A Escola Naval, no Rio de Janeiro, foi palco da Sessão Solene conjunta da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) na noite de 8 de maio. O evento teve patrocínio da Marinha do Brasil e da Fundação Conrado Wessel.

A mesa foi composta pelo secretário-executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luis Manuel Rebelo Fernandes, representando a ministra Luciana Santos;  a presidente da ABC, Helena Bonciani Nader; o presidente do CNPq, Acadêmico Ricardo Magnus Osório Galvão; o comandante da Marinha do Brasil, Marcos Sampaio Olsen; o presidente da Diretoria-Executiva da Fundação Conrado Wessel, Carlos Vogt; a presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Acadêmica Denise Pires de Carvalho; o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Celso Pansera; o presidente da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), Acadêmico Jerson Lima Silva; e o vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Acadêmico Paulo Eduardo Artaxo Netto.

Jerson Lima, Denise Carvalho, Ricardo Galvão, Helena Nader, Luis Fernandes, Almirante Olsen, Carlos Vogt, Celso Pansera e Paulo Artaxo

Menção Especial de Agradecimentos do CNPq

A cerimônia teve início com a entrega da Menção Especial de Agradecimentos do CNPq, que representa um reconhecimento da significativa contribuição de instituições e personalidades para o desenvolvimento, o aprimoramento e a divulgação do Conselho.

Recebeu a Menção Especial a Acadêmica Mercedes Maria da Cunha Bustamante, assim como o Ministério da Igualdade Racial. Também foram homenageadas com a Menção Especial a senadora Maria Teresa Leitão de Melo e a deputada federal Maria do Rosário Nunes, impossibilitada de comparecer devido às fortes chuvas que assolam o sul do país. 

Títulos de Pesquisador Emérito do CNPq

O título de pesquisador emérito do CNPq é destinado a pesquisadora ou pesquisador radicado no Brasil há pelo menos dez anos, pelo conjunto de sua obra científico-tecnológica e por seu renome junto à comunidade científica. Um dos homenageados foi o ex-presidente do CNPq, Acadêmico Evaldo Ferreira Vilela. Também receberam o título Antônio Ricardo Droher Rodrigues (in memoriam), o Acadêmico Clovis Caesar Gonzaga (in memoriam), Josefa Salete Barbosa Cavalcanti; Pedro Alberto Morettin e Ulpiano Toledo Bezerra de Meneses.

 

Prêmio Almirante Álvaro Alberto para a Ciência e Tecnologia 2024

O prêmio criado em 1981 era denominado Prêmio Nacional de Ciência e Tecnologia. O nome foi alterado em 1986, quando passou a ser chamado de Prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia. O prêmio é um reconhecimento e estímulo a pesquisadores e cientistas brasileiros que prestam relevante contribuição à ciência e à tecnologia do país. É uma parceria entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, e a Marinha do Brasil.

O prêmio contempla, alternadamente, uma grande área do conhecimento por ano. Em 2024, foi outorgado para a área de Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes. A premiação consiste em diploma e medalha concedidos pelo CNPq, MCTI e Marinha do Brasil; premiação em espécie concedida pelo CNPq; viagem no navio de assistência hospitalar e uma viagem à Antártica, oferecidas pela Marinha do Brasil.

A agraciada desta edição foi a Acadêmica Niède Guidon.

Reprodução | Nossa Ciência

Nascida em Jaú, no estado de São Paulo, no ano de 1933, Niède cursou História Natural na Universidade de São Paulo (USP), fazendo em seguida uma especialização em Arqueologia Pré-Histórica na Universidade Paris-Sorbonne e o doutorado em Pré-História na mesma universidade. Sua tese foi sobre as pinturas rupestres de Várzea Grande, no estado do Piauí. Trabalhou como arqueóloga do Museu Paulista da USP e dez anos depois entrou para o corpo docente da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, na França.

Dentre os diversos cargos de destaque que ocupou no Brasil e na França, atuou como professora visitante na Universidade Federal do Piauí, na Universidade Estadual de Campinas e na Universidade Federal de Pernambuco, onde orientou dezenas de teses, dissertações e publicações em livros e artigos em revistas científicas.

Ainda na década de 1970, com pesquisas apoiadas pelos governos francês e brasileiro, Niède Guidon iniciou as pesquisas na Serra da Capivara, também no estado do Piauí. Preocupada com a preservação dos sítios arqueológicos do Parque Nacional da Serra da Capivara, Guidon defendeu o desenvolvimento turístico como fonte de recursos para a região. Em 1979, foi criado o Parque Nacional da Serra da Capivara e em 1986 foi criada a Fundação Museu do Homem Americano (Fundham), com a finalidade de apoiar os trabalhos a serem desenvolvidos na área do parque e na região. Em 1991, o parque foi declarado Patrimônio Cultural da Humanidade, agregando a legislação internacional de preservação ao Patrimônio Arqueológico.

Com apoio do CNPq e de várias universidades brasileiras, Guidon investiga há mais de 40 anos a pré-história no Brasil. Suas pesquisas são referências fundamentais na arqueologia e apontam que a região da Serra da Capivara foi povoada a partir de tempos muito recuados, que beiram os 100 mil anos. Esses primeiros povos encontraram um habitat propício ao seu desenvolvimento e sobreviveram na região durante milênios, até serem dizimados pelos colonizadores, no final do século XVII.

