro, os líderes das maiores economias do mundo para a influente cúpula do G20. O objetivo principal é claro, mas complexo de resolver: contribuir para criar um mundo justo e um planeta sustentável. A ciência pode ajudar a acelerar o progresso em direção a esse objetivo, e o Brasil, por meio do investimento em educação e ciência, tem um papel crucial.

Há 123 anos, o Prêmio Nobel reconhece avanços científicos que contribuem significativamente para a prosperidade e o bem-estar humano, desde antibióticos e insulina até fertilizantes artificiais que ajudam a alimentar bilhões de pessoas. Essas descobertas, entre muitas outras, têm sido propulsoras essenciais ao progresso econômico e social no mundo.

Essa evolução, resultado positivo do trabalho conjunto da ciência com a sociedade, provavelmente nunca teria acontecido não fosse por descobertas de cientistas altamente comprometidos com a pesquisa básica.

A própria ciência avança, ao longo de gerações, por meio do compromisso com o acúmulo constante de conhecimento, do diálogo aberto e do livre compartilhamento de informações. Chegamos a um estado da arte quando países investem em capital intelectual e proporcionam um ambiente acolhedor para os jovens, onde a curiosidade, o pensamento crítico e a criatividade são, de fato, valorizados.

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Leia o artigo completo no O Globo.


Erika Lanner é diretora do Museu do Prêmio Nobel; Adam Smith é Diretor Científico de Divulgação do Prêmio Nobel

A gratuidade da universidade pública está longe de ser suficiente

Kaio Vitor Ferreira Costa tem 18 anos e vem de Rolim de Moura, município de 56 mil habitantes na zona rural de Rondônia, 480 km ao sul de Porto Velho. Filho de agricultores, cresceu na chácara familiar. Conta que entre suas primeiras lembranças está ter ganhado uma caixa de giz e um pequeno quadro, “onde aprendi a escrever o nome e fiz minhas primeiras continhas”.

O incentivo dos pais ao estudo rendeu frutos: Kaio foi três vezes medalhista da Obmep (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas), criada e realizada pelo Impa em todo o país desde 2005. Em 2023, ele concluiu o ensino médio.

Para jovens de família humilde, o passo seguinte não é evidente. A gratuidade da universidade pública é um instrumento crucial de mitigação da desigualdade social. Mas está longe de ser suficiente, pois as despesas de deslocamento e subsistência na cidade grande, para não falar no material didático, não estão ao alcance de todos. Muitos jovens promissores ficam pelo caminho, pela mais injusta das razões.

É preciso ir além, apoiando financeiramente os mais talentosos e mais necessitados. A própria Obmep-Impa oferece bolsas de estudos universitários financiadas por recursos públicos e privados. E agora o Impa está dando um passo maior nessa direção ao criar o Impa Tech, o seu curso de graduação em matemática da tecnologia e inovação.

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Leia o artigo completo na Folha de S. Paulo.


 

O Acadêmico Marcelo Viana, diretor do Impa, na inauguração do IMPA Tech (Foto: Palácio do Planalto)

Ciência e Sociedade: um diálogo necessário

Em 2014, a neurocientista norueguesa May-Britt Moser foi agraciada, em conjunto com Edvard Moser e John O’Keefe, com o Prêmio Nobel de Medicina, pela descoberta de células que funcionam como uma espécie de GPS cerebral, guardando pontos de localização. O trabalho, feito por meio do estudo de cérebro de roedores, abriu novo caminho para pesquisas sobre doenças como o Alzheimer.

Em 2012, Serge Haroche foi laureado junto com David Wineland com o Nobel de Física, “por métodos experimentais inovadores que permitem a medição e manipulação de sistemas quânticos individuais”, reforçando novos estudos em áreas como a computação quântica.

Já há três anos, em 2021, David MacMillan conquistou o Nobel de Química com Benjamin List pela descoberta de novos métodos de construção de moléculas. O trabalho teve forte repercussão na indústria farmacêutica, tornando a química mais verde.

