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ABC participa de reunião preparatória para a 5ª Conferência Nacional de CT&I

“O Brasil tem uma riqueza institucional fantástica, mas falta uma cooperação entre instituições e agentes que promovem a inovação no país”, ressaltou o vice-presidente da Fundação Getulio Vargas (FGV), Marcos Cintra, durante a abertura da Conferência Livre de CT&I: Políticas para Ciência, Tecnologia e Inovação com Base em Evidências, que ocorreu no dia 3 de abril em São Paulo. O evento reuniu membros do Sistema Nacional de CT&I com o objetivo de propor contribuições, com base em evidências, para a nova política do setor.

As propostas apresentadas durante esta Conferência Livre representam uma contribuição para elaborar uma Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI) no Brasil, e fazem parte da preparação para 5ª Conferência Nacional de CT&I, que ocorre de 4 a 6 de junho, em Brasília (DF).

Proposições para a governança das iniciativas na área de CT&I

O primeiro painel da Conferência debateu a Governança do Sistema de CT&I e a coordenação das iniciativas dos órgãos de fomento e agências de financiamento que atuam no setor. De acordo com o diretor da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Alvaro Prata, a ciência deve nortear todas as decisões nacionais na esfera executiva, apoiando ações nos diversos ministérios.

“Não dá para tomar uma decisão seja no meio ambiente, saúde, infraestrutura ou segurança pública, sem tomar como base a ciência”, disse Prata. O professor e ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) propôs uma reestruturação dos ministérios de forma a gerar mais centralidade às ações de Ciência, Tecnologia e Inovação com base no livro Ciência para Prosperidade, uma publicação da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).

Alvaro Prata propôs ainda a criação de uma nova função – os Conselheiros Estratégicos em CT&I – para participar nos diferentes setores do Legislativo, Judiciário e, principalmente, Executivo. Neste sistema, cada Ministério teria a figura de um conselheiro estratégico em CT&I para atuar conjuntamente com o MCTI, garantindo que as decisões tomadas em diversos âmbitos sejam baseadas em evidências científicas.

Na sequência, a presidente da Academia Nacional de Medicina (ANM), Eliete Bouskela, alertou para a necessidade de as indústrias absorverem mestres e doutores, destacando a realidade de outros países. “Na Suécia, por exemplo, as indústrias costumam estar localizadas próximas às universidades para que possa haver um maior diálogo entre a universidade e a indústria”, destacou Bouskela, a primeira presidente mulher em 195 anos da ANM.

O professor emérito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Jorge Guimarães, acredita que é preciso reformular o modelo de ensino médio e superior no país a fim de ampliar a oferta de profissionais mais qualificados no mercado: “Também é preciso reorientar a missão dos Institutos Federais para atuar no ensino secundário e pós-secundário, além de articular parcerias com o sistema SENAI/SENAC com foco na formação complementar, e promover uma Reforma Universitária, talvez o desafio mais profundo”.

Guimarães foi seguido pelo presidente do Conselho Superior da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Marco Antonio Zago, que foi categórico ao afirmar que falta governança de CT&I no país. Zago defendeu que incrementar sistemas de CT&I estaduais e regionais pode melhorar esta situação e ressaltou a importância de conferências como essa organizada pela FGV para discutir esses temas.

“Esperamos que ao final desse ciclo que culminará na 5ª Conferência Nacional de CT&I, tenhamos novamente um plano estratégico para o país, com linhas prioritárias de ação, metas definidas e recursos reservados para sua execução. Este plano deve levar em conta a enorme diversidade regional de um país continental, para isso é essencial fortalecer as agendas estaduais e regionais de pesquisa para o desenvolvimento científico e tecnológico, com participação da comunidade acadêmica e empresas locais, com recursos federais e do estado combinados”, discursou o presidente da Fapesp.

Quem encerrou o painel foi o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do estado de São Paulo, Vahan Agopyan, reiterando a necessidade de fortalecer ambientes de inovação e o apoio a empresas inovadoras, principalmente startups.

É possível assistir aos painéis desta Conferência, na íntegra, através deste link.

