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Participe da luta: Dia Nacional da Ciência

Dia 8 de julho é o Dia Nacional da Ciência e o Dia Nacional do Pesquisador. É também o dia em que foi fundada Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), há exatos 70 anos. Para celebrar a data, a SBPC solicita e estimula toda a comunidade científica brasileira a se mobilizar neste dia – ou em um dia próximo -, organizando e participando de atividades culturais e manifestações públicas em defesa da ciência e da educação. O objetivo é chamar a atenção da população para a grave crise dessas áreas no Brasil.

São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Brasília (DF), Belo Horizonte (MG), Fortaleza (CE) e Salvador (BA) já têm atividades programadas.

Fortaleza vai realizar a 1ª edição do “Ciência no Parque”. O evento está marcado para o próximo domingo, dia 1º de julho, no Parque do Cocó. Será uma manhã repleta de atividades para públicos de todas as idades. A programação contará apresentações de teatro científico, experimentos de Física, Química, Biologia e Tecnologia, jogos digitais, mostras de Robótica, atividades de Astronomia, entre outros.

No dia seguinte, segunda-feira próxima, Salvador (BA) organiza o “Dois de Julho em Defesa da Ciência”, no Largo da Lapinha, às 7h30. O evento foi marcado para 2 de julho pois é a data dos festejos da independência da Bahia.

Em São Paulo haverá uma concentração no dia 8 de julho, domingo, a partir das 10h, no Instituto Moreira Salles, onde ocorrerá uma intervenção, aberta a todos, comemorativa ao septuagenário da entidade, seguida de uma “Marcha Pela Ciência” na avenida Paulista.

No Rio de Janeiro, será realizado o “Domingo com Ciência na Quinta”, também no dia 8 de julho. O evento será na frente ao Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, das 10h às 14h.

Belo Horizonte realizará atividades no Espaço do Conhecimento da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), praça da Liberdade, no dia 08, às 10h.

Já em Brasília, as atividades serão no dia 12 de julho, no Plenário da Câmara. O deputado Celso Pansera fez o requerimento para a realização da Comissão Geral “Marcha para a Ciência: o presente e o futuro do setor de Ciência e Tecnologia no País”. O evento é aberto e contará com a participação de representantes de entidades científicas e deputados.

“Notem que, neste momento, no Congresso Nacional e no governo, se iniciam as discussões sobre o Orçamento de 2019 e é essencial fazermos pressões para que ele seja aumentado”, alerta o presidente da SBPC, Ildeu de Castro Moreira.

As informações atualizadas sobre os eventos serão divulgadas pela SBPC no JC Noticias e em suas redes sociais – Facebook, Twitter e Instagram -, bem como nas páginas das secretarias regionais em cada estado.

Participem!

Contato com a imprensa:

Vivian Costa – Assessoria de Comunicação da SBPC
vivian@sbpcnet.org.br | (11) 99207.5259

Paz e segurança no ciberespaço

2Leia o artigo publicado no Valor Econômico do Acadêmico Virgilio Almeida (UFMG),  professor associado ao Berkman Klein Center na Universidade de Harvard e um dos 26 membros da Comissão Global para Estabilidade do Ciberespaço.

Em uma cerimônia recente na Universidade de Lisboa, o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, enfatizou a necessidade de uma ação global para minimizar o risco de uma guerra cibernética para os civis. No discurso, ele afirmou: “Episódios de guerra cibernética entre Estados já existem. O pior é que não há um esquema regulatório para esse tipo de guerra, não está claro como a Convenção de Genebra ou o direito internacional humanitário se aplica a ela”. E o secretário-geral foi mais além ao dizer: “Estou absolutamente convencido de que, diferentemente das grandes batalhas do passado, que começaram com barragem de artilharia ou bombardeio aéreo, a próxima guerra começará com um enorme ataque cibernético para destruir a capacidade militar… e paralisar infraestruturas básicas como redes elétricas”.

Em 2004, a ONU estabeleceu um Grupo de Peritos Governamentais com o objetivo de fortalecer a segurança dos sistemas globais de informação e telecomunicações. Treze anos depois, em junho de 2017, diplomatas da ONU encerraram as discussões sem alcançar consenso sobre uma estrutura legal internacional para a segurança cibernética global e sem regras para restringir guerras cibernéticas.

A questão que permanece é: qual o futuro do ciberespaço? Veremos um crescimento de ataques cibernéticos ou veremos ações da comunidade internacional para o desenvolvimento de normas e regras globais para controlar conflitos no ciberespaço?

