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Pew Charitable Trusts oferece bolsas para pós-doutorado em ciências biomédicas

Estão abertas as inscrições para a iniciativa do Programa de Bolsas Pew para a América Latina em ciências biomédicas. O programa concederá bolsas de US$ 30 mil por ano para dez cientistas fazerem o pós-doutorado nos principais laboratórios dos Estados Unidos. Os bolsistas receberão o auxílio durante dois anos, podendo ser premiados também com uma doação de US$ 70 mil para a criação de seus próprios laboratórios na América Latina.

A seleção será realizada em 2019, e as bolsas serão fornecidas a partir de agosto do mesmo ano. Será dada prioridade aos candidatos que obtiveram seus diplomas de graduação e pós-graduação em instituições da América Latina, mas aplicações de outras regiões também serão aceitas, ainda que preferencialmente não dos Estados Unidos.

Para enviar sua aplicação, o candidato deve antes garantir a vaga de pós-doutorado em um dos laboratórios patrocinadores. Qualquer dúvida sobre a escolha do laboratório pode ser tratada com um membro do comitê local ou diretamente com o escritório do programa pelo e-mail  fellowsapp@pewtrusts.org. O período de envio das aplicações vai até 28 de setembro.

Para saber se você cumpre os requisitos necessários, clique aqui.

Sobre o programa

O Programa de Bolsas Pew para a América Latina em ciências biomédicas tem como objetivo dar suporte a jovens cientistas da América Latina que desejem fazer o pós-doutorado nos Estados Unidos, promovendo o intercâmbio do conhecimento científico e estimulando o avanço das pesquisas na América Latina. O projeto é mais um da Pew Charitable Trusts, ONG que atua também nas áreas de preservação do meio ambiente, economia e governança.

Abertas inscrições para a 6° Edição do concurso Euraxess Science Slam Brazil

Estão abertas as inscrições para a sexta edição do concurso Euraxess Science Slam Brazil.

O Euraxess Science Slam Brazil é um concurso em comunicação científica que tem por objetivo possibilitar que pesquisadores apresentem suas pesquisas de maneira original e em ambiente descontraído, visando o público leigo. Para participar, basta ser um pesquisador ativo no Brasil, de qualquer nacionalidade e de qualquer área da ciência, sendo mestrando em diante. As inscrições estão abertas até 15 de setembro.

Os cinco finalistas ganharão uma viagem ao Rio de Janeiro e participarão de um workshop de comunicação científica. Para o ganhador, será oferecida uma viagem à Europa e uma visita a um instituto de pesquisa europeu de sua escolha.

Neste link, você pode dar uma conferida nas apresentações do ano passado. Para mais informações e/ou inscrever-se, basta acessar o site scienceslambrasil.com.

Relatório de workshop sobre transtornos do neurodesenvolvimento infantil é lançado

Hoje, 20 de julho de 2018, foi lançado o relatório do workshop “Diagnóstico e Tratamento Precoce de Transtornos Neurológicos Infantis“, realizado em novembro de 2017. O workshop foi organizado pela ABC, em parceria com a Academia Nacional de Medicina (ANM) e a Academia de Ciências Médicas do Reino Unido (UKAMS, na sigla em inglês).

O relatório destacou como, no Brasil, a atual compreensão epidemiológica dos transtornos do neurodesenvolvimento é imperfeita, muitas vezes baseada em dados limitados. Segundo o documento, é necessário que haja uma vigilância para deficiências e atrasos no neurodesenvolvimento da população, métricas melhores para os países e pesquisas em diferentes contextos.

Devido à infecção pelo vírus da Zika, mais de 4 mil bebês nasceram com microcefalia no Brasil – uma má formação que os deixa com as cabeças pequenas e com o desenvolvimento debilitado.

Mas ninguém sabe quantos bebês nasceram com outras desordens do desenvolvimento. Eles são invisíveis em todo o mundo, onde estima-se que existam 250 milhões de crianças com deficiência ou atraso no desenvolvimento. Em países em desenvolvimento, é provável que esse número seja o dobro do que é em países mais prósperos da América do Norte e Europa. O relatório clama para que mais seja feito para ajudar estas “crianças invisíveis” ao redor do mundo.

