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Fórum de Educação Superior ABC/SBPC debate avaliação das instituições acadêmicas

No dia 30 de abril, aconteceu a terceira edição do Fórum da Educação Superior ABC/SBPC, com o título “Panorama do Ensino Superior no Brasil”. Organizado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o encontro contou com o sociólogo e economista Luiz Roberto Curi, atual presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE) e ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep); e com a cientista política Elizabeth Balbachevsky, vice-coordenadora do Núcleo de Pesquisa sobre Políticas Públicas da USP (NUPPs/USP).

O ensino superior brasileiro enfrenta uma crise de demanda. Em 2022,  apenas 23% das vagas abertas em graduação foram preenchidas. É bem verdade que a taxa de preenchimento de vagas nas instituições públicas federais e estaduais, em torno de 74%, foi bem superior à média nacional, mas como o grosso das vagas abertas, 95%, se deu em instituições particulares, o cenário das públicas se torna pouco representativo do padrão geral do ensino superior no Brasil. Mas mesmo no ensino público a situação não é animadora, a taxa média de evasão, ou seja, de alunos que não concluem o curso, é de 52%.

Esse cenário, num país em que menos de um quarto dos jovens de 18 a 24 anos ingressam no ensino superior, é preocupante e coloca o futuro do país em cheque. Com o avanço nas tecnologias de automatização e inteligência artificial, o que o Brasil faz é deixar que a grande maioria de seus jovens fique confinada à empregos precarizados. “Não provemos aos nossos jovens capacidade de competir no mundo moderno”, sumarizou Balbachevsky.

Ocupação de vagas no ensino superior em 2022. Gráfico apresentado por Luiz Curi. Dados: MEC/Inep – Censo da Educação Superior

Avaliação não reflete o que a sociedade espera do ensino superior

O Brasil é um dos poucos países do mundo que institui uma obrigação legal de processos avaliativos das instituições de ensino superior. Esse esforço regulatório ganhou corpo em 1996 com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que organizou e sistematizou uma série de iniciativas descoladas que já existiam. “Essas primeiras experiências de avaliação foram bem sucedidas pois as comissões tinham autonomia, com avaliadores reconhecidos e que escolhiam quem entrava e que parâmetros seguir, não recebiam um calhamaço de regras pronto”, avaliou Luiz Curi.

Para o palestrante, isso começou a mudar depois que a competência da avaliação foi centralizada no Inep e se consolidou com a criação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). “O processo se tornou mais sistemático, deixou de ser focado nos avaliadores, mas sim no procedimento. A regulação até 2005 era orientada pela avaliação, e depois se inverteu. A avaliação passou a ser focada mais em normas e limites para evitar o mal-feito, mas que limitavam o bem-feito e a experimentação”.

Diante disso, Curi avalia que a reforma regulatória é um dos principais desafios do Ministério da Educação atualmente. “É importante ter uma avaliação que não vise o conforto da instituição para continuar a perseguir a expansão acrítica de matriculas, mas que vise o melhor para a sociedade brasileira”, sumarizou.

Modelos engessados de educação superior

Se por um lado a educação superior tem o papel fundamental de criar competências e uma população especializada, por outro, o sistema tem uma característica muito perceptível de hierarquização da sociedade, que muitas vezes joga contra o objetivo da inclusão. “Se continuarmos entendendo que 80% dos nossos jovens são formados num ensino com valor hierárquico menor que os 20% formados pelas universidades públicas, continuaremos alimentando desigualdade”, avaliou Elizabeth Balbachevsky.

Nesse cenário, a expansão das cotas e ações afirmativas foi um passo importante, mas que nunca será suficiente dada a própria incapacidade das instituições públicas de acolherem toda a demanda por diplomas do país. “O que temos hoje é um ambiente em que as universidades públicas se veem obrigadas a servir de vitrine para um modelo tradicional de educação e não conseguem se dinamizar. Ao mesmo tempo, as métricas para a avaliação são construídas dentro desse modelo e acabam servindo pouco para avaliar experiências com objetivos completamente diferentes”, completou.

Para ela, o objetivo de expansão do ensino superior demanda que cada vez mais formatos e desenhos institucionais sejam aceitos e valorizados. “A universidade tradicional sempre foi pensada como um instrumento de formação das elites. Um ensino que se massifica não pode ficar preso a esse modelo”.

Isso vale também para os programas de pós-graduação. “O modelo stricto sensu foi pensado como um mecanismo de reprodução da profissão acadêmica, mas agora ele precisa responder a uma demanda muito mais ampla, que só o mercado acadêmico não absorve. Para formar pessoas para outros mercados precisamos construir um modelo muito mais flexível, precisamos olhar com mais carinho para os mestrados e – por que não? – doutorados profissionais”, avaliou.

