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ABC participará de evento da UFRJ sobre o Bicentenário da Independência

0Duzentos anos depois, a Independência pode ser analisada como uma obra incompleta. Para estimular o pensamento crítico sobre as vulnerabilidades que permanecem ao longo desses dois séculos e discutir o papel da universidade como peça fundamental para que o país alcance a soberania alimentar, tecnológica, ambiental e territorial, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) realiza, nos dias 15, 20 e 21 deste mês, o evento “Bicentenário da Independência e os rumos do Brasil”, no campus Praia Vermelha, na Urca, Rio de Janeiro. A inscrição é gratuita e aberta ao público, com encontros presenciais e on-line.

Questões prioritárias que ameaçam o progresso serão discutidas de forma ampla, com um time de especialistas nos diversos campos do saber, divididos em oito mesas-redondas que jogarão luz sobre as vulnerabilidades que atravancam da soberania energética à independência das mulheres.

A mesa que abre o evento será presencial, no auditório Pedro Calmon, e discutirá o papel da universidade no desenvolvimento e na construção da independência do Brasil. Estarão presentes a reitora da UFRJ, Denise Carvalho; o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Renato Janine; a presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Helena Nader, o presidente da Faperj, Jerson Lima; e a reitora da UFSB, Joana Angélica. A mesa vai discutir o protagonismo das universidades na geração de riquezas e conhecimento científico para a sociedade

Nas demais mesas, que ocorrem virtualmente nos dias 20 e 21, especialistas vão debater os impasses que impedem o progresso nacional, abordando questões climáticas, sanitárias e tecnológicas, desenvolvimento sustentável, e o olhar do mercado internacional para o atual momento do país. O Acadêmico Carlos Nobre participará do último dia.

Inscreva-se!

 

 

Programação:

Dia 15 de setembro – presencial

16h – Conferência Convergências, Atividades Infraestruturadas e Múltiplas Ontologias: o fluxo das tecnologias do futuro

Participante: professor Alessandro Mongili (Universidade de Padova, Itália)

18h – Mesa Abertura: O Papel da Universidade na (Re)construção da Independência do Brasil

Participantes: Denise Carvalho (reitora UFRJ), Renato Janine (SBPC), Helena Nader (ABC) e Jerson Lima (FAPERJ) e Joana Angélica (Reitora UFSB)

 

Dia 20 de setembro – on-line

10h – Mesa 1: Desafios da Soberania Energética

Participantes: Guilherme Estrela, Maurício Tolmasquim, Clarice Ferraz e Aquilino Senra

14h – Mesa 2: Desafios da Soberania Sanitária

Participantes: Lígia Bahia, José Gomes Temporão, Paulo Gadelha e Gulnar Azevedo

16h – Mesa 3: Desafios da Soberania Alimentar

Participantes: Renato Maluf, Tereza Campelo

 

Dia 21 de setembro – on-line

10h – Mesa 4: Desafios da Soberania Tecnológica

Participantes: Luciano Coutinho, Fernando Peregrino, Carlos Gadelha e Luis Fernandes

14h – Mesa 5: Desafios para a Soberania Territorial e para a Projeção Internacional do Brasil

Participantes: José Luiz Fiori, Francisco Carlos Teixeira da Silva e Darc Costa

16h – Mesa 6: Desafios para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia

Participantes: Ênio Candoti, Carlos Nobre, Esther Bemerguy, João Pacheco de Oliveira

Oportunidade de Pós-Doutorado para Brasileiros em Israel

0Na próxima segunda-feira, 12 de setembro, às 14 horas, o Instituto D’OR de Pesquisa e Ensino (IDOR) e o Instituto Weizmann de Ciências (WIS) realizam um webinar gratuito para apresentar o “Weizmann-IDOR Pioneer Science Fellowship”, um programa de bolsas integrais de pós-doutorado exclusivo para brasileiros das áreas de Matemática, Física, Química e Biologia. O evento terá a participação do diretor do Programa de Pós-doutorado do Instituto Weizmann, Yohai Kaspi; do membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Sérgio Ferreira; e de duas pós-doutorandas brasileiras do Instituto Weizmann, Camila Pinto da Cunha e Suellen de Almeida Correa.