São três exemplos de descobertas da ciência fundamental, vista muitas vezes em segundo plano, e que mostram como a ciência desempenha papel primordial na transformação da sociedade. Para que isso continue a ocorrer, no entanto, é preciso superar uma série de desafios.

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Leia o artigo completo no Estadão.


Helena Nader – presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC)

Marco Antonio Zago – presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp)

Pedro Wongtschowski – presidente do conselho superior de inovação e competitividade da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)

ABC sedia conferência sobre Ciência e Tecnologias Quânticas

A ABC sediou no dia 5 de abril, mais uma reunião preparatória para a 5ª Conferência Nacional de CT&I, dessa vez com o tema “Ciência e Tecnologias Quânticas”. Organizada pelas Fundações de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro e São Paulo (Faperj e Fapesp), o encontro foi realizado em dois dias, o primeiro na ABC e o segundo na sede da Fapesp, em São Paulo.

O mundo está passando por uma segunda onda de tecnologias quânticas e o Brasil precisa se preparar para não perder a janela de oportunidade de entrar no radar global. Mesmo com investimentos menores, o país tem uma comunidade qualificada de especialistas na área, mas segue atrás em inovação. “Precisamos criar uma Iniciativa Quântica Brasileira, com esforço interministerial. Países como EUA, Inglaterra e China já fizeram isso”, destacou Marcelo Terra Cunha, professor da Unicamp e um dos idealizadores da reunião.

Terra organizou a reunião junto co o ex-presidente da ABC Luiz Davidovich, cuja especialidade é a óptica quântica. Davidovich traçou um panorama do mercado de tecnologias quânticas no mundo, chamando a atenção para a ausência de empresas brasileiras. Assim como em outras áreas, na ciência quântica o Brasil sofre para transformar o conhecimento gerado em inovação. “Temos uma área acadêmica relevante, mas faltam empresas. Deveríamos nos preocupar sobretudo com a geração de startups. Não podemos ficar na segunda divisão desse jogo”.

A mesa de abertura do evento. Da esquerda para a direita: Marcelo Terra (Unicamp), Marcia Barbosa (MCTI), Luiz Davidovich (UFRJ), Jerson Lima (Faperj) e Fernando Rizzo (CGEE)

Na mesma linha, o professor Daniel Felinto, da UFPE, lembrou que há uma corrida tecnológica em curso na qual o Brasil deveria tomar parte. “Os computadores quânticos atuais já estão bastante desenvolvidos mas são bastantes diferentes entre si. É uma corrida maluca em que todos acham que estão em primeiro”.

A maior parte dos presentes na reunião eram físicos, mas o grande desafio é fazer a ciência quântica ir além da Física. É preciso atrair os engenheiros e programadores, com capacidade de gerar inovação. Para isso, foi sugerido que a área seja incluída nos currículos básicos das engenharias.

Para transpor o vale entre ciência e inovação, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) escolheu o Senai-Cimatec, em Salvador, como centro de competência em tecnologias quânticas. A coordenadora do centro, Valéria da Silva, afirmou que o espaço busca não apenas formar cientistas capacitados, mas fornecer infraestrutura, assessoria e estudos de mercado para quem quer empreender. “Para ter demanda, é preciso que o empresário entenda como ele pode usar aquela tecnologia”

O professor Ivan Oliveira, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), afirmou que a instituição está construindo um laboratório nacional multiusuário para desenvolvimento de supercondutores quânticos, que deve entrar em funcionamento no fim de 2024. Ele defendeu que os chips quânticos são uma tecnologia quântica com grande capacidade de escalonamento e impacto.

Para Oliveira, o atual modelo de avaliação dos pesquisadores não combina com a área. “Tecnologias quânticas tem alto valor agregado, mas são investimentos de risco. Isso não combina com uma avaliação focada em número de artigos. Temos que aceitar que um trabalho pode dar errado, não produzir um artigo, e mesmo assim contribuir para o avanço do conhecimento”.

Assista ao evento na ABC:

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