A cidade de São Paulo (SP) receberá, no dia 9 de outubro, o segundo evento do ciclo de painéis “CT&I para a Sustentabilidade (CTI – ODS 2030)”. Dessa vez, o tema em debate é “Mulheres na ciência”. O encontro será realizado na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), com a participação de pesquisadoras, gestoras da área de CT&I e representantes da comunidade científica e tecnológica de todo o Brasil.
Os eventos são realizados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). O ciclo de painéis conta, ainda, com a parceria do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
O painel “Mulheres na ciência” será composto por uma conferência ministrada pela presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, e terá como debatedoras a presidente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), Zehbour Panossian; e a líder de Diversidade e Inclusão da Oracle na América Latina, Daniele Botaro; além de Alice Rangel de Paiva Abreu, que é professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretora do GenderInSITE, um programa internacional para promover a questão de gênero em ciência, inovação, tecnologia e engenharia.
No evento de São Paulo, a co-fundadora da Rede ODS Brasil, Patrícia Menezes, fará a contextualização dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Após esta atividade, as participantes do painel discutirão diversos aspectos das contribuições das mulheres na ciência e como isso pode ser um vetor para promover o alcance dos ODS.
O ciclo é formado por seis painéis realizados ao longo de 2018. Os demais debates serão promovidos em diferentes cidades brasileiras, sendo que o primeiro aconteceu em Belém (PA), com a temática Biodiversidade.
Além do tema Mulheres na Ciência, do encontro em São Paulo (SP), nos próximos eventos serão discutidos os seguintes tópicos: Nexus – segurança hídrica, energética e alimentar; Tecnologia & Emprego; Transformações Sociais; e Conhecimento Científico.
O evento de São Paulo é aberto ao público e será transmitido pelo portal www.cgee.org.br. Para saber mais sobre a programação, acesse este link.
Serviço
Painel Mulheres na Ciência (CTI – ODS 2030)
Data: 09 de outubro
Horário: 14h
Local: Confederação Nacional da Indústria – São Paulo (SP).
O Simpósio e Diplomação dos Membros Afiliados 2018-2022 da ABC Região Norte foi realizado no dia 28 de setembro, na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém. Além das apresentações dos novos membros e de duas palestras especiais, proferidas pelos Acadêmicos Christopher Wood e Philip Fearnside, o evento contou com uma mesa-redonda sobre Mulheres na Ciência, com a participação das afiliadas da ABC Fernanda de Pinho Werneck (INPA) e Joyce Kelly do Rosário da Silva (UFPA), assim como da ex-afiliada da ABC Ândrea Kely Campos Ribeiro dos Santos (UFPA) e da pesquisadora do ITV Vera Lúcia Imperatriz da Fonseca.
Ândrea Kely Campos, Vera Lucia Imperatriz, o pró-reitor de Pesquisa da UFPA Rômulo Angélica, Fernanda Werneck e Joyce Kelly da Silva
A pesquisadora associada do INPA Fernanda Werneck, eleita afiliada da ABC (2017-2021), ganhadora do prêmio brasileiro Para Mulheres na Ciência 2016, oferecido pela L’Oréal, ABC e Unesco, e do International Rising Talent/For Women in Science, da L’ Oréal, deu início à sessão.
Formada em biologia pela Universidade de Brasília (UnB), onde cursou o mestrado em ecologia, e doutorado nos EUA em biologia integrativa, em 2013 foi para a Amazônia trabalhar no INPA. E começou a preocupar-se, também, com a questão de gênero na ciência na região.
A questão do viés numérico lhe interessou. De início, o número de homens e mulheres na carreira científica é mais próximo, dependendo da área. Mas à medida que o tempo passa há um “vazamento”: as mulheres não progridem tanto quanto os homens.
Maternidade requer políticas públicas que apoiem as cientistas
Em sua visão, o maior problema é a falta de oportunidades. “Sentimos isso até na maneira como as cartas de recomendação são escritas. Nos cientistas homens são valorizadas suas qualidades intelectuais e seu brilho científico. Nas pesquisadoras, o foco é quase sempre em aspectos da vida social. Ter filhos é considerado ponto negativo. E isso ‘justifica’ salários diferentes.”