O bate-papo virtual contará um pouco mais sobre o programa, suas atividades científicas e treinamentos oferecidos, perspectivas de carreira, entre outras. Em virtude do atual problema da fuga de cérebros, uma das premissas centrais do programa é oferecer condições atraentes de carreira para os pesquisadores que optarem por retornar ao Brasil após a conclusão do treinamento.

Inscreva-se no webinário.

Saiba mais sobre o programa de bolsas.

 

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Desmatamento aqueceu Cerrado em 0,9°C, aponta Mercedes Bustamante

Leia a introdução de reportagem que ouviu a membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Mercedes Bustamante, publicada em 8 de setembro pelo Jornal O Globo.

 

O desmatamento do Cerrado, bioma que já perdeu quase metade de sua área de vegetação nativa, fez seu território aquecer cerca de 1°C no início do milênio, aponta um novo estudo que mapeou mudanças climáticas na região. Esse desmatamento também reduziu em 10% a capacidade das plantas da região lançarem umidade no ar, o que afeta o ciclo de chuvas do qual a agricultura da região depende.

A conclusão está descrita em um artigo liderado pelas ecólogas Ariane Rodrigues e Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília (UnB), que combinou estimativas de temperatura medida por satélites com mapas de cobertura terrestre do cerrado. O trabalho, que envolveu dez cientistas ao todo, detalhou o que aconteceu entre 2006 e 2019 com a temperatura em cada tipo de transição de uso do solo no bioma, que possui diversos tipos diferentes de fisionomia vegetal, incluindo florestas e campos naturais. A partir desses dados, fizeram uma projeção para entender qual o dano total ao clima causado pela devastação do bioma ao longo da história.

Leia a reportagem completa n’O Globo.

Helena Nader participa de evento da Universidade de Harvard no Brasil

No dia 19 de agosto, no Museu do Amanhã, o David Rockefeller Center for Latin American Studies (DRCLAS) da Universidade de Harvard, organizou o evento “Colaboração Harvard Brasil: Trabalhando Juntos para Promover o Conhecimento e a Educação”. A atividade comemorou os 16 anos do DRCLAS e do Programa de Estudos Brasileiros da universidade.

A presidente da ABC, Helena Bonciani Nader, foi convidada a participar da sessão “Valores para uma Sociedade Sustentável”, moderada pela também Acadêmica Elisa Reis. Em seguida, os Acadêmicos Carlos Nobre e Naercio Menezes Filho participaram da sessão “Construindo Pontes entre a Ciência e a Prática”.

Durante a primeira sessão, Nader alertou que a educação básica e superior no Brasil está passando por uma profunda crise que legará problemas de longo prazo para os próximos governos. A falta de uma política de Estado para o setor e os impactos da pandemia comprometeu toda uma geração de alunos. “Imagine como está o aprendizado de uma criança que ficou dois anos dependendo de uma tecnologia a qual não tinha acesso em casa”, lembrou.

A presidente da ABC fez questão de ressaltar que ciência, tecnologia e inovação são consequências diretas da educação, e que a democracia é a base comum na qual todos esses pilares se sustentam. “Eu vivi a ditadura militar, perdi professores e colegas de universidade. Democracia ontem, hoje e sempre. Estado democrático de direito ontem, hoje e sempre. Não há caminho fora da democracia”, conclamou Nader.

 

Helena Nader durante a primeira sessão (Foto: Claudia Tavares)

Quais são os desafios do próximo governo na área da ciência?

Confira matéria do TecMundo sobre os cortes orçamentários na ciência brasileira. A presidente da ABC, Helena Bonciani Nader, e o Acadêmico Alexander Kellner foram entrevistados.