A crise de Zika no Brasil e o medo de que se espalhasse pelo mundo através de mosquistos e, potencialmente, transmissão sexual trouxe recursos e expertise para uma área negligenciada e jogou uma luz sobre outros bebês prejudicados, diz o relatório. “A identificação e inclusão dessas ‘crianças invisíveis’ no sistema público de saúde foi uma importante consequência dessa crise”.

Os especialistas dizem que eles acreditam que o Brasil, que tem uma forte tradição em intervenções de saúde pública – a cobertura de vacinação beira 95% -, é um bom lugar para iniciar um modelo para os outros países imitarem.

Acesse o relatório aqui.

Morre, aos 76, o Acadêmico Herbert Bernard Tanowitz

O membro correspondente Herbert Bernard Tanowitz morreu, aos 76 anos, no dia 17 de julho de forma inesperada. O Acadêmico residia em Nova Iorque, nos Estados Unidos, e era professor e pesquisador do Departamento de Patologia e Medicamentos (Doenças Infecciosas) da Escola de Medicina Albert Einstein (AECM, na sigla em inglês), uma instituição conjunta do Centro Médico Montefiore e da Universidade Yeshiva.

Nascido no bairro do Brooklyn, na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos, Herbert formou-se como bacharel em ciência pela Brooklyn College (1963) e então ingressou na Escola de Medicina Albert Einstein, onde tornou-se doutor em medicina (1967). Depois de um período de residência no Hospital Lincoln, retornou à AECM em 1973. Pouco tempo depois, serviu à Marinha dos Estados Unidos durante dois anos e, embora tenha retornado à AECM já em 1975, permaneceu como membro da instituição militar até 2008.

Tanowitz foi um infectologista bastante dedicado ao seu trabalho e era reconhecido pelo pioneirismo nos estudos de parasitas, em particular pelo seu trabalho com a doença de Chagas, causada pelo Trypanosoma cruzi. Seu laboratório investigou a Cardiopatia Chagásica, uma insuficiência cardíaca causada pela doença de Chagas, e as consequências da infecção pelo Trypanosoma cruzi na fisiopatologia do hospedeiro. Como professor, lecionava as disciplinas intituladas “Parasitologia”, “Patologia Geral” e “Patogênese Microbiana”, e também era editor associado de renomados periódicos internacionais. Ele também praticava a medicina e era muito querido por seus pacientes, para quem ele provia cuidado excepcional.

Em 2010, tornou-se membro correspondente da Academia Brasileira de Ciências. Durante os muitos anos de carreira, colaborou com diversas instituições brasileiras e recebeu, em seu laboratório, diversos pesquisadores brasileiros. Quando visitou o Brasil, foi recebido como uma celebridade por pesquisadores e alunos, devido às grandes contribuições feitas para a ciência e em reconhecimento aos seus inúmeros artigos, leituras necessárias para todo aquele que deseje se aprofundar na doença.

Também em 2010, ele recebeu o Dominick P. Purpura Distinguished Alumnus Award e, em 2011, o Prêmio Walter Colli durante a 27a reunião anual da Sociedade Brasileira de Protozoologia.

Apesar de algumas lutas recentes com a saúde, o Dr. Tanowitz permaneceu ativo, produtivo e otimista. Ele deixa as três filhas, Pam, Meredith e Jill e suas famílias.

Acadêmico critica postura da ANS em carta ao jornal O Globo

Nesta sexta-feira, 19 de julho, o jornal O Globo publicou parte da carta enviada pelo Acadêmico Renato Cordeiro. Na carta, ele criticou a postura da Agência Nacional de Saúde (ANS) em medir forças com a Presidente do Superior Tribunal Federal, ministra Carmen Lúcia.

Recentemente, a ministra barrou a decisão do diretor da ANS, Rodrigo Aguiar, que permitia que os planos de saúdes cobrassem até 40% do valor de consultas e exames em regimes de coparticipação e franquia. Após decisão, Rodrigo Aguiar mediu forças com o STF, dizendo que manterá a nova regra, alegando que não foi apontada nenhuma ilegalidade ou inconstitucionalidade.

