A bióloga Larissa Dias da Cunha, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto e nova afiliada da Academia Brasileira de Ciências (ABC), sempre cultivou o gosto pela leitura e pelo aprendizado, e hoje é entusiasta da ideia de fazer ciência no Brasil, mesmo com todos os percalços e a gangorra no financiamento.

Nascida e criada em Brasília, Larissa é a mais velha das três filhas de Alice e Fernando. Apesar de adorar atividades ao ar livre, ela própria se descreve como uma “rata de biblioteca”, ambiente onde adquiriu o amor pelos livros que só cresce. A origem na capital federal é simbólico para alguém cuja família é composta por pessoas do norte ao sul do país, diversidade cultural que ela muito se orgulha e faz questão de destacar.

Mas apesar de ser bióloga, suas matérias favoritas na escola eram as que envolviam matemática, e não tinha aptidão especial pelas ciências da vida. Isso mudou apenas no ano do vestibular, graças às excursões que fazia com o colégio à Universidade de Brasília. “O pouco do que eu havia visto do Instituto de Ciências Biológicas e do trabalho dos pesquisadores me fascinou. Lembro-me particularmente de uma visita ao laboratório de Biologia Molecular e do entusiasmo ao sair de lá”, conta.

Após essa experiência, a jovem não teve dúvida e optou por ingressar no curso de Ciências Biológicas da UnB. Lá ela começou a fazer iniciação científica ainda no primeiro período, no Laboratório de Microscopia Eletrônica, após explorar as complexidades das células num microscópio de transmissão. “Uma simples estratégia didática, que era usada para estimular o interesse dos alunos ingressantes, despertou minha vontade de integrar o laboratório e explorar essa ferramenta incrível”, lembra.

Foi no laboratório onde Larissa conheceu sua primeira orientadora, a professora Sônia Nair Báo, a quem tem como referência. “O seu engajamento em manter um laboratório produtivo, seu suporte para que os alunos se envolvessem com a comunidade científica e seu comprometimento com o fortalecimento do setor acadêmico como política pública para o país influenciam até hoje a minha vontade de fazer ciência no Brasil”, afirma a cientista.

Sua trajetória na graduação a levou direto para o doutorado na Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, onde hoje é professora. Foi quando conheceu seu segundo orientador e outra referência na carreira, o professor Dario Zamboni. “O professor Zamboni sempre se preocupou em estimular seus orientandos a buscarem perguntas relevantes, e se dedicarem a encontrar respostas da melhor forma possível, sempre questionando nossos achados e não se contentando com conclusões parciais. Também me marcou seu comprometimento em nos oferecer as melhores oportunidades e seu entusiasmo por fazer pesquisa no Brasil”, descreve.

Após o doutorado, Larissa acumulou duas experiências de pós-doutorado, na USP e no St. Jude Children’s Research Hospital, nos Estados Unidos. Ao retornar para o Brasil, ingressou como professora na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, onde trabalha com os mecanismos de regulação e sinalização dos “fagócitos profissionais”, como macrófagos e células dendríticas, componentes do nosso sistema imunológico que reconhecem e capturam patógenos.

“Particularmente, o meu maior interesse é entender como os diferentes compartimentos intracelulares se comunicam no processo de montagem de uma resposta adequada por esses fagócitos profissionais. Uma aplicação dessa ciência é descobrir novos alvos farmacológicos para controlar o processo inflamatório, ou entender se alvos farmacológicos estabelecidos são de fato adequados”, explica.

Para a nova Acadêmica, nós somos o que pensamos e, por isso, o crescimento proporcionado por uma vida dedicada ao aprendizado e ao amadurecimento de ideias é o que a motiva todos os dias. “Na minha área, me encanta enxergar os fenômenos com técnicas incríveis, e compreender como a interação constante com diferentes organismos molda o que definimos biologicamente como ser humano”.

Ela segue apaixonada pela leitura, sobretudo de ficção contemporânea, e tomou gosto por pegar estrada para conhecer a diversidade enorme do Brasil, hábito que herdou dos pais. “Me sinto honrada com a titulação na ABC e espero participar das discussões para elaborar novas estratégias de atração de talentos para a ciência brasileira”, finaliza.