Para conferir as apresentações realizadas, e as respectivas proposições para a nova política de CT&I, basta clicar aqui.

Alvaro Prata, diretor da ABC (Foto: Divulgação FGV)

Revistas predatórias e ciência de baixo impacto: cortando o mal pela raiz

O mundo acadêmico está vivendo uma revolução sem precedentes. Foi-se o tempo em que pesquisadores submetiam um artigo científico para uma revista científica de forma gratuita, e os editores da revista cuidadosamente selecionavam apenas o material que julgassem ser de maior qualidade para publicação, já que a revista arcaria com custos de produção e impressão. Nesse modelo antigo, a qualidade do material publicado e a “tradição” da revista eram essenciais para que editoras pudessem vender assinaturas e recuperar seu investimento na produção do material publicado. O efeito colateral negativo desse sistema é que ele restringe o acesso aos artigos científicos (e, portanto, ao conhecimento) para aqueles que pagam as assinaturas, sejam eles os próprios pesquisadores ou as bibliotecas das universidades. No Brasil, a Capes paga anualmente às grandes editoras científicas para que as instituições acadêmicas do País possam acessar publicações científicas pelo portal Periódicos Capes.

Hoje, com o elogiável avanço do modelo open access (acesso aberto), a necessidade de assinatura foi removida e uma parcela cada vez maior dos artigos científicos está gratuitamente disponível na internet para qualquer pessoa ler. No entanto, revistas ainda incorrem em custos pela produção e disseminação de artigos científicos, e esse custo hoje migrou do leitor para o autor do artigo. Cientistas ao redor do mundo pagam valores que podem chegar a astronômicos US$ 10 mil para cada artigo que publicam, nos chamados Article Processing Charges (APCs). Entretanto, o pagamento de APCs para publicação de artigos tem efeitos colaterais nefastos, que foram completamente subdimensionados na concepção desse novo sistema. Um desses efeitos é que cada artigo rejeitado pela revista é uma oportunidade perdida de recolher APC dos autores e cada artigo aceito é lucro para a editora, independente de quantas pessoas se interessam por ler esse material posteriormente. Portanto, a revista científica passou a ter menor responsabilidade pela qualidade do material que publica, disparando o mercado de publicações científicas no mundo todo.

Algumas editoras menos escrupulosas foram rápidas em identificar o potencial econômico dessa mudança e turbinaram a produção de novas revistas científicas, claramente com interesses comerciais. Infraestruturas digitais foram criadas para facilitar e acelerar os procedimentos de submissão, revisão e aceite de artigos, desprezando parcial ou totalmente a crucial etapa de revisão por pares. Por exemplo, algumas revistas científicas (mesmo em editoras tradicionais) criaram capacidade para publicar mais de 10 mil artigos científicos de acesso aberto por ano, gerando lucros fantásticos para as editoras. Com práticas editoriais pouco éticas e visando ao lucro pela publicação de artigos científicos em quantidade, essas editoras e revistas, conhecidas pelo termo “predatórias”, desqualificam todo o sistema de publicações científicas. Vale ressaltar que esse lucro é gerado às custas de editores e revisores geralmente não remunerados, e que pesquisadores muitas vezes são instrumentalizados para recrutar novos artigos para as revistas na forma de editores convidados para edições especiais sobre um tema específico. Apesar de edições especiais legítimas terem um valor acadêmico importante, seu superdimensionamento recente demonstra o sucesso comercial dessa estratégia.

(…)

Leia o artigo completo no Jornal da USP.

Desmatamento e Degradação Zero na Amazônia Brasileira

Em novo artigo publicado na revista científica Trends in Ecology & Evolution, da editora CellPress, a ecóloga e membra titular da ABC Ima Célia Guimarães Vieira e o geógrafo José Maria Cardoso da Silva, fazem uma revisão de acompanhamento da meta brasileira de desmatamento zero. O compromisso, assumido pelo Governo Federal logo que tomou posse em 2023, estipula que o país deva conseguir zerar tanto o desmatamento quanto a degradação florestal até 2030.

