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Anais da Academia Brasileira de Ciências lançarão volume especial em parceria com a SBPMat

aabc-sbpmatOs Anais da Academia Brasileira de Ciências (AABC) em parceria com a Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat) lançarão o volume especial “Materials Sciences for a Better Future”.

Segundo o editor, Frank Crespilho {ex membro afiliado da ABC], professor do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da Universidade de São Paulo (USP) e membro da SBPMat, esta é uma grande oportunidade para se comemorar o sucesso das pesquisas na área de Materiais no Brasil. Crespilho ainda acrescenta que o tema do especial está em sintonia com o título da palestra memorial que o Acadêmico Fernando Galembeck ministrará no XVII Encontro da SBPMat, um evento que será realizado no Praiamar Natal Hotel em Natal (RN), de 16 a 20 de setembro de 2018. Também, esse volume especial faz parte da continuação das comemorações do centenário da Academia.

Os sócios da SBPMat e pesquisadores em geral poderão submeter seus trabalhos originais completos pelo site da revista no Scielo, de 9 de agosto a 9 de novembro de 2018, indicando na submissão e na Cover Letter sua participação no volume especial.

As publicações dos AABC não têm custo para os autores e podem ser acessadas livremente. Os AABC têm se engajado na publicação de volumes especiais, contemplando todas as áreas das ciências. Recentemente, a revista publicou artigos para o especial “Brazil: Frontiers of Chemical Sciences”, que podem ser acessados livremente aqui.

Academias das Américas discutem contribuições para a implementação da Agenda 2030

Em parceria com a Rede Global de Academias de Ciências (IAP-Science, na sigla em inglês), a Rede Interamericana de Academias de Ciências (Ianas, na sigla em inglês) realizou nos dias 29 e 30 de maio, na Cidade do México, o primeiro de uma série de quatro workshops regionais – os demais serão na África, Ásia e Europa – que têm por objetivo mobilizar e estimular lideranças das áreas de ciência, medicina e engenharia para que contribuam no processo dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Contando com a participação de representantes de Academias de Ciências de 17 países da região, o evento buscou propiciar a seus participantes uma melhor compreensão do que são os ODS e sobre como podem as Academias contribuir para a implementação destes. No debate, os participantes compartilharam as experiências desenvolvidas em cada país e, na discussão, ficou evidenciado que poucas Academias, dentre estas a ABC, estão efetivamente inseridas nos processos nacionais. O relato das Academias já engajadas com os ODS foi bastante produtivo, ajudando a ilustrar para as demais caminhos e experiências que podem ser perseguidos.

O assessor técnico da ABC, Marcos Cortesão, relatou aos participantes do encontro como a Academia vem construindo a sua participação no processo brasileiro de discussão e implementação dos ODS. Com a nomeação de Acadêmicos como representantes da ABC na Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (Jailson Bittencourt de Andrade como titular, Adalberto Luis Val como suplente), a Academia busca intervir no processo nacional, mobilizando a comunidade cientifica para que esta contribua com a construção da Agenda 2030 no Brasil. Este é um processo que se encontra em fase inicial, pois é recente a incorporação da ABC à Comissão Nacional.

Representantes de governos presentes ao workshop enfatizaram a importância da potencial participação das Academias, reconhecendo que ainda existem barreiras e culturas institucionais distintas que estabelecem abismos que precisam ser superados. Tal aproximação é fundamental para que o tão necessário diálogo entre ciência e política possa se desenvolver de forma produtiva.

Ao longo do workshop, ficou manifesto o reconhecimento da importância dos ODS. No entanto, dada a diversidade social, cultural e política da região, bem como os diferentes níveis de organização das Academias, cada uma destas deve traçar sua estratégia levando em conta a sua realidade, bem como a de seu país. Para os presentes, o relato das experiências das Academias já inseridas no processo foi percebido como extremamente válido, não somente por mostrar possibilidades de caminhos, mas também por motivar e inspirar outras Academias a construírem suas inserções no debate da Agenda 2030 em seus respectivos países.

A Copa da Ciência

Os presidentes da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Luiz Davidovich e Ildeu de Castro Moreira, respectivamente, escreveram para o Jornal do Brasil de 14/7 sobre a competição na qual os vencedores ganham qualidade de vida por muitas décadas e os derrotados amargam um futuro sofrido, empobrecido e desalentador: a Copa da Ciência e da Inovação.

A Copa do Mundo desperta paixões, mobiliza multidões, inflama a torcida pelo sucesso nacional. Mereceria atenção semelhante uma outra Copa, na qual os vencedores ganham qualidade de vida por muitas décadas e os derrotados amargam um futuro sofrido, empobrecido e desalentador: a Copa da Ciência e da Inovação.

Para essa Copa, uma competição que ocorre sem interrupção, os times são preparados continuamente e podem levar décadas para amadurecer. O Brasil vem preparando seu time de cientistas e técnicos, mais intensamente, desde 1950, com a criação do CNPq, da Capes, da Finep e das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (FAPs), e com a expansão das universidades públicas e instituições de pesquisa.

A trajetória ascendente da ciência no Brasil sofre agora, no entanto, um sério revés. O orçamento de custeio e capital do MCTIC para este ano – recursos para investimento em pesquisa, excluindo salários e gastos administrativos – é cerca de um terço do valor de 2013 corrigido pela inflação. Cortes atingem também a Capes. Por outro lado, a maioria das FAPs opera em regime falimentar. O orçamento não reembolsável da Finep, que alimenta pesquisas em CT&I e a subvenção econômica para empresas inovadoras, foi reduzido de R$ 4,2 bilhões em 2010 para R$ 920 milhões em 2017. Neste ano, a situação está ainda pior.