Em 1995, quando começou a operação comercial da internet no Brasil, a população total na internet era de 16 milhões de pessoas. Em 2018, a população global com acesso a internet ultrapassa 4,1 bilhões, cerca de 55% da população global. Governos, cidades, empresas, organizações civis e indivíduos no mundo inteiro dependem da disponibilidade e funcionamento confiável da internet no dia a dia.

Nesses últimos vinte anos, houve uma aceleração das tecnologias digitais com novos modelos de negócios, novos produtos e novos serviços. Google, Facebook, YouTube, WhatsApp, e uma enorme variedade de aplicativos estão integradas à vida das pessoas e são usados por mais de 65% dos brasileiros. Entretanto, o avanço tecnológico veio também acompanhado de novas ameaças, que procuram aproveitar vulnerabilidades do ciberespaço e a ausência de marcos regulatórios internacionais, que evitem que a internet se transforme numa terra de ninguém, para usar uma expressão popular.

A Internet das Coisas pode tanto comprometer a segurança de informações, quanto criar riscos físicos para as pessoas. Em 2015, a Chrysler fez “recall” de 1,4 milhão de carros, após pesquisadores mostrarem que podiam “hackear” um jipe e desativar seus freios e transmissão

Armas cibernéticas baseadas em inteligência artificial, internet das coisas, cidades inteligentes, robôs, “bots” e diferentes formas maliciosas de software compõem atualmente um cenário preocupante na internet, pois ampliam drasticamente as possibilidades de explorar vulnerabilidades no ciberespaço. Exemplos recentes mostram a necessidade de avançar as discussões globais sobre ciber-segurança. A chamada Internet das Coisas (IoT) pode causar tanto o comprometimento e segurança de informações, quanto criar riscos físicos para as pessoas.

Em 2015, a Chrysler fez um “recall” de 1,4 milhão de veículos, depois que pesquisadores mostraram que podiam “hackear” um jipe e desativar seus freios e transmissão. Mais recentemente, a agência americana de alimentos e medicamentos (FDA) divulgou um alerta sobre falhas de segurança em 465 mil marca-passos da marca Abbott, que usam comunicação por radio-frequência, tornando-se potencialmente vulneráveis a ciber-ataques.

Dada a natureza do ciberespaço, onde pessoas, objetos e informações se conectam através da internet, a estabilidade da rede interessa a todos países e é de vital importância para crescimento econômico e estabilidade social. Os conflitos no ciberespaço, diferentemente de tradicionais conflitos militares, não se restringem apenas a uma região geográfica, mas podem se espalhar rapidamente pela rede. Tudo isso gera instabilidade e incertezas, que afetam os negócios e a segurança dos países.

Normas para o ciberespaço são, portanto, chaves para o desenvolvimento econômico, para o sistema financeiro global, para o comércio internacional e para criação de empregos. Normas são necessárias para a segurança e paz no ciberespaço. As formas tradicionais de desenvolver regras e normas internacionais podem levar décadas, que é um tempo muito longo para acompanhar a velocidade da evolução digital. Os países demoraram cerca de duas décadas para desenvolver normas e acordos de cooperação para lidar com o poder das armas nucleares.

Normas podem ser desenvolvidas por uma variedade de organizações, incluindo empresas. Em 2017, o governo da Holanda anunciou a criação de uma organização não-governamental denominada Comissão Global para Estabilidade no Ciberespaço. Em novembro do ano passado, a comissão reuniu-se em Delhi e propôs uma norma que conclama os países a protegerem o núcleo público da internet, que inclui partes fundamentais do funcionamento global da internet, como por exemplo o sistema de nomes e domínios e a infraestrutura crítica. Em reunião recente na Bratislava, a Comissão propôs uma segunda norma internacional, que visa proteger a infraestrutura técnica das eleições nos países contra ataques cibernéticos.

O Brasil vem se tornando um país altamente digitalizado. O comércio, a indústria, os serviços, a política, o entretenimento, o governo e as relações pessoais passam em grande parte pela internet. O país precisa portanto ter uma maior proeminência nas discussões globais sobre segurança do ciberespaço. As estratégias de ciber-segurança do país não devem se restringir apenas à ações de governo, devem incluir a participação da sociedade civil, setor privado e comunidade cientifica nas discussões sobre o futuro do ciberespaço.

Acadêmico integra Comissão Consultiva do Censo Demográfico de 2020

0A primeira reunião da Comissão Consultiva do Censo Demográfico 2020 foi realizada, no dia 14 de junho, no Rio de Janeiro, com o objetivo de apresentar o questionário, os aspectos técnicos e metodológicos e o programa de trabalho da Comissão no período de 2018-2021. A comissão é constituída de pessoas com notório saber nas Estatísticas, Demografia, Geografia, Sociologia e Economia, que dão contribuições para a realização da maior pesquisa de informações sociodemográficas do país.