Os participantes do debate. Os Acadêmicos Aldo Zarbin e Santuza Teixeira coordenam a iniciativa

A questão do Ensino à Distância

A pandemia acelerou inúmeras transformações, uma delas foi a proliferação do ensino à distância (EAD). Hoje, matriculados no EAD já são 40% dos alunos de ensino superior brasileiro e a tendência é de que ultrapassem o número do presencial ainda nesta década. O EAD particular é o modelo de ensino superior que mais abriu vagas no último ano, mas existem preocupações legítimas relacionadas à qualidade. “Há uma defasagem absurda no EAD na proporção de professores e estudantes. Há instituições com 700 mil alunos com cerca de 200 professores, enquanto no presencial temos instituições com 40 mil alunos e 400 professores”, relatou Curi.

Mas para Balbachevsky, é preciso ter cuidado para separar o joio do trigo. Num país como o Brasil, em que a média de idade dos alunos é alta e a maior parte deles se desdobra para conciliar responsabilidades familiares e profissionais com a educação, o modelo EAD é fundamental. “Ele tem um custo de entrada e de saída muito mais baixo, mais atrativo. Mas o modelo precisa ganhar corpo, ser levado à sério, não pode ser uma estratégia de instituições privadas para cortar custos e aumentar receitas. No nosso país, com tantas regiões afastadas, eu consigo imaginar o EAD sendo fundamental, por exemplo, na formação de professores e na capacitação de servidores públicos de cidades interioranas, e em diversas outras áreas também”.

Assista ao debate completo:

Panorama Atual do Ensino Superior no Brasil

No dia 30 de abril, 3ª feira, às 16h, a terceira edição do Fórum ABC/SBPC de Educação Superior vai trazer Luiz Roberto L. Curi (CNE) e Elizabeth Balbachevsky (USP) para apresentarem um Panorama Atual do Ensino Superior no Brasil.

Confira! O evento é on-line e será transmitido pelo YouTube da Academia Brasileira de Ciências.

A série de eventos é coordenada pelos Acadêmicos Aldo Zarbin e Sylvio Canuto.

 

Os palestrantes:

Luiz Roberto L. Curi (CNE)

Sociólogo e doutor em Economia, ambos pela Unicamp. É conselheiro e atual presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE). Atuou no CNPq, no CGEE, foi presidente do INEP/Ministério da Educação. Atuou também no Governo do Estado de São Paulo e na Prefeitura de Campinas, entre outros destacados cargos de gestão.

 

 

Elizabeth Balbachevsky (USP)

Doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP, onde é livre docente pelo Departamento de Ciência Política e professora associada no mesmo departamento. É vice-coordenadora do Núcleo de Pesquisa sobre Políticas Públicas da USP (NUPPs/USP). Desenvolve pesquisas na área de políticas de ciência, inovação e ensino superior, além de estudos na área de comportamento político.

 

 

 

 


SERVIÇO:

Evento: Fórum ABC/SBPC de Educação Superior
Tema:  Panorama Atual do Ensino Superior no Brasil
Palestrantes: Luiz Roberto L. Curi (CNE) e Elizabeth Balbachevsky (USP)
Local: YouTube da ABC
Data: 30 de abril, 3a feira
Hora: 16h

Reunião na ABC debate a situação dos jovens cientistas brasileiros

Como parte das discussões preparatórias para a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5ª CNCTI), a Academia Brasileira de Ciências (ABC) organizou no dia 25 de abril a Conferência Livre – Juventudes e Ciência, de forma online. O evento foi uma parceria com a Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG), o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

O encontro abordou os desafios enfrentados por jovens doutores na consolidação de suas carreiras e na inserção no mercado de trabalho, bem como o engajamento da população jovem em CT&I através da divulgação e comunicação científica. Em um ponto bastante atual, o novo e controverso programa de repatriação anunciado pelo CNPq também foi debatido.

Panorama dos jovens doutores brasileiros

Em 2023, um grupo de membros afiliados da ABC divulgou os resultados do projeto Perfil do Jovem Cientista Brasileiro, que ouviu 4.115 pesquisadores com até 15 anos de doutoramento sobre o que pensavam da carreira. Responsáveis por liderar o trabalho, as pesquisadoras Ana Chies e Raquel Minardi trouxeram alguns dados para embasar a conferência.

Dentre os resultados, 74% dos jovens pesquisadores relataram ter muita dificuldade em conseguir financiamento. Uma das políticas mais consolidadas de estímulo à investigação científica, as bolsas de produtividade do CNPq ainda são inacessíveis nessa etapa da carreira. Apenas 10% dos respondentes são bolsistas de produtividade e 8% estão na categoria mais baixa. Outro problema é a desigualdade de gênero, homens têm o dobro de chances de serem bolsistas de produtividade do que mulheres. “O grande problema das bolsas de produtividade é que a competitividade por elas cresce a cada ano, mas o número disponível permanece constante”, avaliou Ana Chies.

