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Segundo Webinário ABC/CNPq debate Desigualdade e Democracia

A segunda edição dos Webinários ABC/CNPq: A Contribuição dos INCTs para a Sociedadeaconteceu na última terça-feira, 7 de junho, e trouxe representantes de diferentes Institutos Nacionais de Ciência, Tecnologia e Inovação (INCTs) para debater, em duas sessões com temáticas transversais. A moderação ficou a cargo da diretora de Cooperação Institucional do CNPq, Maria Zaira Turchi.

A primeira mesa abordou “Desigualdade e Democracia”, teve a participação do filósofo Wilson Gomes, coordenador do INCT em Democracia Digital (INCT.DD), e dos membros titulares da ABC Roberto Kant, coordenador do Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos (INCT InEAC); e Nadya Guimarães, ex-coordenadora do INCT para Estudos da Metrópole (INCT/CEM).

Wilson Gomes

Ciência e Democracia

Wilson Gomes é pesquisador na área de comunicação e política e, em sua apresentação, se dedicou a responder à pergunta “É a democracia objeto da ciência?”. Para ele, existe uma percepção entre cientistas de que a democracia é uma condição e um precursor do desenvolvimento científico. Entretanto, essa visão não é inteiramente verdadeira, visto que existe ciência sendo feita em ditaduras. “A ciência é uma importante aliada da democracia, mas esta só sobrevive, em última instância, pela ação política”, entende Gomes.

Com isso em mente, o palestrante reforçou o papel crucial que as ciências humanas e sociais cumprem ao explorar as tendências no discurso e na prática política, auxiliando as instituições democráticas e alertando quanto ao crescimento de correntes autoritárias. A noção fantasiosa que relega às humanidades uma posição inferior às chamadas ciências duras não poderia estar mais equivocada, uma vez que nenhuma ciência técnica ou natural é capaz de ocupar esse espaço. “Se física fosse suficiente para alcançarmos a paz, a justiça e o direito, nem Einstein nem Schrödinger teriam tido que fugir da Alemanha nazista”, exemplificou.

Nesse sentido, Gomes acredita que produzir mais e melhores democracias é um dos desafios da ciência no século XXI, e apresentou alguns INCTs que vem trabalhando para isso no Brasil. O Instituto da Democracia e Democratização da Comunicação (INCT/IDDC), por exemplo, tem atuado no debate público pela divulgação de pesquisas em democracia através de uma coluna no Uol, além de atuar no Observatório das Eleições  e no Observatório do Legislativo Brasileiro, duas importantes iniciativas de monitoramento democrático no país.

Já o INCT em Democracia Digital se dedica a estudar como a transformação digital vem moldando a institucionalidade brasileira, seja na digitalização de processos e serviços governamentais, na relação de partidos e campanhas políticas com o ambiente virtual ou nas mudanças que redes sociais trazem para a esfera pública. Nessa temática, o INCT tem se debruçado sobre a questão da desinformação, atuando inclusive em parceria com tribunais eleitorais para controlar esse problema. “Não há mais dúvida sobre o risco que as fake news representam para a democracia”, afirmou Gomes. “Para se ter uma ideia de quão recente é esse assunto, ele não fazia parte da proposta inicial do Instituto em 2014, o que mostra também a adaptabilidade que o modelo dos INCTs permite”.

Roberto Kant

Desigualdades Institucionalizadas

O antropólogo Roberto Kant é especialista em antropologia do Direito e administração institucional de conflitos. Ele iniciou sua apresentação contrapondo a desigualdade inerente à sociedade de mercado e a igualdade de todos os cidadãos perante a lei, prevista na Constituição. Uma democracia liberal pressupõe a necessária convivência de todos os indivíduos e, para isso, conflitos devem ser resolvidos por tribunais que garantam segurança jurídica e previsibilidade. “O mercado desiguala materialmente, enquanto o direito deve igualar formalmente”, sumarizou.

Entretanto, quando olhamos para a realidade brasileira enxergamos um país que está entre os mais desiguais do mundo e cuja solução enfrenta vícios muito enraizados. Para Kant, muitos dos problemas endêmicos do Brasil são explicados por nossa trajetória histórica singular, de colônia que virou império antes de se tornar república, e de uma sociedade profundamente escravocrata que não promovia cidadania a uma enorme parcela de sua população, embora continuasse responsabilizando-a criminalmente. “Com o decorrer do tempo o Brasil foi instituindo direitos políticos, porém sem nunca incorporar plenamente os direitos civis”, explicou Kant.