Estiveram presentes, o presidente do IBGE, Roberto Olinto Ramos, os diretores de Pesquisas, Claudio Crespo, e de Geociências, João Bosco de Azevedo, o coordenador-geral de Documentação e Disseminação, David Wu Tai, a coordenadora operacional dos Censos, Maria Vilma Garcia e o coordenador da Gerência Técnica do Censo Demográfico, Luciano Duarte.

Também participaram da reunião, os professores Cláudio Dedecca (Unicamp), Cláudio Egler (UFRJ), Eduardo Rios Neto (UFMG), José Alberto de Carvalho (UFMG) e Marcelo de Toledo Vieira (UFJF), além da coordenadora de Pesquisa do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG), Diana Reiko Sawyer.

Transparência e participação democrática

O coordenador Luciano Dutra explicou que o Conselho é a segunda das três instâncias de consulta à sociedade, utilizadas para dar transparência à operação censitária bem como viabilizar a ampla participação. A primeira foi a consulta pública no portal do IBGE na internet, com duração de 19 de fevereiro a 15 de maio, e que recebeu mais de três mil sugestões. E a terceira instância é a reunião com usuários das informações, prevista para outubro deste ano, e para a qual serão convidados gestores públicos, privados e representantes da Academia.

A coordenadora Maria Vilma Garcia abriu o encontro apresentando o vídeo de divulgação do Censo Demográfico 2020, concluído com o slogan “um país que se conhece só tem a ganhar”. Em seguida, o presidente Roberto Olinto destacou a importância da Comissão para ampliar as discussões em torno de três frentes: formular um projeto técnico sólido para o Censo, mostrar a necessidade de realização de concurso público para suprir a falta de pessoal, especialmente em algumas agências do IBGE, e o esforço de aprovação do orçamento para a realização da pesquisa, que será da ordem de R$ 3,4 bilhões.

Orçamento e dimensões da operação

Maria Vilma Garcia apresentou, também, o orçamento e aspectos operacionais do Censo 2020 e esclareceu que cerca de 60% dos recursos necessários destinam-se ao pagamento de pessoal, enquanto 24% referem-se às despesas correntes, 11% a investimentos e 4% à publicidade. Essa proporção é semelhante a que foi utilizada no Censo 2010.

Discussão em relação aos temas

Nas discussões realizadas ao longo do dia, foi praticamente consensual que será um avanço a identificação da data de nascimento dos informantes com dia, mês e ano (e que ficará protegida pelo sigilo estatístico), bem como a importância de um questionário o mais enxuto possível. Um dos temas em que há concordância na redução de quesitos é o de Trabalho e Rendimento, já que hoje a maioria das questões já são cobertas pela PNAD Contínua, que alcançou abrangência nacional.

Teste de coleta do Censo e consulta pública na internet

Foram apresentados, também, os resultados do teste de coleta pela internet e da consulta pública. Quanto ao teste de preenchimento do questionário pela internet, a receptividade foi considerada boa tanto para a resposta online quanto para a finalização por telefone. Já quanto à consulta pública, enquanto em 2010 ela havia sido realizada por meio de cartas enviadas a nove mil contatos, dos quais 270 (3%) responderam, desta vez em que a consulta foi aberta às instituições e ao público em geral foram obtidas 3.198 respostas.

O coordenador Luciano Duarte avaliou que o resultado da primeira consulta pública na internet foi um avanço, pois o IBGE nunca tinha ouvido a sociedade de forma tão aberta. Segundo ele, as sugestões mostram as demandas mais atuais da sociedade, ajudando a priorizar temas. “Agora, estamos realizando o método chamado mineração dos dados, que é uma avaliação inicial das sugestões com maior frequência. Percebemos que o resultado inicial nos ajuda a priorizar temas e a tomar decisões sobre qual deles é mais importante do que outro e, também, pensar em outras pesquisas que possam dar conta de temas que não possam ser abrangidos no Censo”, explicou.

A próxima reunião da Comissão Consultiva do Censo Demográfico 2020 está prevista para outubro.