Fernanda ressalta que há um ciclo de reconhecimento menor. As mulheres têm menos autoria sênior, menos convites como palestrantes e quando têm função de responsabilidade, geralmente são coordenadoras de curso ou chefes de departamento. “Ou seja, costumam concentrar o trabalho burocrático“, afirma a Acadêmica.
O ambiente profissional, de modo geral, tem um viés implícito de sexismo sutil. Ela destaca as micro agressões do cotidiano e ao que chama labirinto de vidro: a mulher está vendo tudo que há à frente na carreira, quase chega lá, mas… “Ah, mas você é tão bonitinha para ser cientista… Tão novinha… Foi você que escreveu isso? Ah, mas esse projeto é muito ambicioso para um mestrado… Você não vai conseguir concluir…” Essas, segundo Fernanda, são manifestações sexistas implícitas. Mas, infelizmente, ainda há os casos explícitos de assédio moral e sexual”, aponta.
Um estudo da Elsevier no Brasil, porém, aponta que em termos de número de publicações a divisão por gênero é equilibrada. “Ou seja, com tudo isso, as mulheres estão produzindo tanto quanto os homens”. Mas o reconhecimento, como ela já havia dito, é menor. “Das bolsas de produtividade em pesquisa do CNPq, 41% são das mulheres. Mas isso na categoria 2, porque na categoria 1, o número de mulheres é muito menor”, salientou. Na Academia, a situação das mulheres não é melhor: apenas 8% das titulares das áreas exatas são mulheres.
Fernanda considera que promover o papel da mulher na ciência é, em primeiro lugar, uma questão de direitos humanos: todos devem ser capazes de colocar em prática seus potenciais. E avalia que a contribuição da mulher, assim como de pesquisadores de diferentes etnias, regiões e religiões, é diferenciada. “E isso interessa à ciência, possibilita a formulação de questões científicas mais amplas e multi-dimensionais. Isso leva à excelência”, afirma Werneck.
Abordando especificamente a situação da mulher cientista na Amazônia, Fernanda concorda que, realmente, é uma realidade mais difícil. “Aqui há peculiaridades, por conta da pesquisa de campo, principalmente. É mesmo mais complicado”, ponderou. Em sua área, a herpetologia, há um maior número de mulheres curadoras de coleções científicas, tanto no Norte como no Nordeste. Ela participa da iniciativa Projeto Maternidade, junto ao CNPq, que usa a hashtag #maternidadenolattes. “Deixamos clara nessa discussão a necessidade da existência de um fator F – de filhos – na avaliação das pesquisadoras”, conta Fernanda, que atua também no grupo “Parent in Science”.
O lado positivo de tudo isso, segundo Fernanda, é a sororidade. “Mulheres tendem a agir como catalisadoras. Elas puxam outras mulheres para cima na carreira”, declara.
Ciências exatas requerem estímulo maior para a inserção de mulheres
A química da UFPA Joyce Kelly do Rosário da Silva tende a concordar. “Mas as ciências exatas sofrem grande pressão da discrepância de gênero, especialmente na região Norte.” Na região, só havia bolsas de produtividade para os estados do Pará e do Amazonas.
Assim como Fernanda, Joyce também foi uma das vencedoras do Prêmio Para Mulheres na Ciência, da ABC-L’ Oréal-Unesco, só que anteriormente, em 2013. “Das 82 cientistas já premiadas, apenas três eram da região Norte e, destas, apenas uma da área de ciências exatas.” Entre as eleitas como membro afiliado da ABC, até hoje apenas quatro mulheres são das ciências exatas e da terra. “Dentro das ciências exatas, a química ainda é a área que tem mais mulheres”, ressaltou.
Em 2015 Joyce fez um estágio de pós-doutorado nos EUA e em 2017 foi eleita para a ABC. Em 2018, conseguiu enfim ascender à categoria 2 das bolsas de produtividade do CNPq. “Nas ciências exatas, as mulheres detêm 20% das bolsas de pesquisa – este é o número registrado no CNPq entre 2013 e 2017. Mas na categoria 1A do CNPq, a proporção é de 87% para 13%”, afirmou.
