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Medidas simplificam procedimentos para o atendimento da Lei da Biodiversidade

Atendendo a demandas da comunidade científica, o plenário do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGen), presidido pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), aprovou entre março e junho de 2018 uma série de medidas que simplificam o cumprimento da Lei de Acesso à Biodiversidade e Conhecimentos Tradicionais (Lei 13.123/2015) e o preenchimento do cadastro no Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado (SisGen) para pesquisas em Biodiversidade.

A Acadêmica Mercedes Bustamante é uma das signatárias do documento | Foto: Wilson Dias, Agência Brasil

As medidas foram encaminhadas pela Câmara Setorial da Academia do CGen, composta por cientistas que fazem a interface entre a academia e o Conselho.

No total, sete resoluções e uma orientação técnica foram elaboradas em consonância com as sugestões e contribuições vindas da comunidade científica. O objetivo é mitigar o impacto causado em algumas áreas de pesquisa que foram abarcadas pela Lei e em um primeiro momento não foram contempladas de forma adequada no SisGen.

Uma dessas resoluções (Nº 10 de 19 de junho de 2018) permite aos pesquisadores das áreas de Filogenia, Taxonomia, Sistemática, Ecologia, Biogeografia e Epidemiologia, fazer o cadastro de suas pesquisas por meio de um formulário simplificado, que estará disponível na próxima versão do SisGen. Esse novo formulário dá ao pesquisador a opção de indicar os números de registro, indicadores únicos ou do localizador padrão de recursos (URL) ou equivalentes em que estejam registradas estas informações nos bancos de dados, repositórios ou sistemas de informação de acesso aberto ao Estado brasileiro. Ou seja, por exemplo, ao invés de incluir no SisGen as informações sobre cada um dos exemplares estudados e sobre a procedência deles, o pesquisador poderá indicar apenas o localizador padrão de recursos (URL) do banco de dados, no qual estas informações estão disponíveis.

Outras resoluções também simplificam o preenchimento do SisGen. Como a que estabelece o nível taxonômico mínimo exigido para a identificação de cada grupo de organismos da biodiversidade nos casos de pesquisas em taxonomia e filogenia (Resolução CGen Nº 6 de 20 de março de 2018), em: I – Domínio (Archaea, Bacteria e Eukarya), no caso de bactérias, fungos microscópicos, e demais micro-organismos, com exceção de vírus; II – Classe, no caso de algas macroscópicas; III – Ordem, no caso de fungos macroscópicos e animais; e IV – Família, no caso de vírus e plantas. Ou seja, o pesquisador que estuda fungos macroscópicos ou insetos poderá indicar apenas a ordem destes organismos, sem precisar indicar as espécies de cada amostra estudada. Isso dá ao pesquisador a oportunidade de fazer apenas um registro para uma determinada ordem no lugar de 1000 registros de diferentes exemplares da mesma ordem.

Ainda sobre o nível taxonômico mínimo exigido para a identificação do patrimônio genético, o pesquisador de qualquer área, inclusive envolvido com desenvolvimento tecnológico, estudando micro-organismos não isolados de amostras de substratos, por exemplo, por meio de metagenômica (técnica que permite estudar os genomas de micro-organismos de um nicho ecológico sem necessidade de fazer culturas individuais), poderá indicar o Domínio como nível taxonômico (Resolução CGen Nº 8 de 20 de março de 2018). Com isso, o pesquisador precisará fazer, no máximo, três registros: para Archaea, Bacteria e Eukarya.

Outra demanda contemplada é a resolução que simplifica a exigência de indicação da localização geográfica (Resolução CGen Nº 7 de 20 de março de 2018). Nos casos em que o acesso seja exclusivamente para fins de pesquisa e quando é necessário o registro de mais de cem localidades diferentes, a indicação do munícipio onde foi obtido o patrimônio genético é a informação mínima exigida.

