Seu pai era comerciante, ramo em que ainda atua, e sua mãe era professora na rede pública. Filha do meio, única menina, Denise Brentan da Silva nasceu em 1982, em Dourados, no estado de Mato Grosso do Sul. Passou a infância no interior do estado, num sítio na cidade de Nova Andradina, a 300 km da capital, e sempre teve muito contato com a natureza. Andava de bicicleta, brincava de dar aulas para seus animais de estimação e seu irmão caçula, coletava folhas e flores, que colava em uma caderno com anotações. “Até hoje meus pais guardam esses cadernos, pois sempre dizem que eles já mostravam sinais de que eu seria cientista e inclusive revelavam uma tendência para a minha linha de pesquisa, já que trabalho com química de produtos naturais”, recorda.

No colégio, a matéria preferida de Denise era a biologia, mas logo se apaixonou pela química. Ela lembra que era muito atraída pelas feiras de ciências e que sempre participava, empolgada com os trabalhos e proposições dos professores. “No ensino médio eu tinha muita curiosidade em compreender como a natureza poderia ser vista do ponto de vista químico e entender como os fenômenos ocorriam, então passei a estudar e ler muito sobre isso”, relata. Ela lia sobre os grandes feitos de cientistas como, por exemplo, Marie Curie. Além dos livros, porém, havia uma professora de química que fez com que Denise amasse a matéria. “Era uma mulher forte e inspiradora”, descreve a pesquisadora.

Denise conta que seus dois irmãos cursaram engenharia civil. “Meu irmão mais velho entrou no mesmo ano que eu na universidade, estudamos juntos para o vestibular e viajamos juntos para realizar as provas, o que foi estimulante, pois um dava incentivo ao outro”, destaca. O apoio e incentivo da família, segundo ela, foram fundamentais para seus estudos e para o aprimoramento de sua carreira. “Mais que tudo, meus pais me ensinaram a ser resiliente, a ter ética e humildade”, declara a Acadêmica.

A moça saiu então da cidade pequena para cursar farmácia na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), no campus de Campo Grande, no ano 2000. Escolheu farmácia porque viu que no curso teria a oportunidade de estudar diferentes áreas da química. Entrou logo para a iniciação científica (IC), que fez ao longo de toda a graduação, e participou dos trabalhos de campo, realizando coletas no Pantanal e Cerrado, quando reuniu material de extrema importância para a realização dos seus projetos e enriquecimento das pesquisas na área. Foi na iniciação científica, segundo ela, que ficou fascinada pela pesquisa e se reconheceu no caminho da ciência. “O estímulo para a carreira de pesquisadora veio por meio do ambiente de pesquisa do laboratório e pela convivência com um orientador empolgado e criativo, o professor João Máximo de Siqueira”, relatou a cientista.

Denise concluiu o mestrado em química pela mesma instituição, em 2006, e no mesmo ano deu início ao doutorado em ciências farmacêuticas na Universidade de São Paulo (USP). Ela diz que teve

o privilégio de conviver com exemplos de pesquisadores, incluindo sua orientadora, professora. Dionéia Camilo Rodrigues de Oliveira, com quem aprendeu, além de conhecimentos da área, diversos valores, como ética e amor pela ciência. “Com certeza, ter grandes exemplos durante minha formação e apoio para estudar e desenvolver os projetos paralelos que surgiam em minha mente me fizeram não somente aprender, mas também crescer como ser humano e fortalecer as relações de amizade no meio científico”, ressalta Denise. Após o doutorado, Denise Brentan da Silva seguiu para o pós-doutoramento, também pela USP, com o professor Norberto Peporine Lopes, com quem aprendeu muito sobre espectrometria de massas, além de também de liderança e motivação para projetos inovadores e desafiadores. Trabalhou em uma empresa de pesquisa e desenvolvimento, o que marcou sua trajetória e aproximou Denise das demandas existentes no mercado. Em 2015, iniciou a carreira como docente na UFMS e, atualmente, lidera o grupo de pesquisas do Laboratório de Produtos Naturais e Espectrometria de Massas (Lapnem). Além disso, recebeu o Prêmio Professor Otto Richard Gottlieb de Jovem Talento da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), como reconhecimento por seu trabalho.

A pesquisadora atua na área de química de produtos naturais, empregando a espectrometria de massas e a metabolômica para a determinação de componentes bioativos de nossa biodiversidade, incluindo fauna, flora e microrganismos. “Atualmente, além de buscar substâncias bioativas para doenças negligenciadas, inflamatórias e câncer a partir de fauna, flora e microrganismos, também avaliamos eventos químicos relacionados à adaptação química de espécies resistentes ao fogo e inundação no Pantanal, a sexualidade em plantas, interações planta-inseto e planta-planta, quimiotaxonomia, microbioma e correlações evolutivas”, explica.

Motivada e inspirada por grandes desafios, a pesquisadora declara que quanto mais difícil for o caminho para a obtenção do resultado, maior é a diversão. E é esse seu grande encanto na ciência: as descobertas e as perguntas que impulsionam novos desafios. “Na minha área de pesquisa o que mais me fascina é enxergar a incrível eficiência química na natureza, onde os componentes químicos possuem funções específicas e úteis para sobrevivência, comunicação e manutenção das espécies”, relata. Além disso, ela conta que tem atuado cada vez mais em projetos multidisciplinares, devido a “importância de integração com pesquisadores de diferentes áreas, fazendo com que a diversidade de pensamentos e pessoas reflitam em melhores resultados e aprendizado, levando a um crescimento pessoal e científico”.

A farmacêutica destaca a honra de ter sido eleita como membro afiliada da ABC, pelo reconhecimento de seu trabalho como pesquisadora por uma instituição que, segundo ela, representa a ciência nacional. Ela pretende contribuir com a participação nos debates e proposições, como também ser útil para a sociedade e a comunidade científica. “Será importante para mim a integração com outros pesquisadores da ABC e a aproximação das pessoas externas à academia com a ciência, uma vez que ter sido eleita aproximou meus alunos, amigos e familiares da ciência”, observa Denise.

Ativa na divulgação e discussão sobre as mulheres na pesquisa e empoderamento feminino para desenvolver a capacidade de liderança, Denise frisa a importância da divulgação científica e a necessidade de aproximação da ciência com a sociedade. Ela afirma ser fundamental “para que tenhamos mudanças políticas e mais investimentos em ciência, tecnologia e educação, pois só assim teremos melhorias na qualidade de vida das pessoas e desenvolvimento do país”. Em seu tempo livre, adora conhecer culturas e locais diferentes, incluindo o contato com a natureza e a companhia de um bom livro.