Na prática, essa nova medida significa que, se uma pessoa precisar fazer, por exemplo, uma ressonância nos pulmões – exame que custa cerca de R$700,00 -, o plano pode exigir que ela pague até R$280,00 para realizar o exame, além da mensalidade de contratação do plano. Dependendo do número e/ou tipos de consultas/exames, o valor pago pelo cliente pode mais que duplicar.

Vivemos um momento muito delicado em nosso país, quando diretores de Agências que deveriam proteger a população passam a atuar a favor das grandes corporações da saúde”, lamenta o Acadêmico. “É um momento de resistência cívica. Devemos apoiar a Presidente do STF em sua decisão, assim como a ABC e a SBPC têm atuado contra os lamentáveis cortes no orçamento nas áreas da Ciência, Tecnologia e Inovação.”

Ex-afiliados da ABC recebem prêmio de neurociência

Flávia Gomes e Stevens Rehen na cerimônia de recebimento do 1º Prêmio Internacional Fiocruz Servier de Neurociência

Na última quarta-feira, 11 de julho, o auditório do Museu da Vida, em Manguinhos, foi palco da cerimônia de entrega do 1º Prêmio Internacional Fiocruz Servier de Neurociência. O prêmio possui duas categorias, “Neurociência e infecção por Zika vírus” e “Neuroinflamação e distúrbios de neurodesenvolvimento”, e reuniu um conceituado comitê científico para avaliação dos projetos inscritos, formado por especialistas da área de saúde de instituições de pesquisa e desenvolvimento do Brasil, França, Argentina e Uruguai.

Os ganhadores são dois ex-membros afiliados da ABC, a pesquisadora Flavia Gomes (membro afiliado entre 2011 e 2015), do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, e Steven Rehen (2008-2012), pesquisador da UFRJ e do Instituto D’or. Flávia foi a premiada na divisão de distúrbios de neurodesenvolvimento e receberá com 120 mil euros (aproximadamente, R$ 543 mil), divididos em três anos, e Stevens receberá 30 mil euros (aproximadamente, R$ 136 mil), na divisão sobre Zika vírus.

Zika vírus e Microcefalia

Rehen iniciou a pesquisa em 2016 e identificou, de forma inédita, a relação entre a presença do vírus Zika e o desenvolvimento de microcefalia em bebês cujas mães foram infectadas durante a gestação. Para mostrar esta relação, a equipe liderada por ele utilizou organoides cerebrais, também conhecidos como minicérebros, que são um modelo importante para estudar o desenvolvimento do sistema nervoso central humano. “Células epiteliais foram retiradas da urina de voluntários e, em laboratório, fizemos com que voltassem ao estágio de células-tronco embrionárias, isto é, um estágio em que elas têm o potencial de se transformar em qualquer tipo celular. Depois, demos instruções a essas células para que se tornassem células do cérebro”, explica o cientista. As células foram cultivadas por cerca de dois meses até formarem pequenos aglomerados de cerca de cinco milímetros. Embora não possuíssem a complexidade de um cérebro humano formado, os organoides eram suficientes para fornecer pistas valiosas sobre o desenvolvimento cerebral. Quando infectados pelo vírus Zika, os minicérebros tiveram seu crescimento comprometido.

Esta pesquisa faz parte de um esforço colaborativo entre o Instituto D’Or, a UFRJ, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e outras instituições para compreender o vírus Zika e seus impactos sobre a saúde humana. O trabalho contou com apoio do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, da Fundação Capes, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e da organização norte-americana Pew Charitable Trusts.

Novas terapias para doenças neurais

O grupo de pesquisa coordenado pela Profa. Flávia Gomes estuda como as células gliais contribuem para o desenvolvimento do cérebro e para o aparecimento e progressão de doenças do sistema nervoso. Para isso, o grupo tem utilizado diferentes abordagens experimentais, incluindo cultura de células humanas e de roedores e modelos experimentais pré-clínicos de doenças. O grupo demonstrou de forma inédita que astrócitos humanos, um tipo de células gliais conhecidas por dar suporte metabólico aos neurônios, ajudam a regular a formação das conexões neurais através da produção de uma série de moléculas. Mais recentemente, o grupo demonstrou, de forma pioneira, que disfunções astrocitárias estão associadas a diversas doenças, incluindo Doença de Alzheimer, Doença de Parkinson, encefalopatia séptica, dentre outras. Atualmente, o grupo busca manipular as vias de sinalização dos astrócitos e suas funções como uma nova perspectiva para orientar a busca de novos alvos terapêuticos para doenças neurais.