Alegando a crise financeira que afeta o país, o governo federal tem realizado cortes drásticos no orçamento da CT&I, da educação e de outras áreas sociais. Essa atitude reflete uma definição distorcida de prioridades, reflexo de incapacidade ou falta de vontade em formular uma agenda de desenvolvimento nacional. Essa política contrasta com a adotada por outros países que também padecem da crise global.

Em 2012, no auge da crise, o primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, comunicou ao Congresso do Povo que a taxa de crescimento da China iria decrescer. No mesmo discurso, anunciou que o investimento em pesquisa básica aumentaria 26%. Diante da crise, adota-se uma medida anticíclica: o investimento em ciência abre as portas para a saída da crise. Recentemente, a proposta orçamentária do presidente Trump, contendo cortes severos no orçamento de C&T, foi rejeitada pelo Congresso norte-americano que, em um acordo bipartidário, não só anulou os cortes como adicionou US$ 20 bilhões a esse orçamento.

Enquanto o Brasil investe apenas cerca de 1% de seu PIB em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), outros países avançam nesse exigente campeonato entre nações: a Coreia do Sul já passa de 4%, a União Europeia pretende alcançar 3% em 2020, e os Estados Unidos já investem mais de 2,5%. Para alcançarem esses percentuais, tais países contam com a participação decisiva de empresas que investem em P&D para transformar conhecimento em produto. Na Coreia do Sul, por exemplo, 3/4 do investimento provêm de empresas. No Brasil, no entanto, essa participação é exígua: cerca de 40% do investimento total. Menos que 1% das 135 mil empresas industriais fazem uso dos incentivos fiscais para inovação da Lei do Bem, criada em 2005, e apenas 200 participam do Movimento Empresarial pela Inovação.

A balança comercial do país é dominada por bens primários, muitos deles possibilitados pela ciência e tecnologia desenvolvida antes, mas com baixo valor agregado. E esse processo se acentuou nos últimos anos. De 2011 a 2017, o Brasil passou do 47º ao 69º lugar no Índice Global de Inovação. Nessa Copa da Inovação caímos nos jogos eliminatórios.

Muitos jovens, craques em potencial da ciência e da inovação, têm deixado o país, desfalcando um time que tinha perspectivas de ser campeão. Para ter jogadores capacitados é necessário educação científica de qualidade e condições adequadas para o treino e o jogo.

Há tempo, ainda, de reverter esse processo. Este pode ser um momento da virada, aproveitando o ano eleitoral. Para isso, a ciência e a inovação, nas suas dimensões tecnológica e social, assim como a educação, precisam ocupar posição de destaque não apenas nos debates, mas nos corações e mentes dos brasileiros quando escolherem seus candidatos à Presidência, aos governos estaduais e aos parlamentos nacional, estaduais e municipais.

A sociedade brasileira precisa reagir a essa situação de retrocesso, apoiando programas e candidatos que proponham claramente uma agenda nacional de desenvolvimento, baseada na educação de qualidade, na ciência e na inovação, e que busque a redução das nossas desigualdades sociais e econômicas, um quesito no qual, infelizmente, estamos na vanguarda do conjunto de nações.

Muitas propostas que garantem um desenvolvimento sustentável para o país, nos âmbitos econômico, social e ambiental, foram elencadas no Livro Azul da 4a Conferência Nacional de CT&I, realizada em 2010, e em publicações da Academia Brasileira de Ciências e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Recentemente elas foram reunidas, por essas duas entidades, em documentos para os candidatos às eleições deste ano.

Há, ainda, um objetivo de curto prazo de grande importância: inicia-se agora a apreciação do orçamento federal para 2019 pelo Congresso Nacional. Cabe ao governo, em sua proposta de lei orçamentária, e aos parlamentares atuais aumentar substancialmente a dotação para C&T, colocando de novo o Brasil em trilhos que o levem a um futuro com maior desenvolvimento e uma melhor qualidade de vida para sua população.

É uma das responsabilidades do Congresso Nacional interromper esse processo de desmonte da ciência e da tecnologia nacionais, de modo que o país possa ocupar a primeira divisão na Copa da Ciência e destacar-se no jogo das nações. O povo brasileiro merece.

Sobre os autores:

Luiz Davidovich é físico, professor da UFRJ e presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC)

Ildeu de Castro Moreira é físico, professor da UFRJ e presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)

 

 

Comitê executivo de Ianas realiza reunião de trabalho no México

O comitê executivo da Rede Interamericana de Academias de Ciências (Ianas, na sigla em inglês) realizou reunião de trabalho, na sede da Academia Mexicana de Ciências, nos dias 28 e 29 de maio. Participaram desta reunião representantes das Academias do Brasil, Colômbia, Estados Unidos, México, Nicarágua e Venezuela, assim como da Academia de Ciências do Caribe e da Academia Latino-Americana de Ciências. A ABC esteve representada nessa reunião pelo assessor técnico Marcos Cortesão.

Na oportunidade, os integrantes do comitê executivo fizeram uma avaliação dos programas desenvolvidos pela rede: Educação Científica, Mulheres para a Ciência, Segurança Alimentar e Nutricional, Energia e Recursos Hídricos. A partir de relatos apresentados pelos coordenadores de cada um dos programas, foi feito um balanço de qual tem sido o impacto dos programas e de que forma estes têm sido replicados em cada um dos países.

Na reunião, foram apresentados e discutidos os relatórios financeiro e executivo da rede. Os representantes das Academias também discutiram a organização da próxima assembleia geral de Ianas (que acontecerá na Colômbia, em 2019) e instituíram três comitês (Planejamento Estratégico para o Triênio 2019-2021; Avaliação de Programas; Revisão Estatutária e Regimental). A ABC passou a integrar os dois primeiros.

