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Astrofísica da NASA Rosaly Lopes fará palestra na ABC

No dia 27 de novembro às 16h, na sede da ABC, a astrofísica brasileira Rosaly Mutel Crocce Lopes da NASA, fará uma palestra intitulada “Luas geladas e criovulcanismo: Descobertas da missão Cassini”. Ela será apresentada pelo Acadêmico Álvaro Penteado Crósta.

A missão Cassini-Huygens orbitou Saturno de 2004 a 2017 fazendo novas descobertas sobre a atmosfera, os anéis e as muitas luas de Saturno. A Cassini carregava uma sonda, Huygens, que pousou em Titã, a maior lua de Saturno, revelando sua superfície pela primeira vez. Nos últimos meses da missão a Cassini orbitou mais perto de Saturno e, finalmente, mergulhou no planeta em setembro de 2017, encerrando a missão. A palestra analisará as muitas descobertas feitas pela missão e por sua equipe internacional de cientistas, principalmente a geologia da paisagem de Titã, desvendada pelo sensor imageador de radar, e o vulcanismo de gelo nas luas Encélado e Titã. A palestra também abordará a possibilidade da lua Titã ser habitável.

Sobre a palestrante 

Rosaly Mutel Crocce Lopes é brasileira, carioca. Mudou-se para Londres aos 18 anos e ingressou no curso de astronomia na Universidade de Londres, onde formou-se como uma das primeiras da classe em 1978. No seu último semestre, fez um curso de ciência planetária com o geólogo John Guest e na terceira semana de curso, o Monte Etna, na Itália, explodiu. Rosaly então resolveu mudar de área e estudar vulcões, tanto na Terra quanto no espaço.

Fez o mestrado e o doutorado na mesma universidade. Em seu doutorado, Rosaly se especializou em geologia e vulcanologia planetária, terminando seu Ph.D. em ciência planetária em 1986 com uma tese que comparava os processos vulcânicos em Marte e na Terra. Durante o doutoramento, viajou bastante, visitando vulcões ativos e tornou-se membro do time de vigilância de erupções vulcânicas do Reino Unido. Estudou ainda criovulcanismo em luas geladas.

Ingressou no Jet Propulsion Laboratory, da NASA, em Pasadena, EUA, como pesquisadora residente, em 1989 e depois de dois anos, tornou-se membro do projeto da sonda Galileo, onde identificou 71 vulcões ativos na superfície de Io, satélite de Júpiter. Em 2002 passou a integrar a equipe do Radar Cassini, no qual atuou até 2019. Integrou também a missão New Horizons, como colaboradora nas observações do sobrevoo de Júpiter. Atualmente ela é vice-diretora e cientista-chefe da Diretoria de Ciências Planetárias do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA. Seus trabalhos incluem 156 publicações revisadas por pares e dez livros. 

Foi homenageada com diversos prêmios e títulos, dentre os quais o Prêmio de Serviço Público Excepcional da NASA (2019) e Medalha de Serviço Excepcional (2007); Prêmio Embaixadora da American Geophysical Union (AGU) e membro honorário (2018); Membro da Geological Society of America (2015); Membro da American Association for the Advancement of Science (2006). O asteroide (22454) foi batizado como Rosalylopes.

INSCREVA-SE para participar presencialmente 


O evento será transmitido pelo YouTube da ABC

Centenário da Acadêmica Eloisa Mano na ABC

O Instituto de Macromoléculas Professora Eloisa Mano (IMA-UFRJ) da Universidade Federal do Rio de Janeiro convida os membros da ABC para a Cerimônia Comemorativa do Centenário da Profa. Eloisa Mano no dia 24 de outubro, 5a feira, às 14h. A diretora da Academia Brasileira de Ciências, profa. Maria Vargas, representará a presidente da ABC, profa. Helena Nader.

Integrarão a cerimônia a vice-reitora da UFRJ Profa. Cássia Curan Turci (A CONFIRMAR), o pró-reitor de pesquisa Prof. João Torres (A CONFIRMAR), a diretora do IMA e vice-decana do CT, profa. Maria Inês Bruno Tavares, o decano do Centro de Tecnologia (CT) Walter Suemitsu, o vice-diretor do IMA prof. Emerson Oliveira da Silva, o representante do Itamaraty diplomata Francisco Nelson de Almeida Linhares Junior e representantes da família.