Entre os prêmios e títulos recebidos ao longo de sua carreira destacam-se o título de Cavaleiro da Ordem Nacional do Mérito, oferecido pelo governo francês, em 1995; o título de Comendador da Ordem do Mérito Cultural, oferecido pelo Ministério da Cultura do Brasil, em 2002; o título de Cientista de Ano, oferecido em 2004 pela SBPC; a Ordem do Mérito Científico, na categoria de Grã Cruz, oferecido em 2005 pelo MCTI; o Prêmio Príncipe Claus, oferecido pelo governo da Holanda, em 2005; a medalha comemorativa dos 60 anos da Unesco, em 2010; e o International Hypatia Awards, oferecido pelo Centro Internacional para a Conservação do Patrimônio Arquitetônico da Itália, em 2020. Em 2021, Niède Guidon foi eleita membra titular da Academia Brasileira de Ciências.

Impossibilitada de comparecer ao evento, Guidon enviou um vídeo em que agradece a premiação. “Quero agradecer muito ao CNPq por esse prêmio. Eu simplesmente fiz o meu trabalho como pesquisadora e arqueóloga. Vinha da França pra cá, fazer pesquisas na Serra da Capivara, que é realmente um lugar fantástico, tanto pela natureza como pela memória que o homem pré-histórico deixou aqui, e por isso foi reconhecido pela Unesco como Patrimônio da Humanidade. Agradeço muito ao CNPq, que possibilitou todo esse trabalho. Espero que isso continue, porque ainda há muito a se descobrir na Serra da Capivara”. 

Ela foi representada na cerimônia pela diretora-científica da Fundham, Marcia Chame, que recebeu o prêmio Álvaro Alberto em seu nome, além da tradicional honraria da Marinha do Brasil, o Farol, que representa a luz que emana o conhecimento.

Márcia contou que trabalha há 44 anos com Niède Guidon e disse que ela ficou muito feliz com a homenagem. “Niède fez ciência de qualidade, com acurácia de dados, rigor metodológico e ética, além de coragem para enfrentar todas as teorias antes estabelecidas. Niéde transformou a região de São Raimundo Nonato. Ela construiu cinco escolas, envolveu três mil crianças num projeto de formação de profissionais para pesquisa. Cuidou da conservação da biodiversidade, conseguindo constituir o Parque e, depois, que ele se tornasse patrimônio cultural da humanidade. Levou a ciência muito além”. E agradeceu o reconhecimento, em nome da Acadêmica.

O comandante Marcos Olsen destacou o nome do prêmio, dado em homenagem ao primeiro presidente do CNPq e presidente da ABC em dois mandatos. “O almirante Álvaro Alberto da Mota e Silva dedicou-se ao estudo do domínio pacífico da energia nuclear. Teve atuação visionária na fundação e presidência do então Conselho Nacional de Pesquisa, o CNPq, um avanço importante na ciência brasileira. Buscou incansavelmente garantir a soberania do Brasil pela ciência.”

Luis Fernandes (MCTI), Ricardo Galvão (CNPq), Marcia Chame (Fundham) e o comandante Marcos Olsen

Presidente do CNPq, entidade que outorgou o prêmio, o Acadêmico Ricardo Galvão fez sua saudação. Ele focou na retomada democrática que veio arejar o país e dar fôlego à ciência brasileira, que está fazendo grandes avanços – ainda não suficientes, mas muito necessários. Destacou o reajuste das bolsas, estagnadas há quase 10 anos, e a oferta de mais de mil novas bolsas, com duplicação do investimento previsto. “Também foram objeto de substancial aporte as bolsas de produtividade em pesquisa, com a implantação do adicional de bancada para as de nível 2, minimizando assim a segregação entre modalidades”, apontou o presidente.

Ricardo Galvão, presidente do CNPq

Galvão ressaltou que, desde 2023, o CNPq passou a ser executor de uma parcela maior de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o FNDCT. De fato, o Conselho passou a ter participação direta em cinco das dez ações prioritárias do Fundo. Essa integração à nova política de aplicação dos recursos do FNDCT resultou em ajustes na política de fomento do CNPq. “Além disso, a aprovação de 2.750 projetos dentre 9.757 propostas submetidas demonstra que há uma enorme demanda qualificada reprimida, indicando a necessidade urgente de ampliar o orçamento próprio do CNPq”, alertou.

Um conjunto de ações mostra ainda a atenção do CNPq às temáticas relacionadas à promoção da igualdade étnico-racial e de gênero na ciência. Em parceria com o Ministério da Igualdade Racial, a chamada Pibic Ações Afirmativas foi fortalecida; a chamada Atlânticas, fruto de parceria entre o MCTI e os ministérios da Igualdade Racial, das Mulheres e dos Povos Indígenas, permitirá o envio de pesquisadoras negras, indígenas, quilombolas e ciganas para períodos de doutorado sanduíche e pós-doutorado no exterior. E em parceria com o Instituto Rio Branco (IRBr), o CNPq deu continuidade ao programa de ação afirmativa que oferece bolsas-prêmio de Vocação para a Diplomacia para candidatos negros”, listou Galvão.

“É pela reafirmação de um país que acredita na ciência, na história e no desenvolvimento humano que o CNPq premiou, hoje, a extraordinária pesquisadora Niède Guidon, grande vencedora do Prêmio Almirante Álvaro Alberto deste ano”, destacou. E complementou, reconhecendo que a reconstrução de todo um sistema de ciência, tecnologia e inovação leva tempo, “um tempo infelizmente mais longo que o empregado em seu desmonte”. Mas, a seu ver,  o conjunto de ações apresentadas demonstra que a comunidade científica já tem, sim, muito a celebrar, e terá certamente ainda mais nos próximos anos.

“Não há adversidade ou desafio que possa abater o ânimo de quem tem a honra e a felicidade de atuar na condução de uma instituição a serviço de uma comunidade científica tão rica, diversa, potente e produtiva como a brasileira”, finalizou.

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