Dentro da iniciativa do “Projeto de Ciência Para o Brasil” a Área de Saúde se imbrica muito diretamente com outras áreas, mais especialmente Ciências Básicas, Cérebro e Novas Tecnologias para o Século XXI. Nesse sentido, a pesquisa em Saúde incorpora um forte componente “translacional” que depende da identificação de ativos e de mecanismos básicos, assim como de conversão dos mesmos em avanços no diagnóstico, procedimentos e produtos médicos. Para isso, a constante busca de excelência e aumento da estrutura, formação e capacitação de recursos humanos qualificados para pesquisa básica, translacional e clínica em saúde são essenciais, e são dependentes de investimentos expressivos e continuados em pesquisas.
O Brasil tem também um complexo sistema de serviços de saúde, composto de três subsetores que, como descritos por Paim et al. [1] são: (1) o Sistema Único de Saúde-SUS, visando a garantia do acesso integral e universal a saúde no qual serviços são financiados e providos pelo Estado, a nível federal, estadual e municipal; (2) o subsetor privado (for-profit e non-profit), no qual serviços são financiados de várias formas com recursos públicos e privados; (3) O subsetor de seguro de saúde com diferentes formas de planos de saúde. O mercado de planos de saúde privados e o mercado de seguros estão concentrados no Sudeste, onde estão baseadas 61,5% da companhias de seguro de saúde. De acordo com Paim et al. (2011) 18,4% da população possui seguro de saúde privado e 6,1% possui seguro para servidores civis. Desta forma, 75% da população depende exclusivamente do SUS. Isto, faz com que a geração de novos conhecimentos científicos e sua aplicação que garantam inovações e tecnologias em saúde efetivas, seguras e acessíveis ao sistema de saúde público brasileiro, e a logística de fornecimentos de serviços por este órgão seja intrinsecamente uma importante matéria de pesquisa em Saúde.
Um problema que se tornou agudo recentemente é a “crise de reprodutibilidade” da Ciência como um todo e da pesquisa médica em especial [2]. A existência desta crise é reconhecida por 90% dos cientistas recentemente pesquisados pela Nature [3]. Por exemplo, Ioannidis [4] mostrou que de 49 estudos clínicos publicados em 1990-2003, cada um com mais de 1000 citações, 32% não podiam ser completamente replicados. Assim um papel importante da ABC será de alavancar a normatização dos estudos clínicos realizados no Brasil, em sua concepção, realização e análise. Em outras palavras, a própria metodologia da pesquisa médica deverá se tornar objeto pesquisa.
Identificamos algumas áreas críticas que merecem atenção especial no planejamento de pesquisa em Saúde:
1) Doenças Emergentes e Re-Emergentes Fortalecimento e coordenação dos esforços de pesquisa para responder aos desafios das doenças existentes e preparo para novas infecções emergentes
- Pesquisa e doenças endêmicas, emergentes e re-emergentes
- Controle de vetores:
- Aedes
- Phlebotomus
- Reduvíideos
- Biomphalaria
- Interação patógeno-hospedeiro
- Pesquisa genética de patógenos, de vetores e de hospedeiros
- Pesquisa imunológica de patógenos, de vetores e de hospedeiros
- Pesquisa genética e bioquímica dos mecanismos de interação dos patógenos com células hospedeiras
- Interação doença-doença (co-infecções, co-morbidades)
- Mecanismos de adoecimento
- Controle de vetores:
- Aumento e melhoria da capacidade diagnóstica e vigilância epidemiológica
- Desenvolvimento de vacinas
- Dengue, Zica, Chikungunya
- Leishmaniose
- Resistência bacteriana
- Identificação de novos mecanismos antibióticos ou quimioterápicos
- Investigação dos mecanismos ecológicos bacterianos e virais (bacteriófagos) envolvidos
- Doenças cardiovasculares e metabólicas
- Doenças Crônico degenerativas
- Doenças neurodegenerativas (demência/Alzheimer, ALS, etc)
- Câncer, especialmente os mais frequentes ou de frequência crescente no Brasil
- Saúde e Ambiente
- Infecções emergentes e re-emergentes
- Violência
- Abuso de drogas
- Incorporação das ciências “ômicas” na pesquisa em saúde
- Caracterização dos componentes genéticos e ambientais das doenças comuns
- Identificação de efeitos fundadores na população brasileira (e.g. TP53)
- Abuso de drogas
- Prospecção de novos fármacos na flora e fauna e por síntese
- Pesquisa farmacogenética e farmacogenômica
- Pesquisa e desenvolvimento de imunobiológicos