O trabalho envolve a colaboração entre diversos grupos de pesquisa do Brasil com o objetivo de entender o papel das células gliais no desenvolvimento e doenças do sistema nervoso. O trabalho contou com apoio da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde (Decit) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Medicamentos contra o câncer

O evento também celebrou a assinatura do termo de cooperação técnico-científica para pesquisa de produtos naturais. A Servier e Fiocruz desenvolverão em conjunto um plano de trabalho que visa identificar compostos bioativos contra o câncer. As unidades da Fiocruz envolvidas neste projeto são o Instituto René Rachou (IRR), em Minas Gerais, e o Instituto de Tecnologia em Fármaco (Farmanguinhos), no Rio de Janeiro, que mantém uma extratoteca com amostras de produtos de origem natural de plantas, fungos, entre outros com potencial para o desenvolvimento de medicamentos inovadores sintéticos e semi-sintéticos.

10 anos da Rede Nacional de Física de Altas Energias

Em seu 10º aniversário de criação, a Rede Nacional de Física de Altas Energias (Renafae) ‒ que coordena as atividades dos grupos de pesquisadores brasileiros que atuam nessa área e, em particular, aquelas associadas às grandes colaborações internacionais ‒ promove encontro nos dias 30 e 31 de julho, no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP).

A ideia é fazer o balanço de suas atividades nesta década e avaliar os mecanismos de financiamento para as atividades relacionadas ao trabalho em laboratórios internacionais. Será também a oportunidade para planejar o futuro dessa área, que engloba de partículas elementares a astrofísica, passando por estudos da antimatéria e radiação cósmica.

Além de duas plenárias, haverá a apresentação de aproximadamente 50 trabalhos. Espera-se um público em torno de 150 participantes.

Sobre a Rede Nacional de Física de Altas Energias (Renafae)

A rede foi criada em 2008, pelo então Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. Seus objetivos envolvem:

  • A promoção do avanço científico e tecnológico da investigação das propriedades das partículas e suas interações fundamentais no país.
  • A consolidação e ampliação da pesquisa em física de altas energias, expandindo a capacitação científica e técnica necessária para explorar os benefícios resultantes dos desenvolvimentos associados e suas implicações tecnológicas.
  • O desenvolvimento de um programa de mobilização de empresas instaladas no Brasil para atuar no desenvolvimento da instrumentação e do software para as colaborações internacionais da área.
  • A coordenação das atividades dos grupos atuantes em física de altas energias e, em particular, as atividades associadas às grandes colaborações internacionais.

Fazem parte do Conselho Técnico-Científico da Renafae: Eduardo de Moraes Gregores (UFABC), Gilvan Augusto Alves (CBPF), João Torres de Mello Neto (UFRJ), José Manoel de Seixas (Coppe/UFRJ), Marcelo Gameiro Munhoz (USP), Ricardo Avelino Gomes (UFG), o Acadêmico Ronald Cintra Shellard, diretor do CBPF, e Sérgio Ferraz Novaes (IFT/Unesp).

Riqueza e bem-estar

Hoje, o Brasil conta com pouco mais de 120 pesquisadores, de 15 instituições, envolvidos diretamente em grandes colaborações internacionais nesse campo – se incluídos técnicos e estudantes, esse número chega à casa de 200 colaboradores. Além disso, há, no país, cerca de uma centena de físicos teóricos que se dedicam à área de altas energias.

O Brasil participa de várias dessas colaborações internacionais em laboratórios na Europa, nos EUA, na Argentina e, mais recentemente, no Chile. Pesquisadores brasileiros estão nos quatro grandes detectores (Atlas, CMS, Alice e LHCb) do acelerador de partículas LHC (Grande Colisor de Hádrons), bem como no Alpha ‒ este último sobre antimatéria ‒, todos experimentos no Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (CERN), com sede em Genebra (Suíça).

