Leia o texto enviado à ABC pelo Acadêmico Alexander W. A. Kellner, editor-chefe dos Anais da Academia Brasileira de Ciências:
Não fui eu que inventei essa expressão, mas acho que todos já ouviram falar que as atividades do ano no Brasil se iniciam apenas após o carnaval. Posso garantir que não é o caso dos Anais da Academia Brasileira de Ciências (AABC), que já tem quase 30 trabalhos publicados neste ano, divididos em dois fascículos (97.1 e 97. Suppl.1).
Coincidentemente ou não, aproveitando a brincadeira, justamente agora que esta festa popular foi encerrada estamos vindo aqui para divulgar um trabalho bem bacana que foi publicado no fascículo 97 – Suplemento 1. Trata-se de um estudo realizado por paleontólogos da China e do Brasil descrevendo um novo réptil voador da China, no qual, além da contribuição científica, é feita a homenagem a um grande cientista brasileiro, membro titular da Academia Brasileira de Ciências: Diogenes de Almeida Campos. Além de financiamento por agências chinesas, o estudo contou com apoio do CNPq através do INCT Paleovert – o primeiro focado na pesquisa paleontológica, que tem produzido diversas contribuições ao longo dos dois últimos anos.
O trabalho publicado nos AABC descreve uma nova espécie de pterossauro, grupo de répteis alados que foram os primeiros vertebrados a desenvolverem o voo ativo, dominando o céu durante a Era Mesozoica. O exemplar, um esqueleto completo de um animal com uma envergadura alar de 75 centímetros, foi encontrado em rochas formadas há aproximadamente 165 milhões de anos, na China.
Aliás, cabe destacar que a pesquisa realizada com fósseis encontrados em solo chinês tem revolucionado o conhecimento da diversificação de diferentes grupos de animais e plantas durante o tempo profundo. Invertebrados que marcam o início da Explosão Cambriana, dinossauros com penas, mamíferos que se alimentavam de dinossauros, além de algumas das primeiras angiospermas (grupo de plantas com flor, predominante nos dias de hoje) são apenas algumas das descobertas que têm contribuído para um melhor entendimento desse enorme quebra-cabeças que é a evolução da vida no nosso planeta. Nunca é demais destacar o financiamento contínuo e robusto para a pesquisa básica realizada pelo Governo da China, que traz resultados em diferentes áreas científicas, inclusive na pesquisa de fósseis.
Também os estudos relacionadas aos pterossauros têm recebido uma enorme contribuição através de achados realizados na China. No caso específico, estamos falando de um trabalho liderado pelo paleontólogo Xin Cheng, que trabalha na Universidade de Jilin, em Changchun. Trata-se da descrição de uma nova espécie de pterossauro que foi denominada Darwinopterus camposi.
Dedicar uma espécie a uma pessoa é a maior homenagem que um paleontólogo pode fazer. Essa homenagem – mais uma recebida por Diogenes de Almeida Campos -, se dá pelo fato dele ter incentivado a pesquisa conjunta entre brasileiros e chineses.
Essa colaboração de mais de duas décadas se iniciou com uma missão liderada pelo Dr. Campos em 2004 ao Institute for Vertebrate Paleontology and Paleoanthropology da Academia Chinesa de Ciências, em Beijing. Desde então, diversos cientistas e alunos dos dois países têm trocado experiências, realizando pesquisas e atividades de campo. Muitos dos resultados obtidos foram publicados em revistas como Science, Nature, PNAS e Current Biology.
Pesquisas originais dessas colaborações também são regularmente publicados nos AABC, valorizando esse periódico brasileiro, um exemplo a ser seguido por outros grupos de pesquisa.
Com certeza o trabalho do Dr. Cheng e colegas será bastante utilizado por pesquisadores da área em todo mundo. Aliás, convidamos os acadêmicos a consultar os artigos publicados pelos Anais da Academia Brasileira de Ciências que podem ser obtidos – sem custo – no site do Scielo. Nunca é demais relembrar que os AABC publicam trabalhos nos mais diferentes campos do saber, desde ciências físicas e químicas até ciências do solo e sociais.
Além de parabenizar ao Dr. Diogenes, aproveitamos para solicitar que os Acadêmicos divulguem os AABC para colegas e alunos. Cabe lembrar que, além de ser publicada pela Academia Brasileira de Ciências, esta é a única revista multidisciplinar lato sensu editada no país.