Preconceito regional em relação ao Norte é maior do que de gênero
A bióloga da UFPA Ândrea dos Santos reforçou a dificuldade específica das mulheres cientistas em função da maternidade. “Precisamos de creches, esta é a principal política pública para apoiar mulheres”, defendeu. Ela falou de sua experiência pessoal: filha de professores, sempre estimulada para a independência financeira pela mãe e para a busca do conhecimento pelo pai, nunca se sentiu constrangida no meio científico. “Acho que a postura ajuda”, ponderou.
Há 20 anos, quando começou na área de genética, conta que a proporção entre homens e mulheres era equilibrada, meio a meio. Mais recentemente, porém, com a entrada forte da bionformática na área, o percentual de homens subiu para 75%. “Na UFPA ainda é mais equilibrado: 55% de homens para 45% de mulheres”, disse Ândrea, referindo-se aos professores de todas as áreas somadas.
Mais do que por ser mulher, no entanto, Ândrea diz que sente preconceito por ser pesquisadora na região Norte. “E aí tanto faz se o pesquisador é homem ou mulher para ser visto como inferior. O preconceito regional é maior do que o de gênero.”
Interação regional na ciência é possível e desejável
A bióloga Vera Lúcia Imperatriz da Fonseca conta que fez seu doutorado há 40 anos. Aposentada como professora titular de Ecologia no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), passou a colaborar como pesquisadora sênior em outras universidades, no Nordeste e depois no Norte do país. Pesquisadora 1B do CNPq, desenvolve suas pesquisas com abelhas nativas e polinizadores. “Destaco que sou 1B desde os anos 80. Nunca consegui passar para 1A”, relatou.
Ela participa, por indicação do governo brasileiro, como co-chair da nova avaliação sobre polinização, polinizadores e produção de alimentos, em elaboração pela Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços de Ecossistemas (IPBES). Atualmente é pesquisadora titular ”, no Instituto Tecnológico Vale de Desenvolvimento Sustentável (ITV), na linha de pesquisa Biodiversidade e Serviços de Ecossistema.
“Aprendi muito nesta fase pós-aposentadoria. Sempre trabalhei onde a ciência era organizada, e depois fui para lugares onde nós é que temos que organizar a ciência e fazemos uma ciência para todos, inclusiva”, ressaltou Vera. Ela é casada e tem quatro filhos. E sempre trabalhou em ciência. “Só nunca consegui morar fora, era uma família muito grande”, observou.
Sua primeira incursão foi em Mossoró, no Rio Grande do Norte. “Lá vi que era possível formar gente boa numa universidade nova, promovendo a interação com os pesquisadores da USP”, relatou.
Aos 72 anos, ela diz que se sente realizada profissionalmente. “Aqui na Amazônia, temos que fazer a ponte entre a ciência e a sociedade. Temos que trabalhar para o país, construir a ponte do conhecimento”, aponta Vera, acrescentando que vai ao Egito ainda este ano para falar sobre a biodiversidade amazônica na 14ª Conferência de Biodiversidade da ONU. Um admirável exemplo de mulher cientista.
Por mais mulheres em cargos de liderança científica
A conclusão do debate reforçou a necessidade de se encorajar mais mulheres para a ciência e aumentar o percentual delas em posições de liderança científica. E como fazer? Fernanda Werneck respondeu: “Promovendo círculos virtuosos”.
Estes círculos envolvem conversas, disseminação de estatísticas, estímulo ao respeito aos direitos da maternidade através da manutenção de bolsas e de outras iniciativas que facilitem a permanência da mulher na ciência. “Precisamos lutar pela oferta equilibrada de oportunidades e pela quebra da divisão de tarefas nos nossos grupos de pesquisa, assim como pressionar nos níveis institucionais por políticas públicas específicas.”
Agência FAPESP – Edição de Genes e Saúde é o tema do próximo programa Ciência Aberta, que será transmitido ao vivo na quinta-feira (04/10), a partir das 15 horas.