Essa situação aparece de forma explícita em nosso sistema judicial, sobretudo na área criminal. “Os estamentos [tipo de estratificaçãosocial mais rígida que o sistema de classes, ainda presente em algumas sociedades] formais do império foram informalizados em segmentos sociais, mas não deixaram de existir na prática cotidiana”, avaliou o palestrante, que citou como exemplo a violência policial; o direito à prisão especial de acordo com escolaridade e não com o crime cometido; o foro especial para determinados cargos do funcionalismo público; e as indenizações por danos morais cujos valores são definidos a partir da posição social da vítima e não a partir da ofensa recebida. Kant trouxe também sua experiência acompanhando audiências de custódia em que características sociais e raciais tendem a causar impressões e decisões diferenciadas. “A diferença no tratamento não está apenas em resquícios do passado, mas em legislações e práticas institucionalizadas no presente”, alertou.

O palestrante elogiou o projeto dos INCTs e, em particular, os trabalho dos dez INCTs voltados às ciências sociais. Esses institutos atuam na formação de recursos humanos qualificados, na inclusão de grupos marginalizados e no desenvolvimento de iniciativas que visam uma sociedade menos desigual e mais sustentável. Kant terminou frisando que a desigualdade é uma ameaça a democracia. “É impossível criar uma cultura democrática numa sociedade em que a desigualdade é institucionalizada. Se os agentes públicos não reproduzem padrões uniformes e igualitários, quem há de fazê-lo?”, finalizou.

Nadya Guimarães.

Percepção da Desigualdade

A socióloga Nadya Guimarães iniciou sua apresentação trazendo dados que mostram como os brasileiros entendem a enorme desigualdade do país. De acordo com dados de 2018 da Oxfam e Folha de São Paulo, 88% dos brasileiros acreditavam fazer parte da metade mais pobre da população, e 70% não tinham a esperança de que a desigualdade se reduziria nos anos subsequentes. “É como se tivéssemos uma sólida consciência a respeito do problema, mas nos faltasse uma luz no fim do túnel”, resumiu a palestrante.

Guimarães alertou para o alto risco de reversibilidade de quaisquer ganhos na área, e trouxe como exemplo o artigo “Distribuição de renda nos anos 2010: Uma década perdida para desigualdade e pobreza” (Barbosa, Souza e Soares, 2019), que traz um panorama dos retrocessos nos índices de desigualdade brasileiros após uma significativa melhora na primeira década do milênio. Naquele período, a renda média das famílias cresceu 30%, e o coeficiente de Gini do Brasil caiu 10%, com redução de 12% na pobreza. Entretanto, esses ganhos se reverteram na década passada, contribuindo para uma percepção de que avanços em desigualdade são efêmeros no país.

Apesar de tudo, a percepção da sociedade sobre como combater o problema é reveladora, 67% dos brasileiros acreditam que a educação é crucial para promover equidade e 79% entendem que é papel do governo atuar com esse intuito. Para responder a esses anseios, a palestrante trouxe exemplos de INCTs que atuam na área da educação, das políticas públicas de inclusão e estratégias de desenvolvimento e mitigação de desigualdades. “Os INCTs representam apoio contínuo e de longo prazo, algo estratégico nas ciências sociais. O formato colaborativo, multidisciplinar e interinstitucional é especialmente promissor para tratar de desafios complexos como os que enfrentamos hoje”, finalizou.

Leia tudo sobre a segunda sessão do webinário, sobre “Sustentabilidade do Planeta: Terra, Mar e Ar”

Assista o webinário na íntegra no YouTube da ABC:

Fertilizantes e bioinsumos são tema do 51º Webinário da ABC

O destaque agropecuário brasileiro esconde uma falta de autossuficiência perigosa. Cerca de 85% dos fertilizantes usados no país são importados, resultado de uma tendência de crescimento que já dura três décadas. Essa dependência externa expõe o Brasil às flutuações – comuns nesse mercado – e a crises internacionais. O preço de aditivos está em alta desde o ano passado, e a guerra na Ucrânia cria um sério risco de desabastecimento.

Mariangela Hungria, membro titular da ABC.

Em meio a esse cenário, uma oportunidade surge para o uso de insumos biológicos. O Brasil já é liderança mundial em aplicação de microorganismos na agricultura, graças a um século de pesquisas na área. Apesar de ainda representarem uma parcela minoritária dos aditivos utilizados, o mercado de bioinsumos no país cresce cerca de 30% ao ano.