Mudanças importantes também foram aprovadas para remessa de patrimônio genético. Foi aprovado novo modelo de Termo de Transferência de Material (TTM). Agora, por meio dessa resolução (Resolução CGen Nº 5 de 20 de março de 2018), a instituição brasileira poderá firmar um único TTM com uma mesma instituição estrangeira, com prazo de validade de até 10 anos, e renováveis. Ou seja, a cada remessa o pesquisador fará o cadastro no SisGen, anexará o TTM único com a instituição estrangeira e uma guia de remessa numerada de forma sequencial, com descrição das amostras a serem remetidas. As remessas das amostras do patrimônio genético serão acompanhadas pelo comprovante de cadastro de remessa (que deve ser realizado previamente à remessa), pela cópia do TTM assinado e pela guia de remessa. Nesse modelo de TTM foi ainda retirada a exigência de incluir informações pessoais do representante legal da instituição destinatária.

Quanto ao trânsito de patrimônio genético brasileiro, uma resolução aprovada em 19 de junho (Resolução CGen Nº 11 de 19 de junho de 2018) estabelece que a devolução de amostras de patrimônio genético brasileiro emprestadas às instituições nacionais por instituições estrangeiras mantenedoras de coleção biológica, uma atividade rotineira e muito particular a estas coleções, não configura remessa. Nestes casos, as amostras deverão estar acompanhadas de cópia dos TTMs, ou das Guias de Remessa, ou, ainda, de outros documentos legalmente constituídos à época que formalizaram o empréstimo, e que contenham a identificação das amostras.

Conforme a orientação técnica aprovada (Orientação Técnica CGenNº 3 de 19 de junho), a data da disponibilização do cadastro pelo CGen será a data de disponibilização de versão do SisGen que contenha estas funcionalidades. Sendo assim, as pesquisas que estão no escopo das Resoluções Nº 6, 7, 8, e 10, terão um ano após a disponibilização da nova versão do SisGen para serem cadastradas.

É importante ressaltar que essas recentes simplificações só foram possíveis porque contamos com a colaboração dos cientistas e suas representações, que levaram suas dificuldades e propuseram caminhos nas discussões sobre a implementação da nova Lei da Biodiversidade.

As atividades da Câmara Setorial da Academia podem ser acompanhadas por meio das memórias de reuniões, propostas de minutas de resoluções e orientações técnicas e links/documentos importantes para a academia, na página da CSAcademia.

As normas do CGen estão disponíveis neste link. As resoluções Nº. 10 e 11 e a Orientação técnica Nº. 3 de 19 de junho de 2018 serão publicadas em breve.

Manuela da Silva, pesquisadora da Fiocruz/Rio de Janeiro e coordenadora da Câmara Setorial da Academia do CGen

Laila S Espindola, professora da Universidade de Brasília, conselheira da SBPC e conselheira do CGen

Mercedes Bustamante, professora do Departamento de Ecologia da Universidade Brasília, representante da SBPC no CGEN

Luciane Marinoni, professora Titular na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e membro da Câmara Setorial da Academia do CGen

ABC e Academia Nacional de Engenharia estruturam parceria

Francis Francis Bogossian, Marcos Cortesão, Luiz Bevilacqua, Renato Cotta, Luiz Pereira Calôba e Nelson Martins reúnem-se na ABC

 

No  dia 12 de julho, membros da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Academia Nacional de Engenharia (ANE) reuniram-se, na sede da ABC, a fim de estabelecer uma maior aproximação e avaliar uma parceria ABC-ANE. Estiveram presentes: Renato Cotta, Luiz Bevilacqua e Luiz Pereira Calôba – Acadêmicos das duas instituições -, o presidente da ANE Francis Bogossian, o Acadêmico da ANE Nelson Martins, e o assessor técnico da ABC Marcos Cortesão.

Este primeiro encontro buscou estruturar propostas conjuntas de ação, que terão por objetivo o fortalecimento da engenharia, da ciência e da tecnologia no Brasil, entendendo estas como ferramentas fundamentais para o desenvolvimento nacional. A ANE vem discutindo internamente a elaboração de um documento focado nos Grandes Desafios da Engenharia. Este será estruturado em torno de grandes temas, como, por exemplo, mobilidade urbana, de forma similar ao que foi feito no Projeto de Ciência para o Brasil da ABC.

