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Nobel de Medicina 2024 vai para americanos pela descoberta dos micro RNAs

Leia matéria Reinaldo José Lopes para a Folha de S.Paulo, com comentário do professor do Instituto de Biologia da Unicamp Marcelo Mori, que foi membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências no período de 2017 a 2022:

O Prêmio Nobel em Fisiologia e Medicina de 2024 vai para os americanos Victor Ambros e Gary Ruvkun. O trabalho da dupla levou à descoberta de pequenas moléculas chamadas microRNAs e seu papel na ativação e desativação de trechos do material genético. Trata-se de um processo fundamental para o desenvolvimento do organismo e o funcionamento das células, e que também tem implicações para a compreensão das origens do câncer.

Victor Ambros e Gary Ruvkun | Ilustração: Niklas Elmehed © Nobel Prize Outreach

 

Ambros trabalha na Escola Médica da Universidade de Massachusetts, em Worcester (costa leste dos EUA), enquanto Ruvkun é ligado ao Hospital Geral de Massachusetts e à Escola Médica da Universidade Harvard, em Boston. Os dois chegaram a ser pesquisadores de pós-doutorado no mesmo laboratório no início de suas carreiras, e as descobertas que agora lhes renderam a láurea aconteceram originalmente nos anos de 1993 e 2000.

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Marcelo Mori, professor do Instituto de Biologia da Unicamp que já foi membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências [2017-2022], diz que havia uma expectativa considerável de que Ambros e Ruvkun receberiam o prêmio em algum momento.

“O problema é que dois outros pesquisadores, o Craig Mello e o Andrew Fire, já tinham ganhado o Nobel em 2006 pela descoberta da interferência de RNA, que tem certa intersecção com a via dos microRNAs, então algumas pessoas chegaram a ficar mais céticas”, diz ele, que também trabalha na área. “Mas é algo que abriu um universo muito grande de possibilidades, tanto de possibilidades terapêuticas quanto de compreensão do organismo.”

Para ele, um elemento interessante da descoberta é que ela veio do estudo do desenvolvimento do C. elegans e da percepção que certas mutações mexiam no desenvolvimento do verme. “O desenvolvimento é um negócio sincronizado, que precisa acontecer de forma concatenada. E, nesses mutantes, o ‘timing’ era inadequado.”

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O anúncio, transmitido ao vivo pelo YouTube, foi feito às 6h30 (horário de Brasília) no Instituto Karolinska, em Estocolmo. Além da honra associada à premiação máxima da ciência mundial, o vencedor recebe uma medalha, um diploma e o montante de 11 milhões de coroas suecas (o equivalente a US$ 1,06 milhão ou R$ 5,78 milhões). Na premiação deste ano, cada ganhador dividirá metade do valor.

A presença do mesmo mecanismo essencial numa imensa variedade de animais e plantas, mas não em micro-organismos, sugere que ele é muito importante para a existência dos seres vivos complexos de muitas células.

“É algo que dá complexidade às funções celulares e para a resposta do organismo como um todo, permitindo que as células reajam a estímulos de uma forma mais controlada e mais robusta”, diz Mori.

Saiba mais sobre o tema e sobre o prêmio na matéria da Folha 

Cientistas que revolucionaram inteligência artificial ganham Nobel de Física

Leia matéria de Rafael Garcia para O Globo, publicada em 8/10:

Dois físicos que revolucionaram o campo da inteligência artificial são os ganhadores do Prêmio Nobel de Física de 2024.

O americano John Hopfield, da Universidade de Princeton (EUA) e o inglês Geoffrey Hinton, da Universidade de Toronto (Canadá) fizeram “descobertas fundamentais e invenções que permitiram o aprendizado de máquina por meio de redes neurais artificiais”, afirmou a comissão do prêmio nesta manhã.

As invenções dos cientistas, que criaram modelos matemáticos inspirados no fluxo de pulsos elétricos entre neurônios do cérebro, ganharam primeiro aplicações que permitiram descobertas em campos da ciência básica como a astrofísica, mas impactaram também áreas aplicadas de computação.

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Caminhos tortuosos

Segundo o cientista [e Acadêmico] Gabriel Schleder, do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), a concessão do Nobel de Física a Hopfield e Hinton foi de fato uma surpresa, porque essa disciplina não é aquela onde o trabalho dos vencedores teve o maior impacto.