Para debater esse assunto, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) convidou para o seu 51o webinário, realizado em 29 d emarço com o tema “Fertilizantes e Bioinsumos para a produção de alimentos no Brasil”, a engenheira agrônoma Amália Piazentim Borsari, diretora de Biológicos da CropLife Brasil; o agrônomo José Carlos Polidoro, pesquisador da Embrapa Solos; a engenheira agrônoma e membro titular da ABC Mariangela Hungria, pesquisadora da Embrapa Soja; e o ex-ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2003 – 2006), Roberto Rodrigues, Coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGV).

 

Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Futuro da agropecuária

As projeções para o futuro do planeta indicam que os desafios da agropecuária brasileira serão ainda maiores. Até 2050, estima-se que a população mundial atingirá 10 bilhões de pessoas, o que demandará um aumento de 50% na produção de comida. Como muitos países não são autossuficientes nessa área, isso significa um crescimento ainda maior do que a média em grandes produtores. “Para que em 10 anos a produção mundial cresça 20%, o Brasil terá que crescer 40%”, afirmou Roberto Rodrigues durante o evento.

Além disso, a mais recente avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, da sigla em inglês) alerta que o aquecimento global deve causar perdas consideráveis na agropecuária, sobretudo em regiões tropicais. Segundo o relatório, a produção brasileira de milho e soja deve sofrer uma queda superior a 30%, e a quantidade de terras aráveis per capita no mundo diminuirá em 20%. Diante dessa situação, soluções inovadoras e sustentáveis se tornam cruciais. “A modernização da agricultura passa por otimizar tecnologias, sistemas de produção e gestão, e processos distributivos”, avaliou Amália Borsari.

Amália Borsari, diretora de Biológicos da CropLife Brasil.

Agroquímicos x biológicos

Apesar de possuir pesquisa de ponta na área de bioinsumos há décadas, a produção agropecuária brasileira sempre dependeu mais de fertilizantes químicos. Até hoje existe a percepção entre agricultores de que aditivos biológicos são de menor qualidade e eficácia nos cultivares tradicionais. “No passado, o biológico era pra ser combatido, atitude estimulada pela indústria de químicos”, disse Borsari.

Entretanto, isso vem mudando nas últimas décadas. Investimentos em inovação permitiram ao setor crescer num ritmo mais acelerado que o da indústria química, gerando produtos cada vez mais tecnológicos. Os números também mostram que a resistência dos produtores está diminuindo. “Estamos entrando na terceira geração de biológicos”, acrescentou a palestrante.

Para ilustrar esse desenvolvimento, a Acadêmica Mariangela Hungria falou sobre casos brasileiros de sucesso. “Um bom exemplo é o nitrogênio, que no Brasil é 90% importado, tem uma eficiência de absorção pelas plantas de, no máximo, 50%, e o resto é perdido para o ambiente”. Algumas bactérias, porém, conseguem capturar esse elemento do ar e transformar em amônia para as plantas. Esse processo é tão eficiente que os genes envolvidos foram transportados para outros procariontes, de forma a serem usados em associação a outras plantas. “Isso é o que torna a soja brasileira a mais competitiva do mundo”, explicou Hungria.

A pesquisadora avaliou também que a agricultura brasileira ainda desperdiça muitos recursos com adubação química em plantas que não precisam. “Existe um pensamento entre agricultores de colocar ‘só’ 30 kg de nitrogênio na soja para dar um arranque, mas isso é antiquado, não precisa”, exemplificou, citando também a combinação de microorganismos e a reinoculação como inovações pensadas pela pesquisa agropecuária brasileira.

José Carlos Polidoro, pesquisador da Embrapa Solos.

Uma estratégia nacional para fertilizantes

No dia 11 de março, o Brasil lançou oficialmente o novo Plano Nacional de Fertilizantes e Nutrição de Plantas, que planeja o desenvolvimento do setor até 2050 com o objetivo de reduzir a dependência externa. O agrônomo José Carlos Polidoro fez parte do grupo de trabalho interministerial que elaborou o Plano, e apresentou um pouco mais de seu conteúdo.

A estratégia se sustenta em cinco pilares: adequar a infraestrutura para integrar polos de produção; aumentar investimento em pesquisa e inovação; reativar e modernizar projetos existentes; melhorar o ambiente de negócios; e criar vantagens competitivas com insumos verdadeiramente tropicais. “O Brasil precisa diminuir o subsídio a insumos importados, temos uma longa história de projetos descontinuados nessa área, o que nos coloca na insegurança atual”, lembrou o palestrante.