Para Luiz Bevilacqua, a parceria é uma ótima oportunidade para que as duas instituições ganhem ainda mais força perante a sociedade civil e política. Luiz Pereira Calôba, por sua vez, afirmou que tem certeza de que algum grau de articulação entre essas Academias será muito positivo, gerando uma sinergia que beneficiará a todos. Já o assessor técnico da ABC responsável por acompanhar os trabalhos do grupo, Marcos Cortesão, lembrou que “cada uma das Academias têm nichos e missões específicas, mas existe um enorme terreno comum onde estas podem atuar em sintonia, dando maior força e visibilidade a posicionamentos comuns em defesa de políticas públicas nacionais onde ciência, engenharia e medicina têm contribuições a dar”.

Os presidentes das instituições, Luiz Davidovich (ABC) e Francis Bogossian (ANE) estão animados com a parceria e acreditam que os frutos serão muitos. Na ocasião, Bogossian declarou: “Estou pronto para ‘arregaçar as mangas’ e fazer este grupo de trabalho conjunto acontecer.”

A próxima reunião ocorrerá daqui a algumas semanas na sede da ANE e dará seguimento na elaboração de um simpósio focado na discussão de casos de sucesso da Engenharia brasileira e como esta vem sendo desmantelada, com sérias consequências para o desenvolvimento nacional. Para Renato Cotta, é necessário que os problemas sejam relatados, mas que as conquistas também sejam exaltadas. “O evento precisa exaltar a importância histórica, presente e futura da engenharia nacional”, disse.

Helena Nader enaltece a pesquisa nacional e denuncia desmonte

Helena Nader denuncia desmonte da ciência nacional

Em tempos de desmonte das políticas públicas de educação, ciência e tecnologia é fundamental debater o papel e a importância do setor para o país. No domingo (08), foi celebrado o Dia Nacional da Ciência (Lei nº 10.221, de 18 de abril de 2001) e o Dia Nacional do Pesquisador (Lei nº 11.807, de 13 de novembro de 2008).

Helena Nader, professora titular da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e ex- presidenta da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), de 2011-2017, explica como, mesmo com pouco investimento o Brasil já é referência mundial em pesquisa.

“Entre as áreas mais relevantes, as que o Brasil se destaca, temos a engenharia aeronáutica, a Embraer é a terceira empresa de construção de aviões do mundo. Nunca ninguém tinha feito a associação entre a síndrome da microcefalia e o vírus da Zika, isso é uma descoberta dos cientistas brasileiros”. Ela cita, ainda, que a criação da urna e do sistema de automação bancário no brasil são parâmetros internacionais.

Em entrevista ao Brasil de Fato, a professora enalteceu a produção científica nacional, que, para ela, é um setor que se mostra avançado, mesmo diante da pouca idade da acadêmia brasileira. A primeira instituição de ensino superior do Brasil, a Escola de Cirurgia da Bahia, foi criada em 1808, seguida das Faculdades de Direito de São Paulo e de Olinda, em 1827.

Ela também cobrou mais investimentos no setor “Qual a grande diferença entre os chamados países desenvolvidos e nós, países em desenvolvimento? A educação e a ciência. A Ciência no Brasil, para os governos, é considerada gasto”.

A professora explica que o Brasil não têm política de Estado para a Ciência e Tecnologia, que sofre com as mudanças de governos ficando à mercê dos governantes “entra governo, saí governo, começa uma nova política”.

Ela cita como exemplo a Emenda Constitucional 95, implementada em 2016 pelo golpista Michel Temer, que limita o teto dos gastos públicos por 20 anos, congelando gastos essenciais como a educação, até 2036: “Ela tira o sonho, ela tira o futuro. E ninguém que aprovou essa emenda foi eleito para fazer isso”.

Para a cientista, é necessário lutar para que a educação e a ciência não estejam mais na Emenda Constitucional 95. “Não podemos jogar a toalha e deixar estes que estão aí fazerem tudo como eles acham que tem que ser. Eu prefiro achar que dá para mudar. Eu vou continuar achando que dá para mudar. Eu sou vou deixar achar ou por que mudou, ou por que eu morri”.

Para denunciar esse desmonte, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) convocou toda a comunidade científica e apoiadores a participar das Marchas Pela Ciência, que aconteceram em diversos estados pelo Brasil, em apoio à pesquisa científica.