A cerimônia será fechada para convidados e transmitida pelo YouTube da ABC e pelo YouTube do IMA.

Os Acadêmicos interessados em comparecer por gentileza confirmem presença até a próxima 3a feira, dia 22/10 pelo e-mail gfmello@abc.org.br, colocando no Assunto: confirmação de presença Centenário Acadêmica Eloisa Mano.

 

Entrevista: quando os primeiros humanos chegaram às Américas?

Leia entrevista de Bela Lobato com a Acadêmica Mara Hutz, uma das autoras do novo livro da ABC “Evolução é Fato”, para a revista SuperInteressante, publicada em 20/10:

Os Homo sapiens surgiram na África há cerca de 200 mil anos. Desde então, as comunidades humanas viveram a maior parte da sua existência de forma nômade, migrando de um lugar para o outro. Os primeiros dois terços da nossa história se passaram exclusivamente na África, e foi só há cerca de 60 mil anos que as populações começaram, lentamente, a migrar para outros continentes.

Saindo da África, os humanos seguiram se espalhando pelo norte, em direção à Ásia e à Europa. A migração para a Oceania se deu através das ilhas do sul da Ásia há cerca de 60 mil anos, e a América foi o último continente a ser ocupado.

A data exata da chegada às Américas, porém, é um tópico de debate acirrado entre os cientistas, já que existem teorias que disputam entre si. O consenso científico – ou seja, o que a maioria dos cientistas acredita – é que o povoamento veio da Sibéria para o Alasca, no norte da América do Norte, através de uma passagem chamada Estreito de Bering, há cerca de 14 mil anos. Seria algo relativamente recente, então.

Entretanto, existe outra versão que se baseia em evidências muito mais antigas do que essas, e argumenta que os humanos já viviam nas Américas há mais de 20 mil anos. Essa teoria é fundamentada por achados arqueológicos diversos, como adornos feitos de ossos de preguiça-gigante de 25 mil anos atrás encontrados no Mato Grosso.

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Todas essas informações são obtidas a partir de evidências de vários tipos: a arqueologia e a paleontologia podem estudar restos de humanos que morreram há muito tempo, de ferramentas que eles deixaram, restos de animais domesticados ou atacados por humanos, vestígios de construções, cemitérios etc. Tudo isso pode ser analisado geneticamente, anatomicamente e culturalmente, além de comparado entre si e com outros materiais
encontrados pelo mundo.

Com todas essas peças, os cientistas tentam montar um panorama histórico complexo, que vive sendo atualizado e rediscutido. Para entender um pouco mais sobre a história dos humanos nas Américas, a Super conversou com [a Acadêmica] Mara Hutz, doutora em genética e biologia molecular e professora da Universidad  Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em parceria com o biólogo [e Acadêmico] Fabrício Rodrigues dos Santos, ela é autora de um dos capítulos do livro A Evolução é Fato, que conta com a participação de 28 pesquisadores brasileiros. Você pode baixá-lo gratuitamente aqui. A obra aborda diferentes fases da evolução na Terra, de um jeito simples e fácil de ler. O livro levou três anos para ficar pronto, e foi feito pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), que se manteve atualizada das descobertas científicas durante todo o processo.

A professora enfatiza que o conhecimento sobre essa história das Américas pode ser um elemento para a defesa dos povos nativos. “Conhecer essa história evolutiva é muito importante para para reconhecer os direitos dos povos indígenas atuais, para a demarcação das terras indígenas e a preservação da cultura ameríndia”, diz. “Eu não vejo isso nas discussões sobre demarcação de terras indígenas, sobre a preservação da cultura indígena. Essa é uma posição pessoal minha: eu acho que isso tem que ser levado em consideração, porque indica a importância de preservar essa cultura que está praticamente em extinção. E a gente não deve deixar isso acontecer”, acrescenta Hutz.

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Leia a matéria na íntegra no site da SuperInteressante

 

Entrevista: havia mamíferos que comiam dinossauros

Há 66 milhões de anos, um asteroide colidiu com a Terra no local onde hoje fica a península de Yucatan, no México. Além de pulverizar instaneamente tudo que havia no local da colisão, o pedregulho de 12 km de diâmetro destroçou o equilíbrio do clima e dos ecossistemas de todo o mundo.