O documento também sugere ações imediatas, como incluir fósforo e potássio na lista de minerais estratégicos, alocação de uma parte do FNDCT em pesquisas com aditivos rurais e programas de aproximação com agricultores, como a Caravana FertBrasil, que, nas palavras de Polidoro, ensina “como, quando, onde e porquê adotar cada fertilizante”. Outra decisão foi a criação de um Conselho Nacional de Fertilizantes, com técnicos representando os setores público e privado.

Outras preocupações para a agropecuária

Mas nem só a insumos se resume o desenvolvimento do agro brasileiro. Segundo o ex-ministro Roberto Rodrigues, os avanços que o setor obteve nas últimas décadas ainda podem ser maximizados em diversas áreas, sobretudo em segurança e infraestrutura para os produtores. “Na década de 70, o Brasil enviou muitos agricultores para o Centro-Oeste num grande plano de governo, mas a infraestrutura chegou em menor grau”.

Além da infraestrutura física, Rodrigues defende também uma infraestrutura burocrática que dê mais segurança jurídica aos agricultores, com simplificação tributária e uma política de renda que inclua seguro rural, crédito para tecnologia e preços de garantia. O palestrante defendeu também a integração de pequenos produtores em cooperativas. “Atualmente, temos 5 milhões de produtores no Brasil e apenas 1 milhão está no mercado. Precisamos organizar os 4 milhões restantes e trazê-los para esse circuito”, avaliou.

O ex-ministro terminou analisando a importância que o tema da segurança alimentar deve ganhar nos próximos anos e sugerindo que o Brasil dialogue mais com o exterior. Além de mais acordos comerciais e avanços diplomáticos, Rodrigues entende que o país precisa recuperar sua imagem e, para isso, é preciso combater ilegalidades. “O Brasil precisa se desenvolver tendo o alimento como ponto central”, finalizou.

Assista ao webinário completo no YouTube da ABC:

 

Repercussão na mídia:

Agrolink – Bioinsumos e fertilizantes foram debatidos na Academia Brasileira de Ciências

Acadêmicos debatem a importância da inovação tecnológica e o papel da indústria

Os participantes Fernando Galembeck, Pedro Wongtschowski, Carlos A. Pacheco e Jorge Guimarães.

 

A Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) reuniu cientistas de diversas áreas para a 9ª Conferência Fapesp 60 anos, que ocorreu nesta quarta-feira, 23/3. Sob a temática “Inovação e Indústria”, os palestrantes debateram a importância da inovação tecnológica e sua imprescindibilidade na agenda de inúmeras instituições, incluindo a própria Fapesp. 

Desde o final dos anos 1970, a palavra inovação entrou de forma definitiva na agenda das políticas de ciência e tecnologia. A inovação tecnológica está no centro das estratégias empresariais e esforços políticos e públicos de melhoria de qualidade de vida. Dessa forma, a ciência – tanto a básica, quanto a aplicada – e o desenvolvimento tecnológico se unem para adentrar os mercados e as políticas públicas.  

Segundo Marco Antonio Zago, presidente da Fapesp e membro titular da ABC, a inovação sempre fez parte do planejamento da instituição: “Aqui, todos reconhecem que a origem da inovação está na ciência. E a inovação leva ao crescimento econômico.” 

“À medida que os setores dependentes do conhecimento se expandem e a pressão competitiva aumenta, o financiamento da pesquisa básica se torna um elemento central para apoiar o desenvolvimento empresarial e para promover interação entre os setores público e privado”, observu o Acadêmico. Para Zago, os palestrantes devem discutir o papel de uma agência de apoio à pesquisa na promoçã da inovação. 

O ponto de vista de quem inova 

O professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Fernando Galembeck, também membro titular da ABC, afirma que apesar de a inovação ser muito defendida e muito necessária, ela envolve problemas ético-sociais e tem opositores – como os trabalhadores que temem que sua mão de obra seja substituída pelo uso de máquinas. “Por muitos anos disseram que um dia ocorreria o ‘fim da ciência’. De fato, estamos vivenciando um novo mundo na ciência. Um mundo do caos, do status e da complexidade”, observa o químico, defendendo formas inovadoras de fazer ciência, novas ferramentas e mais possibilidades.  