A pesquisa também revelou outros números preocupantes. 46% dos jovens doutores não acreditam valer a pena ser cientista no Brasil e 36% não se sentem motivados a continuar. Com relação à assédio, os dados são alarmantes, 47% das mulheres cientistas relataram já terem sofrido assédio sexual no meio acadêmico e 67% relataram assédio moral. Entre os homens, os números são de 12% e 57%, respectivamente.

O projeto foi um dos temas centrais que embasaram as discussões do 5º Encontro Nacional de Membros Afiliados da ABC, realizado em agosto de 2023. Foi produzido um sumário das deliberações, sob coordenação da comunicóloga Thaiane Moreira. As reinvindicações principais foram divididas em sete eixos:

  • Políticas nacionais de capacitação em grandes temas nacionais;
  • Financiamento e transparência na alocação de recursos;
  • Investimento em Comunicação Científica;
  • Políticas de interação público-privado;
  • Inserção dos jovens nos conselhos deliberativos das agências de fomento;
  • Estímulo ao Acesso Aberto de publicações científicas;
  • Combate às desigualdades e assimetrias da carreira.
Os participantes do 1º Painel “Os Desafios para os Jovens Doutores na Consolidação de suas Carreiras Acadêmicas”

Reconhecimento da pesquisa como atividade profissional

Outro documento lançado em 2023, o Dossiê Florestan Fernandes, organizado pela ANPG, aborda a situação profissional dos pós-graduandos no país. Uma das autoras do dossiê, a filósofa Cristiane Fairbanks, trouxe algum de seus resultados principais. “Um dos maiores problemas é que o pesquisador não é só um estudante, ele é um profissional estudante, seu trabalho é produzir ciência. É preciso compreender essa natureza híbrida”, disse.

Para Thaiane Moreira, pesquisar no Brasil não é tratado como profissão, mas como um “penduricalho” que se soma a diversas outras atribuições dos acadêmicos. Isso se reflete na inserção profissional e 70% dos doutores empregados atuam na área de educação. Esse padrão é muito característico do Brasil e bem diferente de países desenvolvidos, onde a maior parte dos doutores consegue entrar no setor privado. Por aqui, a falta de diálogo entre academia e indústria – e a própria falta de indústrias – contribui para um cenário estéril. Mesmo em áreas onde o país possui indústrias fortes, como no agro, o percentual de doutores no setor privado não passa de 30%.

De acordo com números trazidos pelo historiador Paulo Terra, especialista nas relações de trabalho brasileiras, o crescimento exponencial no doutoramento não foi acompanhado por um acréscimo no setor produtivo, o que levou à precarização. No século 21, o número de doutores formados por ano no país cresceu 466%, cinco vezes mais que a média dos países desenvolvidos. O reflexo desse aumento na competição foi que a remuneração de doutores no setor privado caiu 45% no mesmo período, muito acima da média nacional geral (6%).

“Nossa luta precisa ser para que a remuneração seja suficiente para que o mestrando e o doutorando possam realmente ter dedicação exclusiva. O dossiê mostrou que 57% deles já trabalham concomitantemente, mesmo com muitos programas não permitindo. A lei atual precisa se adequar à realidade de que a bolsa não está suficiente. A escolha por fazer ciência não pode ser um prejuízo pessoal para o pesquisador”, sumarizou Fairbanks.

Repatriação de Cérebros

Nas últimas semanas o CNPq anunciou um novo programa de repatriação de talentos que foi recebido com muitas críticas pela comunidade científica. O programa tenta atacar um grave problema da ciência brasileira, a fuga de cérebros para o exterior, mas seus críticos entendem que a medida é um esforço paliativo que não vai no cerne do problema. A ideia é atrair os cientistas com bolsas de até R$ 13 mil por mês, enquanto os pesquisadores que permaneceram no Brasil continuam sofrendo com falta de recursos. “Não sou contra a repatriação, de forma alguma, sou contra não ter reajuste para os pós-graduandos que ficaram por aqui”, sumarizou a presidente da ABC, Helena Nader.

Para a secretária de Políticas e Programas Estratégicos do MCTI, Márcia Barbosa, há uma confusão entre o financiamento contínuo e fomento à iniciativas pontuais. “As verbas para o programa de repatriação vêm do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que voltou a ser totalmente liberado ano passado depois de sete anos de contingenciamentos. Os programas no escopo do FNDCT têm um espírito da excepcionalidade, é algo estratégico, experimental, não é o mesmo dinheiro que vai para o ‘feijão com arroz’”, retrucou.