ABC cria grupo de trabalho e lidera representação sobre os ODS junto ao governo

Jailson de Andrade
Jailson de Andrade

O Acadêmico Jailson Bittencourt de Andrade, professor do Instituto de Química da Universidade Federal da Bahia (UFBA), foi eleito recentemente presidente da Academia de Ciências da Bahia. Além disso, será o representante da Academia Brasileira de Ciências na Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), integrante da estrutura da Secretaria de Governo da Presidência da República. A ABC foi convidada a representar a comunidade científica na Comissão Nacional depois da saída da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

O presidente da ABC, Luiz Davidovich, considerou o tema como prioridade para este ano e acompanhará a representação de perto. Os ODS serão tema da Reunião Magna 2019. Um grupo de trabalho também foi criado para acompanhar e coordenar as ações da ABC em relação a Agenda 2030, sendo integrado por Davidovich, Bittencourt e Adalberto Val, que é o suplente de Bittencourt na Comissão Nacional para ODS. Além deles, o grupo reúne o Acadêmico Edson Watanabe e os pesquisadores da Fiocruz Paulo Buss e Paulo Gadelha, sendo que este último, ex-presidente da Fiocruz,  integra atualmente o grupo de dez especialistas internacionais para apoiar a implementação dos novos Objetivos Globais da ONU.

O grupo de trabalho da ABC, que está sendo acompanhado também pelo assessor técnico da ABC Marcos Cortesão, teve sua primeira reunião em 28 de junho.

O futuro da ciência catarinense é tema de Audiência Pública

Para discutir de forma ampla, democrática e suprapartidária, a Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) como Política de Estado em Santa Catarina, foi realizada Audiência Pública no dia 20 de junho (quarta-feira), às 9h, no Plenarinho da Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina (Alesc). Participaram os presidentes da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), e Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), respectivamente, Luiz Davidovich, Ildeu de Castro Moreira e Sérgio Gargioni.

Em 2017, a Secretaria Regional da SBPC em Santa Catarina deu início a uma articulação envolvendo diferentes setores ligados à ciência no estado, no intuito de buscar saídas para a crise sem precedentes que atinge os sistemas brasileiro e catarinense de CT&I. Acompanhando um movimento nacional que vem sendo liderado pela ABC e SBPC, a Secretaria abriu canais de diálogo junto aos poderes executivo e legislativo e, paralelamente, começou uma série de reuniões abertas na capital e no interior, que congrega as principais instituições de ensino e pesquisa de cada região, além de outras organizações representativas da sociedade catarinense.

O objetivo não se restringe a discutir a crise. Santa Catarina, por suas características sociais, geográficas e econômicas, precisa assumir um papel de liderança também no desenvolvimento científico do país. É necessário unir forças com outras organizações, propor uma política de estado arrojada, transparente e permanente de fomento à pesquisa, tanto básica quanto aplicada, em todas as áreas do conhecimento.

As principais preocupações e demandas foram registradas em documento e todos os presentes da Audiênciaforam convidados a assiná-lo. Posteriormente, o documento será encaminhado aos futuros candidatos ao governo do estado, bem como aos candidatos da esfera legislativa.

Em entrevista para o Jornal da Tarde, da Alesc, Davidovich afirmou que o país precisa de uma agenda nacional de ciência, tecnologia e inovação (CT&I). Destacou a contribuição da ciência catarinense para o Brasil, especialmente em ciência básica, medicina, saúde, biologia e agricultura, ressaltando que quando há problemas no financiamento de CT&I num estado como o de Santa Catarina, a questão deixa de ser local e se torna nacional.

O presidente da SBPC, Ildeu Moreira, esclareceu que a restrição orçamentária a que o país está submetido atimge setores fundamentais da ciência brasileira e que, no caso de Santa Catarina, que tem a inovação como carro-chefe da economia, os cortes estão gerando grandes problemas.

Veja destaques da Audiência no Jornal da Tarde:

Simpósio Brasil-França sobre Biodiversidade

Alain Bourdon, Dominique Chevé, Jacob Cohen, Luiz Davidovich, Jean François Bach e Álvaro Prata

Entre os dias 5 a 8 de junho, cientistas da França, Brasil e outros países amazônicos reuniram-se em Manaus para discutir diferentes questões relativas ao tema biodiversidade, na Universidade Federal do Amazonas.

A mesa da cerimônia de abertura do evento “Simpósio Brasil-França sobre Biodiversidade” contou com a presença do presidente da ABC, Luiz Davidovich; do secretário perpétuo honorário da Academia francesa, Jean François Bach; do cônsul honorário da França em Manaus, Dominique Chevé; do secretário do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), o Acadêmico Álvaro Prata; do vice-reitor da UFAM, Jacob Cohen; de Alain Bourdon, conselheiro de Cooperação e Ações Culturais da Embaixada da França; dos coordenadores do evento, os Acadêmicos Adalberto Val  e Vivaldo Moura Neto.

