pt_BR

Pesquisadores debatem a responsabilidade social da ciência no 43º Webinário da ABC

Os participantes do 43º Webinário da ABC: Elisa Reis, Marta Arretche, Fernanda Sobral e Fabio W. Reis.

Os Webinários da ABC chegaram a sua 43ª edição, desta vez, trazendo a própria ciência e o seu papel na sociedade como tema. No dia 17 de agosto, três grandes pesquisadores da área das ciências sociais conversaram sobre “Liberdade e responsabilidade social da ciência”: Marta Arretche, professora titular do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP); Fabio Wanderley Reis, professor emérito da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); e Fernanda Sobral, vice-presidente da SBPC (biênios 2018-20 e 2021-23) e professora emérita do Programa de Pós-graduação em Sociologia da Universidade de Brasília (UnB/SBPC). As apresentações foram mediadas por Luiz Davidovich, presidente da ABC, e a Acadêmica Elisa Reis, vice-presidente do International Science Council (ISC).

O papel da ciência nas escolhas coletivas

Para Marta Arretche, a liberdade é uma condição indispensável para o exercício da ciência e para a produção de conhecimento científico. Contudo, essa liberdade não é política; ela se relaciona diretamente com a incerteza que deve caracterizar os resultados de um trabalho científico e deve ser aplicada a qualquer disciplina. “A incerteza dos resultados é uma condição para o trabalho científico e, nesse sentido, ela só pode ocorrer se houver liberdade”, defendeu a professora da USP.

A responsabilidade social dos cientistas, de acordo com Arretche, está muito associada à capacidade da ciência de afetar comportamentos e escolhas coletivas, sendo crucial em áreas como economia, filosofia política e sociologia. As descobertas científicas conformam as interpretações sobre o mundo e determinam escolhas comportamentais e sociais.

Até mesmo os tomadores de decisões, saibam eles ou não, estão informados por conhecimento científico. Como exemplo, a pesquisadora mencionou o Plano Biden e a recente reforma tributária brasileira, que são a expressão de mudanças importantes na teoria da tributação ótima. Segundo Arretche, antes das novas alterações havia uma percepção dominante de que taxar os mais ricos e as rendas do capital desestimularia a produtividade e a atividade econômica, afetando, assim, a economia e o nível geral de riqueza. 

No entanto, a livre expressão do conhecimento científico pode estar em conflito com a responsabilidade social dos cientistas. “Não é nada pessoal, mas sim efeitos sociais da difusão do conhecimento. Cientistas podem antecipar o efeito das suas descobertas e se confrontar com problemas de natureza ética”, explicou Arretche. Certas informações, quando compartilhadas com a sociedade sem a garantia de sua completa veracidade, podem gerar mal estar e causar opiniões controversas.. 

Nas ciências sociais, a situação torna-se ainda mais imprevisível: frequentemente não há clareza na distinção entre “boas” e “más” ideias sem que elas estejam em prática. Segundo Arretche, “os  sistemas sociais são altamente complexos e englobam o resultado de fatores que se encontram no tempo e interagem mutuamente, mas tem um desenvolvimento independente.” Políticas adotadas com base no conhecimento científico frequentemente tem consequências imprevistas, já que um pequeno detalhe na concepção da ideia pode mudar seus desdobramentos.

Arretche defendeu que o esperado é que sejam analisadas quais descobertas devem ser divulgadas para o público e quais devem ser reservadas para consumo interno. “O nosso conhecimento é tentativo, altamente probabilístico. Nós não somos menos responsáveis pelo conhecimento que produzimos, mas devemos ser muito mais humildes nas nossas afirmações, porque nós não temos como saber, antecipadamente, qual será o resultado de determinadas escolhas que defendemos”, concluiu a pesquisadora.

O papel da ciência crítica

A apresentação de Fabio Wanderley Reis foi concentrada na experiência brasileira sobre a responsabilidade social da ciência, que está lidando com uma forte oposição do governo à produção científica. 

Segundo o pesquisador, não há como examinar o compromisso da ciência senão com ênfase na produção de conhecimento. Os agentes sociais e políticos utilizam o conhecimento produzido para o bem ou para o mal – categoria que se estende de bombas atômicas até vacinas. “Os cientistas podem ter motivações sociais e políticas que os inspirem durante a pesquisa. No entanto, o mau uso da ciência não é responsabilidade deles”, destacou Reis.

Ele mencionou dois tópicos importantes: o primeiro deles é o caráter social da própria ciência, uma dinâmica que independe da imersão da ciência na própria sociedade. O segundo é o desdobramento sociopolítico desse caráter da ciência e como ele influencia a tomada de decisões, o surgimento de novas leis, entre outros. Para que isso ocorra, é indispensável que haja interação entre as diferentes áreas do conhecimento. Reis defendeu a pluralidade de pontos de vista – “fundamental para a interdisciplinaridade operar”, em suas palavras – como catalisadora de efeitos sadios na ciência, como a autonomia pessoal, a economia racional, a solidariedade e a democracia.

“A ciência social tem que ser uma ciência social crítica”, assinalou o professor emérito ao fim de sua apresentação.

A Constituição, o atual governo e a ciência nacional

A vice-presidente da SBPC, Fernanda Sobral, orientou  sua apresentação com base nos conceitos de liberdade e autonomia científica presentes na Constituição de 1988 e nos atos atentatórios do atual governo a essa liberdade.

Sobral destacou trechos constitucionais que conferem direitos à ciência, aos pesquisadores e às instituições de ensino superior. O Artigo 206, por exemplo, defende o ensino com base na liberdade de aprender, pensar, divulgação do pensamento e o pluralismo de ideias. Entre outras garantias constitucionais, estão a autonomia didático-científica das universidades. De acordo com o GT de Direitos Humanos e com o Observatório Pesquisa, Ciência e Liberdade da SBPC, esses direitos estão sendo ameaçados, uma vez que o governo federal vem perseguindo e censurando pesquisadores cujos objetos de pesquisa são considerados prejudiciais ao atual governo. Ela citou Pedro Rodrigues Hallal (membro afiliado da ABC eleito para o período 2008-2013), criador de uma das mais importantes iniciativas de monitoramento da pandemia, o Epicovid, como um dos exemplos

“Nossa Constituição, mesmo com todos os problemas, foi elaborada no espírito da democracia. Nesse momento, estamos tendo nossa democracia rasurada pela ruptura do pacto constitucional e a captura do conceito de liberdade pelas políticas liberais extremas”, explicou Sobral.