O país está também presente no Laboratório Auger, sobre radiação cósmica (Argentina); no DUNE, que estuda neutrinos (EUA); e no CTA, que busca fontes de raios gama no cosmo (Ilhas Canárias e, provavelmente, Chile).

Os trabalhos nesses laboratórios se dão de forma colaborativa: diversas instituições de pesquisa, de diferentes partes do planeta, se organizam para trabalharem juntas, com objetivos científicos bem definidos. São grandes projetos que buscam expandir a fronteira do conhecimento na ciência fundamental.

Boa parte dos avanços gerados por essas colaborações internacionais – os quais geralmente se transformam em riqueza para as nações e bem-estar para a população – é feita em parceria com empresas privadas de alta tecnologia. Não raramente, inovações e desenvolvimentos obtidos por grandes colaborações científicas internacionais acabam empregados em equipamentos e serviços do cotidiano, como celulares, computadores, internet, redes sem fio, carros, aviões, refrigeradores etc., gerando produtos mais modernos, de menor consumo energético e melhor qualidade.

O Brasil tem contribuído de forma significativa para o desenvolvimento de novas tecnologias para esses projetos científicos internacionais. Quatro exemplos emblemáticos são o chip Sampa, para o sistema de detecção do Alice (CERN); a placa para teste da nova eletrônica empregada no detector LHCb (CERN); o sistema de filtragem online de elétrons do Atlas (CERN); e o Arapuca, armadilha que aprisiona luz, usada no DUNE (Universidade Stanford e Fermilab, ambos nos EUA).

Ônibus e caminhões são 5% da frota, mas respondem por metade da poluição

Ônibus e caminhões são responsáveis por cerca de metade da poluição atmosférica da região metropolitana de São Paulo, apesar de representarem apenas 5% da frota veicular, segundo um estudo publicado ontem. O trabalho faz uma dissecação inédita dos poluentes que contaminam o ar da metrópole paulistana, permitindo separar o que foi emitido por veículos pesados, com motores a diesel, daquilo que foi gerado por veículos leves, como carros e motos.

Os resultados apontam para a instalação de filtros no escapamento dos ônibus como uma opção simples, rápida e barata de redução da poluição atmosférica na cidade. “As soluções existem, e não custam caro; mas são necessárias políticas públicas coerentes de longo prazo para serem implementadas”, diz o pesquisador Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade São Paulo (USP), que assina o estudo com outros seis cientistas brasileiros, na revista Scientific Reports.

Segundo ele, há filtros no mercado que reduzem a emissão de poluentes dos ônibus em até 95%, a um custo de R$ 10 mil a R$ 20 mil por veículo. Só a cidade de São Paulo tem 14,5 mil ônibus, o que implicaria custo de até R$ 300 milhões. “Mas quanto vale a vida das milhares de pessoas que morrem ou ficam doentes todos os anos por causa da poluição?”, indaga Artaxo. Essa poluição pesada causa e agrava sobretudo problemas vasculares e respiratórios.

A aposentada Aparecida Pechini, de 69 anos, conhece bem o problema. Na casa dela, na Vila Leopoldina, zona oeste, “todo mundo” tem algum problema respiratório, como rinite ou tosse. “Está sempre muito poluído”, diz. Enquanto falava à reportagem, ela lavava o piso da garagem de casa, no qual se acumulava a fuligem preta. “Está vendo? De vez em quando tem que jogar água, senão não resolve. Chega a ficar oleoso”, relata. “Moro aqui há mais de 40 anos, e não era assim tão poluído o ar. Agora está pior.”

O assessor jurídico Roberto Marques, de 66 anos, também aponta a fuligem como um problema e descreve a situação como “péssima”. A garagem da sua casa, separada da rua apenas por um portão de ferro, é lavada todos os dias e, mesmo assim, as patas da cachorrinha da família ficam pretas. Com pelagem branca, a cadela costumava tomar banho a cada 15 dias, no máximo uma vez por semana. Ultimamente precisa ser ao menos limpa todos os dias. “É muita poluição, ao extremo.”