Bourdon elogiou a proveitosa parceria entre as Academias do Brasil e da França no desenvolvimento da capacidade científica preparada para lidar com os desafios do desenvolvimento sustentável da região amazônica. “É muito interessante também essa aproximação da Universidade Federal do Amazonas com a Academia de Ciências da França”, observou, agradecendo a iniciativa da ABC neste sentido.

Por sua vez, Davidovich agradeceu o entusiasmo da Academia francesa na coorganização do simpósio. Destacou a publicação da ABC “Amazônia: desafio brasileiro do século 21”, que valoriza o desenvolvimento da Amazônia baseado em ciência, através da conservação da floresta em pé e da exploração sustentável dos bioprodutos, a maior riqueza do Brasil, em sua opinião. “Esta é a base para a biotecnologia e para a bioeconomia, uma opção estratégica para o nosso país, que detém 20% da biodiversidade do planeta”, ressaltou.

Finalmente, agradeceu à Embaixada da França, ao MCTIC e à UFAM pelo apoio, assim como aos coordenadores do evento, Adalberto Val e Vivaldo Moura Neto, e à equipe da ABC.

Saiba mais sobre as sessões do evento:

Sessão 1: Biodiversidade e as ciências básicas
Sessão 2: Biodiversidade, farmacologia e produtos naturais
Sessão 3: A biologia evolutiva e as implicações para a biodiversidade
Sessão 4: Impactos do uso da terra, mudanças climáticas e globalização na biodiversidade
Sessão 5: Biotecnologia baseada em biodiversidade
Sessão 6: Biodiversidade e saúde no ambiente urbano
Sessão 7: Impactos da biodiversidade na saúde humana
Sessão 8: Cooperação científica em biodiversidade

Palestras especiais:

5/6 – Gilles Boeuf: ecólogo francês apela para consciência humana planetária

6/6 – Eric Karsenti: a expedição Tara Oceans

7/6 – Adalberto Val: a biodiversidade escondida nas águas amazônicas

Biodiversidade e as ciências básicas

Mike Hopkins, Jean Weissenbach, Camila Ribas, William Magnusson e Jean Dominique Lebreton

A primeira sessão do Simpósio Internacional BR-FR sobre Biodiversidade, realizado na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em Manaus, entre 5 e 8 de junho, contou com cinco apresentações com diferentes enfoques do tema.

Impacto humano e perda de biodiversidade

O ecólogo australiano William Magnusson trabalha no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) desde 1979. É credenciado pela Wildlife Society (EUA), membro do Grupo de Especialistas em Crocodilos da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) e membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC).

Ele coordena o núcleo executor da Amazônia Ocidental do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) e do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD). Magnusson relatou que o PPBio foi criado em 2004 com o objetivo de intensificar estudos sobre biodiversidade no Brasil, descentralizar a produção científica, integrar atividades de pesquisa e divulgar os resultados para diferentes finalidades, como gestão ambiental e educação.

O programa engloba três componentes: suporte e desenvolvimento de coleções biológicas, como herbários, museus e coleções vivas; os inventários biológicos, com levantamentos da biodiversidade, sítios de coleta, metadados e dados para estudos de longa duração; e os projetos temáticos, que tratam de desenvolvimento de métodos para o manejo sustentável da biodiversidade e bioprospecção. Possui diversos núcleos regionais e projeto parceiros pelo país. Promove, ainda, cursos de formação para os funcionários de órgãos ambientais e outras partes interessadas na investigação da biodiversidade, bem como o intercâmbio científico e a colaboração entre parceiros.

O Acadêmico explicou que vários estudos sobre a distribuição das comunidades de lagartos e de morcegos na região atingida pela barragem da hidrelétrica Santo Antônio , por exemplo, mostram o seu impacto. “Precisamos não só saber onde ocorre o impacto, mas o porquê”, apontou Magnusson.

As mudanças de biomassa na floresta amazônica também são estudadas e indicam alto nível de perda, relacionando solo, tempo e clima. “As demandas são muito diversas. Será possível planejar de modo a atender a todas? Precisamos considerar a população local, pois a terra é deles e eles a conhecem melhor do que nós”, apontou o cientista.

Segundo Magnusson, o PPBio conta com pesquisas padronizadas, informação biológica, disponibilização dos dados para formuladores de políticas públicas, infraestrutura de longo prazo, envolvimento de pessoal local e treinamento. “Com imagens de satélite, os resultados são mais rápidos e eficientes. Podemos elaborar modelos de distribuição das espécies e substituição de paisagens. Podemos também planejar as perdas, avaliando o impacto”, concluiu.