A instituição de pesquisa, ao produzir conhecimento, pode fazer escolhas do futuro a partir das fronteiras do conhecimento ou por necessidades emergentes – como foi no caso do zika vírus, dos derramamentos de petróleo no mar e, mais recentemente, no surgimento da COVID-19.

Sobral endossou a fala anterior de Fabio Reis, afirmando que é necessário que haja uma ciência social crítica: “A universidade não pode ser capturada por interesses sociais, econômicos e político-identitários particulares.” A partir dessa ideia, é possível afirmar que a autonomia científica está na afirmação de que esses interesses não devam atingir os procedimentos de pesquisa e o rigor metodológico, nem a conclusão de seus resultados.  Mas os temas das pesquisas podem refletir e contribuir para  as necessidades do  país, não de  interesses de um grupo específico. “A autonomia não significa distanciamento das responsabilidades econômicas e sociais do país”, ressaltou. 

A autonomia reflexiva considera o entrosamento entre ciência e sociedade – uma relação que muitos autores consideram indispensável no mundo atual. “É necessário que a ciência consiga falar para a sociedade e esta falar para a ciência”, defendeu a pesquisadora. 

Sobral avalia que, diante dessa discussão, ela apontaria para um modo misto de produção científica e tecnológica onde estejam incluídas a ciência básica, a pesquisa aplicada, a inovação tecnológica, a demanda espontânea e induzida, a comunidade científica e outros atores sociais como o governo,as organizações não governamentais e o setor produtivo..

“Os pesquisadores podem construir caminhos de atualização sem perder totalmente suas tradições, contribuindo para a evolução do conhecimento e solucionando problemas econômicos e sociais”, afirmou. Para que esse objetivo seja alcançado, Sobral ressaltou que é fundamental que haja interação entre diferentes  instituições e diferentes  disciplinas, apontando a importância de uma integração entre as ciências.

DEBATE

Controvérsias que movem a ciência social

“Muitos cientistas sociais emitem seus comentários sobre o mesmo assunto de forma adversa e até omitindo informes verdadeiros, fugindo à verdade. Isso depende de quem fala ou é uma questão ética?”, perguntou uma internauta para Marta Arretche. A pesquisadora argumentou que o problema da verdade na ciência social é “tremendamente complexo”, uma vez que há interpretações distintas sobre determinados fatos sociais que são passíveis de discordância. Dentro desse tipo de ciência, fatos tornam-se objeto de controvérsias e divergências. “A dinâmica própria de interpretações da área social é por meio de controvérsias”, esclareceu a professora. “Às vezes achamos que as pessoas não estão produzindo conhecimento, mas só não concordamos com ela. E isso faz parte do debate.”

Outro internauta questionou a cientista sobre se os princípios da necessidade da humildade do cientista social ainda são válidos em tempos como os atuais, especialmente no Brasil. para ela, apesar de os cientistas estarem enfrentando acusações e suspeitas vindos de entidades negacionistas, a humildade deve prevalecer. Segundo a professora da USP, é um momento desafiante para a ciência social no Brasil. Contudo, mesmo nos governos não-negacionistas, sempre houve conflitos, próprios da relação do mundo científico com o social. “Desafios sempre nos são impostos, mas atualmente nossa missão é de resistência e sobrevivência. Espero que em breve possamos exercer nossa função social livremente”, declarou Arretche.

Novas tecnologias e questões globais

Luiz Davidovich levantou uma pauta bem atual sobre o controle de questões globais – que incluem aquecimento global – e a  manipulação de novas tecnologias – como inteligência artificial e modificação de genomas. Nas mãos de quem estarão essas tecnologias e como a humanidade poderá controlá-la?

Para Fabio Reis, não há formas de atacar o problema sem que haja uma instituição para agir com eficácia. “No Brasil, não há um governo apto para ponderar e tomar medidas. Isso é um desafio enorme”, categorizou. Ainda segundo o professor, não é possível fornecer, a priori, uma resposta firme sobre o tópico. Arretche concordou e complementou, alegando que não é possível saber qual será o uso futuro de determinado conhecimento construído, já que ele pode ser usado para finalidades boas e ruins. No entanto, o uso precisa ser objeto de regulação pública, com a existência de órgãos com autoridade para decidir quem irá manipular o material e quais serão os procedimentos. Essa regulação precisa ser analisada por diferentes instituições, já que “boas decisões passam sempre por mais de uma esfera.” Elisa Reis definiu a situação como um problema transdisciplinar, fruto de um debate que destaca a importância dos agentes públicos. 

É possível equiparar a responsabilidade social da ciência social com a da ciência biológica?

Fernanda Sobral respondeu a essa pergunta ressaltando que os cientistas sociais possuem maiores dificuldades, o que não significa que eles não possuem um rigor científico ou procedimento metodológico. “Apenas não temos variáveis X e Y como outras ciências têm”, explicou. 

Fabio Reis completou a fala dela, alegando que, diferentemente das ciências naturais e exatas, a ciência social não possui condição de produzir um efeito imediato semelhante ao efeito de uma tecnologia nova ou alguma descoberta sobre tratamento de doenças. “Nos atentamos mais aos aspectos causais da dinâmica que a gente vive. Tem uma força que escapa definitivamente do nosso controle.”

Elisa Reis realizou alguns comentários finais, destacando que as diversas áreas científicas compartilham do mesmo universo e, por isso, precisam estabelecer parcerias. “No fundo, a ciência é uma só. Claro que valorizamos cada área e suas especificidades. Mas quando pensamos nos problemas que se colocam de forma mais proeminente, todos pressupõem que as ciências atuarão conjuntamente”.  Já quanto à ciência crítica, tão mencionada ao longo do debate, a Acadêmica observo que quando a crítica provém do próprio sistema científico, acaba delimitando o espaço da ciência social. 