A história de como o conceito de redes neurais saiu da biologia, passou pela física com a aplicação de ideias matemáticas teóricas, e desembocou na computação aplicada, mostra como as ideias geniais em ciência tomam caminhos tortuosos.

— A ideia inicial do Hopfield era simplesmente tentar entender melhor os mecanismos biológicos que fazem cérebro humano funcionar. Ele partiu de uma pesquisa mais básica, de modelagem, para simular esse sistema e entender como cérebro humano consegue aprender tanta coisa a partir de operações relativamente simples — diz Schleder. — Ele modelou então esse processo de uma maneira artificial, por meio de operações matemáticas bastante simples. Só que à medida em que a informação vai se acumulando nesse processo, ele permite o cérebro capturar padrões cada vez mais complexos, que nos permitem ter inteligência.

Hinton completou o ciclo de desenvolvimento da ideia, usando o trabalho de Hapfield não para entender como a mente funciona, mas emulando a estrutura do cérebro para interpretar informação.

Grande parte do receio relacionado aos últimos desenvolvimentos da IA são naturais de quase toda nova tecnologia, que pode ser usada para o bem ou para o mal. Usos benéficos ou maliciosos tem sido registrados agora com os moleos LLM.

Nem todos os cientistas da área compartilham, porém, o receio que Hinton tem demonstrado com o temor de a IA evoluir a ponto de se tornar uma ameaça por si só.

— A primeira era da inteligência artificial trata do que que nós chamamos hoje de IA restrita, em que você define um problema para a IA e ela consegue resolver esse problema em particular — explica Schleder. — Na segunda era, que a gente ainda não atingiu, surgiria uma IA geral, que seria, de certa forma, consciente, e conseguiria resolver uma grande gama de problemas em nível aproximadamente humano. A questão é que isso é muito difícil, porque a ciência não consegue nem formular o problema para solucionar isso ainda.

Leia a matéria na íntegra no site de O Globo

 

Nobel de Física 2024: descobertas e invenções que contribuem para o treinamento de IA

No dia 8 de outubro, a Academia Real Sueca de Ciências decidiu conceder o Prêmio Nobel de Física 2024John J. Hopfield (Universidade de Princeton, NJ, EUA) e Geoffrey E. Hinton (Universidade de Toronto, Canadá) “por descobertas e invenções fundamentais que possibilitam o aprendizado de máquina com redes neurais artificiais.”

Quando se fala sobre inteligência artificial, frequentemente  a referência é ao aprendizado de máquina utilizando redes neurais artificiais. Essa tecnologia foi inspirada na estrutura do cérebro. Em uma rede neural artificial, os neurônios do cérebro são representados por nós, que têm valores diferentes. Esses nós influenciam uns aos outros através de conexões, que podem ser comparadas a sinapses e que podem ser fortalecidas ou enfraquecidas. A rede é treinada, por exemplo, desenvolvendo conexões mais fortes entre nós com valores altos simultaneamente.

Os laureados deste ano realizaram trabalhos importantes com redes neurais artificiais desde a década de 1980,  utilizando ferramentas da física para desenvolver métodos que são a base do poderoso aprendizado de máquina de hoje.

A coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Bioinformática da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Raquel Minardi, que foi membro afiliado da ABC entre 2019-2023, contextualizou a premiação. Ela conta que a inteligência artificial teve origem na década de 50, com o objetivo de criar máquinas que simulassem a inteligência humana. “Este campo de pesquisa passou por várias fases. A princípio, era uma área de pesquisa mais teórica, com pesquisas voltadas para a lógica. Houve um período de progresso mais lento e, atualmente, na era do aprendizado profundo e das redes neurais, tem sido aplicada amplamente, desde a medicina até a indústria, transformado a forma como vivemos”, disse a pesquisadora.

Hoje, de acordo com Minardi, convivemos com sistemas capazes de realizar tarefas bastante complexas de forma progressivamente mais autônoma. “Estes sistemas são possíveis porque técnicas de inteligência artificial conseguem aprender padrões não triviais em grandes volumes de dados que refletem o conhecimento atual nos mais diversos setores”, explicou.