Sobre a Rede Interamericana de Academias de Ciências

A rede Ianas, que reúne 23 Academias de Ciências das Américas, tem sido uma organização atuante no cenário regional. Através de sua ação, busca levar para os principais fóruns multilaterais interamericanos e latino-americanos a visão e a voz da ciência, buscando, com isso, contribuir para a construção de ambientes de discussão e formulação de políticas públicas em que ciência e tecnologia (C&T) sejam incorporadas como ferramentas fundamentais para o desenvolvimento sustentável e a prosperidade dos povos do continente.

Ronaldo Pilli é o novo conselheiro da Fapesp

Em decreto publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo de 13 de julho de 2018, o governador de São Paulo nomeou Ronaldo Aloise Pilli para integrar, como membro, o Conselho Superior da Fapesp.

A novo conselheiro foi nomeado para um mandato de seis anos, em vaga aberta após o término do mandato do conselheiro Fernando Ferreira Costa.

Pilli (396 votos), Arnaldo Lopes Colombo (331 votos) e Dimas Tadeu Covas (183 votos) formaram a lista tríplice para a escolha do novo membro do Conselho Superior da Fapesp. Os três foram indicados em eleição pelas instituições de ensino superior e de pesquisa no Estado de São Paulo.

A eleição foi realizada no período de 11 a 15 de junho de 2018, pela internet, encerrando-se às 17 horas do último dia. Encerrada a votação, imediatamente foi feita a apuração do seu resultado pela Comissão Eleitoral, na sede da Fapesp.

A lista foi encaminhada ao governador do Estado para a escolha do novo conselheiro, nos termos do art. 7º, § 3º, da Lei Estadual nº 5.918, de 18/10/1960, combinado com o art. 9º, alínea “c”, dos Estatutos da Fapesp, aprovados pelo Decreto nº 40.132, de 23/05/1962.

Pilli é professor titular do Instituto de Química (IQ) da Unicamp e membro da coordenação da área de Química na Fapesp. Foi diretor do IQ/Unicamp (2006-2009) e pró-reitor de Pesquisa na mesma universidade (2009-2013).

Graduou-se bacharel em Química pela Unicamp em 1976, onde concluiu seu doutorado em 1981 na área de Química Orgânica. Após pós-doutorado na University of California, Berkeley (1982-84), implantou no Instituto de Química da Unicamp a área de síntese estereosseletiva de produtos naturais e fármacos, tendo contribuído para formação de competências em síntese orgânica ao orientar mais de 60 mestres, doutores e pós-doutores que hoje atuam em instituições de ensino e pesquisa no país e no exterior.

Pilli é membro da Academia de Ciências do Estado de São Paulo e da Academia Brasileira de Ciências. Atuou como pesquisador visitante na Georg-August Universität, Alemanha, em 1994, e professor visitante na Warwick University, Inglaterra, em 2005. Foi membro do comitê científico e tecnológico da Rhodia, membro do Comitê de Química do CNPq, editor associado do Journal of the Brazilian Chemical Society, membro do corpo editorial da Química Nova e membro do Conselho Deliberativo da Sociedade Brasileira de Química.

Edgar Dutra Zanotto: Um olho na ciência, outro na indústria

O engenheiro de materiais Edgar Dutra Zanotto gosta de citar um artigo científico para mostrar como os vidros são importantes. “Vidros são os olhos da ciência”, afirma, traduzindo o título do paper (“Glass: The eye of science”). A tese é do norte-americano Marvin Bolt, curador de Ciência e Tecnologia do Museu de Vidro de Corning, cidade do estado norte-americano de Nova York. Em texto de fevereiro de 2017, escrito para o periódico International Journal of Applied Glass Science, Bolt advoga que a revolução científica iniciada no século XVII teve como ferramentas mais importantes o microscópio e o telescópio – sendo o elemento principal dos dois instrumentos as lentes de vidro.

Quando começou a se interessar pelo assunto, em meados dos anos 1970, Zanotto não tinha essa compreensão, mas percebeu que esse era um objeto de pesquisa interessante e pouco pesquisado no Brasil. Formado em engenharia de materiais na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) em 1976, foi no Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP) e na Universidade de Sheffield, no Reino Unido – onde cursou mestrado e doutorado, respectivamente –, que o então jovem pesquisador achou as melhores referências para começar sua carreira.

Uma das características da trajetória de Zanotto é o interesse simultâneo pela ciência básica e aplicada. “Sempre trabalhei com um pé em cada uma”, diz. A formação em física e engenharia o ajuda tanto a formular e testar hipóteses científicas como a desenvolver vidros especiais para a indústria ou com funcionalidades para o organismo humano, como os biovidros.

Natural de Botucatu (SP) e há 42 anos professor na UFSCar, Zanotto foi professor visitante em universidades da Europa e Estados Unidos e consultor científico de empresas do Brasil e exterior, produtoras de vários tipos de vidro. Desde 2013 coordena o Centro de Pesquisa, Educação e Inovação em Vidros (CeRTEV), um dos 17 Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) financiados pela FAPESP, que reúne pesquisadores da UFSCar, USP e Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Araraquara. E desde 2017 preside o Conselho Científico do Instituto Serrapilheira, do Rio de Janeiro. As duas experiências o incentivaram a investir de modo mais intensivo na difusão da ciência.

Na entrevista abaixo, Zanotto, casado e pai de duas filhas, conta de seu trabalho mais atual e de uma proposta ousada, publicada em 2017, sobre um novo status da matéria, o estado vítreo.

Como é sua pesquisa mais recente, de desenvolvimento de inteligência artificial para ganhar tempo no laboratório?