Ao oferecer um panorama do ecossistema de inovação no Brasil, Galembeck defende que o país oferece vantagens, mas precisa aprender como explorá-las a seu favor: “Existe capacidade ociosa, o que reduz as necessidades de investimento em plantas, e a crescente intensidade do interesse de empresas industriais em inovação. Já aderimos às práticas de ESG [sigla para environmental, social and corporate governance, abordagem para avaliar até que ponto uma corporação trabalha em prol de objetivos sociais que vão além do tradicional], mas é preciso estendê-las para o setor público.” No entanto, as desvantagens ainda são muitas, o que dificulta o progresso: “O essencial aqui é que o ecossistema precisa ser todo forte, ou não avançamos. Nenhuma corrente é mais forte que seu elo mais fraco”, declara o Acadêmico. Galembeck aponta o negacionismo, os altos custos e a legislação hostil como alguns dos principais pontos fracos do país dentro desse aspecto. “Deixo claro que, nesse ecossistema, o que mais importa, do meu ponto de vista, é talento. É ter pessoas qualificadas, diversificadas e com objetivos comuns.” 

Em seu laboratório, Galembeck está em busca da inovação, tendo destacado um de seus mais recentes projetos na apresentação: a higroeletricidade, que foi descoberta em 2010 e verificada por vários autores, um tipo de eletricidade estática formada em gotículas de água e podendo ser transferida para pequenas partículas de poeira. O cientista desenvolveu um equipamento que se propõe a gerar energia através da higroeletricidade presente na umidade do ar, gerando uma quantidade de energia equivalente a 0,000001% da produzida em uma mesma área por uma célula solar. “Ao abandonar um velho paradigma, foi possível viabilizar um novo processo de produção de energia”, aponta o químico. 

O ponto de vista de quem financia a inovação  

Jorge Almeida Guimarães ousou ao propor um debate sobre o desencontro entre as ICTs e a indústria no Brasil e o papel de mediação da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), onde atua como diretor-presidente. Segundo ele, um dos grandes erros dessa ligação é a ausência de uma cultura que facilite uma interação entre os órgãos, capaz de destacar a importância da pesquisa para o desenvolvimento socioeconômico do país.  

Guimarães defendeu que os pilares da educação são talento, instituições acadêmicas fortes e a existência de um estado empreendedor, capaz de investir em ciência – algo que o Brasil não tem até os dias de hoje. “Continuamos escapando da necessidade do Estado de participar pesadamente na subvenção e no recurso não-reembolsável… Esse foi um dos motivos pelos quais surgiu a Embrapii”, conta o pesquisador, utilizando a situação do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) como exemplo. Metade da verba do fundo virou empréstimo bancário, oferecio pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Apesar de o Brasil preeencher todos os outros requisitos, a falta de um governo capaz de prover incentivo à ciência ainda é uma lacuna que precisava ser preenchida.

Visando suprir essa ausência, em 1951, foram criadas as primeiras iniciativas de amparo à pesquisa, com a fundação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A Fapesp, primeira fundação de apoio à pesquisa estadual, surgiu em 1960. Criada em 2013, a Embrapii é uma associação privada criada para ampliar os centros de pesquisa e desenvolvimento no Brasil, além de buscar solucionar outros problemas, como diminuir a distância entre produção científica e desenvolvimento tecnológico. “O índice de inovação tecnológica no Brasil ainda é muito baixo”, comenta Guimarães. “Há mais de 2 mil indústrias no país e poucas promovem pesquisa e desenvolvimento. É necessário fazer algo diferente.”  

Quase uma década após sua criação, a instituição demonstra um rápido crescimento, contando com 76 Unidades Embrapii – centros de pesquisa com foco em desenvolvimento de alta tecnologia industrial. Os projetos desenvolvidos nas instalações prezam pela alta rigorosidade e competitividade, além de abrangerem múltiplas competências, desde inteligência artificial até engenharia marinha. Para o futuro, Guimarães espera que a atuação da Embrapii cumpra com um de seus principais objetivos: elevar para 2% a participação de pesquisa e desenvolvimento no PIB brasileiro.  

Assista à gravação completa no canal da Fapesp no YouTube.

Webinário da Fapesp sobre o impacto da ciência contará com a presença de Acadêmicos

O seminário virtual “O Impacto da Ciência na Sociedade e no Avanço do Conhecimento: os novos desafios da pesquisa orientada a missão” ocorrerá no dia 21/3 (segunda-feira), sob organização da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Para debater o tema, cientistas de diversas áreas foram convidados, incluindo o físico e presidente da ABC Luiz Davidovich e os Acadêmicos Evaldo Vilela (presidente do CNPq), Jerson Lima Silva (presidente da Faperj), Manoel Barral Netto (Fiocruz-BA) e Marco Antonio Zago (presidente da Fapesp).

