Participantes do evento virtual deram uma salva de palmas aos novos membros. Da esquerda para direita, de cima para baixo: Helena Nader (vice presidente da ABC), Igor Kaefer, Jailson Bittencourt (vice-presidente para o Nordeste e Espírito Santo), Jussara Almeida, Evaldo Vilela (presidente do CNPq), Lucia Previato (vice-presidente para o Rio de Janeiro), Odir Dellagostin (presidente do Confap) e Luiz Davidovich (presidente da ABC).

 

No dia 3 de maio ocorreu a Cerimônia de Recepção dos Membros Afiliados da ABC 2020/2021, evento que reuniu dirigentes da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e autoridades do setor de ciência, tecnologia e inovação para receber os 60 novos membros afiliados eleitos para os períodos de 2020 a 2024 e de 2021 a 2025. 

Por conta da pandemia de COVID-19, a ABC não pôde realizar seus tradicionais simpósios e diplomações regionais de membros afiliados de forma presencial em 2020. Em 2021, a  Diretoria decidiu reunir os grupos dos dois anos em uma celebração online. A data escolhida para a recepção não foi por acaso: dia 3 é comemorado o aniversário de criação da ABC, que completou 105 anos

O presidente Luiz Davidovich iniciou o evento e deu as boas vindas a todos os participantes, em uma data tão importante para a Academia. “É uma data que nós temos que celebrar, como temos que celebrar todas essas instituições fundadas há décadas e que têm presença constante na vida dos brasileiros e brasileiras. Então, nessa data especial para a ABC, estamos tendo o prazer de recepcionar os novos membros afiliados da ABC, os eleitos em 2020 e os eleitos em 2021”, apresentou Davidovich. 

Os membros afiliados tomaram posse em 1º de janeiro de 2020 e 2021, respectivamente. A cerimônia de recepção marca o início de uma série de simpósios científicos que terão continuidade ao longo do ano, nos quais cada membro afiliado apresentará suas contribuições à ciência. O presidente da ABC destacou que os simpósios são a oportunidade para todos conhecerem os trabalhos dos novos afiliados e de reconhecer a competência e a relevância desses jovens cientistas para o país. “Os membros afiliados da ABC se destacam por sua forte motivação e ativismo em defesa da ciência. E nesses tempos difíceis, eles têm ajudado muito a ABC a promover debates e a mostrar a importância da ciência para o país”, destacou Davidovich. 

A agenda completa dos simpósios científicos virtuais pode ser conferida aqui.

Vice-presidentes regionais da ABC recepcionam os novos afiliados

A vice-presidente da ABC, Helena B. Nader, apresentou os seis vice-presidentes regionais da Academia, que são os responsáveis pela organização das eleições dos afiliados, ajudados pelos titulares de suas respectivas regiões. São eles: Adalberto Luis Val, para a Região Norte; Jailson Bittencourt de Andrade, para o Nordeste e Espírito Santo; Mauro Martins Teixeira, para Minas Gerais e Centro-Oeste; Lucia Mendonça Previato, para o Rio de Janeiro; Oswaldo Luiz Alves, para São Paulo; e João Batista Calixto, para a Região Sul. 

Os vice-presidentes Adalberto Val, Jailson de Andrade e Mauro Teixeira

Adalberto Val, vice-presidente da ABC para a Região Norte, lembrou as vítimas da COVID-19, ressaltando a perda de vários cientistas que se dedicavam aos estudos da região amazônica. Ele destacou que a Amazônia se encontra em uma encruzilhada, marcada por três pontos fundamentais: a pandemia na região, marcada pela preocupação científica com novas zoonoses, frutos da mineração ilegal e do desmatamento; a biodiversidade que é perdida diariamente; e as mudanças climáticas, que podem afetar a subsistência e representam “um desafio imenso, que não pode ser tratado sem a devida atenção”, segundo o pesquisador. Para ele, que é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), o principal desafio para os novos afiliados da Região Norte está diretamente ligado à conservação da Amazônia: “Para vocês, que são jovens, que têm garra, e foram selecionados por conta da capacidade e da contribuição que deram até aqui, saibam que a Academia espera mais. Não só na ciência, mas no enfrentamento dos desafios que temos pela frente. Entre eles, destaco a educação. É o único caminho possível para uma Amazônia integrada.”