 

A ciência brasileira precisa de ações emergenciais. A redução do investimento na área nos últimos anos está levando mais cientistas brasileiros a buscarem uma carreira de pesquisador em outros países, e a falta de dinheiro para manutenção de universidades públicas e outras instituições de pesquisa faz com que laboratórios e equipamentos parem de funcionar ou tenham sua capacidade reduzida.

Segundo um levantamento divulgado em julho deste ano, feito pelo SoU_Ciência (Centro de Estudos Sociedade, Universidade e Ciência) e o Instituto Serrapilheira, entre 2018 e 2022, 19 de 22 Unidades Orçamentárias que administram recursos na área da ciência tiveram queda no orçamento líquido.

De acordo com o mesmo levantamento, entre 2018 e 2021, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) teve um corte de 42,19% nos recursos; o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), entidade federal de incentivo à pesquisa, teve uma queda no orçamento de 64,92% entre os anos de 2013 e 2021.

Para reverter esse quadro, cientistas defendem que um próximo governo faça a retomada dos investimentos e o aumento nos valores das bolsas de pós-graduação — sem reajuste há cerca de dez anos — como maneira de manter jovens cientistas na carreira e no país.

“Temos um déficit orçamentário grande. Nas universidades federais, teve queda no dinheiro para pagar as contas do dia a dia, como as contas de água e luz e a manutenção. Os recursos para reformas caíram 96% nos últimos cinco anos; os prédios estão se deteriorando e surgem riscos de segurança”, diz Soraya Smaili, coordenadora do SoU_Ciência.

Segundo Smaili, que é farmacêutica e cientista, a falta de financiamento faz com que laboratórios de pesquisa não produzam tanto quanto poderiam, ou precisem até ser fechados, pelo menos temporariamente.

“Existe uma situação de muito abandono da área científica. A ciência não é devidamente valorizada, e a situação emergencial é generalizada”, afirma Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional, ligado à UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Para Kellner, um dos paleontólogos de maior destaque do Brasil, ações urgentes são necessárias para estancar a fuga de cérebros (termo que diz respeito à evasão de cientistas brasileiros, que vão buscar carreira de pesquisador no exterior).

O cientista reforça que é preciso fazer um aumento substancial nos valores pagos pelas bolsas de pós-graduação no país.

A pós-graduação stricto sensu (programas de mestrado e doutorado), é a principal maneira de se formar novos cientistas no Brasil. Nesses cursos, feitos na maior parte em instituições públicas como as universidades federais, os estudantes colocam o método científico em ação — planejam uma pesquisa para resolver um problema, fazem os experimentos e registram os resultados, que podem gerar novos conhecimentos e até produtos inovadores.

Dados de um relatório publicado em 2021 pelo Observatório em Ciência, Tecnologia e Inovação (OCTI) e pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) mostram que a produção científica brasileira, a 13ª maior do mundo, cresceu 32,2% entre os anos de 2015 e 2021 — já em um cenário de corte de gastos na área.

Mesmo com uma produção crescente em panorama adverso, as bolsas que são pagas pelo CNPq (principal instituição de incentivo à pesquisa no país) aos estudantes de pós-graduação não têm reajuste no Brasil há cerca de 10 anos. Segundo a tabela, o valor pago a um aluno do mestrado é de R$ 1.500, e a bolsa de um estudante de doutorado é de R$ 2.200.

O investimento na infraestrutura, com a recuperação de laboratórios e outros espaços que promovem a pesquisa científica, também é apontado como prioridade por Kellner e outros cientistas ouvidos pelo TecMundo.

Em setembro de 2018, um incêndio destruiu boa parte do acervo e do prédio do Museu Nacional, uma das instituições científicas mais antigas do país. “É fato que o Museu Nacional ficou abandonado por muito tempo, pegou fogo e perdemos muitas coisas que não conseguimos recuperar”, afirma Kellner.

“É fundamental que haja o entendimento de que nosso patrimônio científico e cultural não pode ser abandonado. É preciso pensar seriamente em proteger o que tem valor científico. O Museu Nacional deve ser olhado com carinho; ele pertence à sociedade brasileira”, acrescenta o cientista.