O principal objetivo do webinário é evidenciar os impactos econômicos e sociais da ciência e também seu impacto no avanço do conhecimento. Além disso, o encontro almeja avaliar como a pesquisa orientada a missão vem sendo incorporada na agenda de ciência, tecnologia e inovação de inúmeros países e como esta agenda poderia influenciar estas políticas no contexto brasileiro.

Confira a programação completa do evento no site da Fapesp.

O webinário será transmitido ao vivo pelo canal da Fapesp no YouTube, entre as 10h e 14h do dia 21/3. Para receber certificado, é necessário se registrar aqui.

Webinário da IOC/Fiocruz homenageará o Acadêmico Ronald Shellard

O Núcleo de Estudos Avançados do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) irá promover seu primeiro encontro virtual de 2022 no dia 23/6, reunindo seis especialistas de múltiplas áreas para debater o tema “Covid-19 e SUS: vacinas, futuro e geopolítica”.  A sessão homenageará o físico Ronald Shellard, diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e membro titular da ABC, morto no dia 7/12/2021. 

Entre os participantes estão: a epidemiologista e ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Carla Domingues; o infectologista e diretor do Centro de Pesquisas Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Esper Kallas; o pesquisador do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), João Viola; o especialista em ciência, tecnologia, produção e inovação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Julio Croda; a pneumologista e pesquisadora da Fiocruz, Margareth Dalcolmo; e o professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e presidente da Federação Mundial de Associações de Saúde Pública (WFPHA), Luis Eugenio Portela. O Acadêmico Renato Cordeiro é um dos coordenadores do evento.

O evento será transmitido pelo canal do IOC no Youtube a partir das 14h do dia 23/2.

1º Webinário da ABC em 2022 homenageia Ronald Shellard

Os participantes do 50º Webinário da ABC: Carlos Ourivio Escobar, Ana Tereza R. de Vasconcelos, Renato Janine Ribeiro, Ulisses Barres de Almeida, Luiz Davidovich, Ildeu de Castro, Marcio Portes de Albuquerque e Eduardo Barreto.

No dia 1º de fevereiro, a Academia Brasileira de Ciências deu início à série de webinários do ano de 2022. Em parceria com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Acadêmicos e pesquisadores convidados homenagearam Ronald Cintra Shellard, membro titular da ABC, morto no dia 7 de dezembro de 2021.

Organizado pelas Acadêmicas  Debora Foguel (UFRJ) e Ana Tereza Vasconcelos (LNCC), o evento contou com a participação do presidente da ABC, Luiz Davidovich, os Acadêmicos Carlos Ourivio Escobar e Ulisses Barres de Almeida e os convidados Marcio Portes de Albuquerque, Ildeu de Castro Moreira  e o empresário Eduardo Barreto, amigo de Shelard desde os seis anos de idade. Além de destacarem os feitos e o legado do pesquisador em sua carreira científica, os palestrantes ressaltaram as qualidades de Shellard como pessoa e como militante em prol da ciência brasileira.

O físico

O Acadêmico Carlos Escobar, professor titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que conhecia Shellard há muitos anos, afirmou que era difícil separar o amigo do profissional. Após 52 anos compartilhando interesses e preocupações, ele contou um pouco da trajetória do cientista.

Shellard começou sua jornada na física em 1970, na Universidade de São Paulo (USP) e logo após a graduação fez o mestrado no Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (IFT/Unesp, 1973). Entre 1973 e 1974, o Acadêmico aperfeiçoou-se em física e astronomia na Universidade da Califórnia em Santa Bárbara (EUA) e concluiu o doutorado na mesma área na Universidade da Califórnia em Los Angeles (EUA). Dedicou-se à quebra dinâmica de simetria de calibre. com a tese “Dynamical Symmetry Breakdown at Two Loop and Recap”. Em 1983, o cientista deu um novo passo na carreira: ingressou no Departamento de Física da PUC-Rio, onde iniciou pesquisas em teorias de campos. 

Em 1995, Shellard foi um dos intermediários da Colaboração Auger, uma iniciativa de cientistas internacionais para construir um gigantesco observatório que investigaria a origem dos raios cósmicos de energias elevadíssimas. Em um evento com forte participação brasileira, realizado na sede da Unesco em Paris, foi tomada a decisão de construir dois observatórios, um no Norte e outro no Sul. O primeiro lugar escolhido foi a Argentina.

Depois de Auger, o cientista não abandonou mais a física de astropartículas, dedicando-se também ao projeto CTA (Cherenkov Telescope Array), projeto multinacional mundial para construir uma nova geração de instrumentos de raios gama, e ao Observatório de Raios Gama de Campo Amplo do Sul, projetado para detectar partículas de chuvas atmosféricas iniciadas por raios gama que entram na atmosfera da Terra.

