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Cientista brasileira é uma das cinco pesquisadoras a vencerem o Prêmio Internacional L’Oréal -Unesco Para Mulheres na Ciência

São Paulo, 14 de maio de 2024 – A Fundação L’Oréal em parceria com a UNESCO têm o orgulho de revelar os nomes das cinco vencedoras do Prêmio Internacional L’Oréal-UNESCO Para Mulheres na Ciência 2024. No dia 28 de maio, a sede da UNESCO em Paris receberá as cientistas que serão homenageadas pelos seus projetos pioneiros nas áreas das ciências da vida e do ambiente e, em particular, pela sua importante contribuição para enfrentar os desafios globais de saúde pública, que vão do câncer às doenças infecciosas, como a malária e a poliomielite, e doenças crônicas como obesidade, diabetes e epilepsia.

Todos os anos, o prêmio internacional L’Oréal-UNESCO Para Mulheres na Ciência homenageia uma mulher de cada continente, isto é, África e Estados Árabes; Ásia e Pacífico; Europa; América Latina e Caribe; e América do Norte. Este ano, a brasileira Alicia Kowaltowski será uma das cientistas homenageadas, representando a América Latina e Caribe, pelo seu projeto que contribui para a saúde pública, através do estudo da biologia das mitocôndrias.

As laureadas desta 26ª edição foram selecionadas entre 350 candidatos em todo o mundo pela Professora Brigitte L. Kieffer, Diretora de Pesquisa do Instituto de Pesquisa Inserm, membro da Academia Francesa de Ciências e ex-vencedora do programa Para Mulheres na Ciência.

Por meio dos seus projetos, as ganhadoras demonstram que a ciência precisa mais do que nunca das mulheres para enfrentar, por exemplo, os grandes desafios de saúde pública, num cenário em que os casos de câncer poderão aumentar em 77% até 2050, a obesidade irá afetar 1 em cada 8 pessoas em todo o mundo, além dos mais de 249 milhões de casos de infecção por malária. (Fonte: Organização Mundial da Saúde)

AS LAUREADAS DE 2024 – PRÊMIO INTERNACIONAL PARA MULHERES NA CIÊNCIA

 

LAUREADA PELA AMÉRICA LATINA E CARIBE

A professora de Bioquímica Alicia Kowaltowski, da Universidade de São Paulo (USP) no Brasil [e membro titular da Academia Brasileira de Ciências – ABC], receberá o prêmio por sua contribuição fundamental para a biologia das mitocôndrias, que são “a principal fonte de energia das células, atuando como suas baterias”. O seu trabalho tem sido fundamental para a compreensão das implicações do metabolismo energético no que diz respeito a doenças crônicas, incluindo a obesidade, a diabetes e o envelhecimento.

LAUREADA PELA ÁFRICA E OS ESTADOS ÁRABES

A professora Rose Leke, ex-chefe do Departamento de Doenças Infecciosas e Imunologia da Faculdade de Medicina e Ciências Biomédicas e ex-Diretora do Centro de Biotecnologia da Universidade de Yaoundé, em Camarões, será homenageada pela sua dedicada liderança e seus esforços para melhorar os resultados da malária associada à gravidez, apoiar a erradicação da poliomielite e aprimorar a imunização na África.  Além de buscar meios para que jovens cientistas possam alavancar suas carreiras. A influência nacional, regional e global da Dra. Leke teve um impacto profundo na saúde pública no seu país natal, Camarões, e em toda a África. Suas realizações a posicionam como um modelo, educadora líder e defensora de jovens cientistas.

LAUREADA PELA AMÉRICA DO NORTE

A professora Nada Jabado, do departamento de pediatria e genética humana no Canadá, será homenageada por revolucionar a compreensão dos defeitos genéticos responsáveis pelos tumores cerebrais pediátricos agressivos. A descoberta das primeiras mutações de histonas em doenças humanas, conhecidas como onco histonas, desencadeou uma mudança fundamental na esfera da investigação do câncer. Por meio da sua investigação inovadora e liderança eficaz no estabelecimento de uma rede colaborativa global, ela remodelou a abordagem médica ao câncer pediátrico, avançando tanto nas capacidades de diagnóstico como nos tratamentos clínicos para pacientes jovens.