Focamos em previsão. Quase 100% da ciência trata de entender e descrever fenômenos naturais. Cada vez que entendemos e descrevemos algo novo, podemos publicar um artigo científico. Já prever seria o ideal, mas é muito difícil. Se conseguirmos antever um fenômeno ou tendência corretamente, não precisaremos dedicar um tempo enorme, recursos financeiros e energia realizando um grande número de experimentos. No momento, trabalhamos com alunos e pós-doutores, os professores Pedro Rino e André Moura, da UFSCar, e André Ponce de Leon, do CeMEAI [Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria, Cepid sediado na USP de São Carlos], com simulação computacional para predizer fenômenos relacionados à estrutura, processos dinâmicos e propriedades de vidros. Se funcionar, será possível criar vidros não existentes em um tempo significativamente reduzido. Os dois primeiros artigos estão sendo redigidos, em fase de ajustes. Um pós-doc do nosso grupo, Daniel Cassar, coletou cerca de 55 mil dados de temperatura de transição vítrea para iniciar esse estudo. Se nossa estratégia funcionar, será possível criar novos vidros em tempo muito mais reduzido.

Do que se trata?

O vidro é um material rígido feito da mistura de vários reagentes que geralmente são fundidos e resfriados rapidamente evitando a cristalização. Assim, os átomos ficam presos em um estado de desordem, formando um líquido temporariamente congelado, o vidro. Já na estrutura cristalina, os átomos estão perfeitamente organizados, formando um sólido. A cristalização é um processo que ocorre naturalmente em todos os vidros, mas pode levar de segundos a milênios dependendo da temperatura. Quando aquecidos, todos os vidros sofrem um fenômeno chamado transição vítrea, ou Tg – temperatura onde ocorre uma transformação entre a rigidez e um líquido de alta viscosidade –, que está relacionada a sua composição química. Para desenvolver um vidro com novas funcionalidades, sem gastar demasiado tempo e energia em testes experimentais, é fundamental conhecer a Tg, além de outras propriedades. A partir dessa ideia, o Daniel conseguiu pescar na literatura dos últimos 50 anos trabalhos contendo a composição química e as respectivas Tg. Ele compilou 55 mil composições de diferentes vidros óxidos – hoje há catalogados 400 mil vidros. Com o auxílio do especialista em inteligência artificial André Ponce de Leon, ele criou um algoritmo que foi “treinado” a correlacionar a Tg com a composição química de 45 mil desses vidros. Em seguida, usamos dados dos outros 10 mil vidros, que não foram utilizados na etapa de treinamento, para testar a habilidade do novo algoritmo em prever a Tg e comparamos com os valores reportados para ver se estariam certos. A rede neural resultante pode ser otimizada, mas, no momento, ela leva a um erro máximo de 6%, em 90% dos testes, o que é um ótimo resultado porque se iguala ao erro típico dos próprios dados experimentais. Com esse software será possível prever a Tg de qualquer vidro óxido ainda não existente. A mesma lógica poderá ser aplicada para previsão de outras propriedades físico-químicas de vidros.

Por que esse programa permitirá ganhar tempo?

Em 2004 publiquei um artigo com o Chico Coutinho [o físico Francisco Bezerra Coutinho, da Faculdade de Medicina da USP] em que calculamos quantas composições de vidros seriam possíveis usando 80 elementos químicos “amigáveis”. Para fazer uma conta redonda, variamos de 1% em 1% a composição, combinando aqueles elementos de modo variado. Nesse exercício de previsão, calculamos que seria possível obter 1052 tipos de vidros, um número astronômico. Os 400 mil – ou 4 x 105 – vidros inorgânicos já conhecidos representam apenas uma minúscula fração desse total. Precisaríamos de infindáveis anos e recursos para produzir 1052 vidros. Seria inviável. A saída é realizar simulações computacionais até encontrarmos fórmulas interessantes que possam resultar em propriedades inusuais. Aí, sim, iremos para o laboratório testar cada composição e verificar se elas realmente fornecem as propriedades que o software indicou.

No ano passado você advogou um novo status da matéria, o estado vítreo, algo que não é sólido nem líquido. O que é, então?
Vou começar respondendo com outra pergunta: qual a diferença entre informação e conhecimento? Obtemos uma informação em determinada época, depois outra e outra… Elas vão sendo acumuladas com o passar do tempo. Ao juntá-las e conectá-las, alcançamos o conhecimento. Foram 40 anos estudando e pesquisando para ter o insight, refletir e redigir esse artigo sobre o estado vítreo, publicado no Journal of Non-Crystalline Solids [JNCS].

Quais são eles?

O primeiro é sobre a estrutura atômica do vidro, que é igual à do líquido do qual ele advém. O vidro é um líquido congelado temporariamente sem cristalizar. Depois vem o conceito de relaxação estrutural – um rearranjo espontâneo e parcial das moléculas no material – e, finalmente, a cristalização, quando todos os átomos e moléculas ficam alinhados em um padrão tridimensional bem definido. Isso acontece com todos os vidros, que se cristalizarão em mais ou menos tempo. Em quanto tempo? Em temperaturas relativamente altas, leva apenas algumas horas. Em temperatura ambiente, é muito difícil saber com precisão; precisaremos realizar cálculos e simulações. Portanto, os elementos dessa nova definição do vidro proposta no artigo de 2017 são que a estrutura molecular dele é igual à do líquido-mãe, com os átomos congelados na mesma posição, bem diferente da do cristal. Com o tempo, o vidro relaxa espontaneamente até cristalizar. Se estiver numa temperatura perto da Tg, cristalizará em minutos ou horas, se estiver muito abaixo, levará muito mais tempo.

Esses conceitos já existiam?

Pesquisadores da área vêm refletindo sobre esses conceitos, mas ninguém havia combinado todos eles, como John Mauro [da Universidade do Estado da Pensilvânia, Estados Unidos] e eu fizemos. Redigi a primeira versão do artigo e o John entrou durante o processo. Juntamos as informações e esclarecemos a natureza do vidro.

Como foi essa parceria?