Quando de seu falecimento, Shellard exercia o cargo de diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF/MCTI).

Fotos de Shellard, do acervo pessoal de Carlos Escobar

O gestor

Marcio Portes de Albuquerque é vice-diretor e coordenador de Ações Institucionais do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF/MCTI), onde trabalhou com Shellard desde 2015. Após seis anos de contato intenso, Albuquerque descreve o companheiro de trabalho como “um homem estratégico”. “Ele gostava de discordar, isso provavelmente o levou para a física. Sempre tinha uma estratégia para discutir com ministérios, para brigar por recursos”. Segundo Albuquerque, Shellard exercia um papel chave nas unidades de pesquisa, sempre discutindo questões relevantes, convocando especialistas para conversar e trazer dados concretos. Era um entusiasta da popularização da ciência, com atuação marcante nessa área e na formação de novos cientistas.

“Ele nunca fugia das hierarquias”, comentou Albuquerque. “Sempre assumia as responsabilidades que caíam sobre ele como gestor.” Uma prova disso foi como Shellard contornou as crises vividas enquanto estava à frente do CBPF: “Mesmo durante o apagão de recursos de 2017, uma das mais sérias crises já vividas no CBPF, Shellard nunca desanimava. Ele vestia a camisa da instituição e da ciência e, assim, valores pessoais dele se tornavam valores da instituição.”

Fotos de Shellard em eventos, compartilhadas por Albuquerque

O divulgador

Ildeu de Castro Moreira, professor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), destacou a atuação de Ronald Shellard como divulgador científico. Sua primeira ação de destaque foi como um dos idealizadores do projeto “SBPC Vai à Escola”, criado em 1995 e existente até hoje. À frente do CBPF, foi um dos idealizadores do Mural Grafite da Ciência, projeto de divulgação científica, projeto que une arte, ciência, enigmas e interatividade. Pintado no muro externo da sede do CBPF, o mural celebra a ciência como uma importante parte da cultura humana. Para Moreira, o projeto “expressa sua visão de ciência e arte e sua essência como ser humano”. Outra criação bem-sucedida de Shellard foi o programa “Físico por uma tarde”, que consistia em visitas guiadas de jovens no ensino médio à sede do CBPF. No ano de 2017, o balanço foi positivo: 16 visitas de escolas, presença de 508 alunos, participação de 12 palestrantes e 20 monitores. Mais de dez alunos que passaram pelo programa decidiram fazer física.

Enquanto editor da revista Ciência Hoje, Shellard escreveu dezenas de artigos, sempre destacando a importância da divulgação científica na formação de crianças e jovens. Além disso, sempre valorizava os institutos nacionais de pesquisa e investia na conexão das escolas com a ciência.

O mentor

Ulisses Barres de Almeida afirma que ter trabalhado com Shellard durante sua “maturação profissional” foi uma grande sorte, tamanho o aprendizado adquirido ao longo dos anos. Pesquisador associado do CBPF e membro afiliado da ABC, Almeida lembra que o professor assumia posições polêmicas para se manter em forma com o debate, mas nunca usou deboche ou superioridade para ganhar uma discussão. “Ele prezava pelas críticas construtivas, pela clareza. Sempre dizia que ‘aos trancos e barrancos, vamos dar um jeito’”, contou, recordando a positividade do professor. Das lembranças do mestre, ficou o legado de uma “escola de liderança”: “Nada o desviava de sua calma e determinação.”

O amigo

Eduardo Barreto teve a honra de conviver desde os seis anos de idade com Shellard. Sócio gestor da São José Fincorp, conheceu o cientista no Colégio Santo Américo, em São Paulo. Em sua breve apresentação, destacou o empenho do Acadêmico para trazer projetos científicos para a América do Sul.

Durante seus tempos de escola, Rony, como é chamado por Barreto, sempre manifestou claramente suas ideias e a sua obstinação às áreas de física e química – sinais do sucesso que ele alcançaria em sua trajetória. Os cientistas voltaram a ser próximos quando Shellard assumiu o comando do CBPF. Juntos, criaram algumas iniciativas, inclusive reunindo-se com ministros em busca de fornecedores para o projeto Auger. 

Ronald Shellard foi um grande cientista, amigo e profissional. Seu trabalho em prol da física e da divulgação científica será lembrado por muito tempo. 

Assista ao Webinário completo no YouTube.