Os pesquisadores convidados são:
Mayana Zatz, professora do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Centro de Pesquisas do Genoma Humano e Células-Tronco (CEGH-CEL), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiado pela FAPESP.
José Eduardo Krieger, professor titular de Genética e Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Laboratório de Genética e Cardiologia Molecular do Instituto do Coração.
Vilma Regina Martins, superintendente de Pesquisa e chefe do grupo de Biologia Tumoral e Biomarcadores do A.C.Camargo Cancer Center.
Zatz, Krieger e Martins vão debater sobre avanços e desafios do uso de edição de genes em saúde.
Na década de 1970, a engenharia genética permitiu um progresso enorme no conhecimento de doenças humanas causadas por mutações em genes. Mais recentemente, o sequenciamento de genomas permitiu localizar a posição do gene alterado. Mas ainda faltava uma tecnologia para fazer uma cirurgia no genoma e consertar o gene.
É aí que entra em cena a edição de genes, capaz de promover alterações altamente específicas na sequência do DNA de um organismo.
A edição de genes é feita por meio do uso de enzimas, especialmente as chamadas nucleases, que são enzimas capazes de quebrar as ligações entre os nucleotídeos na molécula de DNA.
Uma das tecnologias mais importantes de edição gênica é chamada de CRISPR-Cas9, descoberta em 2012 a partir do estudo de propriedades de bactérias.
Essa nova tecnologia permite aos cientistas inserir, remover ou alterar material genético em locais específicos, de modo extremamente preciso. Além de eficiente, a tecnologia é rápida e de baixo custo, permitindo que seja usada em pesquisas nos laboratórios em diversos países, inclusive no Brasil.
A edição gênica por CRISPR-Cas9 tem revolucionado a capacidade dos pesquisadores de conhecer melhor as funções do genoma. Ainda mais importante do que isso é que ela tem sido experimentada para introduzir ou corrigir mutações genéticas. Tudo isso pode levar à descoberta de terapias e de alternativas que permitam a prevenção e o tratamento de doenças hoje consideradas incuráveis.
Realizado mensalmente, Ciência Aberta é produzido pela FAPESP em parceria com o jornal Folha de S.Paulo. O programa é exibido ao vivo pelo site da FAPESP, pela página da Agência FAPESP no Facebooke no YouTubee pelo site da TV Folha.
O programa é transmitido a partir do auditório da FAPESP, que recebe estudantes como convidados. Eles podem participar do programa enviando perguntas aos pesquisadores convidados. Durante o programa, perguntas do público externo também são recebidas pela página da Agência FAPESP no Facebook.
O ICTP-SAIFR (Instituto Sul-Americano para Pesquisa Fundamental) apresenta, na próxima quinta-feira, 4 de outubro, mais uma edição do Papos de Física. Neste mês, a astrofísica Beatriz Barbuy irá apresentar um panorama da descrição do Bojo Galáctico, o grupo de estrelas encontrado na região central da nossa galáxia. O ICTP-SAIFR é centro associado ao Instituto de Física Teórica (IFT) da Unesp
O Bojo Galáctico é uma região que guarda muitos mistérios e, ao desvendá-los, podemos compreender um pouco mais sobre a origem da nossa galáxia e sua história. Nesta edição do Papos de Física serão apresentadas algumas pistas para a compreensão desse cenário: um panorama da descrição do Bojo Galáctico – sua dinâmica, aparência e composição química – e ainda dúvidas sobre a idade da população estelar.
Beatriz Barbuy é professora do Instituto de Astronomia e Geofísica (IAG) da USP e trabalha com Astrofísica Estelar e Astrofísica Extragaláctica. Em 2009, a pesquisadora foi uma das cinco ganhadoras do Prêmio L’Oréal-Unesco 2009 para Mulheres na Ciência.
Papos de Física é um evento mensal organizado pelo ICTP-SAIFR que tem como principal objetivo apresentar as principais descobertas da Física de forma descontraída e acessível para o público não especialista. O evento é gratuito e não é necessário fazer inscrição prévia.