O vice-presidente da ABC para o Nordeste e o Espírito Santo, Jailson Bittencourt de Andrade, professor e pesquisador aposentado da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e professor titular e pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa do Centro Universitário Senai-Cimatec, parabenizou a ABC pela série de vídeos Ciência Gera Desenvolvimento e relembrou a edição sobre o cientista baiano Juliano Moreira, que teve uma grande relevância na criação da Academia. Ele foi o primeiro vice-presidente e o segundo presidente da ABC. Andrade também destacou a importância da igualdade entre gêneros na ciência, ressaltando que dentre os dez jovens que tomaram posse na região, são cinco mulheres e cinco homens. “É extremamente importante para a nossa região termos uma igual absorção de jovens de ambos os sexos na nossa Academia”, afirmou. Ele apresentou dados mostrando que cerca de 40% da população brasileira é formada por jovens com menos de 20 anos. Segundo ele, é “uma população extremamente jovem e que depende muito do desenvolvimento do nosso país para garantir um futuro”. Andrade finalizou sua fala dando as boas vindas aos  dez jovens da região e declarou contar com o total apoio deles nestes vários desafios da Academia.

Vice-presidente da região de Minas e Centro-Oeste, Mauro Martins Teixeira iniciou sua fala realizando uma comparação entre a Gripe Espanhola em 1918 e a pandemia de coronavírus 100 anos depois, que chegou para mostrar o que a humanidade aprendeu – e o que não aprendeu – com a crise sanitária anterior. Ele ressaltou que, apesar das barreiras e do negacionismo, a pandemia está tendo um lado positivo para os cientistas: “o conhecimento científico pode errar, mas traz luz”. Entre os desafios na seleção de novos membros em sua região, o Acadêmico, que é professor e pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), destacou a necessidade de adicionar mais afiliados de regiões interioranas, uma vez que a maior parte dos pesquisadores de seu grupo são de grandes capitais acadêmicas, como Belo Horizonte, Lavras e Viçosa, e cumprimentou os eleitos.

Os vice-presidentes Lucia Previato, Oswaldo Luiz Alves e João Batista Calixto

A vice-presidente da região do Rio de Janeiro Lucia Mendonça Previato afirmou que o processo seletivo dos membros afiliados é algo extremamente estimulante, desde as expectativas – “quantos inscritos? quais áreas?” – até a análise de propostas e currículos. “Vocês não apenas fortalecem a ciência brasileira, mas fazem com que eu continue acreditando na ciência” , disse a pesquisadora, ao parabenizar os novos membros. “O ano de 2020 não foi fácil, mas ver a mobilização de membros e ex-membros afiliados no combate à pandemia, dentro dos hospitais e nos laboratórios, foi gratificante”, disse a professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na região fluminense, o principal desafio mencionado pela Acadêmica é conseguir atingir o equilíbrio de gêneros: dos dez novos afiliados, sete são homens e três são mulheres.

Oswaldo Luis Alves, vice-presidente regional para a Região São Paulo, ressaltou sua preocupação com o alto número de mortes por COVID-19 no Brasil, considerando que o número já é o dobro de mortes em Hiroshima e Nagasaki. Segundo ele, que é pesquisador e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), os mandatários do país vem lidando com a pandemia de modo equivocado e infeliz, marcado pelo negacionismo, o desdém pela ciência, a ignorância quanto ao importante papel das vacinas e o uso de terapias alternativas sem a existência de evidências científicas validadas. “Tudo isso nos levou a um catastrófico resultado: um sistema de saúde colapsado e a morte de mais de 400 mil brasileiros”, apontou. Ele afirmou que, a despeito da triste situação que o país vive, “hoje temos a oportunidade de celebrar e festejar a ciência, a tecnologia e a inovação, aqui representadas pelos novos membros afiliados da ABC e reiterar a nossa genuína crença acerca do valor da ciência, ao mesmo tempo em que reiteramos o nosso repúdio ao obscurantismo e às tentativas de substituir o conhecimento pela desinformação”. Alves também destacou alguns dos desafios enfrentados pela Academia. Dentre eles, a recuperação do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), o fortalecimento do sistema de bolsas para a realização de pesquisa científica de alto nível e o aumento da representação das mulheres e minorias, “tanto no fazer ciência, quanto nas diferentes esferas de decisão das políticas de CTI do país”.