Essa fuligem é o que os pesquisadores chamam de “black carbon”, que é a “fumaça preta” expelida pelos escapamentos dos ônibus. Segundo o estudo, 47% dessa fuligem presente no ar paulistano é produzida pela combustão ineficiente de diesel nos motores de ônibus e caminhões que circulam pela Grande São Paulo.

“Foi surpreendente ver o papel dos veículos pesados”, diz o pesquisador Joel Brito, que fez o estudo na USP e hoje está na Universidade Clermont Auvergne, na França. “Eles têm um papel relevante em todos os poluentes que a gente analisou.” As emissões mais expressivas foram de material particulado, benzeno e tolueno – todos altamente tóxicos.

A pesquisa tem por base três meses de amostragem contínua do ar de São Paulo no topo de um prédio da Faculdade de Saúde Pública da USP, na Avenida Dr. Arnaldo, que faz parte do chamado “espigão da Paulista”, região mais alta do centro de São Paulo. Nesse ponto, apesar do maior tráfego de ônibus, é possível encontrar o ar que sobe de outras regiões. Do ponto de vista analítico, o grande diferencial foi usar o etanol como um “traçador” para diferenciar as emissões de veículos leves e pesados – já que apenas carros e motos utilizam etanol.

Segundo os cientistas, é a primeira vez que um estudo faz esse tipo de caracterização da poluição em “condições reais”. Normalmente, as estimativas são feitas com base em extrapolações de medidas de emissão em laboratório.

Trilhos

Especialistas também citam a expansão da malha ferroviária como peça-chave para a redução da poluição do ar em São Paulo, pelo fato de reduzir o número de veículos no asfalto. “O número de linhas de metrô ainda é pequeno, comparado a outras cidades de grande porte”, aponta Luiz Vicente Figueira de Mello Filho, coordenador do curso de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas.

Ele também critica o baixo custo de venda do óleo diesel. “O empresário conta no papel e não vê vantagem em colocar energia mais limpa”, diz. “O nosso transporte é baseado em decisões do século passado.”

Os veículos de médio e grande porte da frota de ônibus da cidade de São Paulo tem idade de 6 anos e 1 mês, segundo informações da São Paulo Transporte (SPTrans). A Secretaria de Mobilidade e Transportes destaca a lei municipal aprovada em janeiro que dá prazos para a redução de poluentes.

Para entender

Estudo sobre o Rodoanel, divulgado pelo Estado em abril, mostrou que os cientistas estimam que, a cada 100 a 200 veículos pesados que deixam de circular na cidade, evita-se uma morte por ano ligada à poluição do ar. Um estudo de 2016 do Banco Mundial põe a poluição como a quarta causa de morte prematura no mundo.

Prefeitura tem 1 ano para fazer estudo de redução de emissões

No dia 17 de janeiro, o ex-prefeito João Doria (PSDB) sancionou a Lei 16.802/18, que dá prazos para a redução de poluentes para veículos de transporte público e de coleta de resíduos sólidos urbanos e hospitalares na capital paulista. O texto, impõe, por exemplo, prioridade na expansão da frota de trólebus.

No caso do dióxido de carbono (CO2), a redução da emissão deve ser de 50% até 2028 e de 100% até 2038. Já o óxido de nitrogênio e o dióxido de nitrogênio (NO2 e Nox) devem ser reduzidos em 80% nos próximos 10 anos e, em 95%, em até 20 anos. Por fim, a lei ainda determina a diminuição na emissão de material particulado (incluindo fuligem) em 90%, até 2028, e em 95%, até 2038.

Anteriormente estava em vigor a Lei 14.933/09, que instituiu a Política de Mudança do Clima no Município de São Paulo, determinando que a frota do transporte público deveria fazer a troca progressiva dos combustíveis fósseis até chegar a 100% dos veículos movidos a energia renovável não fóssil já em 2018.

Agora, a Prefeitura tem até julho do próximo ano para apresentar um “estudo dos cenários possíveis de redução de emissões da frota, mediante a implementação de uma rede abrangente de corredores com operação avançada e com prioridade para os veículos que operam em canaletas segregadas”.

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