Apresentei essas ideias em uma plenária no evento de comemoração do centenário da Society of Glass Technology, realizado em Sheffield, em setembro de 2016. O indiano-americano Arun Varshneya, da Alfred University, conhecido como o “guru do vidro” e meu amigo há muito tempo, disse logo de cara: “Não concordo com esse pacote, precisamos discutir”. Conversamos muito em Sheffield e, quando voltei ao Brasil, decidi escrever um rascunho. Enviei ao Arun, que convidou para a discussão um primo dele, o Prabhat Gupta, da Universidade do Estado de Ohio, Estados Unidos, um teórico muito bom. O Arun também introduziu na discussão o John Mauro, que havia sido o seu mais brilhante aluno de doutorado – foi um dos inventores do Gorilla glass, vidro usado em telefones celulares. Depois de uma dúzia de e-mails trocados com eles, convidei todos a participar como coautores, mas eles não responderam. Imaginei que fosse um sinal de que não concordavam com a minha proposta. Isso foi em outubro de 2016. Em dezembro, eu estava acabando de polir o manuscrito quando o John Mauro me enviou mensagem de votos natalinos e perguntando que fim havia levado o artigo. Respondi que estava quase pronto, assinado apenas por mim porque eles não quiseram participar. Ele imediatamente respondeu que continuava interessado. Entre o Natal e o Ano-Novo o artigo ficava um dia com cada um até ficar pronto e ser submetido à publicação. Há algumas semanas, o paper já tinha recebido mais de 7 mil visualizações. Para um artigo científico de uma pequena subárea da ciência de materiais é muita coisa. Para dar uma ideia quantitativa, o site do JNCS tem 26 mil artigos e todos podem ser baixados. Desde a sua publicação até esta data [24/6/2018], o nosso paper está em primeiro lugar dentre todos no ranking de downloads.

Qual o tamanho da comunidade que estuda vidros?

Estimativas indicam que há cerca de 3 mil pesquisadores vidreiros no mundo, e apenas de 100 a 120 no Brasil estudando e publicando regularmente nessa área. Desses, o nosso CeRTEV tem 14 professores e 60 alunos e pós-docs. No exterior, há empresas com muito mais pesquisadores, mas nas universidades há poucos grupos de porte. Conheço apenas um, enorme, em Rennes, na França, maior que o nosso. Na China há, possivelmente, grupos maiores porque eles publicam até mais do que os americanos nesse tema. No Japão, Estados Unidos e Europa há de um a três professores em cada grupo. Por essas razões, estimo que nossa equipe está entre as cinco maiores do mundo. Quando o Hellmut Eckert [químico alemão, vice-coordenador do CeRTEV e professor da USP de São Carlos] e eu formamos o grupo do Cepid, o centro ganhou visibilidade internacional.

Essa visibilidade vale para as áreas científica e tecnológica?

Para as duas. Sobre pesquisas de cunho fundamental, científico, temos um grupo que usa técnicas distintas para caracterizar os detalhes estruturais do vidro. A estrutura e a composição química são o conjunto que determina as propriedades ópticas, mecânicas, térmicas, magnéticas, químicas e biológicas do material. Esse grupo também trabalha nos processos dinâmicos, um conjunto de mecanismos que ocorrem quando aquecemos o vidro – os átomos começam a se deslocar, relaxar, fundir ou cristalizar. E essa é a área em que mais atuo, a cristalização. Estudamos a estrutura e os processos dinâmicos e essas duas áreas determinam as propriedades e aplicações, divididas em cinco tópicos, no nosso Cepid: as propriedades mecânicas, que tentamos entender para desenvolver vidros e vidros cerâmicos cada vez mais fortes e resistentes, algo que tem uma demanda industrial mundial; as elétricas, com vidros condutores iônicos, com potencial de aplicação em novas e eficientes baterias; os biovidros, feitos de material bioativo para ser usados em organismos vivos; as ópticas, ou seja, o vidro por excelência, em que acrescentamos impurezas para alterar as propriedades, mudamos a cor, a absorção etc.; e, finalmente, materiais para processos catalíticos.

As pesquisas sobre biovidro continuam?

Sim, esse material é muito promissor. Foi inventado no começo dos anos 1970 com uma composição química que tem sódio, silício, cálcio e fósforo. Isso deixa o vidro com uma bioatividade alta quando em contato com fluidos corporais. Eles podem ser usados na regeneração de ossos, como próteses, problemas dentários e também feridas de pele e degeneração de nervos e cartilagens. Em pó, funciona como uma espécie de cola. Algumas dessas possíveis utilidades já são funcionais. Há, por exemplo, um osso ilíaco artificial feito de vitrocerâmico bioativo para ser implantado no quadril. Foi desenvolvido por Tadashi Kokubo, da Universidade de Chubu, no Japão. Segundo ele, foi implantado em milhares de pessoas. Aqui na UFSCar, com o auxílio de dois ex-alunos, hoje professores, Oscar Peitl e Murilo Crovacce, e vários post-docs, com destaque para Marina Trevellin, e alunos, criamos um biovitrocerâmico semelhante aos ossículos do ouvido médio usado para substituir aqueles que apodrecem quando alguém contrai uma infecção severa. Realizamos ensaios clínicos bem-sucedidos na Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, conduzidos pela equipe do médico Eduardo Tanaka Massuda, mas precisamos realizar mais testes para conseguir aprovação da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]. Este aqui [mostra uma peça] é outro exemplo: é um olho artificial feito de material bioativo e patenteado. Depois de implantado, ele se liga aos nervos da cavidade ocular para dar um movimento natural igual ao olho bom. Realizamos bons ensaios clínicos na Faculdade de Medicina da Unesp, campus de Botucatu, liderados por Silvana Schellini e Simoni Milani Brandão. Mas também precisamos continuar com os testes.

Você publica no JNCS, do qual é editor. Não há conflito de interesses?