Ali começou uma cadeia de eventos que ficou famosa por extinguir quase todos dinossauros (a exceção foram as aves). Essa não foi a primeira extinção em massa que o planeta enfrentou, nem a pior. Mesmo assim, mais de 75% da fauna terrestre bateu as botas, e os poucos sobreviventes se irradiaram para dar origem ao mundo como o conhecemos. 

Para entender como os mamíferos se aproveitaram do vazio de répteis para dominar a Terra, conversamos com a paleontóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Marina Bento Soares. Ela explicou por que os dinossauros nunca foram totalmente extintos, como eram os primeiros mamíferos da Terra e como era vida de um mamífero que comia dinossauros.

Junto com Alexander Kellner, também paleontólogo, ela é autora de dois dos capítulos do livro A Evolução é Fato, que conta com a participação de 28 pesquisadores brasileiros. Você pode baixá-lo gratuitamente aqui

A obra aborda diferentes capítulos da história da vida na Terra, de um jeito didático e acessível, sempre através do prisma da seleção natural. O livro levou três anos para ficar pronto, e foi feito pela Academia Brasileira de Ciência (ABC), que se manteve atualizada sobre descobertas científicas durante todo o processo. 

A maior parte das explicações inclui exemplos brasileiros – o que, aliás, não faltam quando falamos de fósseis. A conversa a seguir faz parte de uma série de entrevistas que a Super está publicando com os autores dos textos.

Por que nem todos os animais que viviam na Terra foram extintos da mesma forma que os dinossauros no final do Cretáceo? 

Marina: Eventos de extinção em massa sempre aconteceram ao longo da história da vida na Terra. Não foi uma, nem duas, nem três, foram muitas. Porém, existem cinco delas que são consideradas as big five, que são aquelas em que mais de 75% de todas as espécies, seja vertebrado, invertebrado, planta, foram extintas. A do Cretáceo, que afetou os grandes dinossauros e outras espécies, foi a mais recente, mas não foi a pior.

Essas extinções são explicadas por uma série de causas, sempre tem uma cascata de eventos, uma coisa vai levando à outra. Na extinção dos dinossauros, assim como em outras, há eventos de vulcanismo envolvidos. Mas, aliado a isso, a gente tem o tal do corpo celeste que se chocou com a Terra.

Mas é importante dizer que não foram só os dinossauros que foram extintos nesse momento. Vários grupos foram afetados, e vários se recuperaram. Tartarugas, répteis, aves e mamíferos.

Na verdade, os dinossauros não foram extintos nessa extinção do Cretáceo, porque as aves são dinossauros. Aves surgiram diretamente dentro de um grupo de dinossauros terópodes e são consideradas dinossauros. Então, é por isso que hoje falamos em dinossauros não-avianos, que são aqueles que foram extintos, e os avianos, que estão aí até hoje.

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Leia o artigo na íntegra no site da Super

 

Nobel de Química de 2024: design computacional e previsão de estruturas de proteínas

A Academia Real Sueca de Ciências decidiu conceder o Prêmio Nobel de Química de 2024 com metade para David Baker (Universidade de Washington, Seattle, EUA), “por design computacional de proteínas” e a outra metade conjuntamente para Demis Hassabis (Google DeepMind, Londres, Reino Unido) e John M. Jumper (Google DeepMind, Londres, Reino Unido), “por previsão de estruturas de proteínas”. 

Eles decifraram o código das estruturas impressionantes das proteínas, as engenhosas ferramentas químicas da vida. David Baker conseguiu realizar a façanha quase impossível de construir novos tipos de proteínas. Demis Hassabis e John Jumper desenvolveram um modelo de IA para resolver um problema de 50 anos: prever as complexas estruturas das proteínas. Essas descobertas têm um enorme potencial de aplicação.

A diversidade da vida atesta a incrível capacidade das proteínas como ferramentas químicas. Elas controlam e impulsionam todas as reações químicas que, juntas, são a base da vida. As proteínas também funcionam como hormônios, substâncias sinalizadoras, anticorpos e os blocos de construção de diferentes tecidos.