Elisa Reis fez alguns comentários finais, destacando que liberdade e responsabilidade são requisitos compartilhados por todas as áreas do conhecimento científico. Observou também que os grandes problemas que a humanidade enfrenta no momento evidenciam claramente que as soluções buscadas não podem prescindir da colaboração muito mais estreita entre as diversas disciplinas do que estamos acostumados. Isto não quer dizer que não continuemos a respeitar e valorizar as especializações disciplinares; no entanto, salientou, é preciso reconhecer que quando pensamos nos problemas proeminentes que o planeta enfrenta, como aquecimento global, impacto da tecnologia no perfil da demanda de trabalho, ou combate à pandemia, é necessário reconhecer que as diversas ciências precisam atuar conjuntamente. Já quanto à atividade crítica, tão mencionada ao longo do debate, a Acadêmica observou que o exercício da crítica é algo constitutivo do próprio modo de ser das ciências sociais enquanto ciências autorreflexivas.

Luiz Davidovich encerrou o webinário afirmando que essa edição, em especial, estimulou algo que é muito importante para uma Academia de Ciências: o pensamento. “Esse pensamento é sobre o mundo, o país, o futuro e o ser”. Para o presidente da ABC, está faltando pensamento no Brasil, que não tem projeto consistente para o futuro. “Estamos andando aos tropeços. Se a ABC puder ser um dos centros de pensamento sobre isso, estaremos prestando um serviço à sociedade. Isso é muito importante para nos orientar nesse mundo que está cada vez mais complexo.”

Assista ao webinário completo aqui.

Webinários da ABC: Liberdade e Responsabilidade Social da Ciência

Webinários da ABC | Ed.43
LIBERDADE E RESPONSABILIDADE SOCIAL DA CIÊNCIA
17 de agosto, 3ª feira, 16h (GMT-3) 

Liberdade e responsabilidade são princípios básicos de todas as ciências. Para florescer e atender a parâmetros éticos é fundamental que elas se pautem por tais princípios.

No caso das ciências sociais, o fato de que os pesquisadores sejam também parte do objeto de estudo torna a imputação de responsabilidade extremamente complicada, mas não dispensa avaliação ética com base em princípios normativos.

Embora seja mais fácil perceber as ameaças que se colocam à liberdade das ciências sociais, todas as ciências podem enfrentar obstáculos desta natureza ao confrontar interesses específicos de natureza econômica, política ou cultural. 

Para discutir estas questões, a Academia Brasileira de Ciências convidou: 

Marta Arretche, Fábio Wanderley Reis e Fernanda Sobral

 

  • Marta Arretche (USP)

Professora titular do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo. Publicou, entre outros livros, “A Política das Políticas” (com Eduardo Marques e Carlos Aurelio Faria, 2019); “Inequality and Governance in the Metropolis” (com Jeffrey Sellers, Daniel Kubler e Eran Razin, 2017); “Trajetórias das Desigualdades: como o Brasil mudou nos últimos 50 anos” (2015); e “Democracia, Federalismo e Centralização no Brasil” (2013).  

  • Fabio Wanderley Reis (UFMG)

Professor emérito da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais. Entre numerosas publicações no país e no exterior, recebeu da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs) o prêmio de “Melhor Obra Científica” (1985) pelo livro “Política e Racionalidade”. Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico.

  • Fernanda Sobral (UnB/SBPC)

Vice-presidente da SBPC (biênios 2018-20 e 2021-23). É colaboradora sênior do Programa de Pós- graduação em Sociologia da Universidade de Brasília. É membro do Conselho da Associação Brasileira de Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias (Esocite). Tem pesquisas e publicações nos seguintes temas: educação, tecnologia, ciência, universidade e pesquisa.

Os moderadores serão o presidente da ABC, Luiz Davidovich, e a Acadêmica Elisa Reis (UFRJ), vice-presidente do  International Science Council (ISC).  


INSCREVA-SE EM https://bit.ly/abcwebinario43

ASSISTA EM WWW.ABC.ORG.BR/TRANSMISSAO

Brasil e as Mudanças Climáticas: Novo Relatório do IPCC

Webinários da ABC | Ed. 42
BRASIL E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS: NOVO RELATÓRIO DO IPCC
10 de agosto, 3ª feira, de 10h às 12h (atenção ao horário!)

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) foi criado pela ONU com o objetivo de fornecer aos formuladores de políticas avaliações científicas regulares sobre as mudanças climáticas, suas implicações e potenciais riscos futuros, bem como apresentar opções de adaptação e mitigação. O próximo relatório do IPCC abordará as bases físicas das mudanças do clima e dará a direção científica da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-26), que acontecerá em novembro.

Neste webinário serão apresentadas as principais conclusões do Grupo de Trabalho I (WGI) do 6º Relatório de Avaliação do IPCC (AR6), responsável pelo novo documento. O debate vai envolver o estado atual do clima, a influência humana nas mudanças climáticas, o estado de conhecimento sobre possíveis cenários futuros de clima, incluindo mudanças no nível do mar e extremos climáticos, e informações climáticas relevantes para regiões e setores, com base no estado-da arte-do entendimento científico sobre o sistema climático e o seu funcionamento.

Conheça os palestrantes:

Paulo Artaxo, José Marengo, Lincoln Alves e Thelma Krug
  • Paulo Artaxo (USP)

Professor de física da Universidade de São Paulo (USP). Membro do IPCC, da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Academia Mundial de Ciências (TWAS). É vice-presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp) e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

  • José Marengo (Cemaden)

Pesquisador sênior do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), participante dos Relatórios do IPCC desde o 2º Relatório de Avaliação, review editor do Capítulo 3 do Grupo de Trabalho I (WGI) do IPCC AR6. Líder do INCT para Mudanças Climáticas Fase 2. É membro da ABC, da TWAS e da Aciesp.

  • Lincoln Alves (Inpe)

Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), onde atua na geração e fornecimento de informações técnico-científicas para orientar políticas públicas de adaptação às mudanças ambientais. Autor líder do Grupo de Trabalho I (WGI) do 6º Relatório de Avaliação (AR6) do IPCC. Participa de diversos projetos nacionais e internacionais.