Comecei como editor em 2010, mas já havia publicado cerca de 70 artigos nesse periódico antes disso. É a minha revista favorita por estar estabelecida há 50 anos, ser muito rigorosa – rejeita 2/3 das submissões –, com tempo médio de resposta de apenas seis semanas, e principalmente por ser lida e respeitada pela comunidade que pesquisa vidros. Quando fui convidado, respondi à publisher Karine Van Wetering, da Elsevier, que aceitaria ser o editor apenas se pudesse continuar publicando no periódico. Ela me respondeu que não haveria problema porque seríamos três editores. São eles que encaminham meus papers para revisores ad-hoc sem que eu saiba quem são. Ela gostaria que eu e os outros editores continuássemos a publicar lá porque os leitores devem perceber que o editor valoriza a revista que edita.

Como se interessou por vidros?

Sou da terceira turma formada em engenharia de materiais da UFSCar, que criou o curso em 1970, o primeiro da América Latina. Naquele tempo não havia muitos professores disponíveis nessa área. Por isso, a UFSCar convidava professores visitantes. Vinha gente da USP, da Unicamp e muitos do exterior. Um deles, Osgood James Whittemore [1919-2010], da Universidade de Washington, Estados Unidos, me convidou para trabalhar em um projeto de iniciação científica. Era um estudo experimental sobre a durabilidade química de vidros candidatos ao encapsulamento de resíduos radioativos. O objetivo era coletar rejeitos de usinas nucleares, adicionar reagentes, fundir tudo e resfriar rapidamente formando um “vidrão”. O monólito resultante ficaria compacto e impermeável e seria enterrado em uma mina de carvão abandonada a muitos metros abaixo do solo, mas bem separado do ambiente superficial, encapsulado, sem contaminar a atmosfera e o lençol freático. Esse método é usado até hoje. Comecei então a estudar vidros. Peguei livros na biblioteca e comecei a ler papers. Fiquei interessadíssimo. Também pude praticar bastante o inglês. Essas atividades me renderam uma vaga de professor auxiliar de ensino no Departamento de Engenharia de Materiais [DEMa] da UFSCar.

Foi a única razão por ter sido contratado tão novo, aos 22 anos?

Eu era um aluno aplicado, falava inglês e pesquisava vidros. O DEMa precisava de professores nessa área e não existiam especialistas. Como eu só tinha a graduação, recebi um ultimato do chefe do departamento, Dyonísio Garcia Pinatti [1946-1986]: “Você tem dois anos para fazer um mestrado em qualquer tema relacionado a vidros para, em seguida, ir para o exterior realizar o doutorado, voltar e nuclear o grupo de vidros”. Por sorte, provavelmente o único pesquisador que trabalhava com vidros no Brasil era o Aldo Craievich, da Física da USP de São Carlos. Devo muito da minha formação científica ter realizado o mestrado em física com ele. Em seguida Aldo me indicou para um conhecido dele, o então famoso físico Peter James [1940-2005], da Universidade de Sheffield. Consegui uma bolsa da Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] e fui fazer o doutorado com o Peter de 1979 a 1982. Na época eles tinham o maior time de pesquisadores do planeta em vidros. A experiência foi fundamental para a minha formação.

Como ocorre a colaboração de seu grupo com as empresas?

Em todos os níveis. Podemos descobrir algo interessante e procurar empresas potencialmente interessadas em realizar ensaios em escala piloto e em licenciar o invento. Outras vezes, é a empresa que nos procura. Por exemplo, auxiliamos a aperfeiçoar este material [mostra um vidro de 1 centímetro quadrado e o ilumina com um laser] que difrata a luz. Dentro dele há cristais nanométricos alinhados a uma distância igual ao comprimento da luz visível, cerca de 400 nanômetros entre um e outro. Este é o único material do mundo para redes de difração de lasers de alta potência. Há um holograma de cristais aqui dentro. Qualquer sistema de alta potência, como lasers industriais, por exemplo, requer várias peças dessas dentro da máquina. Há apenas três empresas que produzem esse material. Esta pequena peça custa US$ 5 mil. Ela já existia e ajudei a otimizá-la. O material foi inventado pelo pessoal da empresa Corning e passou a ser melhorado e produzido pela Optigrate, uma fábrica de Orlando, na Flórida. Passei 10 meses lá em 2005, a convite, enquanto usufruía de um período sabático na Universidade da Flórida Central. O material deles era ruim, não vendia porque espalhava luz demasiadamente. Além da colaboração, eles me permitiram publicar alguns artigos. Isso não é muito comum em razão da cláusula de sigilo que há nos contratos com empresas.

Você tem muitos vídeos didáticos sobre vidro gravados. Por quê?

São dois tipos de vídeo: aulas formais e de disseminação de ciência. Gravo todas as minhas aulas e as disponibilizo na internet. O efeito é fantástico. Se um aluno perde uma aula, basta assistir o vídeo. Para estudar para uma prova, está lá. Produzimos também vídeos bem didáticos, de 1 a 5 minutos, explicando conceitos e experiências com vidros, e temos mangás com esse tema impressos e na página do CeRTEV. Começamos a fazer divulgação de ciência em consequência das exigências do Cepid. Tem sido uma prazerosa e educativa experiência.

O Instituto Serrapilheira, do qual você é membro, tem preocupações na mesma linha, não é?

Branca e João Moreira Salles, criadores e mantenedores do instituto, a diretoria, os conselhos Científico e de Administração, todos esperam que os pesquisadores e bolsistas apoiados, que tenham esse desejo e essa vocação, realizem atividades de divulgação científica. Este ano foi aberta uma chamada pública para o primeiro programa de apoio à divulgação, o Camp Serrapilheira, para formar divulgadores e também mapear e selecionar projetos de divulgação a serem financiados.

Acredita que o instituto poderá fazer diferença no financiamento à ciência?