As descobertas de John Hopfield sobre a memória em redes neurais foram uma Clécio de Bomdas bases para esta capacidade, ao mostrar que sistemas complexos podem armazenar e recuperar informações de forma eficiente, mesmo quando há dados incompletos ou ruidosos”, explicou a bioinformata. “Os trabalhos de Hopfield abriram caminho para avanços fundamentais para o desenvolvimento de algoritmos de reconhecimento de padrões”, completou.

Geoffrey Hinton teve importante papel para o aprendizado profundo, ao desenvolver a técnica de retropropagação. “Essa técnica permite às redes neurais artificiais aprender a partir de grandes quantidades de dados ajustando seus pesos de forma eficiente, uma etapa crucial no reconhecimento de padrões complexos na linguagem, imagens e outros tipos de dados. Ele teve também importantes contribuições na área de visão computacional”, destacou Minardi.

O membro afiliado da ABC Clécio de Bom, pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro, complementou os comentários de Minardi.

Ele observou que na física, técnicas de inteligência artificial são aplicadas para resolver problemas complexos e analisar grandes volumes de dados. “Por exemplo, nós do Laboratório de IA do CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas) desenvolvemos novos métodos de redes neurais para aplicações em física, utilizando técnicas de ponta para entender, entre outras coisas, como estrelas explodem e como os elementos se formam no universo, além de explorar diferentes camadas do pré-sal brasileiro”, explicou.

Ele apontou diversas áreas da física que têm sido fundamentais para avanços tecnológicos significativos, “desde o desenvolvimento da tecnologia nuclear, retratado no filme Oppenheimer, até a criação da internet e a invenção do transistor, que é um elemento básico para a construção de qualquer computador ou celular e rendeu o Prêmio Nobel de Física em 1956”, ressaltou.

Clécio De Bom e Raquel Minardi concordam que as contribuições de Hopfield e Hinton evidenciam a natureza interdisciplinar das descobertas científicas contemporâneas. “Ambos demonstraram que redes neurais não são apenas uma curiosidade teórica, mas uma robusta e poderosa ferramenta com aplicações em diversas áreas”, apontou Minardi. Na área de saúde humana, por exemplo, têm grande potencial na análise de imagens para apoio em diagnóstico e para detectar doenças precocemente. Na indústria, pode apoiar a otimização de processos. “E no nosso dia a dia, utilizamos estes algoritmos amplamente na recomendação de filmes, músicas, produtos, ou até como assistentes pessoais”, exemplificou.

De Bom destacou que a integração de conceitos da física estatística e de mecânica quântica nas redes neurais foram cruciais para o avanço da inteligência artificial, com grande impacto tecnológico.  “Ou seja, este prêmio Nobel de Física 2024 valoriza a natureza interdisciplinar das descobertas científicas contemporâneas”, afirmou Minardi.


Veja as matérias na grande mídia como comentários de Acadêmicos e ex-afiliados:

FOLHA DE S. PAULO, 8/10/2024
Nobel de Física para inteligência artificial transcende a própria física, dizem especialistas

Leia matéria da Folha de S. Paulo com comentários dos Acadêmicos Adalberto Fazzio e Gabriel Schleder.

O GLOBO, 8/10/2024
Cientistas que revolucionaram inteligência artificial ganham Nobel de Física

Matéria do Globo conta com comentários do físico e Acadêmico Gabriel Schleder.

Nobel de Medicina 2024: um princípio completamente novo de regulação gênica

Os laureados de 2024 com o Nobel de Medicina, divulgado em 7 de outubro pela Assembleia Nobel, na Suécia, foram dois cientistas norte-americanos, Victor Ambros (Faculdade de Medicina da Universidade de Massachusetts, Worcester, EUA) e Gary Ruvkun (Hospital Geral de Massachusetts, Boston, EUA), pela descoberta dos microRNAs e seu papel na regulação gênica. As pequenas moléculas foram descobertas num pequeno verme, o C. elegans, e revelaram um princípio completamente novo de regulação gênica, essencial para o desenvolvimento e funcionamento de organismos multicelulares, inclusive humanos. O primeiro trabalho deles sobre estas inesperadas descobertas, altamente significativas ao longo do processo de evolução, foi publicado em 1993.