Mas para o afiliado Walter Beys da Silva, professor de biologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a falta de investimentos no ‘feijão com arroz’ faz com que o programa deixe a comunidade nacional em segundo plano. “Esperávamos mais desse governo, há uma escassez de bolsas do CNPq disponíveis em todas as fases. O modelo de alocação das bolsas, que considera Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da cidade do programa de pós-graduação, é problemático e ainda não foi revisto. Enquanto isso, alocam-se tantos recursos em repatriação.”

Os participantes do painel “Desafios e Estratégias para a Absorção de Recém-Doutores no Mercado de Trabalho”

Percepção Pública e Comunicação Científica”

Saindo um pouco da realidade dos pesquisadores, o debate tomou contornos mais amplos e abordou também a percepção geral dos jovens sobre o campo científico. Membra do INCT Comunicação Pública de Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT), a pesquisadora Vanessa Fagundes (UFMG) trouxe dados de levantamentos recentes que avaliaram esse cenário.

Dentre os números mais preocupantes, se avaliou que as redes sociais são a forma mais frequente que 81% dos jovens entre 15 e 24 anos brasileiros utilizam para se informar sobre ciência. “São justamente esses espaços onde eles ficam mais expostos ao negacionismo e à desinformação, por isso é importantíssimo que cientistas disputem as redes”, avaliou.

Mas para a comunicóloga Thaiane Moreira, esse trabalho precisa ser profissional. Ela criticou decretos recentes que restringiram contratação e alocação de pessoal de institutos e universidades federais em comunicação. “Não adianta um pesquisador individual criar uma página no Instagram e acabou. É preciso que as instituições emprestem sua força, tenham setores profissionais. Estamos lutando contra uma máquina de desinformação profissional, não podemos continuar de forma amadora.”

Outro dado preocupante levantado foi que o jovem brasileiro frequenta muito pouco espaços de divulgação, apenas 1% dos entrevistados afirmou ter ido a algum museu no ano anterior. Para a diretora de CT&I da ANPG, Priscila Duarte, é preciso investir em iniciativas que levem a ciência para estudantes de ensino médio. “Estudar uma ciência fechada, só conteúdo, sem enxergar o processo nem as aplicações na sua vida, desestimula. Precisamos de mais atividades práticas.”

Na mesma linha, a coordenadora de Popularização da Ciência e Tecnologia do MCTI, Luana Bonone, afirmou que a pasta está investindo em mais espaços de difusão científica nas escolas, bem como em mais atividades práticas e laboratoriais, inclusive com a concessão de bolsas para alunos e professores que escolherem se engajar nessas atividades. “Queremos fortalecer políticas já existentes, como semanas da ciência, olímpiadas, feiras e museus. A educação básica e média no Brasil ainda tem muito pouco contato com a ciência. Mas só isso não basta se quisermos atrair novos cientistas. É preciso dar perspectiva de futuro e, para isso, só valorizando a carreira.”

As participantes do painel “O Engajamento dos Jovens em CT&I”

Assista a parte da manhã da conferência:

Assista a parte da tarde da conferência:

Por que cientistas criticam programa federal que prevê R$ 1 bi para reverter fuga de cérebros

Leia matéria de Roberta Jansen para o Estadão, publicada em 20/4:

O anúncio do programa do CNPq, órgão de fomento à pesquisa do Ministério da Ciência e Tecnologia, para repatriar cientistas brasileiros vivendo no exterior caiu como uma bomba no meio acadêmico, uma parte dele em greve por reivindicação salarial.

  • O novo programa federal oferece bolsas de valores de R$ 10 mil a R$ 13 mil e verba para montar laboratório, além de plano de saúde e auxílio aposentadoria.
  • O objetivo declarado é combater a “fuga de cérebros”, dando aos cientistas incentivos para voltarem ao Brasil.

Cientistas de diversas instituições de pesquisa do País, além de entidades representativas da classe, como a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SPBC), consideram a repatriação de talentos uma iniciativa importante, mas criticaram a nova bolsa.

Ao Estadão, o presidente do CNPq, [o Acadêmico] Ricardo Galvão, disse que essa é uma iniciativa em meio a diversas outras do governo federal cujo objetivo é melhorar a infraestrutura das universidades e instituto federais e a indústria, abrindo vagas de emprego.

Afirmou ainda entender a revolta dos pesquisadores, por conta do sucateamento da ciência nos últimos anos, mas explicou que o montante não é suficiente para resolver o problema.

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Após uma década sem aumento, as bolsas de pós-graduação foram reajustadas no ano passado. A do mestrado foi de R$ 1,5 mil para R$ 2,1 mil e a do doutorado, de R$ 2,2 mil para R$ 3,1 mil. As bolsas de pós-doutorado subiram de R$ 4,1mil para R$ 5,2 mil. O valor total para todo o Brasil é de R$ 2,3 bilhões.