Finep ressuscita editais de apoio à infraestrutura de pesquisa

Em tempos de crise e cortes orçamentários, uma boa notícia. A Finep lança hoje, 11 de julho, um pacote de editais voltados para o financiamento de infraestrutura de pesquisa em universidades e institutos de ciência e tecnologia, no valor de R$ 280 milhões. São as primeiras chamadas do fundo setorial de infraestrutura (CT-Infra) em quatro anos — o que vem fazendo uma falta danada para a comunidade científica nacional.

As últimas chamadas do CT-Infra — que costumavam ser anuais, constituindo um dos principais pilares de sustentação da ciência brasileira — foram feitas em 2014, no valor de R$ 500 milhões (R$ 400 milhões da Chamada Pública Proinfra 02/2014 + R$ 100 milhões da Carta Convite 01/2014), e cerca de metade desse valor ainda não foi contratado, por falta de recursos. O resultado foi uma estagnação e deterioração progressiva do infraestrutura básica de pesquisa (prédios, laboratórios) e do parque tecnológico (equipamentos) da ciência nacional nesse período.

“Passamos por momentos difíceis, mas conseguimos dar um fôlego esse ano para pagar o que resta de 2014 e lançar esses novos editais”, disse ao Estado o diretor de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Finep, Wanderley de Souza [membro titular da ABC]. “Nossa expectativa é de uma demanda gigantesca.”

São quatro chamadas no total. A maior delas, no valor de R$ 110 milhões, é para o financiamento de infraestrutura de pesquisa em áreas temáticas estratégicas, como biotecnologia, ciências biomédicas e nanotecnologia. Outra é para a manutenção de biotérios e coleções biológicas já existentes, no valor de R$ 70 milhões. As outras duas, de R$ 20 milhões cada, são voltadas para a consolidação da infraestrutura científica de novas universidades ou campus regionais, e para a finalização de obras iniciadas com recursos de editais anteriores.

“Fizemos visitas a universidades e institutos de pesquisa em todo o país e encontramos muitos equipamentos parados, sem manutenção, e obras inacabadas”, conta Souza. “Precisamos ampliar nosso parque científico, mas também manter bem aquilo que já existe.”

A demanda por esses novos editais, segundo ele, servirá como parâmetro para mensurar o tamanho da demanda reprimida por recursos da ciência brasileira, em função desses quatro anos de cortes orçamentários e contingenciamentos impostos pelo governo federal. Ele reconhece de imediato que R$ 280 milhões não são suficientes para recuperar o atraso, mas é um início. O valor só não é maior porque ainda há R$ 200 milhões a serem pagos dos editais de 2014 — que estão sendo contratados agora pela Finep.

“Esperamos que 2019 será um ano melhor do que os anteriores”, apesar das limitações, aposta Souza.

Desafio Serrapilheira convida cientistas a explicar pesquisas a três públicos diferentes

Como explicar pesquisa científica para uma criança de 10 anos, um acadêmico recém-formado e um especialista da área? O desafio foi lançado aos 65 cientistas selecionados pela primeira Chamada Pública do Instituto Serrapilheira: comunicar seus projetos para os três públicos, em vídeos curtos.

Tornar compreensíveis projetos em áreas que vão da computação quântica à matéria escura das galáxias pode ser especialmente desafiador. Por isso, os cientistas foram preparados por uma equipe de media training.

O resultado desse exercício de linguagem pode ser visto no Canal do Instituto Serrapilheira no Youtube, lançado oficialmente nesta terça-feira (10). Os vídeos, divulgados nas três versões, apresentam não apenas os projetos, mas os pesquisadores em toda a sua diversidade, rompendo o estereótipo predominante da figura do cientista.

“Com o projeto, queremos convidar o público a conhecer quem são e como pensam os jovens cientistas brasileiros. Mais que apresentar as pesquisas apoiadas pelo Serrapilheira, queremos entender que perguntas esses cientistas se fazem”, diz Natasha Felizi, diretora de Divulgação Científica do instituto.

Os vídeos podem ser conferidos aqui.

O Instituto

O Serrapilheira é uma instituição privada sem fins lucrativos inaugurada em 2017, com o objetivo de valorizar a ciência do Brasil e aumentar sua visibilidade e impacto, por meio do fomento à pesquisa e à divulgação científica.