A Acadêmica Iscia Lopes Cendes, professora titular de genética médica e medicina genômica e chefe do Laboratório de Genética Molecular da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, comentou a premiação. “Considero essa descoberta importantíssima. Ela ocorre em dois níveis: primeiro, porque essas pequenas moléculas de RNA não codificantes são essenciais para um processo que ocorre naturalmente, que é a regulação gênica fina. Em geral, essas pequenas moléculas são inibidoras da expressão gênica, através de processos biológicos que levam à inibição da tradução, que mantêm os genes silenciados. Esse é um mecanismo muito robusto em todos os mamíferos, inclusive na espécie humana. Como estas moléculas estão envolvidas em várias doenças, elas podem se tornar biomarcadores importantes par uma série de condições”, explicou a cientista.

Na área da pesquisa em câncer, segundo Cendes, a pesquisa tem sido muito intensa. “Nesse caso, essas pequenas moléculas poderiam se tornar biomarcadores para o aparecimento de neoplasias e até para se acompanhar a efetividade de tratamentos. Basicamente, elas estão envolvidas praticamente em todas as doenças que conhecemos hoje em dia, o que possibilita que sejam manipuladas através de uma série de outras moléculas. Estas podem ser sintetizadas para inibir especificamente esses microRNAs e, assim, surgirem possíveis terapias para doenças desde o câncer, doenças cardíacas, até doenças neurológicas, informou. Seu grupo vem trabalhando nisso já há alguns anos, especialmente na área de doenças neurológicas, como as epilepsias. O que está faltando ainda, de acordo com a Acadêmica, são estudos maiores, colaborativos, para que possa haver efetivamente a implementação desses conhecimentos na prática médica. “Esse é o momento de se investir nesses estudos, com vários pacientes, estudos pré-clínicos de potenciais compostos que poderiam ser usados para manipular essas moléculas. Isso pode levar a opções terapêuticas para uma gama muito grande de doenças”, concluiu.

O biólogo Marcelo Alves Mori, professor do Instituto de Biologia da Unicamp que foi afiliado da ABC no período entre 2018 e 2022, lembrou que este já é o quinto prêmio Nobel para pesquisas feitas com o C. elegans, fazendo deste um dos modelos biológicos de maior sucesso. “Tanto Victor Ambros quanto Gary Ruvkun trabalharam com uma pergunta fundamenta: ‘como se dá o processo de desenvolvimento de C. Elegans?’, motivados pelo fato de que o estudo do desenvolvimento do nematódeo poderia dar pistas sobre como ocorre o desenvolvimento embrionário humano. Ambos focaram no timing do desenvolvimento, procurando mutações em organismos que mostravam anomalias nesse timing”, explicou.

“Assim, eles identificaram mutações curiosas em genes que não codificavam proteínas, mas sim RNA. “Isso desafiou o ‘dogma central’ da biologia molecular na época, de que um gene para ter função metabólica precisava necessariamente gerar uma proteína. Esse RNA, apesar de não dar origem à proteína, tinha funções no desenvolvimento. A partir daí, ambos juntaram evidências de que esses RNA serviam como reguladores da expressão de outros genes, esses sim codificantes de proteínas”, explicou Mori. Isso abriu uma nova área de estudo e começaram a ser descobertos vários micro-RNA reguladores, em várias espécies, inclusive humanos. Hoje, pouco mais de duas décadas depois da descoberta inicial, esses micro-RNA são potenciais alvos tanto para diagnóstico quanto para tratamento de diversas doenças.

Marcelo Mori compara o mecanismo a uma orquestra. “Imagine que os músicos instrumentistas são as proteínas. Mas para tocar a sinfonia é preciso um maestro, que ajusta volume, tom e detalhes finos. Quem orquestra as proteínas, qual delas será expressa e em que momento, são os RNA. Por isso, quando você não tem alguns RNA relevantes, o processo de desenvolvimento é alterado”.

Veja outras matérias publicadas na grande mídia com comentários de membros da ABC:

ABC/FOLHA DE S.PAULO, 7/10/2024
Nobel de Medicina 2024 vai para americanos pela descoberta dos micro RNAs
Leia matéria Reinaldo José Lopes para a Folha de S.Paulo, com comentário do professor da Unicamp Marcelo Mori, que foi membro afiliado da ABC 2017-2022.

ABC/ESTADÃO, 7/10/2024
Nobel de Medicina premia descoberta crucial para novas terapias contra câncer
Leia matéria de Roberta Jansen para o Estadão com comentários do membro afiliado da ABC Bruno Solano (2024-2028). 