Já o novo programa, para trazer de volta mil expatriados, tem bolsas de R$ 10 mil a R$ 13 mil, além de verba para laboratório, plano de saúde e auxílio de aposentadoria, com investimento total de R$ 1 bilhão.

Na análise dos críticos, não faz sentido concentrar tanto recurso nos pesquisadores que estão no exterior e tão pouco nos que trabalham aqui.

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“O momento agora é de reconstruir a ciência com o material humano que está aqui no Brasil, gente que se formou aqui e gente que estudou lá fora e retornou por conta própria”, afirmou a bióloga Ana Lúcia Tourinho, da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), que fez doutorado na Universidade de Harvard, nos EUA. “Precisamos valorizar essas pessoas que estão aqui para que, daqui a dez anos, os pesquisadores que estão no exterior tenham vontade de voltar para cá. Hoje, não tem ninguém querendo voltar.”

Este é um outro ponto crucial levantado pelos críticos. Embora as bolsas do novo programa sejam muito mais altas do que as oferecidas por aqui, elas não seriam competitivas para pesquisadores brasileiros empregados em universidades nos Estados Unidos, Canadá ou Europa. Seriam atrativas apenas para os alunos que estão terminando a pós-graduação fora e não têm convite para trabalhar por lá.

“Nesse caso, não é repatriação de cérebros, né? Serão mesmo as melhores cabeças que estamos trazendo?”, questiona a biomédica Helena Nader, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC). “Já temos aqui no Brasil muitos doutores que estão sem emprego, por que não contratar essas pessoas, então? Dar esse valor de bolsa para elas? Vamos trazer mais gente para ficar sem emprego? O valor das bolsas daqui aumentou, mas ainda está muito aquém da necessidade dos estudantes, não oferece plano de saúde nem tíquete refeição. As nossas universidades estão sem concurso e sem previsão de crescimento.”

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Leia a matéria na íntegra no Estadão

Crise na pós-graduação: evasão de pesquisadores prejudica ciência nacional

Leia matéria de Júlia Giusti para o Correio Braziliense, publicada em 21/4:

As condições de estudo e trabalho de pesquisadores da pós-graduação stricto sensu no Brasil, o que inclui mestrado e doutorado, são precárias e estimulam a evasão. É o que apontam especialistas, que avaliam que os principais fatores que levam ao abandono dos programas são valores insuficientes das bolsas de pesquisa, falta de direitos sociais, como aposentadoria, e má absorção desses profissionais no mercado de trabalho após a conclusão dos cursos.

Esse cenário de evasão da pós-graduação gera impactos na produção científica do país, que, segundo dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), é realizada por mestrandos e doutorandos em 90% dos casos.

O assunto foi debatido na Comissão de Educação do Senado, em março, a pedido da senadora Teresa Leitão (PT-PE), que destaca a necessidade de “investimento financeiro, políticas de aprimoramento da pós-graduação e melhores condições de estudos para execução da pesquisa”.

Em 2023, as bolsas de mestrado e doutorado da Capes e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) foram reajustadas. Os valores, que estavam congelados desde 2013, sofreram aumento de 40%. Com isso, bolsas de mestrado passaram de R$ 1.500 para R$ 2.100, enquanto as de doutorado subiram de R$ 2.200 para R$ 3.100.

O orçamento da Capes em 2023 foi 50% maior do que em 2022. No primeiro ano do atual governo, a agência investiu R$ 5,4 bilhões na pós-graduação e em programas de formação de professores. No ano anterior, os valores totalizaram R$ 3,6 bilhões.

(…)

Segundo [a Acadêmica] Denise de Carvalho, presidente da Capes, o interesse em cursar mestrado e doutorado diminuiu nos últimos anos, o que foi motivado pelo baixo valor das bolsas antes dos reajustes e também pelos cortes em ciência e tecnologia entre 2019 e 2022, que chegaram a uma redução de 87%. Com aumento das bolsas e o fim da pandemia de covid-19, porém, o ingresso na pós-graduação voltou a crescer.

“Em vez de continuarem estudando, as pessoas entraram no mercado de trabalho menos qualificadas por falta de esperança de que teriam financiamento para continuar os seus estudos”, explica. “Agora, os pesquisadores ingressam com a perspectiva de que podem continuar se qualificando profissionalmente”.

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A presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Helena Nader, comenta que a desvalorização do mestrado e doutorado no Brasil é decorrente da importância dada à ciência no país: “Em outras regiões do mundo, como nos Estados Unidos e na Europa, eles acreditam na relevância da ciência, o que se dá através de investimentos. No Brasil, a ciência ainda é vista como gasto”.

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Leia a matéria na íntegra no Correio Braziliense. 