No artigo, os pesquisadores avaliam que, para cumprir com o objetivo, é preciso que o conceito de sustentabilidade vá além da parte ambiental e passe a englobar aspectos socioeconômicos das diferentes regiões da Amazônia. É preciso construir sistemas econômicos que incentivem o uso eficiente das áreas já desmatadas ao mesmo tempo que incentive a preservação em áreas públicas e privadas. Dentre as propostas, está a de transformação das áreas públicas não designadas, que constituem vastas extensões de terra no miolo da Amazônia, em reservas ambientais ou indígenas.

Leia o artigo completo na CellPress.

(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real).

Começam as aulas no primeiro curso de graduação do Impa

*adaptado de Impa.

Nesta quarta-feira, 3 de abril, começam as aulas no IMPA Tech, primeiro curso de graduação do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa). Com quatro anos de duração, o bacharelado em Matemática da Tecnologia e Inovação começa com um ciclo básico de um ano e meio. Em seguida, os alunos escolhem entre quatro ênfases: Matemática, Ciência da Computação, Ciência de Dados e Física.

A graduação conta com alunos de diferentes estados do Brasil. Para atrair os estudantes, o IMPA Tech oferece alojamento estudantil para os maiores de 18 anos, graças à parceria com a Prefeitura do Rio, auxílio alimentação de R$ 1.290, além de uma bolsa de R$ 500.

O processo seletivo dos alunos considerou o desempenho em cinco olimpíadas do conhecimento, como a OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas), a maior do Brasil com mais de 18 milhões de participantes, e a nota de matemática do Enem, além de entrevistas virtuais.

Localizado no Porto Maravalley, hub de inovação do Rio de Janeiro, os alunos estudarão em um ambiente cercado de startups e empresas de tecnologia, contribuindo para o desenvolvimento de novas tecnologias. Segundo o diretor-geral do IMPA e membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Marcelo Viana, “não é uma graduação qualquer”.

“Inserida neste espaço de inovação, vai formar jovens em alto nível para a atuação prática na resolução dos problemas do Brasil, suas empresas e suas autoridades. Para mudar o mundo por meio da matemática! Vamos oferecer a expertise do IMPA e de seus professores, e o apoio à subsistência e à moradia, para que realize seus estudos nas melhores condições. E vamos apoiar os egressos em sua inserção profissional, tanto no mercado de trabalho quanto na pós-graduação.”

Estiveram presentes na inauguração, no dia 2 de abril, o presidente da República, os ministros de Estado da Educação e da Ciência, Tecnologia e Inovação e o prefeito da cidade do Rio de Janeiro.

O Acadêmico Marcelo Viana, diretor do Impa, na inauguração do IMPA Tech (Foto: Palácio do Planalto)

Prêmio Marta Vanucci para Mulheres na Ciência do Oceano está com inscrições abertas

O Prêmio Marta Vannucci para Mulheres na Ciência do Oceano busca destacar e reconhecer o trabalho de mulheres que atuam na produção de conhecimento sobre o mar no Brasil e para o fortalecimento da participação de mulheres na ciência, inspirado na trajetória e pioneirismo da bióloga Marta Vannucci (1921 – 2021), membra da Academia Brasileira de Ciências e pioneira nos estudos oceanográficos brasileiros.

Idealizado pela Cátedra UNESCO para Sustentabilidade do Oceano, ligada ao Instituto Oceanográfico e Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, pela Liga das Mulheres pelo Oceano e pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) o prêmio incentiva a equidade de gênero no avanço de uma ciência justa, equilibrada, criativa e produtiva.

O prêmio se divide em duas categorias: Cientista Inspiração Sênior, para pesquisadoras consolidadas, com mais de 20 anos de carreira científica na área; e Jovem Cientista, para pesquisadoras com menos de 35 anos e que concluíram doutorado há, no máximo, seis anos. Inscrições vão até o dia 15 de abril.

Para mais informações e inscrições, acesse.