  • Thelma Krug (IPCC)

Doutora em estatística espacial pela Universidade de Sheffield (Reino Unido). Pesquisadora titular aposentada do Inpe, onde foi coordenadora da área de Observação da Terra. Foi secretária nacional de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental e diretora do Departamento de Políticas para Combate ao Desmatamento do Ministério do Meio Ambiente (MMA). É vice-presidente do IPCC desde 2015.

O mediador do evento será o presidente da ABC, Luiz Davidovich (UFRJ). 

INSCREVA-SE AQUI

ASSISTA EM WWW.ABC.ORG.BR/TRANSMISSAO

Agricultura: Gerando Riqueza Com Base No Conhecimento

Webinários da ABC | Ed.41
AGRICULTURA: GERANDO RIQUEZA COM BASE NO CONHECIMENTO

Dia 3/8, 3ª f, 16h (GMT-3)

A agricultura de hoje constitui importante matriz para a geração de riqueza, com base no conhecimento, e responde por percentagem significativa do produto interno bruto.

Ao mesmo tempo em que a produção e a demanda por alimentos crescem, os conflitos entre produção e meio ambiente, o surgimento de pandemias animais, disseminação de pragas e doenças na produção agrícola e novas exigências de qualidade alimentar pelos consumidores definem uma agenda intensa para a ciência e tecnologia.

O Brasil é um país de megabiodiversidade. O uso sustentável e apropriado  da biodiversidade pode intensificar o sucesso do agronegócio e protagonismo do Brasil no mundo no que se refere à a segurança alimentar.

Para conversar sobre questões inerentes ao tema, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) convidou:

 

Alysson Paolinelli, Murilo Flores e Roberto Rodrigues

 

  • Alysson Paolinelli

Presidente executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho) e do Fórum do Futuro, criado em 2014. Agrônomo pela Escola Superior de Agronomia de Lavras (Esal), atual Universidade Federal de Lavras (UFLA). Foi secretário de Agricultura de Minas Gerais (DATA) e ministro da Agricultura (DATA). Foi agraciado com o World Food Prize 2006, prêmio que equivale ao Nobel da Alimentação.

  • Roberto Rodrigues

Engenheiro agrônomo formado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP). Coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGVAgro/EESP) e embaixador especial da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) para as Cooperativas. Foi secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento de São Paulo (1993-1994) e ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2003-2006).

  • Murilo Flores

Ex-presidente da Embrapa (1990-1995) e da Empresa de Pesquisa e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri, 2007-2009), entre outros cargos de responsabilidade nos governos federais e estaduais. Engenheiro agrônomo pela Universidade de Brasília (UnB), mestre em economia rural pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e doutor em sociologia política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Os moderadores serão o presidente da ABC, Luiz Davidovich, e o Acadêmico e diretor da ABC Elibio Rech (Embrapa).

 


INSCREVA-SE AQUI

ASSISTA EM www.abc.org.br/transmissao

Acadêmicos debatem biologia e recursos naturais no 6º Simpósio Científico da ABC

Os participantes do 6º Simpósio Científico dos Membros Afiliados da ABC 2020-2021: Adriana Ribeiro Carneiro Folador, Thaísa Sala Michelan, Renato Tavares, Juliana Hipólito, João Paulo Bassin, Denise Brentan da Silva, Fernanda Werneck, Adalberto Val, Pedro Lage Viana, Daiana Ávila

 

Os membros afiliados da Academia Brasileira de Ciências (ABC) são eleitos anualmente por região e tomam posse automaticamente no dia 1º de janeiro do ano seguinte à eleição. Os eleitos em 2020 e 2021 foram recepcionados conjuntamente em cerimônia online realizada em 3 de maio de 2021 e apresentarão suas contribuições à ciência em 12 simpósios ao longo do ano. A agenda completa dos simpósios científicos virtuais pode ser conferida aqui.

O 6º Simpósio Científico dos Membros Afiliados da ABC 2020-2021 foi realizado no dia 27 de julho, reunindo sete jovens cientistas para apresentar suas pesquisas, relacionadas à área de biologia e recursos naturais. O evento foi coordenado por Adalberto Val (Inpa), vice-presidente da ABC para a Região Norte.

Helena Nader abriu o evento, destacando o lado bom das realizações desses encontros online, que têm promovido a interação entre os Acadêmicos de todas as regiões – antes da pandemia, os encontros ocorriam por região – e também a participação do público em nível nacional.

Adalberto Val afirmou que é emocionante poder relembrar seus mais de 40 anos de trajetória e hoje poder acompanhar jovens cientistas competentes, empenhados em mostrar a força da ciência brasileira. “Apesar dos tempos difíceis que o Brasil vive, tanto na área sanitária, quanto na área política, a garra desses pesquisadores não se deixou abater”, destacou Val. Em seguida, ele introduziu os novos Acadêmicos.

Conheça os membros afiliados que se apresentaram na ocasião:

Enfrentando os desafios da biomedicina em prol da sociedade

Adriana Ribeiro Carneiro Folador, da Universidade Federal do Pará, estuda a resistência das bactérias aos antibióticos e a relação entre patógenos e hospedeiros.

Os desafios das ciências farmacêuticas

Pesquisadora da UFMS, Denise Brentan da Silva atua na área da química de produtos naturais, na determinação de componentes bioativos de nossa biodiversidade

Em busca de um planeta mais limpo e sustentável

O principal objetivo das pesquisas do engenheiro químico João Paulo Bassin é inovar no tratamento de águas residuais e na geração de energia a partir de resíduos sólidos orgânicos.

Os benefícios da polinização para muito além da agricultura

A pesquisadora do Inpa Juliana Hipólito busca compreender quais são os fatores que aumentam as populações naturais de polinizadores e qual sua importância para a nossa sociedade.

Focando na diversidade da flora amazônica

Pedro Viana é taxonomista de plantas, ou seja, estuda a classificação biológica desses seres “espetaculares”, em suas palavras.  

Compreendendo os mistérios da natureza

O pesquisador mineiro Renato Martins se encontrou no Amazonas, onde dedica a tentar compreender como a natureza funciona, principalmente os ambientes aquáticos.

Ressaltando a importância da pesquisa da região Norte e das mulheres cientistas para o país

Thaísa Sala Michelan é professora da UFPA e dedica seus estudos à conservação de plantas aquáticas e aos impactos da introdução de novas espécies de plantas nas margens dos rios. 

