Leia texto do Acadêmico Hernán Chaimovich sobre o recém-falecido Ernst Hamburger, seu colega e amigo:
“A Universidade de São Paulo, USP, desde que se mudou para o Campus do Butantan, tem algo de cruel, quando se trata de manter relações com pessoas de outras unidades. Junto com o privilégio de trabalhar num lugar verde e aberto, as distâncias paulistas separam. Como a distância entre o “meu” Instituto, i.e., de Química da USP, e a Física não é desprezível, passaram alguns anos antes de encontrar o Ernesto.
Encontrei o Ernesto (Ernst Wolfgang Hamburger) e Amelinha (Amelia Imperio Hamburger) no fim da década de 70 em reuniões semiclandestinas, assembleias de docentes e poucas outras ocasiões. Comecei a conhecê-los em 1983, quando formamos parte de uma chapa (“Universidade”) que pretendia ser eleita para a Diretoria da Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo, ADUSP.
A festa de aniversário dos cinquenta anos de Ernesto foi celebrada em grande estilo na casa deles, no mesmo mês em que a nossa chapa era eleita para ADUSP, para a raiva do grupo “Participação”. Os componentes dessa Diretoria bem descrevem a densidade acadêmica da ADUSP de esses tempos. Presidente Ernst Wolgang Hamburger, Diretores: Tercio Sampaio Ferraz Jr., José Arthur Giannotti, Wanderley Messias da Costa, Wilson Roberto Navega Lodi, Dilma de Melo Silva e eu. Olhar as fotografias do panfleto de propaganda da chapa traz doces lembranças, mas a releitura da nossa plataforma é, ainda hoje, contemporânea.
Essa companhia intelectual estendeu os meus horizontes e as relações pessoais me deram outra dimensão.
Essa Diretoria da ADUSP teve uma personalidade Ernestiana, temperada por muitas e amigáveis brigas. As desavenças sempre tinham alguma coisa a ver com a tentativa de conter a inesgotável generosidade, a incrível capacidade de propor soluções negociadas e absoluta ingenuidade que, junto com o rigor acadêmico e a visão otimista de mundo, caracterizavam o Ernesto. Em anos ainda cinzas, ADUSP conseguiu promover mudanças na USP que, como a criação do Instituto de Estudos Avançados e a eleição do José Goldemberg a Reitor, produziram impactos que mudaram a universidade. Três anos depois do término de nosso mandato os membros do grupo “Participação” tomaram o poder na ADUSP e modificaram uma associação de Docentes num sindicato tão separado da trilha ernestiana que o nome Hamburger somente aparece, na novilingua da associação, numa nota de falecimento que menciona “en passant” que ele foi Presidente da entidade.
O Ernesto volta a aparecer com mais frequência no meu viver mais de uma década depois, quando, como membro da Diretoria da ABC, começo a ter relação com os Projetos de Ensino das Ciências.
São mais anos de aprendizado com Ernesto, agora de fazer o que no Brasil é, ainda, uma missão quase impossível: introduzir métodos modernos de ensino de ciências para muitas crianças.
No mundo todo Academias de Ciências tem, nas últimas décadas, se envolvido firmemente no esforço de criar e implementar métodos de ensino de ciências desde a mais terna infância. Ernesto, um cientista de alto nível que passou a se dedicar ao ensino, aceita este desafio com a força, dedicação e desprendimento que sempre foram parte de seu fazer. A minha relação presencial com Ernesto a Amelinha termina este ano, a emocional se estende até o limite da minha memória.”
Leia matéria da Folha de S. Paulo sobre o falecimento do Acadêmico Ernst Hamburger
Leia entrevista de 2014 da revista Pesquisa Fapesp com o Acadêmico Ernst Hamburger
Veja o vídeo do CEPID/Fapesp com depoimento do próprio Hamburger sobre sua história de vida