 

 

 

Relações pessoais e presenciais podem resgatar o diálogo, diz psicanalista

*Matéria de Janes Rocha publicada no Jornal da Ciência

O resgate do diálogo na sociedade passa pela retomada das relações pessoais presenciais que, a despeito do aparente domínio das redes sociais e da influência de algoritmos, ainda são muito valorizadas. Essa é a visão do psicanalista Christian Dunker que, ao lado da matemática Tatiana Roque, debateram o tema “A cabeça está atrasada em relação à tecnologia?”, segundo painel da conferência livre “A contribuição das Ciências Humanas e das Humanidades para o desenvolvimento do Brasil”.

Promovido na terça-feira (26/3) pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o evento integra as atividades preparatórias para a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5ª CNCTI), que o Governo Federal realiza em junho, em Brasília, para definir a Estratégia Nacional para o setor nos próximos dez anos.

O presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, questionou os participantes sobre como lidar – desde um ponto de vista mais filosófico e psicológico – com a perda de conexão entre os fatos e suas versões, que vêm levando ao descrédito da ciência. “O que temos hoje é um desentendimento sobre fatos básicos, não existe um acordo, por exemplo, se a Terra é plana ou redonda, nem sequer sobre resultados de votos, quais produtos estão aumentando de preço, quais não estão”, analisou Janine Ribeiro.

Professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), Dunker opinou que as pessoas precisam e valorizam cada vez mais os diálogos “não anônimos”, um dado que vem sendo apontado em pesquisas da área da psicanálise. “As pesquisas dizem isso: como você muda essas pessoas que parecem tomadas e possuídas? Por alguém que está próxima delas. É assim que a gente chega nelas. Não é por mais informação, domínio de mídia, mas por laços sociais e presenciais que ainda são muito valorizados”, afirmou.

Tatiana Roque argumentou que os fatos são mediados por valores que, inclusive, assumiram a frente da política. “Fatos não mudam a cabeça de ninguém, ou seja, se a pessoa acredita em uma coisa, não adianta, você pode metralhar fatos, ciência, o que for, ela não muda de opinião”, disse ela, que é secretária de Ciência e Tecnologia da cidade do Rio de Janeiro e professora titular do Instituto de Matemática da Universidade Federal do Estado (UFRJ).

Em sua exposição, Roque defendeu a importância da História da Ciência e da Filosofia da História para uma melhor compreensão do cenário atual. “Nesse momento em que a gente lida com negacionismo, com ataque e crise de confiança na ciência, não basta – como nós da comunidade científica fazemos – defender o poder da ciência, a verdade e as certezas. Acho que a gente tem que entender também como, ao longo da história, a ciência conseguiu servir de mediação para questões políticas e por que hoje é justamente esse poder de mediação que está sob ataque”, declarou.

O professor Janine Ribeiro, por sua vez, enfatizou a importância de termos referentes consensuados de dois tipos: um, os fatos, como o resultado das eleições, o preço dos alimentos; outro, alguns valores básicos, como o respeito à vida, o respeito à dignidade humana. E comentou que a falta de acordo sobre eles é o que permite o isolamento de grupos que não mais dialogam, sendo o diálogo uma condição básica não apenas para a democracia, mas para o próprio convívio humano.

Assista ao evento completo pelo canal da SBPC no Youtube:

Audiência no Senado alerta para a crise na formação de mestres e doutores no Brasil

Confira a matéria da Agência Senado:

A Comissão de Educação do Senado Federal debateu nesta terça-feira (26) as políticas públicas e perspectivas para o mercado de trabalho dos pós-graduandos. Os debatedores apontaram desafios como o número reduzido de profissionais com doutorado e mestrado no Brasil, e a necessidade de mais investimentos e absorção desses profissionais no mercado de trabalho.  

O requerimento (REQ 70/2023 – CE) para a audiência pública apresentado pela senadora Teresa Leitão (PT-PE), que presidiu a reunião remota, enfatizou a importância do investimento em pesquisa, ciência e tecnologia para o desenvolvimento nacional e a inserção do país no cenário mundial. 

— A pós no Brasil vem sendo bastante dificultada pelo insuficiente apoio financeiro e pela escassa garantia de direitos, por parte do Estado, aos estudantes dos programas de pós — explicou Teresa. 

Olival Freire Júnior, presidente substituto do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), afirmou que o atual orçamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) não é suficiente para sustentar a quantidade de recém-doutores brasileiros.