 

Debate

As debatedoras Daiana Ávila e Fernanda Werneck deram início à interação. Fernanda Werneck comentou que as pesquisas apresentadas se comunicavam e que o evento estava bem alinhado. Ela direcionou sua pergunta a Pedro Lage Viana, sobre o desafio de tentar entender melhor a distribuição dos organismos na Amazônia durante os tempos atuais. Observou que mesmo em relação às plantas, que são estruturas sobre as quais há muito mais conhecimento do que outras – como insetos, por exemplos –, ainda há grandes vazios e pouco conhecimento em muitas regiões do Amazonas. A pesquisadora questionou se, diante de toda a emergência que estamos enfrentando na questão ambiental, não seria possível avançar mais rapidamente na caracterização da biodiversidade através de tecnologia de ponta ou se é necessário conhecermos regiões específicas para o conhecimento avançar mais rápido. 

Viana respondeu que a velocidade de conhecimento gerada com as ferramentas clássicas é bem lenta, e que esse é o momento de lançar mão de ferramentas modernas para acelerar diagnósticos. “Paradigmas têm que ser quebrados para a gente tentar acelerar o conhecimento da nossa biodiversidade, principalmente na Amazônia”, destacou o afiliado. Ele acrescentou que, especialmente na área de botânica, tecnologias como o sensoriamento remoto até podem trazer caracterizações interessantes, mas não de nível taxonômico. “Para mapeamento de eventos ecológicos e erosão de solo pode ter alguma utilidade, mas em tecnologias para acelerar o conhecimento e o diagnóstico da nossa riqueza, o que temos mais próximo são as ferramentas moleculares, que poderiam eventualmente tentar entender a diversidade genética”, informou.

Novos caminhos para contemplar os resultados obtidos

Adriana Folador foi questionada sobre se seu grupo de pesquisa realizou análises metabolômicas (estudo científico que visa identificar e quantificar o conjunto de metabólitos – produtos do metabolismo de uma determinada molécula ou substância – produzidos e/ou modificados por um organismo) tanto da água, quanto dos isolados, para ver o que está sendo produzido.  Folador respondeu que essas análises não foram feitas; no entanto, seriam muito interessantes e complementariam todos os resultados obtidos, tanto nos isolados, quanto nos dados de metagenômica. “É uma outra parte que estamos tentando inserir no estudo, principalmente nos mananciais da região metropolitana de Belém, que englobam, inclusive, as bacias secundárias.”

João Paulo Bassin foi questionado acerca das análises feitas para constatar a presença de contaminantes, como pesticidas e fármacos, nas águas residuais. Segundo ele, os poluentes podem estar sendo absorvidos junto com a fração sólida do tratamento biológico. “Ou seja, se você se preocupar somente com o líquido, o sólido pode carregar esses componentes. Muitas vezes é importante avaliar os poluentes tanto na fase líquida, da forma como serão despejados no manancial mais próximo, e também levar em consideração o teor desses contaminantes na fase sólida, porque a fase sólida possivelmente irá para aterros.”. Ele completou a resposta, afirmando que o objetivo primordial do tratamento biológico com microrganismos é converter substâncias tóxicas em compostos mais amigáveis para o meio ambiente, mineralizando os compostos em gás carbônico ou água.

A importância dos polinizadores

Denise Brentan foi questionada sobre qual seria o prejuízo do desaparecimento de abelhas em alguns países e quais as justificativas para a extinção desses insetos. Segundo ela, um dos grandes problemas do desaparecimento está na queda da polinização, que afeta diretamente a produção de alimentos. A degradação ambiental pela agropecuária e pelas lavouras, além do uso excessivo de agrotóxicos, justifica a alta mortalidade de abelhas. A cientista ressaltou que os agrotóxicos também trazem consequências para outros organismos, como os dos seres humanos.

A Acadêmica ressaltou que uma região que é pouco conhecida e já muito fragmentada é a região do Chaco, similar a Caatingaque vêm perdendo muita informação por conta do avanço da degradação no local. Brentan defende que a solução está no alinhamento entre políticas públicas e ciências: “Precisamos pensar estratégias biológicas mais efetivas, em vez de derramar pesticidas sem critérios.”

Ainda na temática dos insetos polinizadores, Juliana Hipólito foi questionada sobre a existência de indícios de adaptação por parte das abelhas para lidar com toxicologia e perda de diversidade devido a contaminantes antrópicos. A pesquisadora comentou a perda das colônias e a significativa taxa de mortalidade das abelhas, principalmente das que não possuem ferrão, mais suscetíveis ao efeito dos químicos. Boa parte dessas espécies sensíveis são nativas. Já as abelhas africanas, introduzidas em várias partes do mundo por terem capacidade de manejo mais simples, reprodução mais fácil e alto índice de polinização nas flores, são consideradas mais resistentes.

Como os resultados das pesquisas científicas podem ser utilizados nas políticas públicas

 Na posição de coordenador do evento, Adalberto Val direcionou a pergunta sobre “como usar os resultados desses tipos de trabalho sobre impactos ambientais diagnosticados para a elaboração de leis efetivas para a defesa do ‘ente’ natureza” para a Acadêmica Thaísa Michelan. Val destacou as questões do direito ecológico: “Cada vez mais é importante que a gente ressalte a função da ciência, fazer com que os resultados científicos se incluam nos processos decisórios e de disciplinamento para a sociedade de maneira geral.”

Thaísa Michelan afirmou que é momento de tentar aproximar a ciência da população e fazer com que os resultados das pesquisas cheguem aos tomadores de decisão. “Estamos em um processo de tentar fazer com que esses resultados sejam efetivamente colocados em execução. É necessário alinharmos nossa habilidade em fazer pesquisa com a capacidade de tornar nossos resultados mais palatáveis, para os tomadores de decisão conseguirem compreender.”