“Uma das descobertas reconhecidas este ano diz respeito à construção de proteínas espetaculares. A outra é sobre a realização de um sonho de 50 anos: prever estruturas de proteínas a partir de suas sequências de aminoácidos. Ambas as descobertas abrem vastas possibilidades”, diz Heiner Linke, presidente do Comitê Nobel de Química.

As proteínas geralmente consistem em 20 aminoácidos diferentes, que podem ser descritos como os blocos de construção da vida. Em 2003, David Baker conseguiu usar esses blocos para projetar uma nova proteína que não se parecia com nenhuma outra. Desde então, seu grupo de pesquisa produziu uma criação imaginativa de proteínas após a outra, incluindo proteínas que podem ser usadas como fármacos, vacinas, nanomateriais e pequenos sensores.

A segunda descoberta diz respeito à previsão de estruturas de proteínas. Nas proteínas, os aminoácidos estão ligados em longas cadeias que se dobram para formar uma estrutura tridimensional, que é decisiva para a função da proteína. Desde a década de 1970, os pesquisadores tentavam prever estruturas de proteínas a partir de sequências de aminoácidos, mas isso era notoriamente difícil. No entanto, quatro anos atrás, houve um avanço impressionante.

Em 2020, Demis Hassabis e John Jumper apresentaram um modelo de IA chamado AlphaFold2. Com sua ajuda, eles conseguiram prever a estrutura de praticamente todas as 200 milhões de proteínas que os pesquisadores identificaram. Desde seu avanço, o AlphaFold2 tem sido usado por mais de dois milhões de pessoas em 190 países. Entre uma miríade de aplicações científicas, os pesquisadores agora podem entender melhor a resistência a antibióticos e criar imagens de enzimas que podem decompor plástico.

A professora e pesquisadora do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Raquel de Melo Minardi, que foi membra afiliada da ABC no período 2019-2023, comentou a premiação. 

Ela disse que a modelagem computacional de proteínas é um dos problemas mais desafiadores da biologia moderna e que o trabalho dos premiados com o Nobel de Química 2024 na compreensão e previsão de estruturas proteicas impactam diretamente a medicina, a farmacologia e a biotecnologia, entre outras áreas.

Raquel explicou que prever a estrutura de proteínas é um problema intrinsecamente difícil devido à massiva quantidade de interações moleculares e conformações possíveis. Por muitos anos, o campo de modelagem computacional de proteínas experimentou apenas pequenos avanços incrementais. Isso se deve à complexidade do problema e às limitações dos métodos clássicos, que não conseguiam lidar com a vasta quantidade de dados necessária para previsão da estrutura de proteínas precisamente.

“A modelagem teórica de proteínas é um desafio computacional complexo. As proteínas são compostas por cadeias de aminoácidos que se enovelam em estruturas tridimensionais complexas, que definem suas funções biológicas. Assim, a previsão da estrutura, a partir da sequência, abre caminho para inúmeras análises através de métodos de biologia computacional”, afirmou Minardi.

Jumper e Hassabis contribuíram para o lançamento do AlphaFold em 2018. Este método trouxe um avanço considerável na previsão de estruturas proteínas usando aprendizado profundo e dados evolutivos, contidos em bases de dados públicas de sequências e estruturas de proteínas. Em 2020, uma nova versão do método, com uma nova arquitetura de rede neural baseada em Transformers, alcançou níveis de precisão comparáveis aos métodos experimentais para a resolução de estruturas de proteínas. A versão atual trouxe novos refinamentos e incorporou a modelagem de interações entre proteínas e outras moléculas como peptídeos e ácidos nucleicos.

Raquel Minardi relata que o AlphaFold foi capaz de prever a estrutura de 98% das proteínas conhecidas do genoma humano, com alta confiabilidade para cerca de dois terços delas. “As aplicações tem sido muitas: na medicina, podem auxiliar na compreensão de doenças relacionadas ao enovelamento incorreto de proteínas, como o Alzheimer, além de facilitar o desenvolvimento de terapias personalizadas. Na farmacologia, aceleram a capacidade de previsão da interação entre proteínas e compostos químicos com maior acurácia. Na biotecnologia, têm apoiado a engenharia de proteínas com funções específicas, de interesse industrial”, pontuou.