Serviço
Papos de Física – O bojo da nossa galáxia Quando: Quinta, 4 de outubro, às 19h30 Local: Tubaína Bar, Rua Haddock Lobo, 74, São Paulo-SP Mais informações: http://www.ictp-saifr.org/papos/
Marie Curie ganhou o prêmio Nobel de Física, em 1903. Depois dela, 60 anos se passaram até que Maria Goeppert-Mayer foi premiada, em 1963. E mais 55 anos decorreram até que em 2018 uma terceira mulher ganhou um Nobel de Física: a canadense Donna Strickland compartilhou com dois homens o prêmio, por avanços na tecnologia de laser que transformaram feixes de luz em ferramentas de precisão.
Marie Curie (1903), Maria Goeppert-Mayer (1963) e Donna Strickland (2018)
De acordo com a diretora da ABC e física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Márcia Barbosa, o Nobel de física deste ano traz algumas mensagens muito interessantes. “Em primeiro lugar celebra a luz como um instrumento, sob dois aspectos complementares.” Isso porque metade do prêmio vai para a invenção da pinça óptica, desenvolvida por Arthur Ashkin, que atuou no começo da década de 70 no Bell Laboratories, em Nova Jersey.
Márcia explica que desde os tempos de Newton era sabido que a luz exerce uma pressão de radiação. “Para objetos macroscópicos esta força é pequena. Arthur se deu conta que se focalizasse os fótons que compõem a luz, geraria uma interação forte com objetos dielétricos (polarizáveis), podendo arrastá-los.” Assim, tornou-se possível com estas pinças mover colóides, organelas, bactérias e mesmo átomos. No caso dos organismos vivos, de acordo com Barbosa, é possível manipulá-los sem destruí-los, o que abriu as fronteiras para o estudo de sistemas biológicos simples.
A segunda metade do prêmio Nobel foi para Gérard Mourou e Donna Strickland, pelo trabalho que seria a tese.de doutorado de Donna. Eles criaram o “Chirped Pulse Amplification”. A ideia, de acordo com Barbosa, era criar um laser muito intenso, mas que não destruísse o local onde estivesse agindo. Para combinar intensidade com operacionalidade, os pulsos de laser de alta intensidade foram gerados com duração muito curta.
“Para atingir este objetivo usa-se um pulso curto de laser, expande-se para a ordem de nano segundos, amplia-se a intensidade e depois comprime-se o pulso até pico segundos”, relata a pesquisadora. Márcia Barbosa explica que a ideia de trazer uma grande quantidade de energia em um curto espaço de tempo permite o uso deste tipo de laser para manipulações biológicas.
Ao premiar duas invenções que hoje são usadas em aplicações nas áreas da medicina, o Nobel mostra ao mundo que ciência gera desenvolvimento e melhoria de vida. “O aspecto mais interessante desta premiação é a presença de Donna. Em física somente duas outras mulheres haviam sido premiadas, Marie Curie e Maria Goeppert-Mayer, ambas em física nuclear. Donna, com sua premiação em fĩsica da matéria condensada, com uma componente interdisciplinar importante, quebra o jejum de 55 anos sem mulheres no Nobel. Ela surge como um sinal de novos tempos. Mulheres agora podem ser protagonistas em todos os espaços, inclusive em física”, conclui.
O Instituto Serrapilheira lança hoje sua segunda Chamada Pública de apoio à pesquisa científica. O objetivo é financiar projetos de excelência de jovens cientistas do Brasil nas áreas das ciências naturais (ciências da vida, física, geociências e química), matemática e ciência da computação. Os projetos receberão até R$ 2,4 milhões, no total, na primeira fase e devem responder a perguntas fundamentais ambiciosas. O editaljá está disponível para consulta, e as inscrições serão abertas em 5 de novembro, no site do Serrapilheira.
Na primeira etapa, 24 pesquisadores serão selecionados para receber até R$ 100 mil por um ano. Em seguida, até três deles serão contemplados com um financiamento de até R$ 1 milhão ao longo de três anos. Após este período, o apoio pode ser renovado anualmente, com até R$ 300 mil por ano. Parte dos recursos é condicionada à promoção de iniciativas de diversidade pelos escolhidos.