ABC/FOLHA DE S.PAULO, 4/10/2024
Sete brasileiros já foram indicados ao Nobel de Física, de Medicina e de Química
As indicações tornadas públicas pela Fundação Nobel só vão até 1971 e incluem cinco membros da Academia Brasileira de Ciências. Confira na Folha de S. Paulo.

Nobel de Medicina premia descoberta crucial para novas terapias contra câncer

Leia matéria de Roberta Jansen para o Estadão, com comentários do membro afiliado da ABC Bruno Solano (2024-2028):

A descoberta dos microRNAs por Victor Ambros e Gary Ruvkun foi crucial para a compreensão de como funciona regulação genética e, consequentemente, de como ocorre a formação de diferentes tipos de células e tecidos do organismo. A pesquisa, premiada com o Nobel de Medicina nesta segunda-feira, 7, foi crucial na compreensão do surgimento de tumores cancerígenos e abriu caminho para o estudo de novos tratamentos e métodos de diagnóstico.

“Temos observado que por trás de doenças crônicas, como câncer e infecções, podemos encontrar uma desregulação no funcionamento destes microRNAs”, afirma o médico e pesquisador da Ciência Pioneira, do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, Bruno Solano.

“A descoberta dos microRNAs representa grande avanço na Medicina, porque abre portas para o desenvolvimento de métodos de diagnóstico mais precisos e de novas terapias para uma série de doenças”, continua Solano, também pesquisador da Fiocruz e membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências [eleito para o período 2024-2028].

(…)

Esse mecanismo permite, por exemplo, que células musculares, do intestino, do cérebro, entre tantas outras, exerçam suas funções específicas. Além disso, a atividade genética precisa ser o tempo todo muito bem ajustada para adaptar as funções celulares às mudanças contínuas que acontecem em nossos corpos e também no meio ambiente. Sem esse ajuste fino constante, doenças graves poderiam surgir.

“Os miRNAs revelaram um novo mecanismo de regulação pós-transcricional, onde pequenos RNAs silenciadores atuam no controle da expressão genética”, explicou Solano. “Isso abriu novas portas para o entendimento de processos biológicos fundamentais e patologias, como o câncer, doenças neurodegenerativas e outras condições em que se observa uma regulação gênica desordenada.”
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Saiba mais sobre o processo e o prêmio na matéria do Estadão.

Veja o momento do anúncio do prêmio no YouTube de The Nobel Prize.

Crise em Belo Monte mostra o quanto custa ignorar alertas da ciência

Leia a coluna da jornalista Míriam Leitão, publicada em O Globo, em 1/10:

A Agência Nacional de Águas (ANA) declarou crítica a situação do rio Xingu, que abastece a Usina de Belo Monte e isso pode vir a prejudicar a produção de energia. Belo Monte foi a mais polêmicas das grandes usinas hidrelétricas construídas na Amazônia. Ela passou por cima de direitos indígenas, direitos sociais, afetou o meio ambiente, deixou sequelas não resolvidas até hoje.

Quando se debatia se a usina deveria ou não ser construída, conversei com muita gente de um lado e do outro, todo tipo de especialista. O cientista [e membro titular da ABC] Carlos Nobre me disse na época que, durante o período da existência de Belo Monte, o regime hídrico daquela região se alteraria muito por causa da mudança climática. Outros climatologistas disseram isso. O alerta era que se construiria uma usina muito grande, a um custo social, econômico, fiscal muito alto, que poderia vir a não produzir o volume de energia que se estimava por falta de água. É exatamente esse dia que estamos vivendo agora.

Pode-se dizer que isso acontece por causa da seca que acomete a região agora. Mas não é uma questão momentânea, as secas ficarão mais frequentes.

(…)

Se a gente pode tirar uma lição de tudo isso é a seguinte: seja na produção de energia, seja em qualquer obra de infraestrutura daqui para diante, é preciso ouvir os cientistas e colocar na equação da decisão a realidade das mudanças do clima.

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O Brasil precisa tomar decisões levando a sério o que os cientistas estão dizendo, não achando que eles estão com algum viés antidesenvolvimentista. Não se pode ignorar no cenário dos próximos anos e décadas o que dizem os cientistas do clima. As mudanças climáticas têm que nortear as decisões econômicas e as decisões energéticas e todas as outras decisões de construção da infraestrutura do país.