Fernanda Werneck complementou a fala de Michelan, afirmando a importância em sensibilizar o poder público de que não apenas a pesquisa aplicada é importante de forma geral. Para isso, ela mencionou a questão do conceito one health: “A saúde não precisa depender de um fármaco, um químico, mas a sobrevivência dos biomas deveria ser fundamental para as decisões públicas”, afirmou. “As pessoas estão muito afastadas do meio cientifico, tornando cada vez mais difícil para nós quebrarmos essa barreira. E isso me preocupa muito nas atuais circunstancias da ciência, tecnologia e inovação. Parece que se o resultado da pesquisa pura não é um produto, não tem valor. É essencial tentarmos mostrar valor, ainda que não seja associado a produtos. A ciência básica é fundamental por si só.” A Acadêmica, que está em seu último ano de afiliação, também apresentou o conceito de transtorno de déficit de natureza, pensado pelo escritor Richard Louv para chamar a atenção para o conjunto de problemas físicos e mentais derivados de uma vida desconectada do mundo natural.

A última questão colocada foi direcionada a Renato Martins, sobre como os resultados dos diversos estudos de modificação ambiental por ação antrópica interferem no processo de evolução dos organismos. Ele citou a eliminação dos organismos que são sensíveis àquele impacto e a permanência dos mais resistentes e com capacidade adaptativa como principais consequências.

Adalberto Val encerrou o webinário encorajando os novos afiliados a aproveitarem ao máximo o período de cinco anos na ABC. “Essa viagem está só começando, de novo”, disse. O Acadêmico  comentou que o melhorda ciência, a seu ver, não é responder toda pergunta que é feita, mas deixar ainda um vasto número de perguntas para serem respondidas. “Precisamos usar o que sabemos nesse momento. E amanhã, se descobrirmos uma coisa adicional, falaremos sobre isso também.” Emocionado, Val disse que é muito importante ver que há um grande número de jovens cientistas dispostos a construir um futuro forte para nossa nação. “No fim das contas, o importante é continuarmos a fazer ciência bem feita.”

Webinário “Desafios do conhecimento na transformação para um mundo melhor”

Nesta quinta-feira (22/7) acontecerá mais uma edição da série de webinários “Desafios do conhecimento na transformação para um mundo melhor”, organizados pelo Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (IEAT) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O evento contará com a participação do presidente da Academia Brasileira de Ciências Luiz Davidovich, além dos Acadêmicos Paulo Sérgio Lacerda Beirão e Francisco César Sá Barreto e terá como tema o “Futuro da Ciência / Educação Superior”

A iniciativa do IEAT reúne pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento para discutir os principais desafios enfrentados pela sociedade em um cenário de crises. Os webinários acontecem toda quinta-feira, às 19:00 e são transmitidos pelo canal do IEAT no YouTube

 

Confira todos os participantes desta edição: 

Alfredo Gontijo de Oliveira – UFMG 

Luiz Davidovich – UFRJ 

Paulo Sérgio Lacerda Beirão – FAPEMIG  

Estevam Las Casas – UFMG  

Patrícia Franca-Huchet – UFMG  

Francisco César Sá Barreto – UFMG 

 

Assista aqui o Webinário “Futuro da Ciência / Educação Superior” 

Webinários da ABC: Ciência Oceânica

Webinários da ABC | Ed.40
ENDOSSO DA ABC À DÉCADA DA CIÊNCIA OCEÂNICA
Dia 20 de julho, 3ª f, 16h

A ação humana continua a perturbar o oceano. Acúmulo de nutrientes, poluentes, óleo e plástico desestabilizam processos ecológicos, somado à exploração predatória dos recursos naturais marinhos,  ameaçando a economia e a saúde pública. O cenário é agravado pelo aquecimento global. Um os principais objetivos da Década da Ciência Oceânica é aumentar significativamente nossa capacidade de observação do Oceano, permitindo estabelecer controles rigorosos para sua gestão. O Brasil, com sua imensa área marinha, uma Amazônia Azul  é parte fundamental deste esforço global. Será que estaremos a altura desse papel e contribuir para reverter a situação?

Para responder a essas e outras perguntas, a Academia Brasileira de Ciências convidou:

 

Edmo Campos, Ilques Barbosa e Luiz Drude

 

  • Edmo José Dias Campos (USP)
    “Será que o aquecimento global é reversível ou já atingimos um ponto sem retorno?

Professor emérito do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP). Pesquisador associado do Atlantic Oceanographic and Meteorological Laboratory (AOML) da NOAA, em Miami, e professor visitante da Universidade Americana de Sharjah, nos Emirados Árabes Unidos. É membro dos Comitês Executivos da International Association for the Physical Sciences of the Ocean (IAPSO) e do South Atlantic Meridional Overturning Circulation (SAMOC). Coordena o Programa SAMOC-BR, com apoio da Fapesp, desde 2008. É membro dos Comitês Científicos dos programas internacionais Go-SHIP e OceanSITES. Membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp) e da sociedade honorífica internacional Sigma XI.

  • Almirante Ilques Barbosa
    “A importância da Amazônia Azul para a sobrevivência e prosperidade do Brasil”

Almirante de Esquadra. Em uma longa carreira na Marinha do Brasil, teve a oportunidade de ser o Comandante da Marinha, entre janeiro de 2019 até o último dia 9 de abril; foi, entre outros cargos, Comandante do Navio-Escola Brasil, Comandante do Controle Naval do Tráfego Marítimo, Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação, Diretor de Portos e Costas, Diretor-Geral do Pessoal e Chefe do Estado-Maior da Armada. Entre as várias condecorações nacionais e internacionais, recebeu a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, da Presidência da República.

  • Luiz Drude de Lacerda (UFC)
    “Contaminação dos oceanos e aquecimento global: ameaça à economia e a saúde pública”

Professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), desenvolve pesquisas na área de biogeoquímica e contaminação ambiental. É membro titular da Academia Brasileira de Ciências e desde 2016 faz parte de seu Conselho Consultivo. Membro da Academia Mundial de Ciências (TWAS). Em 2011 recebeu o Prêmio Bunge, na categoria Vida e Obra na área de Oceanografia. Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico. Em 2019 foi nomeado membro da Future Earth Coasts Academy (FEC Academy). É membro do Conselho Científico da International Society for Mangrove Ecosystems

Na ocasião haverá o lançamento da publicação “Década do Oceano: Declaração da Academia Brasileira de Ciências sobre a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável”.

Os moderadores serão o presidente da ABC, Luiz Davidovich, e o vice-presidente para a Região Nordeste, Jailson Bittencourt de Andrade.

