Representantes de diversas instituições discutiram o tema no último dia do Simpósio Brasil-França sobre Biodiversidade, em manaus, no Amazonas.
O CNPq e a biodiversidade
A primeira apresentação coube a Marcelo Marcos Morales, doutor em biofísica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor de Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Morales apresentou um breve histórico da criação da instituição, fundada em 1951, após proposta do engenheiro Almirante Álvaro Alberto da Motta e Silva , então presidente da ABC.
Sob a prerrogativa de que a ciência e a inovação são as estruturas do desenvolvimento nacional, Morales apresentou os numerosos programas e ações que a instituição tem com a finalidade de preservar a biodiversidade, além de citar parcerias com instituições francesas, como o Instituto Francês de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD, na sigla em francês) e o Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS, na sigla em francês), com quem já trabalharam em dezenas de ocasiões. Entre 2006 e 2015, o CNPq concedeu 218 milhões de reais para a biodiversidade. Esse dinheiro foi colocado em projetos para conservação de solos, conservação de biomas e pesquisas com fitoterápicos, por exemplo.
Por fim, ele destacou o projeto de implementação do Centro Nacional de Sínteses em Biodiversidade e Ecossistemas, que contará com a cooperação de outras agências de fomento brasileiras e também de pesquisadores internacionais.
O Instituto Tecnológico Vale: pesquisa, educação e empreendedorismo
O Acadêmico Sandoval Carneiro, doutor em engenharia elétrica e diretor de Tecnologia de Inovação da empresa Vale, apresentou o Instituto de Tecnologia da Vale (ITV), que conta com duas sedes: uma de desenvolvimento sustentável em Belém, no Pará, e outra de mineração em Ouro Preto, em Minas Gerais. As atividades do ITV, instituído em 2009, concentram-se na pesquisa, educação e no empreendedorismo.
O ITV de Belém conta com diversos projetos voltados para a biodiversidade da fauna e da flora da Serra dos Carajás. Um deles, que reúne 90 especialistas de 30 instituições, diz respeito à flora de cangas da região. Além deste, a instituto também realizar pesquisas nas cavernas da região, identificando plantas e mensurando a riqueza de espécies animais presentes nesses ecossistemas.
Em seguida, Sandoval comentou sobre parcerias com outras instituições na concessão de bolsas de pesquisa e em programas de pós-graduação. Em números, a Vale já contribuiu, por exemplo, com 1,5 milhão de reais em bolsas para professores visitantes ou pesquisadores no Brasil e no exterior, em parceria com CNPq. Já em parceria com a Capes, o ITV ajuda no financiamento de bolsas de mestrado e doutorado.
“Cooperação é sobrevivência”
Dando continuidade à sessão, Marco Ehrlich, subdiretor Científico e Tecnológico do Instituto Amazônico de Investigações Científicas SINCHI, na Colômbia, destacou a extensão do bioma amazônico, que é quase 10 vezes maior que o território da França e possui mais de 60% de sua área em território brasileiro.
O pesquisador mencionou o desafio de conservar tamanha riqueza na parcela colombiana da Amazônia. Segundo ele, a taxa de desmatamento é maior que 30%. O cultivo de coca pelos cartéis colombianos também toma mais de 40% da região, além de outras mazelas, como o roubo de terras, o aumento da desnutrição em algumas populações indígenas e ocorrência do menor IDH do país.
O SINCHI é uma entidade pública fundada em 1993, ligada ao Ministério do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável da Colômbia, com autonomia financeira e administrativa e com a finalidade de promover apoio científico na implantação de políticas públicas. O instituto atua através de seis programas: Ecossistemas e Recursos Naturais, Sustentabilidade e Intervenção, Modelos de Funcionamento, Dinâmicas Socioambientais na Amazônia Colombiana, Gestão Compartilhada e Fortalecimento Institucional.
Ehrlich destacou a importância da união com parceiros locais, regionais e internacionais, além da comunidade. “Informação é poder. Os pesquisadores precisam aprender a usar isso para conservar a Amazônia e desenvolver respostas sustentáveis às mais variadas questões”, concluiu, destacando que cooperação é questão de sobrevivência.
Organização e disponibilização dos dados para estudos de biodiversidade
Olivier Fudym, diretor da filial brasileira do Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS-Rio, na sigla em francês), falou em seguida e focou sua apresentação nos inúmeros projetos que a entidade realiza em parceria com outras instituições. Um exemplo é o projeto LIA MARRIO, que estuda a biodiversidade de esponjas existente entre a Martinica, um território insular francês, e o Rio de Janeiro. Outro ótimo exemplo é o LIA PALMHEAT, um projeto voltado para garantir a segurança alimentar em meio às mudanças climáticas, através da identificação de novos recursos genéticos e mecanismos moleculares que resistam ao estresse de temperatura.
Por fim, mencionou o desejo de criar o Centro de Síntese para a Biodiversidade, com o objetivo de reunir e combinar a numerosa quantidade de dados que a biodiversidade gera. “Isso facilitaria novas análises e traria uma nova abordagem às pesquisas em biodiversidade com o melhor uso das informações e conhecimentos disponíveis”, ressaltou Fudym.
Fapesp: ciência básica de qualidade para aplicações consistentes e adequadas
Para finalizar a sessão, foi a vez do Acadêmico Hernan Chaimovich falar sobre o tema. Ele é doutor em bioquímica e atualmente atua na Coordenação Adjunta de Programas Especiais e Colaborações em Pesquisas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Após breve histórico da instituição, Chaimovich destacou que, mundialmente, as pessoas enxergam a ciência como útil apenas quando ela torna os negócios mais competitivos, cura os doentes ou faz os pobres melhorarem de vida. Porém, para a Fapesp, a ciência que faz a humanidade mais sábia deve ser valorizada também. “Os impactos intelectuais são tão importantes quanto os impactos econômicos e sociais”, defendeu o Acadêmico.
Para tornar isto realidade, a Fapesp atua em parcerias internacionais através do financiamento conjunto com agências de fomento à pesquisa, universidades e companhia privadas. Essas parcerias ocorrem principalmente em três temas: bioenergia, mudanças climáticas e biodiversidade.
Falando da cooperação entre Brasil e França, ainda que o maior número de parcerias aconteça na área de computação, Chaimovich comentou que, nos 10 anos de parceria, cerca de 11,5 milhões já foram alocados em projetos.
Finalizando, o pesquisador apresentou o Instituto Virtual de Biodiversidade, uma rede de mais de 200 cientistas que identifica e caracteriza a biodiversidade do estado de São Paulo e define mecanismos para sua conservação e uso sustentável.