“Eletricidade é cara. Aproximadamente 40% da conta de energia são impostos, mas ao gerar sua própria eletricidade no telhado de sua casa você se torna um autoprodutor e aí não tem imposto. Sol é gratuito”, disse José Goldemberg, presidente da FAPESP e membro titular da ABC, no programa Um Olhar Sobre o Mundo, da TV Brasil.

Em entrevista ao jornalista Moisés Rabinovici, apresentador do programa, Goldemberg falou inicialmente sobre a produção de eletricidade a partir da energia solar.

“O problema são os equipamentos [necessários para gerar eletricidade]. Mas se houver financiamento, você pode produzir eletricidade, vender para a concessionária durante o dia e comprar de volta à noite, quando o uso é maior. De modo que, a rigor, se você instalar um coletor solar no telhado de sua casa, você pode passar a ser alguém para quem a eletricidade tem custo zero, exceto pelo investimento inicial”, disse.

Goldemberg, que foi presidente da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) de 1982 a 1985, elogiou a produção de energia no país. “Apesar de todos os altos e baixos que tivemos, a matriz energética brasileira é das que têm mais energias renováveis no mundo; 45% da energia usada no Brasil vem de fontes renováveis”, disse.

Destacou, entretanto, perigos enfrentados pela matriz energética no país. “A espinha dorsal do sistema energético brasileiro é a eletricidade gerada em hidrelétricas e surgiram problemas sobre os quais precisaríamos nos debruçar com mais cuidado”, disse, referindo-se à questão dos reservatórios em hidrelétricas.

Segundo ele, a ausência de reservatórios pode fazer com que hidrelétricas em locais onde chove bastante apenas em parte do ano fiquem ociosas nos períodos de ausência de chuva.

“Isso precisa ser rediscutido. A ideia de simplesmente proibir hidrelétricas com reservatórios não é um bom presságio para o que pode acontecer no futuro”, disse, ressaltando também a importância das questões sociais e ambientais envolvidas no tema. “Esses problemas são reais, mas podem ser equacionados.”

Goldemberg também destacou a importância do apoio à inovação para o desenvolvimento do país, particularmente a inovação produzida em pequenas empresas.

“Na FAPESP, fazemos um grande esforço nesse sentido, principalmente com o programa PIPE [Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas], porque a inovação surge principalmente nas pequenas empresas, não nas grandes. É preciso apoiar os jovens que saem das boas universidades para que eles desenvolvam suas ideias e seus produtos inovadores”, disse.

Goldemberg lembrou que, diferentemente de países como Israel e Estados Unidos, no Brasil é mais comum a empresários deixar dinheiro no banco rendendo juros do que investir em inovação. “Na FAPESP já apoiamos mais de 1 mil projetos de pesquisas conduzidos por startups. Em 2017 apenas, aprovamos em média um projeto por dia. Seria muito bom se houvesse mais apoio como esse no país para ideias inovadoras”, disse.

Outro tema abordado pelo presidente da FAPESP no programa foi o uso da energia nuclear para fins militares, que voltou à tona por conta da Coreia do Norte.

“O problema com as armas nucleares é que o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, de 1968, tentou congelar o mundo entre os que tinham armas nucleares e os que não tinham. E foi tomado o compromisso, de boa fé, de que a médio ou longo prazo as grandes potências – na época Estados Unidos, União Soviética, Inglaterra, França e China – com o tempo desativariam as armas nucleares, mas isso não aconteceu”, disse.

“Foram os físicos que desenvolveram as armas nucleares, mas são eles os primeiros a lutar contra a utilização dessas armas na sociedade, pois compreendem bem seu poder destrutivo avassalador. Espero que esse entendimento dos Estados Unidos com a Coreia do Norte leve a uma redução progressiva. Desnuclearizar representa, de fato, um fator de segurança para o futuro”, disse.

Assista ao programa com José Goldemberg no site da TV Brasil ou abaixo: