A Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (SMCT-RJ) organizaram, no dia 21 de março, a Conferência de Ciência, Tecnologia e Inovação sobre Cidades, como parte da preparação para a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5ª CNCTI), que será realizada em junho. “Observamos todos os eventos programados e percebemos que faltava um olhar municipal”, explicou a presidente da ABC, Helena Nader, ao lado da secretária de C&T do Rio de Janeiro, Tatiana Roque.

A primeira mesa trouxe o olhar da ciência sobre as questões da gestão da água, do lixo e da necessária transição energética nos espaços urbanos. Sobre esta última, o professor do Programa de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ) e membro titular da ABC Edson Watanabe destacou que uma das características da transição energética é o foco na eletrificação. “Nossa matriz elétrica já é 90% limpa, mas teremos que expandir para dar conta. Energia solar e eólica são cada vez mais viáveis. Dito isso, temos alguns desafios para as nossas cidades, como eletrificar o transporte urbano, incentivar veículos híbridos e implementar estações de recargas. Precisaremos criar um plano de ação com metas claras”, afirmou.

O professor de hidrologia e recursos hídricos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ) Jerson Kelman fez um panorama histórico da transição energética atual. “Todas as transições anteriores foram de meios menos eficientes para mais eficientes. A atual é o contrário, queremos ir para meios menos eficientes para evitar uma externalidade grave. As sociedades desenvolvidas se mostraram interessadas em pagar por essa transição, é uma oportunidade para o Brasil vender soluções de baixo carbono”, disse.

Kelman já foi diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e também presidente da Light, concessionária de energia elétrica da cidade do Rio de Janeiro. Mesclando experiências na academia e nos setores público e privado, ele conta que a maior dificuldade é convencer sucessivas administrações a continuarem com as ações. “Muitas vezes a universidade sugeria, por exemplo, que certas áreas fossem mantidas desocupadas para escoamento dos rios. Isso durava alguns anos, mas depois entrava outro governo e hoje está tudo ocupado”.

Na mesma linha, a gerente de meio ambiente do grupo Águas do Brasil, Gisele Bôa Sorte, afirmou que o crescimento urbano desordenado é um desafio para o manejo e tratamento das águas. Ela afirmou que as concessionárias estão trabalhando em conjunto com o poder público num plano de segurança hídrica para a capital do estado, que tem como um dos focos a qualidade da água, problema crônico em anos recentes. “No Rio de Janeiro, temos uma relação critica entre disponibilidade e demanda. Há uma alta dependência de uma única fonte de abastecimento, o rio Paraíba do Sul, que abastece 92% da cidade. Se dá algum problema, são dez milhões de pessoas afetadas”, afirmou.

A poluição é outro problema, intimamente ligada à questão do lixo e as dificuldades da cidade em lidar com seus resíduos. A professora Maria Inês Tavares, diretora do Instituto de Macromoléculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é especialista em microplásticos, um dos maiores vilões da poluição das águas hoje em dia. “O descarte inadequado de plásticos gera os microplásticos, que afetam a saúde humana e ambiental. Já existem ilhas de microplásticos nos mares brasileiros e também no exterior. Temos um caso de sucesso com a reutilização do alumínio, pois a coleta é paga, então surgem os catadores. Por que não fazer o mesmo com o plástico?”, sugeriu.

Cada pessoa no Brasil produz em média 1 kg de lixo por dia e quase 75% disso vão para lixões e aterros sanitários. Somos um dos países que menos recicla no mundo. A professora Rosane Cristina de Andrade, coordenadora do curso de Especialização em Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), afirmou que a ciência já produz soluções simples e viáveis para mitigar esse problema. “As universidade brasileiras estão entre as maiores depositantes de patentes no mundo sobre gerenciamento de resíduos sólidos. Isso mostra o papel fundamental da ciência”, sumarizou.

Maria Inês Tavares, Gisele Bôa Sorte, Joao Torres de Mello Neto (moderador), Rosane Cristina de Andrade e Edson Watanabe. Jerson Kelman participou pela internet (Foto: Ana Beatriz Macedo)

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