David Baker também atua na modelagem de proteínas, tendo desenvolvido o Rosetta, uma ferramenta de referência para modelagem computacional de proteínas e suas interações com outras moléculas. Entretanto, suas contribuições envolvendo modelos de Inteligência Artificial Generativa para o projeto de novas proteínas é notável.

“Ele e sua equipe desenvolveram métodos para a criação de proteínas completamente novas, que não existem na natureza. Essas proteínas foram projetadas usando ‘alucinações’ de redes neurais profundas. Essas ‘alucinações’ ocorrem quando um modelo é treinado para criar novas proteínas, sem necessariamente estar restrito a exemplos conhecidos. Assim, a rede neural pode explorar novas combinações de sequências e estruturas de proteínas que podem não ter sido observadas antes, mas que ainda seguem regras de estabilidade estrutural e potencial funcional. O grupo propôs computacionalmente e validou experimentalmente novas estruturas de proteínas”, explicou Minardi.

Baker tem acumulado patentes nos últimos anos envolvendo esses modelos e suas aplicações. “Essas descobertas poderão apoiar o projeto de proteínas capazes de atuar como catalisadores em reações químicas de interesse industrial, na despoluição do ambiente degradando moléculas poluentes, no desenvolvimento de proteínas com potencial de neutralização de vírus e na imunoterapia para tratamento do câncer, por exemplo”, ressaltou a cientista.


Veja matérias na grande mídia com comentários de Acadêmicos!

FOLHA DE S.PAULO, 9/10
Nobel de Química 2024 premia três cientistas por criação e identificação de estrutura de proteínas
Matéria de Reinaldo José Lopes para a Folha de S. Paulo traz comentários do vice-presidente da ABC/SP Glaucius Oliva.

ESTADÃO, 9/10
Nobel de Química vai para trio que usa inteligência artificial para decifrar segredos das proteínas
Matéria de Roberta Jansen para o Estadão é comentada pelo vice-presidente da ABC/SP Glaucius Oliva sobre premiação tripla.

Acadêmica é agraciada com a 1ª edição do prêmio “Elas na Matemática”

Entre os dias 2 e 4 de outubro, a Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) organizou o 1º Workshop SBM de Mulheres na Matemática na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Entre as várias atividades, foi entregue a 1ª edição do prêmio “Elas na Matemática”, em parceria com o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

Na categoria Cientista Destaque de Matemática do Brasil foi agraciada a titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Maria José Pacífico, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Conheça sua trajetória:

Maria José Pacífico (Foto:SBM)

Maria José Pacífico – UFRJ

Paulista de Guariba, a 60 km de Ribeirão Preto, Maria José Pacífico procurou adquirir conhecimento ao máximo durante o antigo ‘Primário’ em um dos únicos colégios de sua cidade natal. Logo cedo, juntou-se a colegas em um grupo de estudos e tratou de mergulhar nos livros. Interessou-se por Matemática e Língua Portuguesa, disciplinas de fácil entendimento e de uma maneira mais divertida, em detrimento de decorar os conhecimentos engessados de História e Geografia.

Com isso, não foi muito complicado antever que ela escolheria ir por esse caminho das Ciências Exatas. Entrou na graduação em 1970 para o curso de Licenciatura em Matemática na Faculdade de Ciências e Letras (atual Unesp de Rio Claro), na qual se formou em 1973. Nos sete anos seguintes, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde concluiu Mestrado e Doutorado em Matemática no IMPA em 1980.

Iniciou seus estudos em Sistemas Dinâmicos no fim da década anterior e, até hoje, seus trabalhos na área têm sido publicados em periódicos de grande prestígio e evidenciam a relevância e o impacto de suas contribuições para a Matemática. Após frequentar o IMPA por muitos anos, Maria José se tornou professora no Instituto de Matemática da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IM- UFRJ) em 1982, onde exerce a função até hoje.

Além disso, foi a Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Matemática do IM-UFRJ por quatro mandatos – o último expirou em julho de 2024. Organizou várias reuniões científicas na área, promovendo a vinda de muitos professores visitantes à UFRJ, colaborando deste modo para o fomento do intercâmbio científico entre a Universidade e outras instituições e para a solidificação do Instituto de Matemática como um centro ativo de pesquisa em Sistemas Dinâmicos. É membra titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) desde 2005, e membra da Academia Mundial de Ciências (TWAS, sigla em inglês) desde 2007.