A primeira chamada pública da área científica selecionou 65 projetos de cientistas brasileiros jovens nas áreas de ciência da computação, ciências da terra, ciências da vida, engenharias, física, matemática e química. Cada pesquisador foi contemplado com uma bolsa de R$ 100 mil.

Após um ano, os projetos serão reavaliados. Entre dez e 20 grantees receberão uma nova bolsa de até R$ 1 milhão, durante três anos.

Em 2018, o instituto lançou seu programa de divulgação científica, com ações como a Maratona Piauí Serrapilheira, o Camp Serrapilheira e a série Desafio Serrapilheira.

Substância da uva pode reduzir o crescimento de tumores

Bastante conhecida pela proteção cardiovascular e pelo auxílio na digestão, a uva é uma das frutas mais consumidas por quem busca melhorar a saúde. Segundo cientistas brasileiros, ela também ajuda no combate ao câncer. A equipe descobriu que o resveratrol, composto bioativo presente na uva, pode combater mutações na proteína p53, uma estrutura presente em cerca de 60% dos tumores. As descobertas foram publicadas na última edição da revista especializada Oncotarget e devem ajudar no desenvolvimento de medicamentos mais eficientes no tratamento de cancros.

O Acadêmico Jerson Lima da Silva, professor do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis (IbqM), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e um dos autores do estudo, explica que a p53 é estudada há duas décadas pela sua equipe e se tornou alvo de pesquisa pela ação dúbia no organismo humano. “É parecido com a história do médico e do monstro. Quando ocorre algum estresse, como tomar muita radiação ultravioleta na pele, essa proteína toma o controle da situação, realiza a supressão tumoral e faz reparos. Porém, ao sofrer mutações, por algum motivo misterioso, a p53 se modifica e contribui para o crescimento do câncer”, explica.

Os brasileiros —  pesquisa também contou com a participação de cientistas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) — decidiram testar o resveratrol para evitar a ação maléfica da p53. “Ele já havia sido associado à proteção do câncer. Um estudo realizado em 2012 pela nossa equipe também mostrou seus efeitos positivos no combate ao câncer de pulmão”, justifica Silva.

Na nova pesquisa, os cientistas recorreram à técnica de espectroscopia de fluorescência in vitro, um tipo de análise laboratorial extremamente delicada e minuciosa, para observar o potencial antitumoral do resveratrol em agregações de p53 presentes em células humanas. Como esperado, a substância reduziu os tumores.

A equipe também testou a ação da substância em células de câncer de mama implantadas em camundongos e com diferentes mutações de p53 am. O mesmo efeito de combate às proteínas mutantes foi detectado. “Demos foco a esse câncer por ser um dos mais comuns. É alto o número de casos desse tumor que pode ser letal”, detalha Silva.

Adriana Castelo Moura, oncologista do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, e especialista em tumores gastrointestinais e ginecológicos, avalia que a pesquisa traz dados positivos, mesmo que ainda experimentais. “São estudos feitos em animais, mas que se mostram promissores. Sabemos que o resveratrol tem uma fama positiva relacionada a seus efeitos antioxidantes, usados contra o envelhecimento, por exemplo. Tenho muitos pacientes que tomam até por contra própria, mesmo sem tanto respaldo científico. Agora, vemos esses possíveis efeitos anticâncer nesse trabalho”, destaca.

Concentração X eficácia

Jerson Lima da Silva explica que a p53 está presente em grande parte dos tumores, principalmente do ovário (mais de 90% dos casos), o que reforça o quanto um medicamento que atua nessa mutação pode contribuir para o combate à doença. O pesquisador ressalta que mais estudos são necessários para aprimorar os efeitos da substância e, dessa forma, contribuir para seu uso terapêutico. “Um ponto que precisamos mudar é o fato de que usamos uma concentração relativamente alta do resveratrol. Queremos modificar isso e aumentar sua eficácia em 10 vezes”, diz.

Adriana Castelo Moura lembra que, apesar de presente em muitos tipos de tumores, a mutação da p53 não é a única ligada ao surgimento de carcinomas. “Existem outras vias que estão envolvidas. Ainda assim, sabemos que muitas drogas surgem dessas pequenas descobertas. Esse é um primeiro passo. Acredito que esses resultados contribuem para abrir um leque de pesquisas sobre o tema”, ressalta.