— Nós temos sinais de crise e, se nós não tivermos capacidade como nação brasileira, como Estado brasileiro, de fazermos o diagnóstico correto, nós teremos enormes prejuízos no futuro imediato — disse.

E o número de conclusões de doutorado era para ser maior, segundo Vinicius Soares, presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG). Ele explicou que a meta nacional seria formar 25 mil doutores por ano, mas uma série de fatores — que ele considera sistêmicos — têm impedido a formação de quadros técnicos e, após a pandemia, esse cenário teria sido agravado.

— A gente, enquanto estudante de pós-graduação stricto sensu, pensa muito: o que eu vou fazer quando terminar o meu mestrado, quando terminar o meu doutorado? Tem de fato uma lacuna sistêmica em nosso país porque não tem um plano de absorção desses mestres e doutores.

Direitos sociais e orçamento

O declínio no interesse pela pós-graduação decorre da perda de direitos sociais básicos como aposentadoria ou licença-maternidade, apontou ainda Vinícius.  A evasão de 60% nos programas de graduação reduz ainda mais a oferta de candidatos à pós-graduação. Além disso, faltam perspectivas profissionais para quem conclui um mestrado ou doutorado. Não há uma política nacional para absorvê-los. 

Charles Morphy D. Santos, presidente do Fórum de Pró-Reitores de Pós-Graduação e Pesquisa (FOPROP), reconheceu que houve um investimento adicional em 2023, com o reajuste das bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado, que estavam praticamente estagnadas desde 2013. Mas essa pequena melhoria, para ele, não é suficiente para reverter a situação. 

— Se a gente olhar a dotação para 2024, é perceptível aqui que há uma redução do orçamento previsto, o que, de certa maneira, vai impactar algumas ações, tanto da Capes quanto ações ligadas à pós-graduação, de uma forma geral — comentou.

Abaixo da OCDE

Segundo Denise Pires de Carvalho, presidente da CAPES, o país forma cerca de cinco vezes menos doutores do que a média da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Enquanto os Estados Unidos e a Alemanha, por exemplo, formam entre 60 e 70 mil doutores por ano, o Brasil forma menos de um terço desse total.

— Nesse ritmo nós não vamos alcançar a média da OCDE em termos de percentual de doutores da nossa população — lamentou.

A presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Helena Bonciani Nader, defendeu a adoção de políticas públicas para estimular a contratação de mestres e doutores pela iniciativa privada. Ela sugeriu que o Brasil siga o exemplo da China e da Índia, que aprovaram políticas para esse tipo de contratação. Atualmente, a grande maioria de mestres e doutores brasileiros trabalha para a administração pública nos níveis federal, estadual e municipal. 

— Sem ciência não vai haver desenvolvimento — sentenciou.

Fonte: Agência Senado

Fórum da Educação Superior ABC/SBPC alerta para a relação da universidade com a educação básica

0No dia 26 de março, terça-feira, aconteceu a segunda edição do Fórum da Educação Superior ABC/SBPC, com o tema “História da Educação e do Ensino Superior”. Organizado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o evento contou com os professores Luciano Mendes de Faria Filho, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Mozart Neves Ramos, da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto.

Teses sobre o Ensino Superior Brasileiro

O professor Luciano Mendes, que participa dos projetos Pensar a Educação, Pensar o Brasil – 1822/2022 e Portal do Bicentenário, iniciativas de pesquisa em rede sobre educação, levantou algumas reflexões. A primeira é que ainda conhecemos pouco sobre as práticas de sala de aula no ensino superior. “Temos muita pesquisa sobre as políticas públicas mas sabemos muito pouco sobre o que ocorre em sala de aula. As práticas tendem a ser particulares de cada professor, e se perdem quando estes se aposentam”, analisou.

Outra marca fundamental é a desigualdade. O ensino superior público é preso aos modelos das universidades e institutos federais, que cada vez são menos capazes de responder à demanda por vagas. Resulta disso a expansão exponencial do ensino privado, com a ajuda de subsídios públicos. “Temos apenas 23% dos alunos matriculados em instituições públicas. Quanto mais pobre uma pessoa, mais direcionada ela é para o ensino superior privado. Precisamos encontrar um novo modelo de expansão do ensino superior, pois o atual é insustentável”.