“Queremos oferecer aos pesquisadores espaço para produzirem um conhecimento novo”, afirmou o diretor-presidente do Serrapilheira, Hugo Aguilaniu. “Desenvolver ciência competitiva é um processo demorado, então permitimos a renovação do grant para que o tempo da pesquisa seja respeitado. Nosso princípio é concentrar os recursos em bons projetos em vez de pulverizá-los. Por isso, esperamos que os pesquisadores façam perguntas ousadas, capazes de criar uma ciência nova no Brasil”, disse Aguilaniu.
A Chamada será repetida anualmente e fará parte de uma iniciativa maior, o Programa de Apoio a Jovens Cientistas de Excelência do Serrapilheira. Informações mais detalhadas serão divulgadas em breve pelo instituto.
“Esta Chamada, tanto na escolha de áreas quanto no formato, é um resultado do mapeamento realizado na primeira, em que procuramos entender o ambiente de pesquisa nacional”, explicou a diretora de Pesquisa Científica do Serrapilheira, Cristina Caldas. “Decidimos apoiar pesquisa fundamental, a produção do conhecimento pelo conhecimento, sem o compromisso com a aplicação. Além disso, oferecemos flexibilidade no uso de recursos.”
Inscrições
As inscrições da segunda Chamada Pública ficarão abertas de 5 de novembro a 14 de dezembro no site do Serrapilheira. Para se candidatar, os pesquisadores devem ter concluído o doutorado entre 1º de janeiro de 2011 e 31 de dezembro de 2016 – prazo que pode ser estendido em um ano para mulheres com um filho e em dois anos para mulheres com dois ou mais filhos. Além disso, devem ter um cargo permanente como professores ou pesquisadores em instituições públicas ou privadas. Os selecionados receberão o financiamento a partir de junho de 2019.
O evento Simpósio e Diplomação dos Membros Afiliados 2018-2022 da ABC Região Norte foi realizado no dia 28 de setembro, na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém. Os diplomados foram a biomédica do Instituto Evandro Chagas (IEC), Daniele Barbosa de Almeida Medeiros; a bióloga do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) Juliana Schietti de Almeida; o biólogo do Instituto de Tecnologia Vale (ITV), Rodolfo Jaffé Ribbi e o bioinformata da UFPA Rommel Thiago Jucá Ramos.
A mesa de abertura foi composta pelo vice-presidente da ABC Regional Norte, Roberto Dall’Agnol; o pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa da UFPA, Rômulo Angélica; e o assessor técnico da ABC Marcos Cortesão, representando o presidente da ABC, Luiz Davidovich, impedido de comparecer.
Na frente, Roberto Dall’Agnol; atrás, Marcos Cortesão, Philip Fearnside, Christopher Wood e Rômulo Angélica
Dall’Agnol saudou os novos membros afiliados e apresentou os Acadêmicos convidados a proferir palestras especiais, Christopher Wood, novo membro correspondente eleito em 2018, e Philip Fearnside, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), que foi membro correspondente da ABC entre 1994 e 2018, quando tornou-se membro titular.
Ele iniciou a sessão homenageando o recém falecido Acadêmico Horácio Schneider e lamentando profundamente essa grande perda para a UFPA e para a ciência brasileira. Dirigindo-se aos novos membros, destacou que eles têm tido papel importante na dinamização da Academia desde que a categoria foi criada em 2007, para jovens pesquisadores de excelência, com menos de 40 anos, que ficam afiliados à Academia por cinco anos. “Foi uma iniciativa muito bem-sucedida do presidente anterior, Jacob Palis, que recruta jovens de excelência em todas as regiões do Brasil para integrar essa ‘elite’ intelectual que é o corpo de membros da ABC. Sejam bem-vindos, vocês são o futuro da ciência no país.”
