Thaisa Sala Michelan nasceu em Curitiba, no estado do Paraná, em 1987 e é a mais velha de três irmãs. Ela passou a infância na cidade de Terra Boa, no interior do estado, onde viveu uma fase “muito livre e criativa da vida”, com “acampamento de lençol e barbante” em casa e construção dos próprios brinquedos. Além disso, o local permitiu que Thaisa tivesse um contato mais próximo com a natureza, com a cidade rodeada de florestas – o que talvez a tenha influenciado anos depois, na escolha da carreira.

Na escola, suas disciplinas favoritas eram matemática e ciências/biologia: “a matemática me agradava por ser “exata” – “Estava certo ou errado e eu adorava isso. Já com ciências os experimentos em laboratório eram o que me fascinava”, contou. Apesar dos incentivos dos pais para as práticas esportivas, ela não tinha habilidades para elas, por isso, a disciplina de educação física era sua matéria menos favorita.

Ao contrário de alguns cientistas, que já sabiam que carreira gostariam de seguir desde criança, Thaisa lembrou que o momento de sua escolha não foi particularmente empolgante. Próximo à época do vestibular, ela acreditava que seria médica. “Na roda de amigos no terceiro ano e cursinho, só poderia ser feliz e bem-sucedida se fosse médica”, comentou. “Mas eu estava muito enganada, hoje sou feliz e totalmente realizada na minha área de atuação.”

Thaisa lembrou da reação da mãe quando ela contou que cursaria ciências biológicas: “Ela ficou um pouco assustada, pois sabia das dificuldades e das poucas oportunidades da profissão no futuro.” A mãe era professora de biologia para o ensino fundamental e médio, e conhecia o mercado de trabalho e as dificuldades inerentes na área. No entanto, nem ela, nem o pai, agrônomo e fiscal no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a desmotivaram: recomendaram que ela corresse atrás de um estágio, que era o que faria a diferença em seu currículo. E foi o que ela fez desde o primeiro semestre da graduação.

Em 2005, Thaisa ingressou na graduação na Universidade Estadual de Maringá (UEM), onde conheceu professores maravilhosos, incluindo o professor Sidinei Magela Thomaz, que a apresentou ao mundo científico. Com ele, ela descobriu o que era fazer pesquisa ecológica e sua importância para a sociedade, as teorias, as formulações de hipóteses e predições e os caminhos para testá-las. “A iniciação científica foi fundamental para seguir na pesquisa, foi nesse momento que entendi e aprendi o que era fazer ciência”, contou Thaisa. Para ela, fazer parte de um laboratório ao longo da graduação foi muito importante na formação, pois foi quando ela começou a entender como os projetos são elaborados e as pesquisas são realizadas. “Enquanto acompanhamos trabalhos de colegas e amigos, formamos uma segunda família, afinal passamos quase mais tempo na universidade do que em casa, e aprendemos diariamente a sermos pesquisadores melhores.”

Em 2009, ano seguinte à conclusão de sua graduação, Thaisa deu início ao Mestrado em Ecologia e Evolução na Universidade Federal de Goiás (UFG). Em 2012 iniciou o Doutorado

em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais na UEM, com período sanduíche na Academia de Ciências da República Tcheca, concluído em 2016.

Atualmente, ela é professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), docente do Programa de Pós-graduação em Ecologia (UFPA/Embrapa Oriental), do qual foi coordenadora entre 2017 e 2020 e docente no PPG em Ciências Biológicas/Botânica Tropical (UFRA/Museu Emílio Goeldi). Ela concluiu dois pós-doutorados: o primeiro pela UEM, em 2017, e o segundo pela Universidade da Flórida (UF), em 2020.

Os estudos de Michelan focam em dois principais segmentos: o primeiro analisa o impacto das ações do homem sobre a biodiversidade aquática e sua conservação, com ênfase em plantas aquáticas, como por exemplo, a vitória régia e o aguapé. O segundo se concentra no efeito da introdução de espécies exóticas invasoras (trazidas de outros países ou regiões) nos ambientes de água doce, favorecido pelo desmatamento das margens. “A perda da vegetação ripária ao longo dos nossos riachos, lagos e rios, causam o assoreamento desses locais e favorecem a entrada das espécies exóticas invasoras de plantas aquáticas, que é um grande problema de extinção da atualidade e que precisa ser estudada”, explicou a professora da UFPA. “Como não apresentam um sistema de controle natural para impossibilitar seu crescimento (como por exemplo, um herbívoro) e por possuírem características que as tornam competidoras melhores que nossas espécies nativas, elas acabam dominando o novo ambiente, afetando toda a cadeia trófica, chegando até a diminuir a quantidade de peixes do local.” Essa série de agravantes provam porque é perigoso trazer uma planta de um novo local e plantá-la sem conhecer os possíveis efeitos negativos sobre outras espécies, uma vez que suas sementes e fragmentos podem ser dispersas e acabar excluindo as espécies nativas.

O que mais encanta Thaisa Michelan na ciência é a possibilidade de conhecer teorias ecológicas, testar hipóteses e ensinar a importância desse processo para seus alunos. Para ela, “saber que os resultados dos artigos científicos podem ser e são usados para a tomada de decisão faz com que tudo que fazemos dentro da universidade valha a pena.” Ela afirmou que esse é o combustível para tentar fazer o mundo um lugar melhor agora e para as próximas gerações.

Ter sido eleita membro afiliado da ABC é um motivo de grande comemoração para Thaisa Michelan: não só para ela, mas para todo o trabalho de pesquisa e ensino que o grupo de biodiversidade da UFPA vem realizando. Participar da ABC é considerada “uma oportunidade única de contribuir ainda mais para o desenvolvimento científico e da educação na região Norte do país”, de acordo com a nova Acadêmica. “Quero participar das discussões, conhecer as atuações do grupo”, afirmou. Ela dedica a nomeação a todas as mulheres na ciência: “Gostaria que nossas meninas, jovens cientistas, olhassem esse momento e entendessem que com dedicação podemos tudo.”

Nas horas vagas, a bióloga se considera uma apreciadora (amadora) de vinho e arte. Ela afirma que aprendeu que ambos podem gerar sensações diferentes dependendo da ocasião e intensidade das emoções. “Sou apaixonada pelas obras do Monet, francês que retratou em muitas das suas telas as plantas aquáticas e recentemente admiradora de Djanira da Motta e Silva, uma brasileira que por muito tempo, ela e suas obras, foram classificadas como ingênuas e primitivas, mas que na verdade é uma mulher que evoluiu

muito ao longo de sua vida artística de forma singela e poética”, observou, e é isso que Thaisa tenta fazer com a ciência que desenvolve.