Leia matéria de Rafael Garcia para O Globo, publicada em 15 de abril:

Um dos maiores cientistas do mundo no campo da Química, o escocês David MacMillan desembarcou no último fim de semana no Brasil para uma série de palestras com jovens estudantes e cientistas no Rio e em São Paulo, a convite da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Professor da Universidade de Princeton, nos EUA, MacMillan recebeu o Prêmio Nobel de Química de 2021 pela criação de catalisadores (substâncias que aceleram reações químicas) mais ambientalmente sustentáveis, para emprego na indústria farmacêutica, agroquímica e de materiais. Egresso de uma família de classe operária em Glasgow, o cientista promete falar ao público não só sobre temas técnicos de sua área de pesquisa, mas também sobre como o espírito de curiosidade pode impulsionar uma carreira acadêmica de sucesso.

MacMillan se junta a outros dois colegas laureados pelo Nobel, a neurocientista May-Britt Moser e o físico Serge Haroche no evento promovido pela ABC esta semana para estimular a ciência entre jovens. Em entrevista ao GLOBO, contou um pouco sobre o que espera para o encontro, que ocorre nesta segunda-feira, no Rio, e na terça, em São Paulo.

O senhor fará apresentações aqui no Brasil para plateias de jovens cientistas que buscam inspiração. Que conselhos de carreira costuma dar nessas situações?

Meu conselho é bem simples. A primeira coisa é que você busque ser você mesmo. Seja autêntico e siga o caminho que pretende seguir, sendo muito cuidadoso em não tentar seguir o de outras pessoas. Ou seja, saber qual é seu próprio talento e ir em frente. Eu cresci num ambiente de classe operária na Escócia. Meu pai era metalúrgico, minha mãe empregada doméstica, e entrar na universidade, por si só, já era um salto enorme para mim. Mas, em certo estágio, eu já sabia que era isso que eu queria fazer. Me dei conta de que, no caminho que você escolhe, há uma escada de muitos degraus, e é preciso olhar para cima e pensar. Se você olha para o topo de uma escada muito alta, a tarefa parece impossível. Mas se você olha para o próximo degrau, sempre vai parecer razoável. Se você sabe quais são seus objetivos e o que lhe é caro, sobe no próximo degrau e segue em frente. Sempre haverá fracassos no meio do caminho. Falhar é normal, mas se você mantiver a paixão e o entusiasmo pelo que gosta, vai chegar a um lugar positivo.

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Muitos cientistas ganhadores do Nobel defendem espaço para uma ciência mais solta e criativa, sem objetivo de aplicações imediatas. Seu trabalho ganhou muitas aplicações na indústria química. O senhor se guia muito por aplicações ou é movido mais pela busca de conhecimento puro?

A minha ciência até agora tem sido muito aplicável, mas eu também acredito que a ciência básica fundamental é muito importante. E nós tentamos fazer as duas coisas juntas. Eu sou grande defensor do valor do impacto na ciência. Se eu puder impactar o mundo hoje, em vez de ter que esperar 30 anos, porque não fazer agora? É muito mais divertido ver as coisas poderem ser usadas imediatamente. No meu laboratório, por exemplo, nós desenvolvemos ideias que rapidamente são adotadas por empresas farmacêuticas. Podemos literalmente inventar uma reação química na terça-feira, para a indústria usá-la na sexta. Isso é sensacional e muito gratificante, porque você percebe que está contribuindo para o conhecimento do mundo. Com sorte, é possível ajudar o progresso da medicina, pouco a pouco, mas de forma real. Sendo franco, nós damos sim muito valor à praticabilidade, à adoção e, em última instância, ao impacto. Não há nada de errado em cientistas pensarem assim.

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Leia a entrevista na íntegra em O Globo