LAUREADA PELA ÁSIA E PACÍFICO

A professora Nieng Yan da Escola de Ciências da Vida em Tsinghua, receberá o prêmio por descobrir a estrutura atômica de múltiplas proteínas da membrana. Sua pesquisa excepcional informou vários distúrbios, como epilepsia e arritmia, e orientou o tratamento da síndrome dolorosa. Como uma autoridade líder em seu campo, a Dra. Yan inspira mulheres cientistas em todo o mundo e é uma forte defensora da igualdade de gênero na pesquisa e na educação científica.

LAUREADA PELA EUROPA

A professora Geneviève Almouzni, diretora de Pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) do Instituto Curie na França, será homenageada por suas contribuições inspiradoras para o entendimento de como o DNA é empacotado com proteínas dentro do núcleo da célula. O seu trabalho pioneiro em epigenética aprofundou a compreensão de como a identidade celular é determinada durante o desenvolvimento normal e interrompida pelo cancro.

26 ANOS EMPODERANDO MULHERES NA CIÊNCIA

Hoje, as mulheres representam apenas 33,3% de todos os pesquisadores do mundo, segundo dados da UNESCO. Além disso, ainda existem outras barreiras – apenas um quarto dos cargos de liderança científica são ocupados por mulheres na Europa e apenas 7,5% dos Prêmios Nobel da ciência foram atribuídos a mulheres desde a sua criação.

Durante 26 anos, a Fundação L’Oréal em parceria com a UNESCO tem trabalhado em conjunto para promover a igualdade de gênero na ciência por meio do prêmio internacional Para Mulheres na Ciência e dos programas para jovens talentos que abrangem mais de 140 países, destacando as mulheres cientistas e contribuindo para quebrar o teto de vidro na ciência.

Desde a sua criação, o programa L’Oréal–UNESCO Para Mulheres na Ciência homenageou mais de 4400 mulheres pela excelência da sua investigação, incluindo 132 laureadas com prêmios internacionais e mais de 4000 jovens pesquisadoras.

ENTRE AS LAUREADAS, 7 RECEBERAM O PRÊMIO NOBEL DE CIÊNCIA

Alexandra Palt, Diretora Executiva da Fundação L’Oréal, afirma que um futuro sustentável para a humanidade depende de uma igualdade real entre homens e mulheres. “Infelizmente, este ainda não é o caso hoje na ciência, embora o mundo enfrente desafios sem precedentes. O programa L’Oréal-UNESCO Para Mulheres na Ciência garante que esta questão permaneça no centro do debate há 26 anos. Em particular, procuramos elevar o perfil das pesquisas conduzidas por muitas cientistas excepcionais e inspirar a próxima geração de mulheres pesquisadoras. Essa premiação internacional proporciona avanços significativos para a saúde da humanidade e encoraja-nos a continuar a luta,” afirma.

Para Lidia Brito, Diretora Geral Adjunta de Ciências Naturais da UNESCO, empoderar as mulheres na ciência é uma questão de equidade e pragmatismo. “As mulheres representam metade da população e será necessária toda a engenhosidade humana para enfrentar os desafios assustadores que enfrentamos, sejam eles a degradação ambiental, as perturbações climáticas e da biodiversidade, as pandemias, o fosso tecnológico ou a pobreza persistente. É encorajador ver um número crescente de mulheres entre os Prémios Nobel da ciência. Desde 1901, 25 mulheres receberam esta distinção, entre elas 15 (60%) desde a criação do programa L’Oréal-UNESCO Para Mulheres na Ciência em 1998. Seis destas 15 mulheres já haviam recebido o prêmio L’Oréal – Prêmio Internacional UNESCO Para Mulheres na Ciência antes de receber o Prêmio Nobel”, conclui.

Sobre o Grupo L’Oréal 

O Grupo L’Oréal se dedica à beleza há 115 anos. Com seu portfólio internacional único de 37 marcas diversas e complementares, o Grupo gerou vendas no valor de 41.18 bilhões de euros em 2023 e conta com mais de 90 mil colaboradores em todo o mundo. Como líder mundial em beleza, a empresa está presente em todas as redes de distribuição: mercados, lojas de departamento, farmácias e drogarias, cabeleireiros, varejo de viagens, varejo de marca e e-commerce. Pesquisa & Inovação, e uma equipe de pesquisa dedicada de 4.000 pessoas, estão no centro da estratégia da L’Oréal, trabalhando para atender as aspirações de beleza em todo o mundo. Reforçando seu compromisso de sustentabilidade, a L’Oréal anunciou o programa L’Oréal Para o Futuro e estabeleceu metas ambiciosas de desenvolvimento sustentável em todo o Grupo para 2030, visando capacitar seu ecossistema para uma sociedade mais inclusiva e sustentável. 