Acadêmico é indicado para diretor de Avaliação da Capes

O  Acadêmico Antônio Gomes de Souza Filho foi nomeado para exercer o cargo de diretor de Avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior  (Capes), decisão publicada em DO no dia 10 de abril.

Gomes concluiu o doutorado em Física pela Universidade Federal do Ceara (UFC) em 2001, com a realização de estágio sanduíche no MIT-EUA durante o ano de 2000. Atualmente é professor do Departamento de Física da UFC, tendo atuado como pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Federal do Ceará de 2016 a 2019. Atuo também como pesquisador visitante da Unicamp (2009-2010). Atua na área de física da matéria condensada com ênfase em nanociência e nanotecnologia e é bolsista de produtividade do CNPq, nível 1A.

Foi tesoureiro da Sociedade Brasileira de Física (2017-2019) e membro do Conselho  (2019-2021). Atuou como cientista chefe da Fundação Cearense para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) do estado do Ceará (2019-2022). Foi nomeado coordenador da área de Astronomia/Física na Capes (2022 -2026), onde também integra o Conselho Técnico Científico (CTC) como membro titular desde 2023. 

Publicou 260 artigos em periódicos internacionais especializados. É autor e co-autor de sete artigos de revisão convidados e cinco capítulos de livros (springer-verlag). É co-autor do livro “Solid State Properties From Bulk to Nano”, publicado pela Springer-Verlag em 2018. Orientou nove dissertações de mestrado e co-orientou três. Orientou 11 teses de doutorado e co-orientou cinco. Supervisionou dez estágios de pós-doutorado.

Participou de projetos de colaboração internacional com as universidades de Tohoku (Japão) e de Lyon-1 (França), e também no MIT (EUA). Ministrou várias palestras e seminários como convidado no Brasil e no exterior, organizou eventos nacionais e internacionais e participou de vários comitês científicos de eventos internacionais consolidados. É consultor de várias agências de fomento e árbitro regular de várias revistas científicas.

Foi agraciado em 2009 com o prêmio Somiya da International Union of Materials Reserach Societies 2009 for the Collaborative Work on Carbon Nanostructured Materials. Recebeu em 2018, da Presidência da República do Brasil, a Comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico – Classe Comendador. 

Foi membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (2011-2015) e eleito membro titular em 2018. Atuou como membro do Conselho Consultivo da ABC (2019-2021). Em 2024, foi eleito fellow da The World Academy of Science (TWAS). 

Conferência Livre do GT de Ensino Superior: 3ª e 4ª Sessões

01No dia 8 de abril a Academia Brasileira de Ciências (ABC) promoveu a Conferência Livre “Modernização da estrutura de ensino superior brasileira para o desenvolvimento socioeconômico sustentável”, organizada pelo grupo de trabalho sobre Ensino Superior Brasileiro da ABC. A reunião fez parte do calendário preparatório para a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5ª CNCTI).

A primeira mesa da parte da tarde teve como tema a criação de centros de formação de recursos humanos em áreas estratégicas. A proposta do grupo é de seis áreas: Bioeconomia; Agricultura e Agronegócio; Transição Energética; Saúde e Bem-Estar; Transformação Digital e Materiais Avançados e Tecnologias Quânticas.

José Roberto Piqueira

O engenheiro e professor da Escola Politécnica da USP José Roberto Piqueira lembrou que a procura pela área de exatas vem encolhendo nas universidades e que, dos que ingressam, apenas 16% concluem a graduação. Para piorar o cenário, muitos desses empregos estão em áreas diferentes da formação original.

Para ele, o atual modelo das universidades é muito engessado e não engloba as diferenças regionais do Brasil, nem se esforça para integrar questões a realidade de um grupo cada vez mais diverso de alunos.  “Uma experiência que eu fazia em sala de aula foi agrupar alunos de diferentes origens socioeconômicas e pedir para que descrevessem a eletrificação de suas casas, isso mostrava a todos as diferenças sociais em infraestrutura”.

Mas não é apenas a engenharia elétrica que precisa dialogar com a realidade, praticamente qualquer área tecnológica disposta a desenvolver inovação precisa entender os problemas da sociedade. “Sabem por que o Brasil se desenvolveu tão rápido em automação bancária? Por causa da hiperinflação da década de 80. Se a transação não fosse rápida se perdia dinheiro, então os banqueiros trouxeram para si engenheiros de sistemas que criaram uma competência muito grande na área”, exemplificou.

O novo aprendizado deve ter amplitude, pois ninguém sabe o que os alunos vão precisar daqui a 50 anos. A interdisciplinaridade já se tornou um mantra, mas é preciso leva-la a sério, compreendendo quais as inquietações dos novos alunos e aceitando que estes são diferentes dos alunos de 20 anos atrás.  “Eu sou engenheiro, não é importante para mim saber falar sobre correntes filosóficas, mas é importante que eu saiba ouvir. Da mesma forma, para um historiador, não é importante que ele saiba construir uma ponte, mas é importante que ele saiba ouvir e compreender sobre esse processo”, finalizou.