João Batista Calixto, vice-presidente da ABC para a Região Sul e professor titular aposentado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),  reiterou a importância de prezar pela representatividade de todas as áreas científicas na Academia. Calixto foi um dos responsáveis pela organização de informações sobre o cientista Maurício da Rocha e Silva para o vídeo Ciência Gera Desenvolvimento (veja a seguir) que, segundo ele, é uma ação muito significativa para a ciência nacional. O Acadêmico também cumprimentou os novos membros afiliados, destacando a disputa apertadíssima pela qual os candidatos passaram para serem escolhidos, devido ao número reduzido de vagas para cada região. “O trabalho de vocês é muito importante para o futuro desse país. Nós devemos reconhecer cada vez mais os jovens e dar lugar a eles nas academias e nas sociedades científicas”, destacou Calixto. 

Lançamento de novo vídeo da ABC

Durante a cerimônia, também ocorreu o lançamento do novo vídeo da série Ciência Gera Desenvolvimento, sobre o pesquisador Maurício Oscar da Rocha e Silva, cofundador da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), da Sociedade Brasileira de Fisiologia (SBFis) e da Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêuticas Experimentais (SBFTE). Foi eleito membro titular da Academia Brasileira de Ciências em 1982. O pesquisador descobriu, em conjunto com uma equipe do Instituto Biológico em São Paulo, a substância bradicinina, proveniente do veneno da serpente jararaca e que tem ação sobre a diminuição da pressão arterial, ajudando a combater a hipertensão. Sua descoberta revolucionária transformou a qualidade e a expectativa de vida das pessoas com pressão alta em todo o mundo. 

Homenagens póstumas

Igor Kaefer e Jussara Almeida

Os ex-membros afiliados Igor Kaefer e Jussara Almeida prestaram emocionadas homenagem a dois jovens cientistas que morreram em 2020/2021 devido a complicações da COVID-19: o zoologista Marcelo Menin, professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e Artur Ziviani, pesquisador do laboratório nacional de Computação Científica (LNCC). Ambos os pesquisadores já fizeram parte do time de membros afiliados da ABC. 

Marcelo Menin graduou-se em ciências biológicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho em 1998, era mestre em ecologia e conservação de recursos naturais pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e doutor em biologia (ecologia) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Menin era professor associado da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), coordenador do Programa de Pós-Graduação em Zoologia e sub-curador da Coleção Zoológica Prof. Paulo Bührnheim. O pesquisador ministrava as disciplinas de zoologia geral e vertebrados, atuando na ecologia de comunidades, taxonomia e biologia reprodutiva de anuros. Menin foi membro afiliado da ABC do período entre 2009 e 2013 e era muito querido por seus alunos e colegas. 

O carioca Artur Ziviani era graduado em engenharia eletrônica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde realizou o mestrado na mesma área, com ênfase em redes de computadores. Ziviani era coordenador do Programa de Pós-Graduação Multidisciplinar em Modelagem Computacional do LNCC e pesquisador sênior do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em Petrópolis. O engenheiro foi membro afiliado da ABC entre 2013 e 2017, além de ter sido membro da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), do Instituto de Engenheiros Eletrotécnicos e Eletrônicos (IEEE) e da Association for Computing Machinery (ACM). Seu trabalho na ciência foi reconhecido através de prêmios e titulações, dentre eles o Jovem Cientista do Nosso Estado, distinção da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). Ziviani era sobrinho do Acadêmico Nivio Ziviani, reconhecido pesquisador na área de ciência da computação.

Boas-vindas e agradecimentos entre os afiliados: ciência, comprometimento e garra

Ana Chies e Patricia Medeiros

A astrônoma Ana Chies, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foi reeleita para 2021 como representante dos afiliados com mandato vigente no Conselho Consultivo da ABC, junto com Raquel Minardi e os novos suplentes Andreza de Bem e Marcelo Mori. Ela iniciou sua fala ressaltando que ser membro da ABC é muito mais do que apenas um diploma na parede, mas uma oportunidade para participar de uma relevante comunidade científica, com resiliência e criatividade, em uma época extremamente difícil no Brasil. Chies citou uma de suas músicas favoritas, ‘Apesar de você’, de Chico Buarque. Ela observou que alguns desistem e partem, porém outros querem ficar e lutar – pois, como diz a música, “apesar de você, amanhã há de ser outro dia; em nome dos afiliados atuais, convido vocês, novos membros afiliados que estão sendo recepcionados oficialmente hoje, a fazerem parte destas lutas que travamos e que trazem energia e até euforia para continuarmos”, declarou a Acadêmica. 