Para saber mais

Fruta multiuso

O resveratrol está presente na casca da uva vermelha e é conhecido por ser um grande auxiliar da saúde cardiovascular. O consumo da substância está relacionado ao retardamento do envelhecimento cerebral, muscular e cardíaco e à prevenção do acúmulo do colesterol ruim (LDL). O composto ativo, que pertence ao grupo dos flavonoides, também está relacionado à prevenção do câncer devido à sua ação anti-inflamatória e ao poder antioxidante.

Por estar presente em uvas vermelhas, o resveratrol é encontrado em grandes quantidades no vinho tinto. Por isso, muitos médicos recomendam a ingestão de pequenas doses da bebida diariamente. O consumo da substância também é feito em cápsulas, vendidas em lojas de suplementos.

Acadêmico Hernán Chaimovich escreve sobre o falecido Ernst Hamburger

Leia texto do Acadêmico Hernán Chaimovich  sobre o recém-falecido Ernst Hamburger, seu colega e amigo:

“A Universidade de São Paulo, USP, desde que se mudou para o Campus do Butantan, tem algo de cruel, quando se trata de manter relações com pessoas de outras unidades. Junto com o privilégio de trabalhar num lugar verde e aberto, as distâncias paulistas separam. Como a distância entre o “meu” Instituto, i.e., de Química da USP, e a Física não é desprezível, passaram alguns anos antes de encontrar o Ernesto.

Encontrei o Ernesto (Ernst Wolfgang Hamburger) e Amelinha (Amelia Imperio Hamburger) no fim da década de 70 em reuniões semiclandestinas, assembleias de docentes e poucas outras ocasiões. Comecei a conhecê-los em 1983, quando formamos parte de uma chapa (“Universidade”) que pretendia ser eleita para a Diretoria da Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo, ADUSP.

A festa de aniversário dos cinquenta anos de Ernesto foi celebrada em grande estilo na casa deles, no mesmo mês em que a nossa chapa era eleita para ADUSP, para a raiva do grupo “Participação”. Os componentes dessa Diretoria bem descrevem a densidade acadêmica da ADUSP de esses tempos. Presidente Ernst Wolgang Hamburger, Diretores: Tercio Sampaio Ferraz Jr., José Arthur Giannotti, Wanderley Messias da Costa, Wilson Roberto Navega Lodi, Dilma de Melo Silva e eu. Olhar as fotografias do panfleto de propaganda da chapa traz doces lembranças, mas a releitura da nossa plataforma é, ainda hoje, contemporânea.

Essa companhia intelectual estendeu os meus horizontes e as relações pessoais me deram outra dimensão.

Essa Diretoria da ADUSP teve uma personalidade Ernestiana, temperada por muitas e amigáveis brigas.  As desavenças sempre tinham alguma coisa a ver com a tentativa de conter a inesgotável generosidade, a incrível capacidade de propor soluções negociadas e absoluta ingenuidade que, junto com o rigor acadêmico e a visão otimista de mundo, caracterizavam o Ernesto. Em anos ainda cinzas, ADUSP conseguiu promover mudanças na USP que, como a criação do Instituto de Estudos Avançados e a eleição do José Goldemberg a Reitor, produziram impactos que mudaram a universidade. Três anos depois do término de nosso mandato os membros do grupo “Participação” tomaram o poder na ADUSP e modificaram uma associação de Docentes num sindicato tão separado da trilha ernestiana que o nome Hamburger somente aparece, na novilingua da associação, numa nota de falecimento que menciona “en passant” que ele foi Presidente da entidade.

O Ernesto volta a aparecer com mais frequência no meu viver mais de uma década depois, quando, como membro da Diretoria da ABC, começo a ter relação com os Projetos de Ensino das Ciências.

São mais anos de aprendizado com Ernesto, agora de fazer o que no Brasil é, ainda, uma missão quase impossível: introduzir métodos modernos de ensino de ciências para muitas crianças.

No mundo todo Academias de Ciências tem, nas últimas décadas, se envolvido firmemente no esforço de criar e implementar métodos de ensino de ciências desde a mais terna infância. Ernesto, um cientista de alto nível que passou a se dedicar ao ensino, aceita este desafio com a força, dedicação e desprendimento que sempre foram parte de seu fazer.  A minha relação presencial com Ernesto a Amelinha termina este ano, a emocional se estende até o limite da minha memória.”