Centros de Formação de Recursos Humanos em Áreas Estratégicas (CFEA)

Adalberto Fazzio

O físico e Acadêmico Adalberto Fazzio, diretor-fundador da Ilum Escola de Ciência, graduação integrada em ciências associada ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas, afirmou que o modelo de produção de ciência no século 21 precisa diminuir a ênfase na relação mestre-aprendiz, que ainda remete ao século 19. “O jovem precisa estar desde cedo num ambiente que estimule sua independência científica. Hoje em dia nossos alunos vão atingir essa independência muito tardiamente, após doutorados e pós-doutorados, já beirando os 40 anos”.

Fazzio lembrou que a ABC produziu uma série de documentos temáticos que servem como guias para introduzir os assuntos e também ajudaram a definir as áreas estratégicas. Ele reforçou que o país precisa ter áreas prioritárias. “Já conheci reitores cuja mentalidade para a divisão de recursos era dividir igualmente por todas as áreas. Não pode ser assim, é preciso entender as demandas de cada área e, sobretudo, é preciso definir quais são as prioridades. No Brasil temos uma dificuldade enorme em fazer escolhas”, avaliou.

A ideia dos CFEAs é justamente trabalhar em torno dos temas prioritários, trazendo grupos de pesquisa diversos para pesquisar com um olhar atento aos problemas da sociedade. É preciso entender quais são as demandas da indústria e superar o preconceito mútuo entre academia e setor privado. “Precisamos de centros com metas claras de desenvolvimento de inovação, não apenas inovação tecnológica mas novos modelos de negócio, estimulando startups”.

Para o bioquímico Jorge Almeida Guimarães, ex-presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), o foco deve ser a inovação, mas tendo em mente quem será beneficiado por ela. Ele lembrou que os pilares da inovação são a presença de talentos científicos, instituições qualificadas e empresas de ponta, além de investimentos do Estado e o incentivo à cultura do empreendedorismo pessoal – tudo isso, para algumas áreas pelo menos, o Brasil já tem.

O Acadêmico Jorge Almeida Guimarães participou de forma virtual

Os desafios estão justamente em fazer todos esses fatores dialogarem. Além da gigantesca burocracia estatal e dos imbróglios jurídicos e regulamentares com que pesquisadores precisam gastar tempo, é preciso superar a resistência empresarial à inovação aberta e nacional. “Precisamos reduzir o Custo Brasil e operar o modelo tripla-hélice – investimentos conjuntos de governo, universidade e empresa – em larga escala”, afirmou.

Para ele, o modelo dos CFEAs deve ser iniciado com chamadas públicas, desenhadas por agências de fomento, para selecionarem, à princípio, 15 grupos de pesquisa de comprovada liderança nas áreas. Esses grupos serão credenciados como CFEAs e vinculados à uma universidade sede, mas manterão certas autonomias. “Eles não podem ser engessados na estrutura da universidade, a autonomia precisa estar desde o planejamento de ações, na alocação de pessoal e recursos e na assinatura de contratos. O principal é ter autonomia decisória”.

Um novo ensino superior para a Amazônia

Adalberto Val

Durante a mesa final do evento, o biólogo e vice-presidente da ABC para a Região Norte, Adalberto Luis Val, defendeu que novos modelos precisam ser pensados, inclusive, como forma de superar um problema histórico da educação superior brasileira: a falta de interiorização. “A Amazônia segue com investimento muito baixo em capacitação. Dessa forma, segue sendo incapaz de gerar soluções robustas para as questoes ambientais e sociais, para a geração de uma bioeconomia. Estamos em 2024 e o conhecimento segue sendo gerado pela sociedade externa à Amazonia”, avaliou.

Isso gera contradições notáveis. A maior parte da produção científica sobre produtos florestais – como a castanha, o açaí, o cacau e peixes como o tambaqui e o pirarucu – acontece no exterior. Nenhum dos peixes amazônicos, tão importantes para a dieta da região, está inserido no mercado global, gerando dividendos para a região. Entretanto, algumas espécies, como o pacu-vermelho, já estão sendo criadas e vendidas por países asiáticos. “Por aqui essas cadeias de valor ainda estão no nascedouro. Uma bioeconomia forte depende de desvendar o conhecimento escondido na floresta”.

