Leia matéria Reinaldo José Lopes para a Folha de S.Paulo, com comentário do professor do Instituto de Biologia da Unicamp Marcelo Mori, que foi membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências no período de 2017 a 2022:
O Prêmio Nobel em Fisiologia e Medicina de 2024 vai para os americanos Victor Ambros e Gary Ruvkun. O trabalho da dupla levou à descoberta de pequenas moléculas chamadas microRNAs e seu papel na ativação e desativação de trechos do material genético. Trata-se de um processo fundamental para o desenvolvimento do organismo e o funcionamento das células, e que também tem implicações para a compreensão das origens do câncer.
Ambros trabalha na Escola Médica da Universidade de Massachusetts, em Worcester (costa leste dos EUA), enquanto Ruvkun é ligado ao Hospital Geral de Massachusetts e à Escola Médica da Universidade Harvard, em Boston. Os dois chegaram a ser pesquisadores de pós-doutorado no mesmo laboratório no início de suas carreiras, e as descobertas que agora lhes renderam a láurea aconteceram originalmente nos anos de 1993 e 2000.
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Marcelo Mori, professor do Instituto de Biologia da Unicamp que já foi membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências [2017-2022], diz que havia uma expectativa considerável de que Ambros e Ruvkun receberiam o prêmio em algum momento.
“O problema é que dois outros pesquisadores, o Craig Mello e o Andrew Fire, já tinham ganhado o Nobel em 2006 pela descoberta da interferência de RNA, que tem certa intersecção com a via dos microRNAs, então algumas pessoas chegaram a ficar mais céticas”, diz ele, que também trabalha na área. “Mas é algo que abriu um universo muito grande de possibilidades, tanto de possibilidades terapêuticas quanto de compreensão do organismo.”
Para ele, um elemento interessante da descoberta é que ela veio do estudo do desenvolvimento do C. elegans e da percepção que certas mutações mexiam no desenvolvimento do verme. “O desenvolvimento é um negócio sincronizado, que precisa acontecer de forma concatenada. E, nesses mutantes, o ‘timing’ era inadequado.”
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O anúncio, transmitido ao vivo pelo YouTube, foi feito às 6h30 (horário de Brasília) no Instituto Karolinska, em Estocolmo. Além da honra associada à premiação máxima da ciência mundial, o vencedor recebe uma medalha, um diploma e o montante de 11 milhões de coroas suecas (o equivalente a US$ 1,06 milhão ou R$ 5,78 milhões). Na premiação deste ano, cada ganhador dividirá metade do valor.
A presença do mesmo mecanismo essencial numa imensa variedade de animais e plantas, mas não em micro-organismos, sugere que ele é muito importante para a existência dos seres vivos complexos de muitas células.
“É algo que dá complexidade às funções celulares e para a resposta do organismo como um todo, permitindo que as células reajam a estímulos de uma forma mais controlada e mais robusta”, diz Mori.
Saiba mais sobre o tema e sobre o prêmio na matéria da Folha