Exploração sem conhecimento é dano garantido

O biólogo inglês Mike Hopkins coordena o programa de pós-graduação em botânica no Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas (INPA) e é curador do herbário da instituição. Ele diz que estamos longe de conhecer a diversidade das plantas amazônicas. “Nosso conhecimento sobre este aspecto na região está pelo menos 60 anos atrasado em relação às outras regiões do país”, disse o palestrante.

Seu interesse em tentar quantificar as espécies de plantas na bacia amazônica não é por interesse naquele número, mas sim em chamar atenção para as lacunas imensas na informação atualmente disponível. “Os números atuais subestimam a região e isso gera indefinição nos tomadores de decisões políticas sobre investimento em atividades relacionadas com biodiversidade”, alertou Hopkins.

O biólogo considera a bacia amazônica uma das partes do planeta menos perturbadas pelo homem, lar para imenso número de plantas e animais, cada uma com sua própria identidade, ecologia, química e redes de interações. “Cada espécie possui uma riqueza de informação genética e variabilidade única”, destacou o pesquisador.

Para ele, a ênfase imediatista na exploração comercial da floresta amazônica sem conhecimento detalhado de sua biodiversidade gera riscos de danos futuros, ainda não entendidos para a bacia inteira. “Precisamos investir na possibilidade de coexistência harmoniosa entre uma espécie, o Homo sapiens, e as milhões de outras espécies presentes na região”, apontou.

Construção de barragens prejudica fauna amazônica

A bióloga Camila Ribas trabalha na Coordenação de Biodiversidade e no Programa de Coleções Científicas Biológicas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), onde é curadora da Coleção de Recursos Genéticos Animais. A pesquisadora tratou da diversidade e evolução dos pássaros amazônicos e as implicações para sua conservação e a biogeografia.

De acordo com Camila, a Amazônia tem alta diversidade e endemia de aves. Apenas em 2013, 16 novas espécies foram descritas com base em dados de inventários e coleções biológicas. “Utilizamos dados moleculares em biogeografia, que possibilitam estabelecer relações entre espécies e sua história, como demografia e migração”, explica a pesquisadora.

Quanto desta diversidade nós conhecemos? Muito pouco. Apenas 15% dos pássaros amazônicos ficam restritos a ambientes criados pelos rios, que facilitam a pesquisa. “Temos 24 espécies ameaçadas de extinção e pouco sabemos sobre elas”, lamenta Camila.

As mudanças climáticas influenciam a diversificação de pássaros. Pesquisas indicam que nas eras glaciais a floresta foi fragmentada e outros tipos de florestas ocuparam os espaços. A construção de barragens nos Andes e na Amazônia brasileira alterou significativamente os padrões naturais de distribuição, habitat e conectividade entre populações de pássaros, em função da redução de nutrientes disponíveis O desmatamento, inclusive, já levou à extinção de diversas linhagens de pássaros. “Ainda não temos um conhecimento amplo da diversidade regional”, pontuou Camila.

Continuidade na pesquisa é base para construção de bancos de dados

Diretor do Centro Nacional de Sequenciamento da França – Genoscope – desde 1997, Jean Weissenbach é um dos pioneiros do sequenciamento de DNA e análise dos genomas. Foi o primeiro pesquisador a desenvolver um mapa genético em alta resolução. Ganhou, em 2008, a Medalha de Ouro do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS, na sigla em francês), o maior prêmio de pesquisa na França. No evento, ele abordou a diversidade bioquímica das bactérias da região amazônica.

Weissenbach explicou que a vida é baseada em transformações químicas de componentes do ambiente. Esta capacidade de transformar componentes químicos caracteriza a diversidade bioquímica. “Cada organismo apresenta determinadas atividades transformadoras moldadas pela evolução, possibilitando sua sobrevivência num dado ambiente”, apontou.

Ele apresentou a base de dados GOLD (Genome Online Database), um inventário genômico interessante. “Nele vemos que o catálogo de genes marinhos, por exemplo, é 23 mil vezes maior do que o genoma humano sequenciado”, pontuou.

O cientista esclarece que, para a aquisição de novos conhecimentos, são necessários recursos biológicos e genômicos, dados estruturais e filogenéticos, assim como testes bioquímicos.