INSCREVA-SE AQUI!

ASSISTA EM ww.abc.org.br/transmissao

Webinário debate novas diretrizes para o desenvolvimento de vacinas contra COVID-19

Participantes do evento reunidos, inclusive Luiz Davidovich, Jorge Kalil, Rubens Belfort, Patricia Rocco e Marcelo Morales.

 

No dia 15 de julho foi realizado o webinário “COVID-19: Elaboração de diretrizes para desenvolvimento de vacinas e acompanhamento da população”, organizado em conjunto pela Academia Nacional de Medicina (ANM), a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Rede Vírus MCTI. O evento ocorreu de forma remota, das 15h às 20h, com transmissão ao vivo nas redes sociais da ANM.

A programação contou com apresentações de diversos membros da ABC. Os dois primeiros blocos foram coordenados pela Acadêmica Patricia Rocco (UFRJ), membro das duas Academias, e pelo membro titular da ABC Manoel Barral Netto (Fiocruz), respectivamente. O Bloco III, “O futuro no desenvolvimento de novas vacinas” foi coordenado por Luiz Davidovich, presidente da ABC, e contou com apresentações dos membros titulares Jorge Elias Kalil Filho, Mauro Martins Teixeira e Marcelo Marcos Morales.

Confira a participação dos Acadêmicos filiados a ABC no evento:

Patogênese e tratamento

Patrícia Rocco abordou a variabilidade na resposta imune dos pacientes, com os casos mais graves associados a uma cascata inflamatória exacerbada. As diferenças nos padrões pulmonares de pacientes graves também levantaram dúvidas sobre serem causadas eventualmente por uma má aplicação da ventilação mecânica, o que foi argumentado em artigo recente.

Rocco relatou que, de início, acreditava-se que a doença estaria associada apenas ao trato respiratório. Porém, com o passar do tempo, se percebeu que outros órgãos também eram afetados. No caso do cérebro, as complicações podem ser acarretadas por vias imunológicas e não imunológicas, sendo que estratégias ventilatórias equivocadas podem também influenciar na piora do paciente, Coração e rins são outros órgãos afetados pela doença, que também está envolvida em distúrbios de coagulação, podendo causar trombose.

Com relação à evolução da doença, hoje já está estabelecido que o vírus pode acarretar sequelas neurológicas mesmo após o término da infecção, assim como se descobriu, recentemente, que fibroses pulmonares são induzidas em estágios anteriores ao que se pensava, podendo impactar a capacidade respiratória mesmo de pessoas que não desenvolveram a forma grave.

Foram sumarizados os estudos terapêuticos, ressaltando que a maioria das drogas inicialmente candidatas não obtiveram resultados clínicos significativos, exceção feita a dexametasona, cujo uso durante a ventilação mecânica foi verificado como efetivo por diversos estudos independentes. 

Outra terapia sobre a qual há especulações envolve células-tronco. Rocco salientou que essa alternativa ainda está em fase inicial de testes clínicos. É sabido que essas células podem gerar uma resposta anti-inflamatória e que não possuem receptores para o vírus, o que traz esperança de que essa abordagem possa vir a ter resultados efetivos no futuro.

Rocco terminou sua apresentação com um alerta, “vacinar, usar máscaras e manter o distanciamento, isso é o correto e é isso que a ANM, a ABC e a Rede Vírus MCTI querem, o correto é seguir o que diz a ciência.”

 

Epidemiologia, vacinas e controle

O membro titular da ABC Mauricio Lima Barreto, epidemiologista, professor titular aposentado da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pesquisador da Fiocruz-Bahia, começou sua apresentação falando sobre as origens da COVID-19. Ele explicou que todos os indícios apontam para um vírus que saltou de animais para humanos. Por se tratar de uma doença respiratória, a facilidade de infecção possibilitou que se tornasse uma pandemia, com a globalização contribuindo para que o patógeno se espalhasse muito rapidamente.

Outro fator agravante da doença é a desigualdade. “Ficou muito claro que existem diferenças de exposição, vulnerabilidade, acesso a tratamento e efetividade das medidas de controle em populações mais pobres” disse Barreto.

Entrando no tema de prevenção e vacinas, foi ressaltado o papel crucial das máscaras e do distanciamento social. Um ponto importante que muitas vezes não é exposto na mídia envolve evidências de que vacinas prévias, como para BTG e gripe, podem ter efeitos redutores para COVID-19. Entretanto, o acesso a vacinas ainda é muito desigual ao redor do mundo, o que contribuiu para o surgimento de novas variantes e o prolongamento da pandemia.

O Acadêmico discutiu ainda diferentes políticas  de combate à pandemia, apresentando estudos que mostram que os países com menor mortalidade foram os que adotaram medidas rigorosas de eliminação da circulação viral e não apenas a mitigação de seus efeitos. “Vacinas são armas extremamente importantes na diminuição de mortes, mas existe a necessidade de manter medidas preventivas para controlar verdadeiramente o vírus”, finalizou.

Desafios atuais na produção de vacinas

Manoel Barral Netto, professor da Fiocruz e membro titular da ABC, coordenou o segundo bloco de apresentações, focado na questão da imunização. Em sua fala inicial o Acadêmico destacou dois pontos principais: a necessidade de uma vacina de mucosa e as dificuldades éticas na produção de novos imunizantes.

Vacinas impedidoras da replicação nas mucosas são importantes porque não apenas protegem os inoculados mas também evitam a transmissão, algo que não ocorre hoje com as vacinas existentes. Entretanto, a testagem de novos imunizantes está se tornando cada vez mais difícil, pois quanto maior o número de pessoas imunizadas na população, menor a possibilidade de se obter grupos de controle significativos.  

Novas vacinas nacionais para COVID-19

Jorge Kalil iniciou sua fala abordando a questão da politização das vacinas, acentuada pela rixa entre o governador de São Paulo eo presidente da República. Segundo o pesquisador, essa situação atrapalha o debate científico, uma vez que torna impossível falar de vacina sem falar de política.