Leia o texto na íntegra em O Globo

“Mulheres Cientistas: Pioneiras da Inovação e da Ciência”

Leia matéria publicada no site gov.br em 25/9:

Cinco mulheres que adentraram ao seleto grupo da ciência são destaque na Mostra “Mulheres Cientistas: Pioneiras da Inovação e da Ciência”inaugurada nesta segunda-feira (23) na Biblioteca Henrique Morize, no Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST). Das homenageadas, três são estrangeiras e duas brasileiras. Uma das organizadoras, a coordenadora Cristiane Teixeira de Oliveira, lembra que ainda hoje, no mundo, a presença feminina é inferior à masculina, embora o quantitativo do gênero feminino seja superior na maioria dos países. Mas Cristiane destaca que o Brasil rompeu uma realidade que ainda vigora até em países mais desenvolvidos: somos o terceiro no mundo em presença feminina com 49% do universo científico. Ficamos atrás apenas da Argentina e Portugal onde esta presença chega a 52%. A média mundial é de 30%.

Dentre as homenageadas estão as brasileiras Maria Laura Leite Lopes, matemática e uma das pioneiras da Academia Brasileira de Ciências (ABC), assim como a geógrafa Maria Regina Mousinho de Meis. Figuram também a francesa Marie Curie, [que foi membra correspondente da ABC], e as russas Sofya Kovalevskaya e a Peleya Kochina. “Todas desafiaram os limites e moldaram o futuro da ciência”,  diz o enunciado da exposição.

Conheça o perfil de cada homenageada:

Maria Laura Leite Lopes – A pernambucana foi a primeira mulher a se doutorar em matemática no Brasil em 1949 e uma das primeiras a se tornar membro da Academia Brasileira de Ciências (1951). Exerceu seu ofício como efetiva no Instituto de Matemática quando, em 1969, foi cassada pela ditadura militar no Brasil. Aposentada compulsoriamente, deixou o país na companhia do marido, o renomado físico [e Acadêmico] José Leite Lopes, e seguiu para a França. Lá trabalhou no Institut de Recherches sur I’Enseigmnement des Mathématiques, desenvolvendo pesquisas sobre os problemas da educação matemática. Voltou depois da Anistia, em 1979, e retornou à UFRJ. Morreu em 20/06/2013, no Rio de Janeiro, aos 96 anos.

Maria Regina Mousinho de Meis – Geógrafa brasileira e carioca, Maria Regina nasceu em 1939 e estudou no Brasil e no exterior. Em 1958 na Universidade do Brasil e em seguida ampliou os estudos no exterior: pedagogia, mineralogia, climatologia e fotointerpretação na Universidades de Paris e Lisboa (entre 1962 e 1963). Trabalhou na UFRJ entre 1968 até sua morte em 1985. Maria Regina deixou um legado ao estudo e compreensão do Quaternário Continental Brasileiro onde se destacam avanços teórico-conceituais sobre a evolução do relevo no planalto Sudeste, além dos desdobramento de sua obra feitos através da continuidade de suas ideias desenvolvidas pelos seguidores de sua escola.  continuidade de suas ideias desenvolvidas pelos seguidores de sua escola. do relevo no planalto Sudeste do Brasil, além dos desdobramentos de sua obra feitos através da continuidade de suas ideias desenvolvidas pelos seguidores de sua escola sobre o Continental Brasileiro onde se destacam avanços teórico-conceituais sobre a evolução do relevo no Planalto Sudeste do Brasil, além dos desdobramentos de sua obra feitos através da continuidade de suas ideias desenvolvidas pelos seguidores de sua escola.

Sofya Kovalevskaya – Russa com larga contribuição na matemática nas teorias das equações diferenciais parciais, analítica e mecânica. Foi a primeira mulher nomeada para a Academia de Matemática do seu país e uma das primeiras a ter cargo de professora em uma universidade no exterior, Estocolmo. Apesar de ter vivido apenas 41 anos, foi uma das mais influentes matemáticas do século XIX. Ela se distinguiu pelas contribuições para a teoria das equações diferenciais. Apesar de, ainda na infância, ter demonstrado grande talento para a matemática, precisou mudar de país, já que o curso não era aberto às mulheres. Assim, para deixar o país e estudar na Suécia, precisou assinar um falso termo de casamento com um paleontólogo.