No Brasil, quarto maior mercado de beleza do mundo, a companhia completa 65 anos em 2024 e é uma das líderes entre as empresas de beleza, com um portfólio de 21 marcas no país, como L’Oréal Paris, Maybelline, Garnier, Niely, Colorama, Kérastase, L’Oréal Professionnel, RedKen, La Roche-Posay, Vichy, SkinCeuticals, CeraVe, Lancôme, Giorgio Armani, Yves Saint Laurent, Ralph Lauren, Cacharel, Prada, Azzaro, Mugler e Aesop.

Sobre o programa no Brasil 

Há 19 edições, o Grupo L’Oréal no Brasil realiza localmente o Para Mulheres na Ciência em parceria com a Academia Brasileira de Ciências e a UNESCO no Brasil, premiando sete pesquisadoras com uma bolsa-auxílio de R$ 50 mil reais nas áreas de Ciências da Vida, Ciências Físicas, Ciências Químicas e Matemática. No País, o programa já premiou 124 mulheres cientistas, somando mais de R$6 milhões de reais. As inscrições de 2024 estão abertas até o dia 10 de junho através do site https://bit.ly/pmnc_2024.

Imprensa – Grupo L’Oréal no Brasil

FSB Holding

Adriana Slaiman – adriana.slaiman@fsb.com.br

Tiffany Pancas –  tiffany.pancas@fsb.com.br

Tatiana Reid – tatiana.reid@fsb.com.br

 

Cientista brasileira é premiada em Paris

A cientista brasileira Alicia Kowaltowski  será homenageada em Paris, em 28 de maio, pelo Prêmio Internacional Para Mulheres na Ciência 2024, promovido pela Fundação L’Oréal, do Grupo L’Oréal, em parceria com a Unesco Ela é uma das cinco vencedoras reconhecidas por seus projetos pioneiros nas áreas das ciências da vida e do ambiente. A pesquisa da professora de Bioquímica na Universidade de São Paulo (USP) tem importante contribuição no enfrentamento dos desafios globais de saúde pública, como doenças crônicas, diabete, obesidade, infarto e envelhecimento.

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Alicia é graduada em Medicina, doutora em Ciências Médicas e foi selecionada pelo programa para estudar os recursos que permitem aos seres humanos obter energia dos alimentos para viver. “O metabolismo é fascinante porque está no cerne da vida – todas as definições técnicas da vida devem incluir o metabolismo e o fluxo de moléculas sendo transformadas dentro de nós”, comenta Alicia.

Hoje, a professora incentiva estudantes brasileiros a realizarem bolsas, apoiadas pela agência paulista de fomento Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a fim de estimular suas pesquisas, ampliar seus horizontes e entregar resultados pioneiros. “Meu conselho aos cientistas em ascensão é para serem curiosos, fazerem boas perguntas, estarem abertos a resultados inesperados, encontrarem supervisores de apoio e nunca desistirem”, afirma.

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Leia a matéria na íntegra no site de O Globo

Faperj lança edital inédito para mães cientistas

No dia 2 de maio, em comemoração ao mês das mães, a FAPERJ lançou o edital inédito Apoio às Cientistas Mães com Vínculo em ICTs do Estado do Rio de Janeiro, uma parceria com o Instituto Serrapilheira e com o movimento Parent in Science. O objetivo do edital é apoiar e incentivar professoras/pesquisadoras – com vínculo empregatício em Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) sediadas no Estado do Rio de Janeiro – que se tornaram mães nos últimos 12 anos, com a concessão de auxílio pesquisa no valor de R$ 120 mil, para apoio das atividades científicas durante o período de reentrada da pesquisadora na vida acadêmica após a maternidade. Uma bolsa de Iniciação Científica poderá ser incluída neste orçamento.

