Leia matéria de Roberta Jansen para o Estadão, publicada em 20/4:

O anúncio do programa do CNPq, órgão de fomento à pesquisa do Ministério da Ciência e Tecnologia, para repatriar cientistas brasileiros vivendo no exterior caiu como uma bomba no meio acadêmico, uma parte dele em greve por reivindicação salarial.

  • O novo programa federal oferece bolsas de valores de R$ 10 mil a R$ 13 mil e verba para montar laboratório, além de plano de saúde e auxílio aposentadoria.
  • O objetivo declarado é combater a “fuga de cérebros”, dando aos cientistas incentivos para voltarem ao Brasil.

Cientistas de diversas instituições de pesquisa do País, além de entidades representativas da classe, como a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SPBC), consideram a repatriação de talentos uma iniciativa importante, mas criticaram a nova bolsa.

Ao Estadão, o presidente do CNPq, [o Acadêmico] Ricardo Galvão, disse que essa é uma iniciativa em meio a diversas outras do governo federal cujo objetivo é melhorar a infraestrutura das universidades e instituto federais e a indústria, abrindo vagas de emprego.

Afirmou ainda entender a revolta dos pesquisadores, por conta do sucateamento da ciência nos últimos anos, mas explicou que o montante não é suficiente para resolver o problema.

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Após uma década sem aumento, as bolsas de pós-graduação foram reajustadas no ano passado. A do mestrado foi de R$ 1,5 mil para R$ 2,1 mil e a do doutorado, de R$ 2,2 mil para R$ 3,1 mil. As bolsas de pós-doutorado subiram de R$ 4,1mil para R$ 5,2 mil. O valor total para todo o Brasil é de R$ 2,3 bilhões.

Já o novo programa, para trazer de volta mil expatriados, tem bolsas de R$ 10 mil a R$ 13 mil, além de verba para laboratório, plano de saúde e auxílio de aposentadoria, com investimento total de R$ 1 bilhão.

Na análise dos críticos, não faz sentido concentrar tanto recurso nos pesquisadores que estão no exterior e tão pouco nos que trabalham aqui.

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“O momento agora é de reconstruir a ciência com o material humano que está aqui no Brasil, gente que se formou aqui e gente que estudou lá fora e retornou por conta própria”, afirmou a bióloga Ana Lúcia Tourinho, da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), que fez doutorado na Universidade de Harvard, nos EUA. “Precisamos valorizar essas pessoas que estão aqui para que, daqui a dez anos, os pesquisadores que estão no exterior tenham vontade de voltar para cá. Hoje, não tem ninguém querendo voltar.”

Este é um outro ponto crucial levantado pelos críticos. Embora as bolsas do novo programa sejam muito mais altas do que as oferecidas por aqui, elas não seriam competitivas para pesquisadores brasileiros empregados em universidades nos Estados Unidos, Canadá ou Europa. Seriam atrativas apenas para os alunos que estão terminando a pós-graduação fora e não têm convite para trabalhar por lá.

“Nesse caso, não é repatriação de cérebros, né? Serão mesmo as melhores cabeças que estamos trazendo?”, questiona a biomédica Helena Nader, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC). “Já temos aqui no Brasil muitos doutores que estão sem emprego, por que não contratar essas pessoas, então? Dar esse valor de bolsa para elas? Vamos trazer mais gente para ficar sem emprego? O valor das bolsas daqui aumentou, mas ainda está muito aquém da necessidade dos estudantes, não oferece plano de saúde nem tíquete refeição. As nossas universidades estão sem concurso e sem previsão de crescimento.”

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Leia a matéria na íntegra no Estadão