Ao completar 10 anos do consórcio LOLA [Lead Optimization Latin American (LOLA)], a DNDi – que é uma organização de pesquisa sem fins lucrativos que desenvolve tratamentos para pacientes negligenciados – anuncia seu novo projeto de otimização de compostos para doenças negligenciadas: a ferramenta a Open-Chagas. O projeto é uma plataforma segura e transparente para expandir a ciência em laboratórios e países da América Latina dedicados à busca de novos medicamentos para doenças como Chagas. “Todos os pesquisadores interessados em receber apoio ao desenvolvimento de seus compostos poderão a se inscrever pelo canal do Open-Chagas, disse a coordenadora Drug Discovery da DNDi América Latina, Luiza Cruz.

Experiências e histórias inspiradoras marcaram o primeiro dia do LOLA 10. A vice-reitora da Unicamp, Maria Luiza Moretti, emocionou a plateia ao compartilhar sua história pessoal. “Eu venho de uma região endêmica para doenças negligenciadas, com as quais lidei por boa parte da minha vida, inclusive como médica, buscando atender pessoas em situação de vulnerabilidade, muitas vezes sabendo que já não havia esperança para os pacientes. E é muito frustrante constatar que até hoje ainda não há medicamentos de qualidade para atendê-los”, ressaltando a grande importância de iniciativas como do LOLA. 

A presidente da Academia Brasileira de Ciências, Helena Nader, professora do Departamento de Bioquímica da Unifesp, ressaltou os principais desafios de saúde pública na América Latina, que engloba tantos desafios somados às doenças negligenciadas, como a pobreza, desigualdade, mudança climática, degradação ambiental, entre outros desafios globais, que afetam muito a saúde das pessoas. “Temos que falar mais sobre a impossibilidade de atingirmos os 17 objetivos para um desenvolvimento sustentável. E quando falamos em doenças negligenciadas, temos que pensar também: negligenciada por quem?” A pesquisadora criticou ainda os interesses políticos e econômicos que culminaram na demora de uma resposta mundial à pandemia de Covid-19, mesmo já havendo indícios de que algo desta magnitude estava por vir. “Precisamos de uma abordagem à saúde que seja mais colaborativa, multidisciplinar e melhor preparada para o controle de pandemias”. E finalizou congratulando o LOLA/DNDi pelo excelente trabalho na tentativa de modificar este triste panorama.

O diretor da DNDi na América Latina, pesquisador Sergio Sosa-Estani, ressaltou que o evento é de extrema importância para o consórcio LOLA planejar os passos dos próximos próximos 10 anos, conectando o interesse e conhecimento da academia com a expertise da indústria e o apoio sustentável das agências de fomento. “Tudo isso sem perder o foco no objetivo principal de porque estamos todos aqui, que é trabalhar para melhorar a vida das pessoas – e a cooperação é a única maneira possível”.

Em seguida, Jadel Kratz, diretor de Drug Discovery da DNDi América Latina, explicou como funciona a cadeia de produção de novos medicamentos e ressaltou os desafios encontrados na América Latina. “É um longo caminho, que reúne diversas expertises e muitos países não têm as capacidades necessárias para ultrapassar as etapas iniciais da descoberta de novos medicamentos. Nós estamos aqui justamente para ajudar a desenvolver essas inovações”. Kratz ressalta que o LOLA começou muito pequeno, com o objetivo de construir essas capacidades e que agora buscam expandir e fortalecer essa rede, com um objetivo para os próximos cinco anos do LOLA de conseguir identificar de oito a dez candidatos a novas drogas.

Ao explicar como se deu a criação do consórcio LOLA, o organizador do evento e pesquisador da Unicamp, [o membro titular da ABC] Luiz Carlos Dias, não poupou elogios aos seus alunos, que abraçaram e impulsionaram o projeto com grande entusiasmo. Ele relembra a grande mudança que o consórcio representou em sua carreira acadêmica, que ganhou um novo propósito. Seu laboratório estabeleceu a primeira parceria da DNDi com a academia científica na América Latina. “No início precisávamos construir as capacidades e desenvolver tecnologias mais modernas. Agora, estamos dando um passo adiante. Acredito que essa parceria, certamente, está abrindo grandes portas para inovação no Brasil e é um ótimo exemplo de ciência que busca dar um retorno para a sociedade.”