É a primeira vez que o órgão de fomento à pesquisa fluminense lança um edital específico para cientistas que são mães. O projeto teve embasamento teórico e parte do financiamento pelo Parent In Science, movimento brasileiro que se tornou referência no mundo ao ganhar o “Prêmio de Mulheres Inspiradoras na Ciência”, da revista Nature, em 2021, pela divulgação de dados relevantes para os estudos acadêmicos de desigualdade de gênero. Inspirada em experiências internacionais, a iniciativa visa diminuir o esperado impacto da maternidade sobre as atividades acadêmicas da professora/pesquisadora. Igualmente de maneira inédita, o programa ora anunciado também contempla mães de pessoas com deficiência, que poderão submeter uma proposta independentemente da idade do filho ou filha.

A diretora Científica da FAPERJ, Eliete Bouskela, destaca a importância de ações de apoio à maternidade. “Desde o início de minha gestão à frente da Diretoria Científica da Fundação, ações de apoio à maternidade têm sido uma de minhas prioridades”, lembra. “Conseguimos avanços importantes, tais como licença-maternidade para as bolsistas, avaliação diferenciada do currículo Lattes de cientistas mães e permissão da rubrica de recreação infantil no edital de eventos. Este edital é mais uma ação no sentido de apoiar nossas cientistas e permitir que conciliem suas carreiras com a maternidade”, disse.

As propostas aprovadas neste edital serão financiadas com recursos no valor global de R$ 2,3 milhões, definidos na programação orçamentária da FAPERJ e/ou do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico – FATEC; os projetos selecionados receberão dotações da FAPERJ de até R$ 110 mil cada, além de R$ 10 mil adicionais provenientes do Instituto Serrapilheira.

Para o presidente da FAPERJ, Jerson Lima, o edital é uma das ações da Fundação em atendimento a uma demanda das cientistas que encontram dificuldade de retornar, ou mesmo iniciar, uma carreira acadêmica mais consolidada após o nascimento de filhos. “É uma política pública importante para apoiar nossas cientistas e minimizar a desigualdade de gênero”, ponderou.

Para a diretora de Ciência do Serrapilheira, Cristina Caldas, o edital é um marco para o sistema de fomento brasileiro no quesito diversidade e, sobretudo, para reduzir a desigualdade de gênero na ciência nacional. “Um edital como esse sinaliza a importância de reconhecer que mulheres são especialmente afetadas por interrupções em suas carreiras, e que elas podem sim continuar sendo competitivas mesmo depois de terem filhos”, afirmou. “Sabemos do impacto que a maternidade tem na produção científica das mulheres, por isso o sistema de fomento tem que olhar com cuidado para essas interrupções, não deixando de valorizar as cientistas mães”, complementou Cristina.

Serão contempladas, ao menos 21 propostas, distribuídas para cada um dos Colégios estabelecidos pela CAPES: (1) Ciências da Vida, (2) Humanidades e (3) Ciências Exatas, Tecnológicas e Multidisciplinar proporcional a demanda recebida (Áreas de avaliação CAPES).

Segundo Fernanda Staniscuaski, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), coordenadora do movimento Parent in Science, a iniciativa conjunta com a FAPERJ e o Instituto Serrapilheira representa uma ação pioneira no Brasil, destacando o compromisso em apoiar mães cientistas. “Ao oferecer suporte específico para a continuidade da carreira após a maternidade, esse edital não apenas reconhece os desafios enfrentados pelas mulheres na ciência, mas também promove a equidade de gênero e estimula a diversidade no ambiente acadêmico. O impacto será imenso”, avaliou.

Professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e presidente da Comissão Permanente de Equidade, Diversidade e Inclusão da FAPERJ, Leticia de Oliveira considera o edital um marco histórico entre as agências de fomento à pesquisa no País, já que até o presente não há editais de financiamento exclusivos para cientistas mães. “Esperamos que estas iniciativas se popularizem e contribuam de maneira efetiva para a consolidação das carreiras acadêmicas destas mulheres. Não há razão para que as mães não possam ser cientistas ou vice versa”, defendeu.

Clique e acesse a íntegra do edital no link abaixo:

Edital FAPERJ Nº 10/2024 – Programa Apoio às Cientistas Mães com Vínculos em ICTs do Estado do Rio de Janeiro

Cogumelos da Amazônia que produzem a própria luz começam a ser desvendados pela ciência

Leia matéria de Ana Lúcia Azevedo para O Globo, publicada em 21/04:

O brilho da biodiversidade ilumina a noite da Amazônia. Novas espécies de cogumelos bioluminescentes, que produzem a própria luz e só brilham na escuridão, têm sido descobertas por cientistas, num trabalho pioneiro. São criaturas ainda pouco conhecidas, que podem revelar alguns dos mecanismos que produzem a variedade das formas de vida amazônica e fazer avançar a tecnologia desenvolvida a partir desta riqueza natural.