O Acadêmico apresentou um gráfico mostrando o aumento do número de casos de COVID-19 em diversos países após o início da vacinação. Esse aumento pode ser compreendido, dado o fato de que muitos países relaxaram as medidas restritivas após começarem a vacinar. As variantes também contribuíram para o aumento do número de casos, uma vez que os primeiros imunizantes a serem desenvolvidos tomaram como base a cepa de Wuhan. Já imunizantes mais atuais, como a norteamericana Novavax, foram testadas durante a circulação de todas as cepas já existentes.

Gráfico apresentado pelo professor Jorge Kalil sobre países com maior índice de vacinação.

O intuito da vacinação é que haja a criação de anticorpos e estimulação de uma resposta celular – o que está relacionado ao sangue. Como a COVID-19 é uma doença que se desenvolve nas mucosas, o exame de sangue nem sempre traduz exatamente o que está acontecendo nas células afetadas. 

O Acadêmico explicou a diferença entre as composições das vacinas em desenvolvimento e as existentes no mercado atualmente – as de vírus inativado, como no caso da Coronavac; as de vetor viral recombinante, como Janssen, AstraZeneca e Sputnik V; as que utilizam RNA, como a da Pfizer e Moderna; e a tecnologia de subunidade recombinante, também chamada de vacina de nanopartículas, utilizada pela Novavax.

O aumento do número de casos no Chile, mesmo com grande número de vacinados com Coronavac, pode ser atribuído à baixa cobertura da vacina de vírus inativado (50%) mesmo após as duas doses. Kalil destacou a necessidade de uma terceira dose em indivíduos mais velhos, mas ressaltou o bom desempenho da vacina na prevenção de mortes (86%).

Kalil faz parte do grupo de pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que está atuando no desenvolvimento de uma vacina em formato de spray nasal e em dose única. Segundo o pesquisador, esse tipo de vacina será mais efetivo, já que muitos vacinados permanecem com o vírus na mucosa do nariz e continuam transmitindo. O objetivo do imunizante é aumentar a resposta das células T (localizadas nas vias aéreas) e dos anticorpos IgA (imunoglobulina A), com produção totalmente nacional e de baixo custo. 

Immunobridging 

O vice-presidente da ABC para a Região Minas Gerais & Centro-Oeste Mauro Teixeira apresentou o conceito de immunobridging – ou ponte imunológica -, que é o fator determinante de uma resposta imunológica protetora em uma vacina. Ele pode ser utilizado como marcador (ou correlato de proteção) para medir a eficácia de um novo candidato vacinal e leva em conta as comparações entre resposta imune e proteção viral. 

Os correlatos de proteção não são algo novo, uma vez que são frequentemente utilizados no desenvolvimento de vacinas para influenza. O estabelecimento de tais níveis podem ajudar na compreensão de mecanismos da imunidade anti-viral e a entender a perda da imunidade após meses de vacinação ou contaminação pelo vírus. Esse material pode ser útil no aprimoramento das vacinas já existentes para as novas variantes, novas faixas etárias e doses de reforço. 

Os dados de análise de soro convalescente demonstram a importância dos anticorpos na proteção contra a infecção. Os anticorpos podem ser formados de duas maneiras: através da infecção natural ou da vacinação. Quem já foi infectado pela COVID-19 tem 80% menos chances de se infectar novamente – “não está completamente imune, mas possui uma proteção robusta”, explicou o Acadêmico. “Mesmo na ausência de anticorpos, se você é capaz de montar uma resposta imune, graças à memória imunológica, você consegue diminuir o impacto da doença no seu organismo – mas a transmissão continua”, explicou o Acadêmico.

Outra questão levantada por Teixeira foi sobre o tempo de duração da imunização. Pesquisas recentes indicam que a resposta imune humoral diminui com o passar dos primeiros meses – o que mostra que o conceito de imunidade de rebanho não é possível e que uma dose de reforço será necessária em breve. No entanto, o Acadêmico destaca que resposta imune não é uma questão de “sim ou não”: existem inúmeras possibilidades após uma infecção prévia ou vacinação. O efeito sobre os casos graves é, aparentemente, mais evidente do que sobre o risco de infecção. 

O contexto do surgimento de novas vacinas é somado a fatores como o surgimento das novas variantes, a falta de vacinas em nível global e a dificuldade de produzir estudos no atual estágio de pandemia. Teixeira afirmou que desenvolver novas vacinas dentro das plataformas já existentes não será tão difícil quanto o surgimento de novas plataformas. “Há riscos de estabelecimentos de correlatos de proteção incorretos, que não tragam comparações adequadas entre resposta imune e proteção vacinal”, destacou o Acadêmico.

Ações do MCTI e da Redevírus

O Acadêmico Marcelo Marcos Morales apresentou as diretrizes seguidas pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Informação (MCTI), em especial o núcleo Rede Vírus, durante a pandemia. Entre as estratégias de Pesquisa, Desenvolvimento e Informação (PD&I), estão: a Rede Corona-ômica, para identificação de fatores associados à dispersão e severidade da epidemia; práticas de vigilância epidemiológica em animais silvestres e em águas residuais; e ensaios clínicos como uso de plasma convalescente, soro equino e heparina para tratamento de COVID-19.

Morales destacou a necessidade de investir em vacinas nacionais, principalmente pelo fato de não depender de negociações com países estrangeiros para aquisição de doses e também pelo uso da tecnologia nacional, que poderá ser aprimorada pelos próprios pesquisadores brasileiros. Ele destacou que a Versamune, vacina desenvolvida com apoio do MCTI e com cooperação internacional, tem grandes chances de estar aprovada até o fim do ano ou no início de 2022. É esperado que a Versamune produza uma imunidade de até 12 anos no organismo, conforme apresentou o Acadêmico Celio Lopes Silva no Webinário 34 da ABC. Saiba mais sobre as vacinas para COVID-19 desenvolvidas no Brasil na matéria sobre o evento.


A Academia Brasileira de Ciências seguirá apoiando e participando de eventos que promovam o debate científico sobre a vacinação e as formas de controle da COVID-19. Em parceria com entidades parceiras, procuramos trazer atualizações de primeira mão sobre a produção de vacinas nacionais e soluções científicas desenvolvidas para controle da pandemia. Fique atento ao nosso site para não perder as datas dos encontros e conferir as matérias de cobertura. Use máscara e, se puder, fique em casa!

teste