Em nome dos novos membros, a botânica Patricia Medeiros, professora e pesquisadora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), agradeceu a confiança que lhes foi depositada e avaliou a importância da ciência em tempos de pandemia. “Nós, pesquisadores, não temos tido vida fácil”, afirmou a Acadêmica, que definiu o negacionismo como o maior desafio dos cientistas. “A ciência não deve ser contestada com opiniões pessoais ou exemplos individuais e sim com mais ciência.” Ela destacou os diversos esforços por uma ciência cidadã e diversa, ressaltando o compromisso dos novos membros afiliados com as atividades da Academia, firmes na luta por uma ciência inovadora, relevante e socialmente sensível. “Sigamos defendendo a ciência contra a desinformação, mas sem cair nas armadilhas do cientificismo, sem desmerecer outras formas de saber”, concluiu a Acadêmica.

Autoridades da área de CTI e Educação festejam os jovens cientistas e o aniversário da ABC

Vice-presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Joana Angélica Guimarães, que é reitora da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), saudou os novos membros afiliados da ABC e reiterou o mérito da Academia na luta pela ciência brasileira. “Nós precisamos trabalhar para que a ABC e os cientistas brasileiros possam reafirmar sua importância e a necessidade que esse país tem de valorizar esses pesquisadores, que trabalham de forma incansável para melhorias na qualidade de vida dos brasileiros”, afirmou a reitora. 

O Acadêmico Odir Dellagostin, presidente do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), parabenizou a ABC pelo seus 105 anos, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo aniversário de 70 anos e também o Confap, que completou 15 anos. Ele cumprimentou os novos membros afiliados e afirmou que essa conquista revela a capacidade de trabalho, a energia e o entusiasmo em fazer pesquisa de qualidade. “Ver essa juventude já alcançando esse destaque é uma alegria muito grande, porque é a certeza de que teremos sim um futuro melhor, um futuro brilhante. Nós temos hoje jovens lideranças que inspiram outros jovens e é desta forma que a ciência avança e evolui”, declarou.

 

Joana Guimarães, Odir Dellagostin e Evaldo Vilela

 

O Acadêmico Evaldo Ferreira Vilela, presidente do CNPq, realçou a importância da Programa dos Membros Afiliados da ABC, criado há 14 anos para dar visibilidade aos novos talentos da ciência nacional. “Os afiliados também lançam muita luz sobre a Academia”, afirmou. Ele disse que sente falta do convívio presencial com os jovens cientistas, considerado fundamental para evolução das pesquisas e para o aprofundamento das relações. “Dois membros afiliados da ABC se ofereceram para ajudar na revista de 70 anos do CNPq, com previsão de lançamento até o fim do ano. O CNPq também está comprometido com a Academia e com os afiliados”, disse Vilela. Ele também apontou a importância da luta que a Academia está travando pela liberação dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), recursos estes fundamentais para a retomada do desenvolvimento do país. 

O presidente da ABC encerrou o evento alertando para a urgência de compartilhar conhecimento e de defender a ciência brasileira e as universidades, cada vez mais atingidas pelos cortes orçamentários. Dirigindo-se à Ana Chies, que citou um trecho da música de Chico Buarque de Hollanda,  Davidovich citou outro trecho. “A música começa dizendo ‘hoje você é que manda’, o que é fato.  Mas não manda em tudo. Não manda na nossa alegria, não manda na nossa emoção de estar aqui recebendo estes jovens brilhantes, não mandam na nossa determinação de resistência e de luta em defesa da ciência e da educação no Brasil. Nós temos nossa autonomia e a nossa decisão é de lutar por um futuro sustentável para o país”. Pediu, então, uma salva de palmas dos participantes e das mais de 380 pessoas que acompanharam o evento pelo You Tube, aos novos membros afiliados recepcionados na ocasião. 

Caso tenha perdido ou deseje assistir novamente à Cerimônia, a gravação completa do evento está disponível em nosso canal no Youtube. 

A Assessoria de Comunicação da ABC deseja boas-vindas a todos os novos membros afiliados e um período de produtividade, descobertas e cooperação científica!