Weissenbach acrescentou que a diversidade bioquímica pode ser estimada pela extensão do repertório de transformações químicas conduzidas pelos organismos vivos; pelo número de diferentes maneiras químicas de transformar um determinado componente e pela diversidade de componentes. “O que sabemos sobre isso hoje é baseado em projetos de sequenciamento de genomas e metagenomas, censos de genes, bases de dados de proteínas e enzimas. Assim, as descobertas sobre enzimas e metabólitos precisa ser continuada.”

Conservação envolve observação, modelagem e nas interações multidisciplinares

Jean Dominique Lebreton apresentou um documento recente da Academia de Ciências da França sobre biodiversidade. O texto foi elaborado por um comitê multidisciplinar, coordenado pelo Acadêmico Yvon Le Maho, que também foi palestrante do evento.

Diretor de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS, na sigla em francês), cientista da computação e matemático, naturalista por tradição familiar, Lebreton é um biomatemático. Especialista em modelagem dinâmica em ecologia, populações animais, sua conservação e gestão, ele atualmente dirige uma das unidades de pesquisa do Centro de Ecologia Funcional e Evolutiva (CEFE), na França. Foi eleito para a Academia de Ciências da França em 2007.

O documento que ele apresentou, intitulado “Mecanismos de adaptação da biodiversidade às mudanças climáticas e seus limites”, destaca que o primeiro aspecto para contextualizar a biodiversidade são as mudanças climáticas, cujo impacto sobre os serviços ecológicos já é e será muito significativo no futuro, mas não é a única questão. Outras mudanças nas atividades humanas vêm impactando o planeta, como o uso da terra.

“A interação entre os vários tipos de mudanças é a chave para o entendimento da situação e seu enfrentamento. A Academia francesa procurou focar seu documento na adaptabilidade da biodiversidade ao tipo de mudança esperada”, informou.

Dentre as conclusões e recomendações, Lebreton destacou que embora o potencial de adaptação genética e plasticidade varie muito entre espécies, a distribuição delas vem sendo muito afetada pelas mudanças antropogênicas. “A desestruturação de espécies locais é inevitável, mas não pode ser predeterminada, devido às particularidades de cada ecossistema”, alertou.

Outra recomendação ressalta que é fundamental a alimentação de bases de dados, assim como a ênfase nas pesquisas multidisciplinares, envolvendo ciências humanas e sociais e as ciências duras. Realça também o papel fundamental da educação para o desenvolvimento sustentável, com o que a Academia francesa procura colaborar através do programa de formação de professores “La Main à la Pâte” (Mão na Massa).

Com relação à Amazônia, especificamente, Lebreton comentou que o desmatamento vem sendo enfrentado com grandes esforços de proteção ambiental. “Para garantir o avanço da conservação é preciso investir em observação, modelagem e nas interações multidisciplinares.”

Biodiversidade, farmacologia e produtos naturais

Vanderlan Bolzani, Elíbio Rech, Adrian Pohlit, Manoel Odorico e Eliezer Barreiro

A segunda sessão do Simpósio Brasil-França sobre Biodiversidade, promovido pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) em parceria com a Academia de Ciências da França, tratou dos produtos naturais da biodiversidade providos de capacidade medicinal. Dentro do tema “O que está escondido na biodiversidade?”, apresentaram seus trabalhos os Acadêmicos Vanderlan Bolzani (Unesp), Eliezer Barreiro (UFRJ) e Elibio Rech (Embrapa), assim como os pesquisadores Manoel Odorico de M. Filho (UFC) e Adrian Martin Pohlit (Inpa).

Biodiversidade pode contribuir muito para o desenvolvimento sustentável

A professora titular do Instituto de Química de Araraquara (Unesp) e vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Vanderlan Bolzani, iniciou comentando como o país é rico em diversidade biológica e também em diversidade química. Em seguida, destacou como isto é importante para a população, seja na forma de metabólitos que podemos obter através dela, como farmacêuticos e agroquímicos, seja como meio eficaz de regular o clima ou auxiliar a polinização, por exemplo.

A pesquisadora apresentou a linha do tempo de como produtos naturais têm ganhado espaço nas pesquisas e têm ajudado a revolucionar a humanidade. Como exemplo, temos a descoberta da morfina (1804), que é uma substância extraída da papoula do ópio, e também a descoberta do captopril (1981), uma substância importante no tratamento contra a hipertensão. Além disso, em 2015, o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina foi entregue para três cientistas que pesquisaram terapias para combater parasitas a partir do uso de compostos naturais.

De matéria para medicamentos a cosméticos, a biodiversidade brasileira pode contribuir em muito para o desenvolvimento sustentável, trazendo benefícios para a população.