O que os cientistas esperam do próximo governo?

Helena Nader, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), afirma que é urgente respeitar a constituição. “Nós temos legislações que garantem que a ciência e a educação são prioridades”, diz.

Para a biomédica e cientista, a pesquisa ocupa papel estratégico no desenvolvimento de um país, e o Brasil está ficando para trás ao deixar de investir na área. “Falta uma visão estratégica de nação. Sem ciência e educação não vamos sair da crise”, afirma.

Segundo Nader, o desenvolvimento científico pode tirar o Brasil da dependência extrema da tecnologia estrangeira. Setores como saúde, energia, agricultura e pecuária se beneficiariam de maiores investimentos em ciência. “Não vamos ser autossuficientes em tudo, mas podemos ser em algumas coisas”, diz.

“Esperamos que o novo governo tenha o entendimento de que ciência não é gasto, é investimento. Sem ciência, não tem futuro para o país; é preciso gerar ciência e agregar valor ao que produzimos”, afirma Kellner, do Museu Nacional.

Soraya Smaili, do SoU_Ciência, diz que a pandemia do coronavírus evidenciou a importância do que a ciência pode produzir, desde vacinas a tecidos especiais para máscaras de proteção facial.

Para que essas soluções continuem sendo apresentadas à sociedade, porém, os investimentos precisam ser feitos, diz a cientista. “Eu vejo, no futuro, um governo que valoriza a ciência e o ensino superior para retomar os investimentos e recuperar uma capacidade que já existe, em um sistema que já mostrou ser capaz de produzir conhecimento e soluções”, conclui a pesquisadora.

O que dizem os planos de governo dos candidatos à presidência?

Embora os planos de governo dos principais candidatos na corrida presidencial citem a importância dos investimentos em ciência, faltam propostas mais concretas para a área nos documentos. O reajuste das bolsas de pós-graduação, uma das principais demandas dos pesquisadores, por exemplo, não aparece em nenhum momento.

O primeiro turno das eleições para presidente acontece no dia 2 de outubro. Caso haja um segundo turno, será realizado no dia 30 de outubro. No primeiro turno, os eleitores também devem escolher seus candidatos para os cargos de governador, senador, deputado estadual e deputado federal — os três últimos parte do poder legislativo, que faz as leis.

Helena Nader, da ABC, afirma que esse voto também define os rumos que a ciência do país vai tomar. “As pessoas precisam entender que quando votam para o cargo de deputado, estão dando uma procuração para que o candidato fale em nome delas. Precisamos cobrar as ações porque o dinheiro que será usado é nosso”, diz a cientista.

As mensagens da ciência para a Amazônia

Leia o artigo escrito pelos representantes do Painel Científico para a Amazônia (SPA) Mercedes Bustamante, Carlos Nobre e Emma Torres. Texto foi publicado originalmente pelo Nexo Políticas Públicas e Agência Bori.

Em agosto de 2019, queimadas criminosas e organizadas devastaram uma área significativa da Amazônia. A poluição atmosférica gerada viajou o Brasil e atingiu o Sudeste. Em São Paulo, a poluição das queimadas, em associação com uma frente fria, transformou o dia em noite.

Naquele ano, a partir da comoção provocada pelo avanço das ações predatórias na maior floresta tropical do globo, cientistas trabalhando na região se reuniram sob os auspícios da SDSN (Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas na sigla em inglês), e formaram o Painel Científico para a Amazônia. A tarefa era produzir a mais completa síntese do conhecimento científico sobre a Amazônia incluindo aspectos antropológicos, culturais, socioeconômicos, ecológicos e ambientais para então indicar potenciais soluções para a crise socioambiental que se agrava rapidamente na região com impactos negativos sobre a estabilidade climática, a biodiversidade e o bem-estar humano.