Leia matéria da Folha de S. Paulo sobre o falecimento do Acadêmico Ernst Hamburger

Leia entrevista de 2014 da revista Pesquisa Fapesp com o Acadêmico Ernst Hamburger

Veja o vídeo do CEPID/Fapesp com depoimento do próprio Hamburger sobre sua história de vida

Dia Nacional da Ciência: experimentos para o público e luta por recursos

Comemorado em 8 de julho, junto com o Dia Nacional do Pesquisador e com o aniversário da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o Dia Nacional da Ciência teve atividades por todo o Brasil.

No Rio de Janeiro, a data foi comemorada com muito movimento na Quinta da Boa Vista, em frente ao Museu Nacional. Exposições interativas, com diversos experimentos, entusiasmaram o público infanto-juvenil e os familiares que participaram do evento Domingo com Ciência, promovido pela SBPC ecom a participação de diversas entidades de divulgação científica como a Fiocruz, o Espaço Ciência Viva, o Observatório Nacional, o Museu de Astronomia,  a Fundação Cecierj e outros.

Exibições e experimentos atraem crianças, jovens e familiares na Quinta da Boa Vista

 

Tendas na frente do Museu Nacional foram ponto de encontro de manifestantes em prol da ciência brasileira no Rio de Janeiro

 

Veja destaque dos tuítes da SBPC‏:

@TaniaDominici
Mais do #DomingoComCiencia na Quinta, em frente ao @MuseuNacional. Evento cheio na comemoração pelos 70 anos da @SBPCnet e na luta pela ciência nacional #SBPC70anos. Com a presença de Luiz Davidovich, presidente da @ABCiencias, e dos deputados federais @jandira_feghali e @celsopansera

No centro, em pé, de camisa azul, o presidente da ABC Luiz Davidovich

Mais tuítes em https://twitter.com/SBPCnet 

 

Veja abaixo publicações na mídia sobre os eventos:

EDUCA MAIS BRASIL
Hoje é comemorado o Dia Nacional da Ciência
Matéria destaca que o brasileiro acredita e valoriza a ciência, de acordo com avaliação internacional promovida pela 3M. Mas não vê o país avançando: para a maioria dos entrevistados, a causa disso é o financiamento inadequado para a pesquisa científica no país.

BRASIL DE FATO
Dia da Ciência: Helena Nader enaltece a pesquisa nacional e denuncia desmonte
Para a Acadêmica e pesquisadora da Unifesp, Emenda Constitucional 95, que limita teto de gastos até 2036, “tira o sonho, tira o futuro”. E destaca que é necessário lutar para que a educação e a ciência sejam excluídas da Emenda.

Veja a entrevista da Acadêmica Helena nader para o “Brasil de Fato”:

UFMG NOTÍCIAS
Crianças e adultos celebram o Dia da Ciência na Praça da Liberdade
Para celebrar a data, a UFMG organizou, neste domingo, uma programação especial no Espaço do Conhecimento, na Praça da Liberdade, com atividades que incluíram experimentos de física e matemática, sobre o corpo humano e os sentidos.

Assista o vídeo da TV UFMG:

FOLHA DE S.PAULO
Cientistas pedem mais investimentos na ciência em marcha pela av. Paulista
Bonecos de Olinda dos cientistas Nise da Silveira, Albert Einstein, Aziz Ab’Saber e Leite Lopes abriram a marcha, organizada pela SBPC com apoio do Instituto Moreira Salles, e contou com a presença de diversas entidades científicas e cientistas que serão candidatos na eleição deste ano.

FILOS
Filos Entrevista: Márcia Barbosa
A física da UFRGS e diretora da ABC, Márcia Barbosa, falou sobre produtividade nacional, cortes na ciência, acesso aberto e o futuro da pesquisa no Brasil, destacando que os cientistas tem obrigação de fazer a melhor ciência que puder e divulgá-la, pois essa é a maneira de prestar contas ao “patrão”, que é o povo brasileiro.

Filos Entrevista: Márcia Barbosa

 

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