Mas essa produção ainda escorrega e a região sofre para fixar pesquisadores. Há uma divisão muito desigual entre as unidades de pesquisa na parte Atlântica e no interior do Brasil. “Há uma nova linha de Tordesilhas que separa onde se faz ciência de onde não se faz. Ainda em 2005, na época em que Jorge Guimarães presidiu a Capes, foi definido que todos os alunos matriculados em pós-graduações reconhecidas na Amazônia receberiam bolsa. O objetivo era fazer com que se fixassem, mas desde então avançamos pouco”.

Fator Tordesilhas – Mapas apresentados por Adalberto Val

Para Val, o novo Sistema Nacional de CT&I não deve ser pensado a partir de modelos homogeneizantes, muito pelo contrário, devem entender a diversidade como positiva e conectada às diferenças de cada sociedade. É preciso fomentar a colaboração e novas formas de organização de grupos de pesquisa, capacitando pessoal sempre com o olhar voltado à demanda da região.

“O dinamismo do mundo moderno não combina mais com a rigidez das áreas de conhecimento convencionais. Precisamos de um sistema mais flexível em que as instituições tenham autonomia de gestão, de aplicação de recursos e na definição de prioridades. Não basta mais publicar nas melhores revistas do mundo, é preciso contribuir com a sociedade”, finalizou o Acadêmico.

 


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Conferência Livre do GT de Educação Superior: Primeira Sessão

Conferência Livre do GT de Educação Superior: Segunda Sessão

ABC sedia conferência sobre Ciência e Tecnologias Quânticas

A ABC sediou no dia 5 de abril, mais uma reunião preparatória para a 5ª Conferência Nacional de CT&I, dessa vez com o tema “Ciência e Tecnologias Quânticas”. Organizada pelas Fundações de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro e São Paulo (Faperj e Fapesp), o encontro foi realizado em dois dias, o primeiro na ABC e o segundo na sede da Fapesp, em São Paulo.

O mundo está passando por uma segunda onda de tecnologias quânticas e o Brasil precisa se preparar para não perder a janela de oportunidade de entrar no radar global. Mesmo com investimentos menores, o país tem uma comunidade qualificada de especialistas na área, mas segue atrás em inovação. “Precisamos criar uma Iniciativa Quântica Brasileira, com esforço interministerial. Países como EUA, Inglaterra e China já fizeram isso”, destacou Marcelo Terra Cunha, professor da Unicamp e um dos idealizadores da reunião.

Terra organizou a reunião junto co o ex-presidente da ABC Luiz Davidovich, cuja especialidade é a óptica quântica. Davidovich traçou um panorama do mercado de tecnologias quânticas no mundo, chamando a atenção para a ausência de empresas brasileiras. Assim como em outras áreas, na ciência quântica o Brasil sofre para transformar o conhecimento gerado em inovação. “Temos uma área acadêmica relevante, mas faltam empresas. Deveríamos nos preocupar sobretudo com a geração de startups. Não podemos ficar na segunda divisão desse jogo”.

A mesa de abertura do evento. Da esquerda para a direita: Marcelo Terra (Unicamp), Marcia Barbosa (MCTI), Luiz Davidovich (UFRJ), Jerson Lima (Faperj) e Fernando Rizzo (CGEE)

Na mesma linha, o professor Daniel Felinto, da UFPE, lembrou que há uma corrida tecnológica em curso na qual o Brasil deveria tomar parte. “Os computadores quânticos atuais já estão bastante desenvolvidos mas são bastantes diferentes entre si. É uma corrida maluca em que todos acham que estão em primeiro”.

A maior parte dos presentes na reunião eram físicos, mas o grande desafio é fazer a ciência quântica ir além da Física. É preciso atrair os engenheiros e programadores, com capacidade de gerar inovação. Para isso, foi sugerido que a área seja incluída nos currículos básicos das engenharias.

Para transpor o vale entre ciência e inovação, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) escolheu o Senai-Cimatec, em Salvador, como centro de competência em tecnologias quânticas. A coordenadora do centro, Valéria da Silva, afirmou que o espaço busca não apenas formar cientistas capacitados, mas fornecer infraestrutura, assessoria e estudos de mercado para quem quer empreender. “Para ter demanda, é preciso que o empresário entenda como ele pode usar aquela tecnologia”

O professor Ivan Oliveira, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), afirmou que a instituição está construindo um laboratório nacional multiusuário para desenvolvimento de supercondutores quânticos, que deve entrar em funcionamento no fim de 2024. Ele defendeu que os chips quânticos são uma tecnologia quântica com grande capacidade de escalonamento e impacto.

Para Oliveira, o atual modelo de avaliação dos pesquisadores não combina com a área. “Tecnologias quânticas tem alto valor agregado, mas são investimentos de risco. Isso não combina com uma avaliação focada em número de artigos. Temos que aceitar que um trabalho pode dar errado, não produzir um artigo, e mesmo assim contribuir para o avanço do conhecimento”.

Assista ao evento na ABC:

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