De dia, eles passam quase despercebidos. É à noite que se revelam e transformam o chão da mata em céu de estrelas. Vários desses fungos já eram conhecidos pelos povos da floresta. Na região de São Gabriel da Cachoeira, município na fronteira do Amazonas com a Colômbia e a Venezuela, eles são os “iluminadores” das trilhas usadas pelo povo Baniwa nas noites sem luar.

— Os fungos são o princípio e o fim da vida na floresta — afirma a micologista (especialista em fungos) Noemia Ishikawa, líder do Grupo de Pesquisas Cogumelos da Amazônia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). [Ela foi membra afiliada da Academia Brasileira de Ciências no período 2009-2014].

Maioria feminina

O grupo liderado por Ishikawa descobriu cerca de 30 espécies (com e sem bioluminescência) nos últimos 12 anos. A mais recente, chamada Mycena lamprocephala, acaba de ser descrita na revista científica Phytotaxa, num estudo que teve como principal autora a micologista Célia Soares, outra integrante do grupo, composto quase que só por mulheres.

São elas que se embrenham pelas trilhas à noite em busca das chamadas “luzes vivas”. O cogumelo descrito por Soares não se mostra com facilidade de dia e levou três anos para ser classificado.

A pesquisadora Noemia Ishikawa com cogumelo de forma insólita; esporos são tão abundantes que formam nuvens. | Foto: Michael Dantas

É uma minúscula criatura (o “chapeuzinho” mede menos de 10 mm) marrom, sem charme aparente, que se multiplica em folhas e galhos mortos. Mas à noite, ele emite luz verde, em pulsos, como uma pequena estrela. Como esses cogumelos se aglomeram em grande número, formam tapetes de luz.

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Ishikawa começou a investigar os cogumelos que brilham fascinada pelo que lhe mostraram os povos originários da Amazônia. Para várias culturas, os cogumelos e suas luzes da noite tanto são aliados nas trilhas quanto suscitam mistérios espirituais. A ciência também se deparou com enigmas.

— Não sabemos, por exemplo, por que brilham. Pode ser para se defender ou para atrair alguma outra criatura que os beneficiem. Estamos começando a arranhar a superfície de mistérios tão grandes quanto a própria floresta — diz Ishikawa.

Micoturismo

Ela e seu grupo têm realizado ainda um outro tipo de trabalho com os fungos, o micoturismo, para gerar renda para comunidades amazônicas. O nome alude à micologia, o estudo dos fungos. E tem funcionado.

Os visitantes aprendem, por exemplo, a conhecer os fungos comestíveis. A riqueza de formas, aromas e sabores de fungos da Amazônia impressiona quem pensa que prato com cogumelo se resume a shitake e três ou quatro espécies encontradas em supermercados.

Também são levados a ver fungos que “explodem” ao ser tocados, lançando nuvens de esporos no ar.

Ishikawa diz que por trás do micoturismo e da identificação de espécies há também o esforço de formar cientistas especializados altamente qualificados na própria Amazônia.

— Nosso grupo faz desde análises moleculares à taxonomia (classificação de organismos). Também temos um forte trabalho de campo, quase todo feito por mulheres. São expedições pesadas, de muitos dias de caminhada pela selva, como a feita na Cabeça do Cachorro (Amazonas). Mostramos que é possível — frisa Ishikawa.

Leia a matéria na íntegra no site de O Globo

Acadêmica Niède Guidon é contemplada com o Prêmio Almirante Álvaro Alberto 2024

Diretora presidente Emérita da Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), a arqueóloga [e Acadêmica]  Niède Guidon será a laureada da edição 2024 do Prêmio Almirante Álvaro Alberto para a Ciência e Tecnologia, concedido pelo CNPq em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e com apoio da Marinha do Brasil. A cerimônia de premiação será na Escola Naval do Rio de Janeiro, no dia 8 de maio de 2024, [em cerimônia que também dará posse aos novos membros da Academia Brasileira de Ciências].