Moléculas de plantas e microrganismos para tratar câncer

Em seguida, o professor associado e pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Manoel Odorico de M. Filho, reforçou os pontos já trazidos por Vanderlan, porém focou em moléculas anticâncer presentes em nossa biodiversidade.

O câncer é a segunda causa de morte entre as doenças, matando cerca de 10 milhões de pessoas por ano. No Brasil, já em 2018, tivemos 650 mil novos casos. Além da chance de cura de um tumor diagnosticado ser de apenas 30% e de algumas células tumorais serem resistentes à quimioterapia, as drogas usadas nos tratamentos são bastante tóxicas.

Ïsso já explica a importância que os estudos dessas novas moléculas merecem, principalmente porque elas são capazes de atuar em diversos alvos moleculares durante o desenvolvimento do câncer”, observou Odorico. Ele relatou que há moléculas que atuam em receptores, por exemplo, enquanto outras atuam em proteínas metastáticas ou em fatores de transcrição. Além disso, essas moléculas vêm de diversas fontes, como plantas, microrganismos ou organismos marinhos.

No Brasil, temos plantas que podem ser alvo de pesquisa, mas há fatores que dificultam. Odorico relatou que temos entre 250 mil e 300 mil espécies de plantas superiores. “Apenas 10% foram estudadas e apenas 3% das estudadas foram avaliadas para atividade anticâncer. Além disso, mais de 50% de todo o território nacional foi desmatado. E, infelizmente, ainda que pesquisas na área comecem a ser feitas incessantemente, da pesquisa à comercialização de um novo medicamento, é possível que o processo demore de 10 a 14 anos, esclareceu o pesquisador.

Substâncias sintetizadas em laboratório imitam biodiversidade

Logo após, o professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Eliezer Jesus de Lacerda Barreiro , falou sobre a química medicinal, disciplina que combina química e farmacologia para desenhar, descobrir, desenvolver e sintetizar substâncias químicas originais que tenham valor terapêutico.

Apresentando um breve histórico, o pesquisador passeou entre as descobertas na área ao longo dos anos, como substâncias antimaláricas, substâncias contraceptivas, anti-hipertensivos, estatinas e até mesmo medicamentos quimioterápicos.

No final, ele reforçou: “Vejo que devemos tentar motivar os jovens a seguir o caminho da ciência, pois precisamos de mais químicos medicinais. Só assim deixaremos de ser apenas consumidores para nos tornarmos produtores de medicamentos”.

Engenharia da biodiversidade

O pesquisador do Centro de Recursos Genéticos e Biotecnologia da Embrapa e diretor da ABC, Elíbio Rech, que falou em seguida, apontou o potencial da engenharia da biodiversidade como modelo para a aconservação das espécies. “Ela é uma fonte para domesticação sintética para traços específicos úteis”, explicou. “Com ela, ganhamos escala, agregamos valor e fazemos uso sustentável da biodiversidade”, completou.

Como exemplos, Rech falou da cianobactéria Nostoc ellipsosporum, que possui intensa atividade anti-viral e é capaz de inibir vírus como o da hepatite B, o vírus da gripe e o HIV. Referiu-se também a uma fibra sintética que reproduz a seda feita pelas aranhas e tem altíssima resistência.”É um biopolímero com base em proteínas secretado pelas células da pele das aranhas”, explicou o Acadêmico.

Para transformar estas pesquisas em produtos, foi criado o Instituto Nacional de CI6encia e Tecnologia em Biologia Sintética (INCT-Biosyn), financiado pelo Ministério de CIência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). As instituições nacionais atuantes no instituto são a Embrapa, a Fiocruz e o Instituto Tecnológico Vale. Ë há muitas parcerias internacionais”, concluiu Rech.

Biodiversidade contra a malária

Finalizando a sessão, o engenheiro químico e pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Adrian Martin Pohlit, abordou a capacidade que as plantas amazônicas possuem para combater a malária.

Adrian apresentou o processo para testar essa capacidade. Primeiro, faz-se a extração de plantas tradicionalmente usadas como antimaláricas. Depois, esses extratos, com distintos componentes químicos, é testado in vitro. Se houver atividade antimalárica, é feito o teste in vivo em camundongos infectados. Havendo entre 30% e 40% de supressão do parasita, a atividade antimalárica é confirmada.

Por fim, Adrian mostrou diversos exemplos de plantas com extratos ativos para atividade antimalárica. A principal delas, com maior atividade, é a espécie Andropogon leucostachyus, que apresenta supressão de 71% do Plasmodium berghei em doses orais de 250mg/kg.

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