As atuais universidades públicas são filhas da reforma universitária de 1968, muito inspirada na experiência americana e na interface ensino-pesquisa. Para Luciano, entretanto, enquanto nas universidades estrangeiras a prática científica já estava consolidada quando se proliferou o modelo da pós-graduação stricto sensu, no Brasil ambos nasceram juntos, e continuam ligados umbilicalmente. “Na pesquisa, precisamos ir além da pós graduação. O modelo atual desencoraja o risco, e, muitas vezes, é no erro que está a descoberta. Que aluno vai escolher uma pesquisa disruptiva se, ao final dos quatro anos, ele tiver que devolver o dinheiro caso não tenha uma tese?”, refletiu.

Mozart Neves, ex-reitor da UFPE eprofessor da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP; e Luciano Mendes, professor da Faculdade de Educação da UFMG

Tudo começa na educação básica

A crise universitária brasileira não se resolve sem antes resolver a educação básica. Essa foi a frase com que o ex-secretário de Educação de Pernambuco e ex-reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Mozart Neves Ramos, abriu sua participação. Ele lembrou que menos da metade dos formandos no ensino médio atingem as médias mínimas esperadas em matemática, de acordo com o padrão dos países desenvolvidos.

Esse déficit educacional atinge em cheio o ensino superior, drenando recursos fundamentais. As taxas de desistência nas faculdades, públicas e privadas, estão na casa dos 60%. “Isso representa um desperdício de R$ 20 bilhões todos os anos”, quantificou Mozart.

Reverter esse cenário passa, necessariamente, por valorizar o trabalho do professor. Hoje, a licenciatura é o caminho escolhido por 20% dos alunos do ensino superior. O professor da educação básica é, de longe, a categoria profissional que a universidade mais forma. Mesmo assim, salários baixos e a falta de um plano de carreira tornam a profissão muito pouco atrativa, e muitos enxergam a licenciatura apenas como uma etapa intermediária antes da pós-graduação. “Para se ter uma ideia, a média da nota de ingresso em Pedagogia é a mais baixa do Enem, apenas 450 pontos. Segundo o Inep, alunos que fazem apenas 450 pontos não deveriam estar aptos a deixar o ensino médio”, exemplificou o pesquisador.

Fonte: MEC/Inep; ENEM – Gráfico elaborado pela Deed/Inep

Caminhos para o futuro

Para Mozart Ramos, o século XXI trouxe tecnologias que renderam obsoleto boa parte do modelo tradicional de educação, seja básica ou superior. O mundo hoje é interdisciplinar, algo que as universidades brasileiras tem dificuldade de compreender. Os alunos já dominam outras formas de absorção de conteúdos e o mercado de trabalho exige cada vez menos um diploma.

“Diploma hoje é ponto de partida, não de chegada, a formação deve ser contínua. Precisamos de professores que entendam esse futuro e criem novos ambientes de aula. Ainda estamos presos ao tempo da Enciclopédia Barsa”, alertou. “Hoje se eu fosse reitor faria duas coisas: uma pró-reitoria de educação básica e um observatório dos egressos, para que os alunos que estão no mercado de trabalho compartilhem suas experiências e ajudem a universidade a se modernizar”, concluiu.

Por sua vez, Luciano Mendes reforçou que é preciso investir nos professores. “As melhores experiências internacionais mostram que não tem mistério. Não se trata de inventar cada vez mais cursos e especializações. Precisamos valorizar a carreira e os salários, feito isso, as pessoas se interessam naturalmente”, afirmou.

Entretanto, o pesquisador lembrou que não existe milagre. Não é possível enxergar a educação de forma alheia à realidade socioeconômica brasileira. “Não podemos achar que vamos resolver a educação básica sem medidas claras de redistribuição de renda. Do ponto de vista da sociedade brasileira, a escola não é prioridade. Temos 33 milhões de pessoas passando fome. É impossível valorizar a educação básica nesse cenário”, concluiu.

Assista ao webinário completo:

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