Graduada em História Natural pela Universidade de São Paulo, em 1959, e com doutorado em Pré-História, realizado na Université Paris 1 Pantheon-Sorbonne (1975), Guidon foi diretora presidente da FUMDHAM de 1986 a 2019 e é membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Ao longo de sua carreira, ela identificou mais de 700 sítios pré-históricos, entre os quais 426 paredes de pinturas antigas e evidências de habitações humanas antigas no Parque Nacional Serra de Capivara, no Piauí.

Responsável pela preservação, desenvolvimento e gestão desse parque, bem como pela proteção da flora e fauna ameaçadas de extinção, Guidon criou no parque um centro cultural e museu, além da FUMDHAM, no município piauiense de São Raimundo Nonato.

Reconhecendo a importância da participação local para o desenvolvimento social, a pesquisadora criou núcleos de apoio comunitário que prestam serviços sociais e cuidados de saúde e educação às comunidades locais, bem como treinam pessoal local em ecologia, restauro e pré-história.

Com seus estudos, Guidon gravou mais de 35 mil imagens, publicou mais de 100 artigos e formou número relevante de alunos de pós-graduação. Ela também foi premiada diversas vezes. Em 2005, recebeu a Ordem do Mérito Científico, Grã-Cruz, do MCTI; o Green Prize, Paliber; e o Prêmio Príncipe Klaus, esse último concedido pelo governo holandês. Em 2013 recebeu o Prêmio Fundação Conrado Wessel de Cultura. Em 2014, Guidon foi agraciada com o prêmio Cientista do Ano, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), e com o Prêmio Chevalier de La Légion d’Honneur, do governo francês. Por sua defesa à sustentabilidade, a pesquisadora recebeu, ainda, homenagem em 2010, no 5º Fórum Mundial de Meio Ambiente. Ela é bolsista de Produtividade em Pesquisa Sênior do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Sobre o prêmio

O Prêmio Álvaro Alberto constitui um reconhecimento aos cientistas brasileiros que contribuíram de forma significativa para a ciência e tecnologia do país e é concedido em caráter individual e indivisível, de forma anual, em sistema de rodízio, a uma das três grandes áreas do conhecimento: Ciências da Vida; Ciências da Terra e Engenharias; e Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes, área contemplada na edição de 2024.

Na mesma cerimônia de entrega do Prêmio Álvaro Alberto também ocorrerá a premiação dos contemplados este ano com a Menção Especial de Agradecimento e com o título de Pesquisador Emérito do CNPq. Instituída em 2005, a Menção Especial de Agradecimentos constitui reconhecimento a pessoas físicas ou jurídicas pelos serviços significativos prestados ao crescimento, desenvolvimento, aprimoramento e divulgação do CNPq no ano anterior à entrega da Menção. O título de Pesquisador Emérito, por seu turno, é outorgado aos pesquisadores brasileiros ou estrangeiros radicados no Brasil como reconhecimento do conjunto das respectivas obras científico-tecnológicas e do renome junto à comunidade científica.

Em 2024, recebem a Menção Especial de Agradecimentos a deputada federal pelo estado do Rio Grande do Sul e autora do Requerimento n° 428/2024, para instituição de Frente Parlamentar em defesa das universidades públicas, Maria do Rosário Nunes; a senadora pelo estado de Pernambuco e membro titular da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação e Informática, Maria Teresa Leitão de Melo; a bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq, professora da Universidade de Brasília (UnB) e ex-presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), [a Acadêmica] Mercedes Bustamante; e uma pessoa jurídica, o Ministério da Igualdade Racial.

Entre os contemplados com o título de Pesquisador Emérito estão dois estudiosos que serão agraciados de forma póstuma: Antônio Ricardo Droher Rodrigues, pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), e Clóvis Caesar Gonzaga, que era professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Os demais agraciados com o título são o ex-presidente do CNPq, membro da Academia Brasileira de Ciência Agronômica (ABCA) e dad Academia Brasileira de Ciências, Evaldo Ferreira Vilela; Josefa Salete Barbosa Cavalcanti, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); Pedro Alberto Morettin, da Universidade de São Paulo (USP/IME); e Ulpiano Toledo Bezerra de Meneses, também da USP.