O pró-reitor Rômulo Angélica manifestou sua alegria em receber evento tão importante na UFPA, reiterando os cumprimentos e as boas vindas aos membros afiliados eleitos para o período de 2018 a 2022. Ressaltou que o contraponto a essa alegria foi a lamentável perda do grande pesquisador da Amazônia e Acadêmico Horácio Schneider, que ocupou cargos de reitor, pró-reitor e diversos outros na UFPA. “Ele teve uma carreira brilhante. Era admirável seu compromisso com a Amazônia e com a ciência brasileira. Criou o campus da UFPA em Bragança e criou o primeiro programa de pós-graduação da Universidade no interior do estado. Deixou um grande legado e estará sempre conosco.”
Seguiram-se as palestras especiais.
Roberto Dall’Agnol, Christopher Wood e Rômulo Angélica
Lições em fisiologia, toxicologia e mentoria na Amazônia
Christopher Wood é professor e pesquisador da University of British Columbia, em Vancouver, e na McMaster University, em Hamilton, ambas no Canadá. Tem colaborações na University of Miami e no Instituto de Pesquisas da Amazônia (INPA), com o Acadêmico Adalberto Val, na área de ictiologia, estudando os peixes da Amazônia.
Ele ressalta que o rio Negro concentra 8% das espécies de peixes de água doce do mundo. Wood estuda, especificamente, a respiração do jeju e da traíra, que tem sistemas diferentes. Seu interesse é nos motivos pelos quais os peixes de água doce da Amazônia sobrevivem em águas com pH tão baixo que mataria qualquer espécie do hemisfério Norte.
Segundo o Acadêmico, pesquisas indicam que o carbono orgânico dissolvido na água protege os zebrafish e outros peixes dos distúrbios ionoregulatórios causados pela exposição a pH baixo. O mesmo mecanismo os protege do efeito tóxico de metais.
Nas áreas de fisiologia básica de peixes e toxicologia aquática com metais, amônia e mudanças globais, assim como manejo e regulações ambientais, Wood já orientou até agora 42 mestrados, 28 doutorados e 54 pós-doutorados.
Ele considera a formação de recursos humanos um dos aspectos mais interessante da carreira de pesquisador. “É onde a postura do orientador faz a diferença”, ressaltou.
Wood listou alguns itens fundamentais que, a seu ver, caracterizam uma boa mentoria. Salientou a importância de estimular os alunos através do encorajamento e não de críticas; encorajá-los a terem suas próprias ideias e trabalhar com independência; lidar bem com os erros dos estudantes; manter reuniões regulares no laboratório; encorajar colaborações e networking; incentivar os alunos a participarem de congressos, a fazer saídas de campo e visitar outros laboratórios; compartilhar suas boas ideias; ler e corrigir textos em tempo razoável; ajudar os alunos a escrever, se necessário; avisar os alunos de boas oportunidades, como bolsas de estudos, empregos e colaborações; e continuar se preocupando com os interesses de seus alunos mesmo depois que eles saíram do laboratório, dando cartas de referência, avisando sobre editais, indicando para prêmios.
Mudanças climáticas e mudanças do uso da terra na Amazônia brasileira
Philip Fearnside coordena o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Serviços Ambientais da Amazônia (Servamb). Sua pesquisa gira em torno dos riscos, valores e conservação da biodiversidade nas florestas Amazônicas brasileiras, e sobre a manutenção florestal amazônica como fonte de serviços ambientais. Ele mantém uma coluna de divulgação científica no site Amazônia Real.
Fearnside comentou sobre o negacionismo, ou seja, a atitude de recusar a existência das mudanças climáticas e seus efeitos, que leva um líder como Trump, por exemplo, a tirar os EUA do Acordo de Paris e leva os ruralistas brasileiros pelo mesmo caminho.