 

Webinários da ABC, Ed.50: HOMENAGEM AO PROF. RONALD CINTRA SHELLARD

1Este webinário da ABC, organizado em conjunto com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), será dedicado à memória do Acadêmico Ronald Cintra Shellard, falecido no dia 7/12/2021, aos 73 anos. Ele era diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).

Os vários aspectos da atuação de Shellard como pessoa, como cientista e como lutador em prol da ciência brasileira serão apresentados por colegas e amigos na ocasião. 

  • Abertura: Luiz Davidovich (presidente da ABC) e Renato Janine Ribeiro (presidente da SBPC)
  • Moderadoras: Acadêmicas Debora Foguel (UFRJ) e Ana Tereza Vasconcelos (LNCC)

 

Apresentadores:

Luiz Davidovich, Carlos Escobar, Marcio Portes, Ildeu Moreira, Ulisses Barres e Eduardo Barreto
  • Luiz Davidovich | “Ronald Shellard, o Acadêmico”
    Professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Presidente da Academia Brasileira de Ciências e secretário geral da TWAS eleito para o período 2019-2023.

  • Carlos Escobar | “Ronald Shellard, o físico”
    Professor titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atuou no Observatório Pierre Auger, na Argentina, e no Laboratório Nacional Fermi (Fermilab), nos EUA. É membro titular da ABC.

  • Marcio Portes de Albuquerque | “Ronald Shellard, o gestor”
    Vice-diretor e coordenador de Ações Institucionais do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF/MCTI). Coordena o Setor de Engenharia de Operações da Rede-Rio de Computadores (Faperj) e o Projeto Redecomep-Rio (RNP e Faperj). 

  • Ildeu de Castro Moreira | “Ronald Shellard, o divulgador”
    Professor do Instituto de Física da UFRJ.  Atua no Programa de Pós-Graduação em História das Ciências, Ensino de Física e História da Física na UFRJ e no mestrado em Divulgação Científica da Fiocruz/UFRJ/MAST/JBRJ. Dirigiu o Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia. Presidente de Honra da SBPC.

  • Ulisses Barres de Almeida | “Ronald Shellard, o mentor”
    Pesquisador associado do CBPF e membro afiliado da ABC. É vice-spokesperson do Southern Wide-Field Gamma-ray Observatory (SWGO), e membro do Conselho do Cherenkov Telescope Array (CTA), ambos grandes experimentos internacionais de astropartículas dos quais Shellard também fazia parte. 

  • Eduardo Barreto | “Ronald Shellard, o amigo”
    Sócio gestor da São José Fincorp. Conheceu Shellard no Colégio Santo Américo, em São Paulo, aos 6 anos de idade.

 


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Assista ao nosso webinário em: www.abc.org.br/transmissao 

A emissão do certificado de participação acontecerá em até 30 dias úteis.


 

SERVIÇO
Evento: WEBINÁRIOS DA ABC – Ed. 50 | Homenagem ao Prof. Ronald Cintra Shellard
Data: 3ª feira, 01/02/2022
Hora: 16h (GMT-3)
Inscrições gratuitas:
Local: www.abc.org.br/transmissao 


Perdeu os webinários da ABC anteriores? Assista aqui!


 

IAP e IANAS promovem webinário sobre práticas acadêmicas predatórias

A Parceria InterAcademias (IAP, na sigla em inglês) e a Rede Interamericana de Academias de Ciências (IANAS, na sigla em inglês), organizações das quais a ABC é membro, se uniram para promover o webinário gratuito “Práticas acadêmicas predatórias: Perspectivas e aprendizagem regionais”, que ocorrerá na próxima sexta-feira, 3/12, a partir das 13h (horário de Brasília). O objetivo do evento é contribuir para que pesquisadores das Américas e do Caribe tenham mais conhecimento sobre práticas acadêmicas predatórias, minimizando o risco de usá-las.

O webinário reunirá membros do Grupo de Trabalho do IAP, que estão liderando um estudo sobre tais práticas, e outros cientistas da região, almejando discutir o que aprenderam com as análises e ouvir as outras perspectivas sobre jornais e conferências predatórias.

Apesar de não haver limite de inscrições, os organizadores incentivam os interessados a se inscreverem o mais rápido possível através deste link. A inscrição é gratuita e obrigatória. Todos os pesquisadores, bem como aqueles em outros setores relacionados, são convidados a participar. Será possível enviar perguntas aos palestrantes durante o evento, tendo em vista uma participação mais ampla. O webinário será conduzido em inglês.

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