A memória é a consciência inserida no tempo

A Acadêmica Marcia Castro, membro correspondente da ABC e professora de demografia e chefe do Departamento de Saúde Global e População da da Escola de Saúde Pública de Harvard, publicou o seguinte artigo na Folha de S. Paulo em 7 de abril, no qual destaca que é relembrando, entendendo e aprendendo com o passado que se constrói um futuro melhor.

Para o título da coluna de hoje, pego emprestadas as palavras de Fernando Pessoa.

Este ano marca os 60 anos do golpe militar. A decisão do governo de não relembrar o golpe é lamentável. É relembrando, entendendo e aprendendo com o passado que se constrói um futuro melhor.

Foi durante a ditadura militar que a Amazônia começou a sofrer uma destruição ambiental sem precedentes. Ancoradas em ideais de integração regional e segurança nacional, as então chamadas políticas de desenvolvimento promoviam a exploração de recursos naturais ignorando por completo as demandas e cultura locais.

Isso fica claro no lema “homens sem terra para terra sem homens” promovido pelo presidente Médici que, em 1970, criou o Programa de Integração Nacional (PIN). O presidente via a Amazônia como a solução para problemas fundiários no Nordeste.

Abertura de rodovias, construção de barragens, subsídios fiscais para a agroindústria e a promoção de assentamentos agrícolas, que atraíram milhões de migrantes, transformaram a Amazônia.

Essas mudanças tiveram consequências ambientais devastadoras e impactaram a saúde pública. Entre 1964 e 1990, o número de casos de malária aumentou 412%. Em meados dos anos 80, Rondônia era considerada a capital da malária no Brasil.

A retomada da exploração desenfreada da Amazônia durante o governo Bolsonaro deixou um rastro de destruição cujas consequências ainda são sentidas. Considerando o garimpo em áreas indígenas (o que é ilegal), 62% da área garimpada desde 1985 foi aberta entre 2018 e 2022!

O resultado é semelhante ao visto durante a ditadura: malária, desnutrição, contaminação por mercúrio, violência etc. Problemas ainda não resolvidos dada a dificuldade em unir diferentes setores no efetivo restabelecimento dos serviços destruídos durante o governo anterior. Um trabalho recentemente divulgado pela Fiocruz revela as condições sanitárias precárias que yanomamis vivendo na região do alto rio Mucajaí (em Roraima) enfrentavam em outubro de 2022.

Cerca de 15% apresentavam anemia, com maior prevalência entre menores de 5 anos (27%). Com relação a medidas antropométricas, 47% apresentavam baixo peso. Entre os menores de 12 anos, 92% apresentavam baixo peso.

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Somente 15,5% dos menores de 12 anos que possuíam caderneta de saúde estavam com a vacinação em dia. Além disso, anemia e deficiências na capacidade cognitiva estavam associadas a contaminação por mercúrio.

É provável que outros povos indígenas estejam enfrentando desafios semelhantes. Especialmente os Kayapó e Mundukuru que, junto com o povo Yanomami, são os mais atingidos pelo garimpo predatório. Digo “provável” pois não há dados nem monitoramento detalhados.

Esse problema foi ressaltado no plano de aperfeiçoamento da saúde indígena preparado pela Secretaria de Saúde Indígena do Ministério da Saúde. A solução precisa ser rápida!

Entretanto, apesar da contaminação por mercúrio ser algo amplamente discutido, a necessidade de monitorar a presença de mercúrio na água e em alimentos consumidos pelos indígenas não foi incluída no plano de aperfeiçoamento, conforme eu já havia destacado em fevereiro.

O legado da ditadura militar para a Amazônia e os indígenas persiste. Não o relembrar é uma via para repeti-lo no futuro.


Leia a coluna íntegra na Folha de S. Paulo

Prêmio Marta Vanucci para Mulheres na Ciência do Oceano está com inscrições abertas

O Prêmio Marta Vannucci para Mulheres na Ciência do Oceano busca destacar e reconhecer o trabalho de mulheres que atuam na produção de conhecimento sobre o mar no Brasil e para o fortalecimento da participação de mulheres na ciência, inspirado na trajetória e pioneirismo da bióloga Marta Vannucci (1921 – 2021), membra da Academia Brasileira de Ciências e pioneira nos estudos oceanográficos brasileiros.

Idealizado pela Cátedra UNESCO para Sustentabilidade do Oceano, ligada ao Instituto Oceanográfico e Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, pela Liga das Mulheres pelo Oceano e pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) o prêmio incentiva a equidade de gênero no avanço de uma ciência justa, equilibrada, criativa e produtiva.