Mesmo diante da pandemia de covid-19 ao longo de 2020 e 2021 e que tão seriamente atingiu a região amazônica, mais de 240 cientistas – 65% dos países amazônicos e 42% mulheres – trabalharam à distância espalhados por diferentes países, fusos horários, idiomas e especialidades para construir o primeiro relatório do Painel. Em comum, a motivação ferrenha e o senso de urgência para indicar ações para conservar os mais de 50 ecossistemas terrestres e aquáticos da região e seus povos (350-400 grupos indígenas além de comunidades quilombolas, ribeirinhas, entre outras) e promover sua resiliência frente às mudanças ambientais que podem comprometer definitivamente a floresta como hoje a conhecemos e tornar ainda mais grave a emergência climática que o planeta atravessa.

Lançado durante a COP (Conferência das Partes) da Convenção Quadro das Nações Unidas para a Mudança do Clima em Glasgow em novembro de 2021, o relatório apresentou quatro recomendações chave para tomadores de decisão imbuídos de responsabilidade e grandeza para mudar a trajetória de desmatamento e degradação manifesta em todos os países amazônicos: (1) moratória imediata sobre desmatamento e degradação em áreas próximas de atingir um ponto de não retorno 1 no sul da Amazônia; (2) eliminar o desmatamento, degradação e incêndios na bacia até 2030; (3) restauração de ecossistemas aquáticos e terrestres; e (4) promoção de uma bioeconomia de “saudáveis florestas em pé e rios fluindo” baseada em ciência, tecnologia, inovação e conhecimentos Indígenas e de comunidades locais.

Equidade, ética e justiça moral são centrais na correção de rumos em um processo colaborativo de desenho de alternativas inovadoras e viáveis para a região. Políticas justas e inclusivas são mais facilmente implementadas e aceitas pela sociedade.

Em 2022, comemoramos os 200 anos da independência do Brasil. Mesmo entrando em meados do século 21, perpetuam-se na Bacia Amazônica ciclos de exploração predatória de seus ecossistemas assentados na visão colonial de que a floresta deveria suprir bens e serviços às custas de sua própria manutenção e do bem-estar de seus povos. O que a ciência destaca, em consonância com o conhecimento de povos originários da região, é que a conservação dos ambientes terrestres e aquáticos é que será o pilar do desenvolvimento humano e econômico sustentável da Amazônia, mantendo concomitantemente significativos processos do funcionamento do planeta. Adicionalmente, hoje, temos também clareza de que, se a floresta influencia processos ecológicos e econômicos além de suas fronteiras, as mudanças globais representam um risco crescente que atua em sinergia com as mudanças locais, acelerando a degradação e a perda de resiliência de seus ecossistemas.

Mudanças recentes na política sul-americana começam a indicar a possibilidade de novos arranjos para um trabalho conjunto na Pan-Amazônia. O Brasil, como detentor de aproximadamente 60% da floresta Amazônica, é um ator vital e deve retomar seu papel como catalisador da transformação sustentável necessária. É por isso que a Amazônia precisa ser um tema central nas eleições majoritárias no país em 2022. O panorama de violência, crime ambiental, degradação e descaso do poder público que resultou no avanço acentuado do desmatamento e degradação nos últimos anos irá requerer um pacto nacional de reconstrução da governança socioambiental para a Amazônia. O tempo é agora.

Painel Científico para a Amazônia se reunirá durante a Assembléia Geral da ONU

No dia 15 de setembro, o Painel Científico para a Amazônia (SPA, em inglês), iniciativa da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável (SDSN) das Nações Unidas que reúne 240 cientistas do mundo inteiro, organizará uma reunião no âmbito da 77ª Assembléia Geral da ONU. O encontro “A Amazônia que queremos: Caminhos baseados na ciência para uma Amazônia sustentável, inclusiva e resiliente” acontecerá em Nova York, EUA, mas terá transmissão ao vivo pelo YouTube.

O vice-presidente da ABC para a Região Norte, Adalberto Luis Val, e o membro titular Carlos Nobre são membros do Painel e estarão presentes como palestrantes. Também estarão na mesa principal o diretor do SDSN, Jeffrey Sachs, e as cientistas Marina Hirota e Dolors Armenteras. A mediação ficará a cargo da diretora do Instituto Igarapé, Ilona Szabó.