Extremamente ativa como pesquisadora, a professora Maria José é reconhecida nacional e internacionalmente como uma das principais referências na área, exercendo forte influência no desenvolvimento desse campo ao longo de décadas.

Helena Nader participa de conversa em Harvard sobre a participação feminina na ciência

No dia 2 de outubro, a presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Helena Bonciani Nader, foi convidada pela Universidade de Harvard, EUA, para uma conversa sobre como alavancar a participação feminina na ciência. A moderadora foi a também Acadêmica Marcia Caldas de Castro, professora da Harvard T. H. Chan School of Public Health e diretora do Programa de Estudos Brasileiros do David Rockefeller Center for Latin American Studies, ambos departamentos de Harvard que organizaram o encontro.

Nader lembrou que a primeira mulher eleita como titular da ABC foi a bióloga Marta Vannucci no ano de 1966, quando a Academia já completava 50 anos de existência. No ano de 2007 as mulheres eram apenas 7% dos membros ativos, número que aumentou para 28% nos dias atuais. “O que eu defendi quando assumi o cargo de vice-presidente na gestão Luiz Davidovich foi a busca ativa por mulheres com potencial de ingresso. Nós descobrimos que as mulheres ainda se inscreviam em uma proporção muito menor do que os homens para se tornarem membros. Sabemos que ainda não é o número ideal, ainda não representa a participação feminina na ciência brasileira, mas estamos avançando”, explicou Nader.

A presidente da ABC também reconheceu que a Academia ainda está atrás na representatividade étnica brasileira. “Ainda temos muito poucos representantes negros, que são mais da metade da população brasileira, e temos apenas um indígena, Davi Kopenawa, como membro correspondente”.

Segundo ela, o problema da representatividade vem sendo atacado na graduação graças às ações afirmativas, que permitiram às universidades públicas se tornarem mais plurais. Entretanto, ainda é preciso garantir a permanência de alunos pertencentes a minorias sociais nesse ambiente. “As pessoas precisam se sustentar na graduação e infelizmente os valores das bolsas ainda não são suficientes”.

Helena Nader e Marcia Castro durante conversa na Universidade de Harvard

Em outro ponto, Márcia Castro questionou sobre como lideranças científicas podem lidar com a desinformação crescente. Para Nader, essa é uma questão não trivial sobre como é possível falar, de forma simples e direta, com a população. “A seca histórica que o Brasil vive, as enchentes que afetaram o sul brasileiro e que hoje afetam o estado da Georgia nos EUA, tudo isso aconteceu enquanto alguns negam as mudanças climáticas. É por isso que precisamos criar um canal de diálogo com as pessoas. Quando perguntamos ao público sobre o que é a ciência ou o nome de um cientista, muitos não sabem responder. Precisamos mostrar que seus celulares, seus remédios e quase tudo que usam é fruto da ciência”, respondeu.

Castro perguntou também sobre como foi liderar o S20, o grupo que reúne as academias nacionais de ciência do G20, para produzir recomendações aos chefes de Estado. “Em setembro, a Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou o Pacto para o Futuro, um acordo para que os países membros voltassem a cumprir um acordo anterior, a Agenda 2030. Estou cansada de acordos não cumpridos, o que você espera da Cúpula do G20 em novembro para que este não seja mais um?”, indagou.

Nader explicou que o S20 foi organizado em torno de cinco grupos de trabalho com os temas Inteligência Artificial, Bioeconomia, Transição Energética, Saúde e Justiça Social. O documento final foi aprovado por 19 dos 20 países do bloco.

“Espero que levem a justiça social em consideração, senão não iremos sobreviver. Quando falo em justiça social, há diversas ‘justiças’ para levar em consideração, como a climática. Se não fizermos nada com relação à temperatura, teremos migrações em massa e mais guerras surgirão. Nossos governos não estão prestando atenção no que a ciência diz”, lamentou a presidente da ABC.