O prêmio se divide em duas categorias: Cientista Inspiração Sênior, para pesquisadoras consolidadas, com mais de 20 anos de carreira científica na área; e Jovem Cientista, para pesquisadoras com menos de 35 anos e que concluíram doutorado há, no máximo, seis anos. Inscrições vão até o dia 15 de abril.

Para mais informações e inscrições, acesse.

 

 

 

Morreu a Acadêmica Anita Dolly Panek

Anita Dolly Panek nasceu na Cracóvia, na Polônia, filha de asquenazitas, em 1º de setembro de 1930, mudou-se com a família para o Brasil, em 1940, depois da invasão nazista na Polônia.

No final dos anos 1940, ingressou no curso de química, pela Escola de Química da então Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Diplomou-se em 1954 em Química Industrial e em 1955 tornou-se instrutora de ensino na cadeira de Microbiologia Industrial e Tecnologia das Fermentações da mesma instituição. Esta disciplina foi a precursora do Instituto de Química da UFRJ.

Em 1962 obteve seu doutorado em ciências pela Universidade do Brasil, seguido da livre-docência em Microbiologia Industrial. Em 1976 ingressou como professora titular da UFRJ e em 1995 foi proclamada Professora Emérita da mesma universidade.

Dedicou a vida ao ensino e pesquisa, orientando 49 alunos de pós-graduação. Sua pesquisa era direcionada ao metabolismo energético, utilizando a célula de levedura. Seus estudos sobre o metabolismo de trealose ampliaram as especificações deste composto, antes considerado apenas uma fonte energética e agora também uma substância protetora de membranas e de proteínas, quando a célula é submetida a estresses ambientais. A trealose tem amplas e variadas utilizações, como a preservação de materiais biológicos desidratados ou liofilizados.

Foi autora de mais de 170 artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais, com três registros de patentes. Membra da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular e da Academia Brasileira de Ciências (ABC), membro também da American Society for Biochemistry and Molecular Biology, a Academia de Ciências da América Latina (Acal) e a Academia Mundial de Ciências (TWAS). Recebeu, em 1996, a medalha da Ordem Nacional do Mérito Científico da Presidência da República.

Depoimento de um orientando e admirador científico

 José João Cavalcante Mansure Brasil possui especialização em Computação Científica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestrado e doutorado em Bioquímica pela UFRJ, onde hoje é professor e pesquisador. Atua também como professor titular no Instituto Metodista Bennett.

É com o coração pesado que reflito sobre o falecimento da ilustríssima Professora Drª Anita Dolly Panek, uma fonte de conhecimento, resiliência e inspiração – não apenas na minha vida, mas nas vidas de inúmeros estudantes que ela impactou profundamente ao longo de sua distinta carreira.

Como minha mentora durante o mestrado e o doutorado, Drª Anita, como prefiro sempre carinhosamente chamá-la, estabeleceu as bases para minha carreira científica, incutindo em mim os princípios do pensamento crítico e da forma meticulosa em elaborar e analisar os experimentos.

Essas lições não apenas moldaram meu caminho para me tornar um cientista sênior no Instituto de Pesquisa da Universidade McGill, em Montreal, Canadá, mas também foram e são transmitidas aos meus próprios alunos, perpetuando a extraordinária influência dela em minha vida profissional.

Sua história de triunfo, chegando ao Brasil como imigrante, fugindo da guerra e ascendendo a uma posição de professora em uma das universidades mais renomadas do país, numa época em que tais conquistas eram raras para as mulheres, serve como testemunho de sua força, determinação e intelecto sem igual.

Minha admiração por ela transcende os domínios da pedagogia e da ciência, profundamente enraizada na excepcional pessoa que ela foi. O legado da Drª Anita, sem dúvida, perdurará por meio das muitas pessoas afortunadas o suficiente por terem sido orientadas por ela. À medida que continuo minha pesquisa, levo um pedaço dela comigo, aspirando honrar sua memória em cada descoberta e lição.

Drª Anita, sua contribuição para a ciência e educação no Brasil deixou uma marca indelével, e, embora você faça muita falta, seu espírito nos inspirará para sempre.

Obrigado, Drª Anita Dolly Panek, por tudo.”

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