Em virtude do Ano Internacional das Ciências Básicas para o Desenvolvimento Sustentável, o SPA se reunirá para cobrir a situação da Amazônia desde o lançamento do histórico Relatório de Avaliação da Amazônia na COP26. As soluções oferecidas no relatório podem catalisar o desenvolvimento sustentável na região.

O evento pretende mobilizar formuladores de políticas, profissionais e pesquisadores para atuar com base nas soluções oferecidas no relatório. Através do trabalhando conjunto e do investimento contínuo na Amazônia, o mundo pode apoiar esse ecossistema de importância global, que é um grande ativo climático e crucial para o desenvolvimento sustentável dos povos e da biodiversidade.

Registre-se para participação online ou presencial.

Museu Nacional reinaugura fachada histórica

Os presentes na reinauguração da fachada histórica do Museu Nacional (Foto: Tânia Rego/Agência Brasil)

Exatamente quatro anos atrás, no dia 2 de setembro de 2018, um gigantesco incêndio consumia o Museu Nacional, sediado no Paço de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro. O fogo destruiu 85% dos mais de 20 milhões de itens – fósseis, documentos, mobílias, objetos, obras de arte, estudos científicos – que estavam no acervo do museu, e representou uma perda inestimável e irrecuperável para o país.

O museu em chamas se tornou retrato do descaso e da asfixia orçamentária que sofre a ciência brasileira. Em abril deste ano, um processo analisado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) constatou que a sucessão de falhas que levaram ao incêndio se deram pela falta de recursos para manutenção. O TCU concluiu que os gestores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), instituição responsável pelo Museu, alertaram sobre o problema, mas não receberam a atenção devida.

Hoje, quatro anos depois da tragédia, a fachada do prédio histórico foi reinaugurada em uma cerimônia nos jardins. O evento faz parte das comemorações do Bicentenário da Independência, e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) esteve representada por sua diretora Maria Domingues Vargas. A nova fachada recupera o tom amarelado do prédio original e conta com 31 réplicas das estátuas de mármore do topo, que foram danificadas pelo fogo (as peças originais estão sendo restauradas para serem exibidas no novo acervo). Além de representar o primeiro passo rumo ao renascimento do museu, a cerimônia também marcou a abertura de exposições fotográficas, contando um pouco da história dos patrimônios perdidos.

Até o momento, o projeto Museu Nacional Vive já arrecadou R$ 254 milhões dos R$ 380 milhões estimados para a conclusão das obras, previstas para 2027. Paralelamente, também estão sendo feitos esforços para a recomposição do acervo através da campanha Recompõe, que está captando doações de coleções históricas, arqueológicas, paleontológicas, biológicas e culturais.

Alexander Kellner durante a reinauguração (Foto: Maria Vargas)

O Acadêmico Diogenes de Almeida Campos, que dirige o Museu de Ciências da Terra, esteve na cerimônia e parabenizou a equipe do Museu Nacional pelos esforços de reconstrução. “O sentimento é a esperança de que em breve poderemos ter de novo essa instituição de ponta realizando pesquisas em história natural e antropologia”, destacou.

Museu Nacional

Fundado em 1818 ainda como Museu Real, o Museu Nacional é a mais antiga instituição científica do Brasil. Sediado inicialmente no Campo de Santana, no Centro do Rio, a instituição foi movida para a Quinta da Boa Vista em 1892, como parte de um esforço da República para ressignificar o Paço para uma nova nação pós-Império. Até o incêndio em 2018, o Museu possuía um dos maiores acervos de história natual e antropologia do continente americano.

O atual diretor do Museu Nacional é o Acadêmico Alexander Kellner, editor-chefe dos Anais da Academia Brasileira de Ciências (AABC). Para comemorar este importante marco, o paleontólogo escreveu um emocionante texto destacando a força da ciência brasileira e o trabalho de todos os envolvidos na recuperação do Museu. Confira:

 

 

O MUSEU NACIONAL INAUGURA FACHADA HISTÓRICA PARA O BICENTENÁRIO!