Assista à conversa completa:

Estudando os ‘fagócitos profissionais’

A bióloga Larissa Dias da Cunha, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto e nova afiliada da Academia Brasileira de Ciências (ABC), sempre cultivou o gosto pela leitura e pelo aprendizado, e hoje é entusiasta da ideia de fazer ciência no Brasil, mesmo com todos os percalços e a gangorra no financiamento.

Nascida e criada em Brasília, Larissa é a mais velha das três filhas de Alice e Fernando. Apesar de adorar atividades ao ar livre, ela própria se descreve como uma “rata de biblioteca”, ambiente onde adquiriu o amor pelos livros que só cresce. A origem na capital federal é simbólico para alguém cuja família é composta por pessoas do norte ao sul do país, diversidade cultural que ela muito se orgulha e faz questão de destacar.

Mas apesar de ser bióloga, suas matérias favoritas na escola eram as que envolviam matemática, e não tinha aptidão especial pelas ciências da vida. Isso mudou apenas no ano do vestibular, graças às excursões que fazia com o colégio à Universidade de Brasília. “O pouco do que eu havia visto do Instituto de Ciências Biológicas e do trabalho dos pesquisadores me fascinou. Lembro-me particularmente de uma visita ao laboratório de Biologia Molecular e do entusiasmo ao sair de lá”, conta.

Após essa experiência, a jovem não teve dúvida e optou por ingressar no curso de Ciências Biológicas da UnB. Lá ela começou a fazer iniciação científica ainda no primeiro período, no Laboratório de Microscopia Eletrônica, após explorar as complexidades das células num microscópio de transmissão. “Uma simples estratégia didática, que era usada para estimular o interesse dos alunos ingressantes, despertou minha vontade de integrar o laboratório e explorar essa ferramenta incrível”, lembra.

Foi no laboratório onde Larissa conheceu sua primeira orientadora, a professora Sônia Nair Báo, a quem tem como referência. “O seu engajamento em manter um laboratório produtivo, seu suporte para que os alunos se envolvessem com a comunidade científica e seu comprometimento com o fortalecimento do setor acadêmico como política pública para o país influenciam até hoje a minha vontade de fazer ciência no Brasil”, afirma a cientista.

Sua trajetória na graduação a levou direto para o doutorado na Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, onde hoje é professora. Foi quando conheceu seu segundo orientador e outra referência na carreira, o professor Dario Zamboni. “O professor Zamboni sempre se preocupou em estimular seus orientandos a buscarem perguntas relevantes, e se dedicarem a encontrar respostas da melhor forma possível, sempre questionando nossos achados e não se contentando com conclusões parciais. Também me marcou seu comprometimento em nos oferecer as melhores oportunidades e seu entusiasmo por fazer pesquisa no Brasil”, descreve.

Após o doutorado, Larissa acumulou duas experiências de pós-doutorado, na USP e no St. Jude Children’s Research Hospital, nos Estados Unidos. Ao retornar para o Brasil, ingressou como professora na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, onde trabalha com os mecanismos de regulação e sinalização dos “fagócitos profissionais”, como macrófagos e células dendríticas, componentes do nosso sistema imunológico que reconhecem e capturam patógenos.

“Particularmente, o meu maior interesse é entender como os diferentes compartimentos intracelulares se comunicam no processo de montagem de uma resposta adequada por esses fagócitos profissionais. Uma aplicação dessa ciência é descobrir novos alvos farmacológicos para controlar o processo inflamatório, ou entender se alvos farmacológicos estabelecidos são de fato adequados”, explica.

Para a nova Acadêmica, nós somos o que pensamos e, por isso, o crescimento proporcionado por uma vida dedicada ao aprendizado e ao amadurecimento de ideias é o que a motiva todos os dias. “Na minha área, me encanta enxergar os fenômenos com técnicas incríveis, e compreender como a interação constante com diferentes organismos molda o que definimos biologicamente como ser humano”.

Ela segue apaixonada pela leitura, sobretudo de ficção contemporânea, e tomou gosto por pegar estrada para conhecer a diversidade enorme do Brasil, hábito que herdou dos pais. “Me sinto honrada com a titulação na ABC e espero participar das discussões para elaborar novas estratégias de atração de talentos para a ciência brasileira”, finaliza.

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