Sim. No momento o Serrapilheira se esforça para nuclear grupos de pesquisa liderados por jovens pesquisadores promissores que demonstrem potencial de realizar pesquisa de alto nível, na fronteira do conhecimento, em temas relevantes. A previsão inicial é aplicarmos entre R$ 16 milhões e R$ 18 milhões anualmente. O modelo de financiamento é um sonho para o pesquisador, muito mais flexível do que o de qualquer instituição pública de fomento à pesquisa. O sistema de seleção de projetos é rigoroso, mas o pesquisador que recebe um grant [auxílio para pesquisar] pode aplicá-lo em qualquer atividade de pesquisa. Por exemplo, admitir outros pesquisadores, comprar equipamento e material de consumo, contratar serviços ou viajar por alguma necessidade da pesquisa. Isso tudo sem precisar reenviar currículos, subprojetos ou estimativa de custos, cotações para análise… Além disso, a trabalhosa etapa de prestação de contas é realizada por uma fundação, não pelo pesquisador. Damos total flexibilidade porque confiamos nos pesquisadores e desejamos que eles dediquem a maior parte do tempo à pesquisa, não à administração de projetos. É diferente dos órgãos públicos que normalmente desconfiam do pesquisador. Por exemplo, tenho 42 anos de experiência em pesquisa, coordeno um Cepid, sou membro da ABC [Academia Brasileira de Ciências] e quando peço uma bolsa de iniciação científica para qualquer agência pública tenho de escrever um projeto, mandar meu currículo atualizado, o do aluno… É uma burocracia massacrante. No Serrapilheira nós confiamos e damos liberdade ao pesquisador.

Você gosta de dizer que “defende pesquisador velho”. Por quê?

Pesquisadores “velhos” dedicaram 20, 30, 40 ou até 50 anos não só para coletar informações, mas principalmente para conectá-las, gerando conhecimento. É óbvio que há jovens cientistas brilhantes que conseguem fazer a necessária conexão em menos tempo. Discuti várias vezes esse tema com o Fernando Reinach, biólogo que também é membro do Conselho de Administração do Serrapilheira. É desses que pensam que só pesquisadores jovens têm futuro. Discordo. Defendo que pesquisadores seniores ativos, os que continuam motivados na batalha diária da pesquisa, desenhando e realizando experimentos, testando hipóteses, criando modelos teóricos, participando de congressos, orientando, publicando, ensinando e aprendendo – e também sendo criticados –, podem melhorar continuamente. A qualidade da minha pesquisa atual é muito superior que a dos primeiros 10 ou 15 anos. Espero continuar avançando nas próximas décadas.

Fundação Volkswagen lança financiamento para pesquisa em ciências sociais

A Fundação Volkswagen lançou um programa de financiamento internacional intitulado “Problemas Globais – Integrando Diferentes Perspectivas”, com um foco temático inicial em “desigualdades sociais”. O financiamento está sendo oferecido para grupos de pesquisa em ciências sociais, para quatro anos de pesquisa e no valor máximo de 1.5 milhões de euros.

Para aplicar, o grupo de pesquisa deve envolver pesquisadores europeus e de países com baixa renda. Saiba mais sobre a proposta em geral aqui.  Se você quer saber se atende aos critérios para aplicar para o programa, mais detalhes aqui.
O prazo de inscrição termina em 30 de outubro.

Sobre o programa

A iniciativa “Problemas Globais” foi estabelecida em 2017com o objetivo de promover pesquisa sobre as mudanças que vêm impactando a sociedade desde o início do séc. XXI, de acordo com os objetivos do desenvolvimento sustentável das Nações Unidas. Esta é a primeira chamada temática, organizada em parceria entre a Compagnia di San Paolo (Itália), Novo Nordisk Fonden (Dinamarca), Riksbankens Jubileumsfond (Suécia) e a Volkswagen Foundation (Alemanha). Outras chamadas temáticas, abordando uma variedade de disciplinas, se seguirão.

Comissão Geral “Marcha para a Ciência” reúne-se na Câmara dos Deputados

Alvaro Prata (MCTIC), Luiz Davidovich, deputado Izalci Lucas, deputado Antonio Goulart, deputado Celso Pansera, Ildeu Moreira (SBPC), Emmanuel Tourinho (Andifes), Francilene Garcia (Consecti) e Nísia Trindade (Fiocruz)

Por iniciativa do deputado Celso Pansera, a Comissão Geral Marcha para a Ciência reuniu-se no plenário da Câmara dos Deputados, em 12 de julho, com o objetivo de debater sobre o presente e o futuro do setor de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) no Brasil.

Foram convidados representantes da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Conselho Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos de CT&I (Consecti), Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa (Confap),  Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica e Inovação (Abipti),  Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior  (Andifes),  Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais (Abruem), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes),  Financiadora de Estudos e Projetos (Finep),  Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),  Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz),  Confederação Nacional da Indústria (CNI),  Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei),  Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior e de Pesquisa Científica e Tecnológica (Confies), Associação Fórum Nacional de Gestores de Inovação e Transferência de Tecnologia (Fortec),  Marinha do Brasil,  Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e  Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC).

O presidente da ABC Luiz Davidovich (cuja fala começa em 46:38 na íntegra do vídeo da sessão) destacou que essa Comissão Geral, realizada no plenário da Câmara dos Deputados, teve duas motivações: homenagear a SBPC pelos seus 70 anos de luta em defesa da ciência e da tecnologia; e alertar o Congresso sobre a necessidade urgente de reverter os cortes realizados no orçamento de C&T nos últimos anos, que prejudicam seriamente o desenvolvimento nacional e a qualidade de vida da população. “Em particular, defendemos que o orçamento de C&T para 2019 retome o valor de 2013, mais um percentual de 10%, sinalizando assim o início da retomada do desenvolvimento científico e tecnológico do país. ”

Foi enfatizada também a necessidade de que sejam aprovados pelo Congresso dois projetos importantes para C&T: um do deputado Celso Pansera, que prevê 25% do Fundo Social do Pré-Sal para C&T; e outro do deputado Daniel Vilela, que proíbe o contingenciamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).