Alexander W. A. Kellner

Museu Nacional/UFRJ

Quem diria que, quatro anos após a maior tragédia do cenário científico e cultural brasileiro, e alguns dias antes das comemorações do bicentenário da independência, o Museu Nacional/UFRJ cumpriria com o compromisso de devolver uma pequena parte do palácio para a visitação pública! Foi exatamente isso que aconteceu, no dia 2 de setembro de 2022, com a apresentação da fachada restaurada do Palácio de São Cristóvão para a população!

A dúvida tinha razão de ser: nada tem sido fácil para a ciência e para a cultura nesses últimos anos! Pandemia, guerra, além de outros desafios, como os cortes orçamentários e as recentes limitações draconianas da lei Rouanet, que desvirtuaram totalmente o seu propósito original.

Porém, o Projeto Museu Nacional Vive conseguiu finalizar parte do que havia proposto em grande estilo. Nunca é demais relembrar que a denominação do projeto é derivada de um mote que surgiu exatamente 10 dias depois do incêndio de 2 de setembro de 2018. Aliás, acredito que essa data deveria entrar para o calendário oficial do país para refletirmos sobre a necessidade de preservação do patrimônio científico e cultural.

O evento do último dia 2 foi dividido em duas partes: uma coletiva de imprensa do Comitê Executivo do Projeto Museu Nacional Vive; e outra para convidados. Ao total, fora os profissionais da imprensa, aproximadamente 550 pessoas compareceram! Diretores de outros museus, pesquisadores, membros do corpo diplomático, artistas, dirigentes de instituições, alunos e muitos representantes da sociedade civil. Naturalmente, também, dezenas de servidores da instituição. A Academia Brasileira de Ciências estava presente com alguns membros titulares como Maria Domingues Vargas e Diogenes de Almeida Campos.

Todos ficaram impressionados com o trabalho realizado. As cores que agora destacam a bela fachada, amarelo ocre nas paredes e verde nas portas, são as mesmas do período imperial, ressaltando o compromisso em preservar a identidade e a trajetória arquitetônica do palácio. Se for levada em conta apenas a mão de obra direta, foram 150 os profissionais que atuaram para que se chegasse a esse dia tão importante em grande estilo.

Mas não apenas a fachada faz parte das comemorações. No Jardim Terraço, totalmente reformado devido à ação da Prefeitura do Rio, foram expostos oito das mais de 30 estátuas confeccionadas em mármore de Carrara, que antes adornavam o telhado do palácio. Devido a sua fragilidade, elas foram todas removidas e substituídas por réplicas, ficando as originais, devidamente restauradas, para as futuras exposições.

Também é importante destacar que serão realizadas diversas ações nos próximos dias, como apresentações da Orquestra Sinfônica Brasileira, atividades circenses e muitas outras. Fundamental não deixar de destacar as ações que serão realizadas para o público escolar.

A importância de o Museu Nacional/UFRJ entregar parte de sua reconstrução no ano do bicentenário da independência do Brasil está no fato de que houve um outro 2 de setembro muito importante. Foi nesse dia, em 1822, que uma mulher presidiu a reunião do Conselho de Estado onde foi discutida, de forma definitiva, a independência do Brasil. Tratava-se daquela que viria ser a nossa primeira imperatriz, Maria Leopoldina, uma austríaca de nascimento e brasileira de coração, que foi fundamental para o país.

Para coroar a grande festa, ao final do dia, tivemos a primeira visita de uma escola: o Centro Educacional Santa Thereza de São João de Meriti!

Termino por salientar que o projeto de reconstrução do primeiro museu brasileiro é um projeto vencedor! Isto devido à ação de dezenas de anônimos que nos inspiram e incentivam todos os dias para atuar nessa difícil, complexa, mas absolutamente necessária, tarefa de devolver o primeiro museu de história natural e antropologia do país o quanto antes para a sociedade!

O Museu Nacional Vive!”

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