Pelageya Kochina – A mulher que viveu cem anos (1899 a 1999) dedicou a vida à matemática. Conhecida por seu trabalho em mecânica dos fluidos e hidrodinâmica, particularmente a aplicação das equações de Fuchs (referência ao matemático Lazarus Fuchs), foi eleita membro correspondente da Academia de Ciências da União Soviética (URSS) em 1946. Neste período, pós guerra, preparou palestras e seguiu no ensino da matemática aplicada. Mais tarde chefiou o Departamento de Mecânica Teórica – cargo até então restrito aos homens – e assumiu a direção do Departamento de Hidrodinâmica Aplicada do Instituto de Hidrodinâmica.  Foi uma das fundadoras da então chamada Academia de Ciências da União Soviética.

Marie Curie – Primeira cientista a arrebatar dois prêmios Nobel em áreas distintas: física e química.  Polonesa naturalizada francesa, ela é orgulho da ciência nos dois países. Em 1903 conquistou o Nobel de Física, feito que repetiria em 1911, agora com o Nobel de Química. Descobriu os elementos químicos polônio e rádio. A singularidade da carreira científica abriu as portas para que se tornasse também a primeira mulher a lecionar na Sorbonne. Sua trajetória para a pesquisa científica começou ainda nos primeiros anos de estudo: nascida em 1867, em 1893 graduou-se em física e em 1894, matemática. Foi a primeira colocada no exame para o mestrado em física e no ano seguinte, matemática. Tornou-se amiga de Einstein, com quem se correspondia frequentemente para discutir temas científicos dos mais complexos.

Roquette-Pinto: 140 anos do pioneiro do rádio e da comunicação pública

Leia matéria de Joana Cortes para a Rádio Nacional:

Foto | ACERVO ABC

O fundador da Radiodifusão no Brasil e patrono da comunicação pública, Edgard Roquette-Pinto, faria 140 anos neste 25 de setembro.

Pioneiro e múltiplo, Edgard Roquette-Pinto nasceu no Rio de Janeiro em 1884. Foi um pouco de tudo: médico, antropólogo, escritor. Mas dedicou a vida mesmo à missão de lutar por uma comunicação para a educação e a cultura do povo brasileiro.

Antes de fundar a primeira emissora de rádio do país, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em 1923, Roquette-Pinto rodou bastante Brasil adentro. Jovem médico recém-formado, trabalhou com o Marechal Cândido Rondon, explorando o Norte e Oeste do Brasil, ainda pouco conhecidos.

Jornalista há mais de cinquenta anos, o professor de Comunicação Gabriel Priolli conta que foi ao ver Rondon espalhar linhas de telégrafos que Roquette-Pinto pensou que o aparelho poderia servir para educar à distância.

A ideia foi colocada em prática um ano depois da celebração do primeiro centenário da Independência, em 1922, quando a radiotelegrafia chegou ao Brasil.

“Edgar Roquette-Pinto é o iniciador da comunicação pública do país, da comunicação feita para educar, para a educação e para a cultura. Ele achava que os meios de comunicação são um bem muito precioso e que devem se dizer servir à educação do povo, antes de qualquer outra coisa, mais importante do que entreter”.

Na programação da primeira rádio do Brasil fundada por Roquette-Pinto, aulas e música de concerto. Publicidade comercial era proibida. Com a pressão dos anunciantes e a impossibilidade de manter a Rádio Sociedade com doações, Roquette-Pinto se desfez da emissora, sem precisar vendê-la.

“Ao invés de vender a concessão que ele tinha, o canal que tinha, ganhar dinheiro com isso, vender para algum empresário, ele doou a emissora para o governo, para o Ministério da Educação, em 1936. A única condição que ele fez é que o governo jamais tivesse publicidade na estação dele”.

A partir dali a Rádio Sociedade se tornaria a Rádio MEC, que integra hoje a EBC – Empresa Brasil de Comunicação.

Roquette-Pinto viveu por 70 anos e seguiu até o fim fazendo história na comunicação e na educação brasileira. Foi também fundador da Academia Brasileira de Ciências, diretor do Museu Nacional e criador do Instituto Nacional do Cinema Educativo. Na celebração dos 140 anos de nascimento, o legado de Roquette-Pinto permanece vivo pelas linhas do rádio e para as novas gerações.

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