Davidovich enfatizou que a Academia Brasileira de Ciências cultiva a tradição de manter a esperança, por pior que seja a situação. “Mas a nossa esperança não tem a ver com o verbo ‘esperar’, é uma esperança que tem a ver com a luta, com a batalha pela ciência e tecnologia no Brasil.”

Ele abordou três pontos em seu discurso na Câmara: um referente ao Governo, outro ao Congresso e outro à sociedade brasileira.

Prioridades deturpadas, na contramão do mundo desenvolvido

“Com relação ao Governo, muito especialmente em relação à equipe econômica, gostaria de esclarecer que eu sou físico, lido com matemática, sistemas dinâmico. E  sistemas complexos são imprevisíveis. Posso afirmar que um teto de gastos para 20 anos é no mínimo uma aberração matemática. É impossível prever o que vai acontecer nem no ano que vem. Nossos economistas parecem ignorar fatos básicos da matemática”, observou o presidente da ABC.

Mais ainda, Davidovich alertou que o corte linear do orçamento federal para atender ao teto de gastos significa abdicar da definição de prioridades e que é isso que está sendo feito. “Eu digo ‘abdicar de prioridades’ entre aspas, porque ao mesmo tempo que existe o corte de gastos, não existe estímulo ao investimento, mas existe preocupação em pagar a dívida pública, pagar os juros e perdoar dívidas a receber. Se pegarmos deste trilhão do Refis R$ 10 bilhões para ciência e tecnologia vamos estar aumentando o PIB e, assim, contribuindo para reduzir a relação entre a dívida pública e o PIB”, apontou.

Em sua visão, parece que o Governo quer reduzir essa relação somente cortando os gastos, mas não está apostando no investimento, como outros países estão fazendo, porque sabem que essa é a maneira sustentável de sair da crise. Enquanto a China planeja aumentar o investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) para 2,5% do PIB até 2020, a Europa pretende alcançar 3%, os EUA já estão em 2,7% do PIB e a Coreia do Sul pretende alcançar 5% do PIB, o Brasil patina em torno de 1% do PIB para P&D. Para Davidovich, isso é a morte. “Isso é transformar a ‘ponte para o futuro’ numa estrada de alta velocidade em direção ao passado. É isso que está acontecendo nesse país. Quero ressaltar ainda que o investimento é a chave para o país crescer. Não é a única, mas é uma chave importante para reduzir a desigualdade nacional. E o exemplo internacional mostra que ciência e inovação tecnológica são, no mundo contemporâneo a base, a raiz do aumento do PIB em todos os países que estão apostando em C&T”, afirmou.

Por um Congresso esclarecido e focado no desenvolvimento do país

Com relação ao Congresso, o presidente da ABC observou que houve um grande progresso com a aprovação do Marco Legal, mas que existem novos desafios, todos suprapartidários. “Temos os projetos de lei apontados pelo deputado Pansera que são muito importantes, como o não contingenciamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e a dedicação de 25% do fundo do pré-sal para ciência”. E Davidovich chamou atenção para o contingenciamento do FNDCT: enquanto a arrecadação dos Fundos Setoriais é de 4 bilhões de reais, o FNDCT recebe menos de um bilhão de reais para aplicação. “Isso é o que está indo para a Finep. O resto tem um nome muito simples: é desvio de finalidade. É ilegal. Usando um termo muito usado há pouco, é uma pedalada no orçamento. Você pega dinheiro das empresas para fazer os Fundos Setoriais e usa para saldar a dívida pública”, alertou.

Ele defendeu a proposta que muitas associações científicas fizeram no ano passado, de minimamente reajustar o orçamento de C&T aos níveis de 2013 mais 10%, para começar a recompor esse orçamento e evitar o desmonte da ciência brasileira -que já está acontecendo no momento. “São muitos jovens pesquisadores deixando o país. Isso é uma política de lesa pátria, porque desmonta não só a ciência mas a indústria e o futuro sustentável do país”, reforçou Davidovich.

Ele citou um grande exemplo vindo dos EUA agora: o presidente Trump enviou ao Congresso Nacional uma proposta de orçamento com severos cortes na ciência e tecnologia. O Congresso norte-americano não só anulou os cortes como acrescentou 20 bilhões de dólares para C&T. “Está lá, clara, a compreensão do Congresso sobre o papel da ciência e tecnologia no desenvolvimento norte-americano. Precisamos dessa compreensão no Congresso brasileiro, precisamos que ele seja sensível e olhe para o futuro do país e não apenas para as próximas eleições.

Envolvimento da sociedade

Com relação à sociedade, Davidovich enfatizou que a questão da ciência e tecnologia vai muito além da comunidade científica. “Basta ver que o petróleo do pré-sal corresponde hoje a mais de 50% da produção de petróleo do Brasil. Há poucos anos atrás, o pré-sal era considerado uma aventura, algo que não ia dar certo, que ia ser muito caro. Mas está aí o pré-sal graças à ciência brasileira. Isso afeta diretamente a qualidade de vida dos trabalhadores desse setor. E a qualidade do trabalho de profissionais de outras áreas da economia está sendo afetada também pela ciência brasileira, na questão da saúde, na segurança do trabalho, na questão do uso eficiente da energia. Então essa não é uma luta apenas da comunidade científica”, reforçou o físico.

O presidente da ABC destacou a importância do envolvimento dos sindicatos, para que eles abracem a pauta da ciência e tecnologia no Brasil. “Vamos trabalhar nesse sentido. Vimos ontem o efeito da atuação de sindicatos pressionando os parlamentares para recusar emendas que punem os trabalhadores no país. Então nós temos que usar esse potencial também e juntos lutarmos contra os cortes em C&T que estão destruindo o futuro do país, especialmente nesse ano tão importante de eleições. Vamos juntos lutar para evitar que se desmonte o futuro do Brasil.”

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