No Brasil, segundo o palestrante, em 2015 o então ministro da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável Mangabeira Unger demitiu os membros do quadro técnico da pasta, nove meses antes da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP) de Paris. Ertam eles Sergio Margulis e Natalie Unterstell, que coordenavam o maior estudo já feito no país sobre adaptação a mudanças climáticas. Batizado de “Brasil 2040”, o trabalho tinha como objetivo embasar políticas públicas de adaptação nos setores de energia, infraestrutura, agricultura e recursos hídricos. “Em torno de dez grupos de pesquisa do país trabalhavam nele. A análise deveria ficar pronta ainda em 2015 e traria más notícias sobre o impacto das mudanças climáticas na expansão do parque hidrelétrico brasileiro”, destacou Fearnside. ]Acentuando o quadro negativo, diversas ameaças ao licenciamento ambiental vêm se repetindo, como a PLS 654/2015 e a Lei 13.334/2016, de acordo com o palestrante, assim como ameaças às terras em reservas indígenas.
O Acadêmico apresentou diversas imagens de desmatamento, queimadas e incêndios na floresta em função da seca. “Este é um fenômeno climático que tende a se acentuar nas próximas décadas, devido ao aquecimento global, caso as emissões de gases estufa continuem sem limitações”, alertou Fearnside. O pesquisador destacou que a destruição da floresta está intimamente ligada ao aumento das plantações de soja e da valorização do boi gordo. “E também da instalação de usinas hidrelétricas, que causam fortes impactos, extremamente prejudiciais ao ambiente”, observou.
Após as palestras especiais, vieram as palestras dos novos membros que apresentaram suas pesquisas e procedeu-se a cerimônia de diplomação. Veja a galeria de fotos:
Conheça os novos membros afiliados da ABC da Região Norte nas matérias abaixo.
Aceitando os desafios de descobrir o novo
Formada em biomedicina e atuando no Instituto Evandro Chagas, a nova afiliada da ABC Daniele Barbosa se dedica ao estudo da arbovirologia na saúde pública.
Pesquisando em harmonia com a natureza
Eleita membro afiliada da ABC Norte para o período de 2018 a 2022, a bióloga Juliana Schietti, do INPA, pesquisa as relações das plantas com o ambiente e os seres humanos.
Pesquisando a genética das paisagens do mundo
Novo afiliado da Regional Norte da ABC, o biólogo do ITV Rodolfo Jaffé mistura genética de populações e ecologia da paisagem em seu trabalho de pesquisa.
Transformando a biologia em dados computacionais
Novo membro afiliado da ABC, o engenheiro da computação da UFPA Rommel Ramos combina dados biológicos e ferramentas computacionais em seu trabalho como pesquisador.
Comitê Executivo da GYA, membros do Comitê Consultivo e parlamentares alemães reunidos para o evento em Halle, na Alemanha
A Global Young Academy (GYA) promoveu, entre os dias 24 e 27 de setembro, em Halle, na Alemanha, a reunião anual de seu Comitê Executivo. Estiveram presentes também os membros do Comitê Consultivo da GYA, do qual o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich, faz parte. Ao longo da conferência, os membros da GYA participaram de um workshop e discutiram questões de governança da organização. Eles também se reuniram com parlamentares alemães, incluindo os representantes de Halle Karamba Diaby e Christoph Bernstiel, bem como membros da Comissão de Educação, Pesquisa e Avaliação Tecnológica em Berlim.
O professor Davidovich declarou que os debates demonstraram o entusiasmo de jovens pesquisadores de diversos países do mundo e permitiram uma troca de informações e pontos-de-vista entre o Comitê Executivo e o Comitê Consultivo, do qual ele faz parte.
Durante o evento, o presidente da ABC comentou sobre a conferência internacional que a ABC realizará em 2019, de 27 a 29 de março, sobre ciência para a erradicação da pobreza e redução da desigualdade, e argumentou como será importante a visão de jovens pesquisadores sobre o tema. “Eles demonstraram grande interesse em ajudar na organização e participar dessa conferência, trazendo experiências de seus países. Comentei também que seria interessante aumentar a participação de jovens pesquisadores brasileiros na GYA”, completou Davidovich.
Sobre a Global Young Academy
A GYA tem como missão empoderar jovens pesquisadores para liderar diálogos internacionais, interdisciplinares e intergeracionais, com o objetivo de estimular que as tomadas de decisão globais sejam baseadas em evidências e mais inclusivas. A organização é dirigida por um Comitê Executivo eleito anualmente e apoiada por um Comitê Consultivo.